Terrorismo de barragens: como a Vale e outras mineradoras usaram o medo para remover comunidades e avançar sobre seus territórios

Tese do professor Daniel Neri mostra como mineradoras, em conluio com o velho Estado, manipulam alertas de risco para aprofundar a exploração e ampliar o controle sobre territórios ricos em minérios

Estrutura de Contenção a Jusante (ECJ) de Barão de Cocais, em 2020, e a comunidade de Tabuleiro, removida em fevereiro de 2019.: Foto de Júlia Pontes, National Geographic Society/Fonte: Neri (2023)

Por Henrique Santana para o ” A Nova Democracia” 

Os desastres-crimes ocorridos em Mariana (2015) e Brumadinho (2019) marcaram a história recente do Brasil como dois dos mais trágicos rompimentos de barragens de rejeitos de mineração.

Em Mariana, o rompimento da Barragem de Fundão, operada pela Samarco – uma joint venture da Vale e da BHP – despejou 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos sobre a Bacia do Rio Doce, matando 19 pessoas e afetando milhares ao longo de centenas de quilômetros, até o litoral do Espírito Santo.

Quatro anos depois, em janeiro de 2019, o desastre-crime ocorreu novamente. O colapso da barragem da Mina Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho, lançou cerca de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos sobre o Rio Paraopeba. O impacto foi ainda mais devastador, com 272 mortes confirmadas, além de danos ambientais e sociais cujas consequências ainda persistem.

Mas, para além dos rompimentos, emergiu um novo tipo de violência: o uso do medo como instrumento de dominação territorial. Trata-se do que o professor Daniel Neri, em sua tese de doutorado defendida no Instituto de Geociências da Unicamp em 2023, denomina terrorismo de barragens — uma estratégia de acumulação por despossessão, pela qual o pânico é mobilizado para viabilizar a remoção de comunidades inteiras e a apropriação dos territórios pelas mineradoras.

O caso de Barão de Cocais

Duas semanas após a catástrofe de Brumadinho, em 8 de fevereiro de 2019, às duas da madrugada, viaturas da PM, agentes da Defesa Civil e funcionários da Vale bateram às portas dos moradores dos povoados de Socorro, Piteira, Tabuleiro e Vila do Gongo, em Barão de Cocais (MG). A ordem era direta e aterrorizante: “Esta é uma situação real de emergência de rompimento de barragem. Abandonem imediatamente suas residências.”

O pânico se espalhou. Famílias deixaram suas casas às pressas, algumas de carro, outras em ônibus fretados pela própria mineradora. O medo era alimentado pela memória recente da tragédia em Brumadinho. No entanto, como apontam os estudos do professor Daniel Neri, o episódio em Barão de Cocais não passava de uma manobra bem articulada. “Desde o primeiro minuto, o alerta foi questionado por moradores que conheciam bem a situação da barragem, que estava seca”, relatou Daniel Neri em entrevista ao AND. “Algumas famílias resistiram, mas foram removidas à força pela Polícia Militar semanas depois.”

A barragem Sul Superior, alvo do alerta, foi construída pelo método de alteamento a montante – o mesmo utilizado nas estruturas que se romperam em Mariana e Brumadinho. Trata-se do método mais barato e rápido.

Como apontado pela pesquisa de Neri, a Vale mantinha, desde 2017, um “Ranking de Barragens em Situação Inaceitável”, que listava as dez estruturas mais propensas a rompimento. A barragem B1 de Brumadinho, que se rompeu em janeiro de 2019, constava na lista. Já a barragem Sul Superior – que foi utilizada para justificar a remoção em Barão de Cocais – não aparecia entre as ameaças reais. Em setembro de 2018, a barragem ainda tinha laudo de estabilidade emitido. Subitamente, após o rompimento em Brumadinho, o laudo foi negado, sem qualquer evidência técnica robusta.

Após a negativa da empresa Walm em emitir a Declaração de Condição de Estabilidade (DCE) da barragem Sul Superior, inicia-se a manobra: a Vale comunica à Agência Nacional de Mineração (ANM) que acionaria o nível 1 do PAEBM (Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração). Entretanto, o próprio PAEBM da barragem indicava que o nível 1 não exige retirada da população. Ainda assim, toda uma estrutura logística de evacuação já estava montada: ônibus, cadeiras de rodas para idosos, lanches, rotas de fuga. Como explica Neri, “essa estrutura de remoção  estava toda planejada, contrariando o discurso de emergência que usaram para tocar a sirene de madrugada.”

Horas depois, a ANM eleva o risco para o nível 2, justificando a evacuação da zona de autossalvamento.

