
Não sou ingênuo a ponto de desconhecer que a violência masculina contra mulheres é uma das marcas da sociedade brasileira desde os seus primórdios coloniais. Aliás, o passado colonial combinado com o longo período de escravidão negra nos tornou uma sociedade que é intrinsicamente mantida por relações de poder que, invariavelmente, desembocam em atos de violência contra os mais fracos.
Mas o último ano, especialmente as últimas semanas, me deixa a impressão clareza que determinadas estruturas de contenção foram rompidas e que agora há uma espécie de epidemia de violência masculina contra as mulheres. É que todo dia temos visto cenas de extrema violência sendo mostradas pela TV nas quais, em sua maioria, homens brancos e de físicos avantajados praticam verdadeiras barbaridades contra suas esposas , noivas e namoradas, mesmo sabendo que estão sendo filmados, até mesmo dentro dos elevadores que existem em seus locais de moradia.
Os casos de violência são tão extremos e tão parecidos que ficamos com a impressão que se está assistindo a uma repetição quando, na verdade, é um novo incidente. Uma hora é um empresário, outra hora é um ex-atleta ou um fisiculturista. Do outro lado, estão mulheres com menor porte físico e sem a menor chance de se defender. O resultado são faces destroçadas e cirurgias reconstitutivas sendo realizadas, quando o ato de violência não termina em morte.
A minha suspeita é que vivemos os efeitos de termos permitido a liberação de forças políticas que desprezam o respeito à vida e ao direito de se escolher livremente. Não é à toa que quando se olha o perfil dos agressores nas redes sociais há sempre a forte chance de ser alguém que idolatra a pátria, a família e Deus, não necessariamente nesta ordem.
Assim, em vez de se tratar esses casos como sendo isolados, temos que considerar que todos esses atos de violência fazem parte de um processo político concatenado para os quais precisamos estabelecer respostas coletivas. Do contrário, continuaremos assistindo mais casos deste tipo que estarão alimentando uma ordem social em que agredir e ferir se tornará cada vez mais naturalizado.