
Já escrevi aqui sobre a faceta “Jack-of-all-trades” (pau para toda obra) do Porto do Açu desde que o ex-bilionário Eike Batista apareceu por estas paragens para vender suas apresentações de Powerpoint. O Porto do Açu já prometeu ser quase tudo desde o lançamento da sua pedra fundamental, e atualmente sobrevive com o transbordo do petróleo extraído na camada Pré-Sal.
As visões grandilonquentes vendidas por Eike Batista ficaram mais murchas, é verdade. Mas eu desconfio que a concepção de que o mundo cabe em lâminas de Powerpoint continua sendo a linha mestra dos negócios.
A grande última “novidade” flutuada por Eugênio Figueiredo, o CEO da hora do Porto do Açu, foi a aposta de que o empreendimento se transformará agora em uma espécie de berço de data centers. Esqueçamos das siderúrgicas, fábricas de carros e cimenteiras do plano original de Eike, a coisa agora serão os data centers.
Em entrevista ao site “Infomoney”, Figueiredo , o Porto do Açu seria um bom local para instalação de datacenters porque “tem um pouco de tudo o que um data center precisa para operar: fica fora de aglomerados urbanos, tem água e geração própria de energia em abundância, está a míseros 40 km de uma estação de cabos submarinos de fibra da Embratel”.
Uma curiosidade que fica nessa declaração se refere ao alto consumo de água que datacenters demandam para funcionar. Eu já repercuti aqui a informação de que o Porto do Açu está entre os maiores consumidores potenciais de água do Brasil, com uma outorga anual 142,4 bilhões de litros de água. Comentei em 2023 que na ausência da transposição do Rio Paraíba do Sul pretendida por Eike Batista, havia que se perguntar sobre o impacto que o empreendimento está trazendo para os mananciais existentes em seu entorno ou embaixo dele. É que para fazer uma outorga tão grande, essa água teria que sair de algum lugar que na época não era claramente identificado.
Agora com mais essa nova ideia para tirar o Porto do Açu do atoleiro de dívidas em que se encontra (e as notícias vão no sentido de que o buraco é fundo), como fica a questão do consumo de água em São João da Barra?
Não custa lembrar que enquanto nossas lideranças políticas ficam querendo nos colocar de forma ruidosa no “semi-árido” para fisgar recursos federais, o silêncio sobre os impactos hídricos do Porto do Açu é total.
E antes que me esqueça, preciso reconhecer que na matéria do InfoMoney, assinada pela jornalista Mariana Segala, há uma definição para a ideia de instalar data centers em um porto que me soa reveladora. Segala disse que a ideia de instalar data centers não soa lá a mais trivial para um porto. E eu concordo. Resta saber quem se arriscaria a desafiar o senso comum e apostar suas fichas e se instalar em um empreendimento que não possui, e sabe-se lá se possuirá, boas conexões por terra com o resto do país. A ver!