No mesmo dia da evacuação, a Vale comunicou à Superintendência de Projetos Prioritários (SUPPRI), da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento (SEMAD), o início da obra “emergencial” de uma Estrutura de Contenção em Concreto Rolado – CCR. A autorização para esse tipo de intervenção, sem necessidade de licenciamento ambiental, só viria meses depois, com o decreto estadual nº 47.749, de 11 de novembro de 2019. “Por que correram para fazer o muro — que já era de interesse da empresa — e não para corrigir a barragem?”, questiona Neri.

Com a desocupação forçada de Tabuleiro, a estrutura deixou de ser apenas uma contenção e virou um passadiço logístico para conectar minas como a do Baú à planta de Gongo Soco. Essa ligação estratégica viabiliza o Projeto Apolo, um empreendimento da Vale na Bacia do Rio Santa Bárbara, área de grande importância hídrica e ambiental, mas também cobiçada pelo capital minerário.

“A evacuação das comunidades era necessária para essa expansão. Com o território desocupado e a flexibilização do licenciamento, a empresa pôde avançar com suas obras”, denuncia Neri.

Despossessão sistemática

Barão de Cocais não foi um caso isolado. A mesma estratégia foi aplicada em outras regiões de Minas Gerais. No mesmo dia 8 de fevereiro de 2019, a ArcelorMittal promoveu a evacuação de moradores da Comunidade de Pinheiros, em Itatiaiuçu, alegando negativa da DCE da barragem de Serra Azul. A empresa declarou que os testes foram “reavaliados” após Brumadinho, mas não apresentou nenhuma nova evidência técnica.

No distrito de São Sebastião das Águas Claras (conhecido como Macacos), em Nova Lima, em 16 de fevereiro de 2019, sirenes também soaram, evacuando a população próxima às barragens B3/B4, da Vale. As estruturas tinham DCE em dia e não figuravam no “ranking de risco” da empresa. Dias depois, a Vale requereu nova obra emergencial: outro muro de contenção. Três anos mais tarde, essa estrutura alagou o distrito. A suspeita é que a mineradora queira forçar a desvalorização das terras para ampliar a Mina Mar Azul.

Em Ouro Preto, no distrito de Antônio Pereira, 473 pessoas foram removidas após a elevação súbita do risco da barragem Doutor, da Vale. Com isso, a empresa construiu, sem o devido processo de licenciamento ambiental, um vertedouro e uma estrada para servir de rota alternativa à rodovia MG 129.

Nota-se um padrão: a mineradora recebe ou força a negativa de uma DCE, comunica um suposto risco, aciona níveis elevados de emergência e promove a evacuação em tempo recorde. Pouco depois, inicia obras que exigiriam licenciamento, mas que, sob a roupagem de “emergenciais”, são conduzidas sem fiscalização ou consulta pública. As decisões são tomadas em conselhos e câmaras técnicas com forte influência do setor minerário. “Trata-se de uma aliança entre Estado e capital”, afirma Neri.

A resistência

Apesar da força do capital minerário, a resistência popular não está derrotada. Daniel Neri destaca que as reações populares ainda são “localizadas e contraditórias”, mas que existe espaço para a luta organizada.

Um exemplo recente foi a vitória da população de Ouro Preto que barrou o pedido de anuência da mineradora Leão de Ferro, interessada em explorar uma mina confrontante com a região do Monumento Natural da Gruta da Lapa.

Vitórias como essa mostram que, mesmo diante do terrorismo das mineradoras e da conivência das instituições, a força das massas organizadas é capaz de frear os avanços do capital.


Fonte: A Nova Democracia

STJ aponta risco de ruptura na barragem do Vale em Barão de Cocais (MG)

brucutuA mina de Brucutu em Minas Gerais (Crédito: Vale)

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu nesta quinta-feira (22/04) restabelecer decisão que impede a retomada das atividades na barragem Norte/Laranjeiras, de propriedade da Vale, em  Barão de Cocais (MG).

A empresa cortou a produção da mina de Brucutu – a maior mina de Vale em Minas Gerais – em dezembro para avaliar a estabilidade da barragem.

O processamento úmido em Brucutu  foi suspenso em fevereiro de 2020 a pedido do Ministério Público local após  o desastre da barragem de rejeitos em Brumadinho , que deixou 243 mortos.

A recente decisão do STJ se baseou em nova informação do Ministério Público Federal (MPF), que relatou risco de rompimento na barragem Norte/Laranjeiras.

Um relatório recente da Agência Nacional de Mineração (ANM) constatou “incertezas sobre o comportamento geomecânico da barragem e sua fundação e a existência de materiais de baixa resistência na estrutura”.

O MPF informou que um estudo realizado no local demonstrou “o aparecimento de fissuras na estrutura da barragem, cujas causas ainda não foram identificadas”.

Com a decisão do STJ, foi restabelecida a decisão da Justiça estadual que havia suspendido a operação da barragem em 2019.

A Vale afirmou em nota à imprensa que a decisão não tem efeito prático, uma vez que já desativou a barragem de Norte/Laranjeiras.

“A Vale continua realizando estudos e monitorando as condições da estrutura, além de obras para melhorar a segurança da barragem”, disse a mineradora.

Brucutu, que tem capacidade anual de 30 milhões de toneladas de minério de ferro, está produzindo a uma taxa anual de apenas 10 milhões de toneladas.

A Vale reportou queda de 19,5% na produção em relação ao trimestre anterior no 1T20, adicionando combustível à alta do preço do minério de ferro.

fecho

Este texto foi escrito originalmente em inglês e publicado pelo Minning.com [Aqui!].

ANM aumenta alerta para risco de rompimento da barragem Sul Superior em Barão de Cocais (MG)

sul superior

A barragem Sul Superior da Vale, na mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG), está em risco iminente de rompimento, segundo informou ontem a Agência Nacional de Mineração (ANM). Na mesma situação aparecem as estruturas de Forquilha I e III, entre Ouro Preto e Itabirito, e B3/B4, no distrito de São Sebastião das Águas Claras (Macacos), em Nova Lima, todas da Vale.

Técnicos da ANM fizeram uma inspeção nessas barragens e encontraram novas “anomalias”. Além disso, o que também contribuiu para a possibilidade de rompimento das estruturas foram as constantes chuvas nessas cidades em janeiro. Para piorar a situação, as quatro barragens já estavam no nível máximo de risco de rompimento.

No início deste mês, a agência, por conta do excesso de chuvas no estado, já havia determinado a empresas que possuem barragens de mineração que permanecessem em estado de alerta.

As equipes de segurança de barragens deveriam se manter em alerta com monitoramento diário das condições das estruturas – sobretudo para o estado de conservação –, além de dar atenção especial às tomadas d’água dos vertedouros, para garantir a capacidade vertente de acordo com o projeto.

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Este material jornalístico foi inicialmente publicado pelo Diário de Barão de Cocais [Aqui!].

A Vale garante que rompimento de Gongo Soco não atingiria Santa Bárbara: quem vai acreditar nisso?

GONGO SOCO AMEAÇA

Ao longo de 2019 publiquei vários posts sobre a situação crítica em que se encontra a barragem de rejeitos da mina de Gongo Soco que está localizada no município de Barão de Cocais cujo rompimento poderia ter efeitos piores do que aqueles resultantes dos Tsulamas ocorridos em Mariana e Brumadinho.

Em um desses posts foi apresentada uma análise integrada produzida pelo arquiteto Frederico Lopes Freire que mostrou que além de Barão de Cocais, os rejeitos eventualmente escapados de Gongo Soco deveriam também  atingir os municípios de Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo (ver imagem abaixo).

Congo Soco - caminho da lama

Pois bem, a edição de hoje do “Diário de Santa Bárbara”  publicou uma matéria de capa indicando que a mineradora Vale teria comunicado que em caso de rompimento “um “megamuro” que foi construído na região de Socorro será suficiente para conter a lama, evitando que as cidades sejam atingidas” (ver imagem abaixo).

diário

O problema é que, depois de Mariana e Brumadinho, quem em sã consciência vai se acalmar com um comunicado da Vale?

Trincas forçam Vale a alertar mercado sobre suspensão de uso de barragem em Barão de Cocais (MG)

laranjeiras

Ao longo de 2019 abordei diversas situações de risco envolvendo barragens de mineração da Vale no estado de Minas Gerais. Entretanto, ao longo dos últimos meses, a coisa parecia menos dramática do que no início do ano, quando várias dessas estruturas construídas para receber rejeitos da mineração de ferro da Vale no território mineiro ameaçavam ruir.

Mas eis que hoje, a Vale emitiu um novo comunicado ao mercado dando conta da suspensão dos despejos de resíduos na barragem Laranjeiras vindos da mina Brucutu, localizada nos municípios de Barão de Cocais e de São Gonçalo do Rio Abaixo (ver imagem abaixo).

vale barragem

A Vale informa que a suspensão do despejo de rejeitos na barragem de Laranjeiras está se dando para que sejam conduzidas “avaliações sobre as características geotécnicas da barragem”. Entretanto, o Diário de Barão informou em sua página oficial na rede social Facebook que a interdição de Laranjeiras se deve à constatação da existência de duas trincas (ou seja, rachaduras) nas paredes da barragem Laranjeiras.

O jornal Estado de Minas já informou que a barragem de Laranjeiras tem capacidade de 5,8 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos, e que uma eventual inundação decorrente de sua ruptura se estenderia por 183 km a jusante no Rio Piracicaba, o que inevitavelmente levaria o material até a calha principal do Rio Doce, que já foi duramente atingido pelo Tsulama da Mineradora Samarco (Vale+ BHP) que eclodiu no Distrito de Bento Rodrigues em Novembro de 2015.

Há que se lembrar que a Barragem Laranjeiras havia sido paralisada pela Justiça em fevereiro  deste ano, junto com outras sete após ação civil pública movida pelo Ministério Público, processo que ainda que corre em segredo de Justiça. A mineradora havia conseguido voltar a operar, mas houve nova suspensão no dia 6 de maio, a qual foi novamente suspensa, o que permitiu despejar rejeitos em Laranjeiras até o dia de hoje.

Enquanto isso, os governos de Romeu Zema e Jair Bolsonaro assistem tudo como se não tivessem nada com os graves riscos que estão colocados sobre a população dos municípios localizados imediatamente a jusante da barragem Laranjeiras ou sobre os ecossistemas naturais da região, incluindo os do Rio Doce.

 

Ambientalista denuncia ação predatória da Vale na região de Barão de Cocais

andré do mato dentroMáquinas utilizadas para destruição de fragmentos de Mata Atlântica no distrito de André do Mato Dentro no município de Santa Bárbara (MG). 

No vídeo abaixo, a ambientalista Maria Teresa Corujo fala sobre a situação das obras em André do Mato Dentro, na região de Barão de Cocais (MG), a destruição ambiental e a violação de direitos dos moradores promovida pela mineradora Vale em nome da contenção dos rejeitos que eventualmente escaparão da barragem Sul Superior da mina Gongo Soco, coincidentemente de propriedade da própria empresa.

As denúncias de Maria Teresa Corujo são graves e demonstram que a Vale está agindo de forma agressiva para fazer garantir seus interesses minerários. Há que se notar que Maria Teresa Corujo possui um longa militância social na proteção de ecossistemas naturais e populações atingidas pela mineração em Minas Gerais.

Há que se lembrar que Maria Teresa Corujo, representante da sociedade civil na câmara técnica do Conselho Ambiental de Minas,  foi a única a votar contra ampliação da mina de Feijão, onde ocorreu o rompimento da barragem que causou centenas de mortes e uma devastação sem precedentes do meio ambiente, também um empreendimento minerário da Vale. 

Gongo Soco: estrago pode ser maior que o previsto pela Vale, alertam pesquisadores

Congo Soco - caminho da lama

Por Pedro Peduzzi – Repórter da Agência Brasil 

O estrago que o rompimento da barragem da Mina de Gongo Soco causará na região de Barão de Cocais (MG) poderá ser ainda maior do que o previsto no relatório dam break, apresentado pela Vale, empresa responsável pela mina.

O alerta é do Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS), núcleo composto por pesquisadores e alunos com formações diversas, que se utiliza de conhecimentos econômicos, geográficos, sociológicos e de políticas públicas para analisar e avaliar os impactos que as redes de produção associadas à indústria extrativa mineral geram para a sociedade e para o meio ambiente.

Segundo o engenheiro e integrante do grupo Bruno Milanez, as projeções apresentadas no relatório da Vale subestimaram a capacidade destrutiva da onda, por não levar em consideração o aumento de sua densidade por conta dos objetos de médio e grande porte que seriam arrastados ao longo do percurso.

“O modelo que usaram foi baseado em onda de água, considerando a altura do rejeito e a velocidade. No entanto, o rejeito terá uma densidade maior, porque ao longo do trajeto a onda carregará também os objetos que estiverem pelo caminho”, disse à Agência Brasil o professor do Departamento de Engenharia da Produção da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Bruno Milanez.

O engenheiro alerta que “se essa onda trouxer consigo objetos como troncos ou até mesmo caminhões, ela terá uma densidade ainda maior de rejeitos. Dessa forma, o potencial de destruição nas áreas amarela e verde [áreas que segundo o estudo não seriam atingidas ou seriam parcialmente destruídas] seria ainda maior”.

Vale

Agência Brasil entrou em contato com a Vale, para saber a posição da empresa sobre a crítica apresentada pelo integrante do PoEmas. A vale, no entanto, manifestou apenas seu posicionamento com relação ao prazo de 72 horas, dado pela juíza Fernanda Machado, da Vara de Barão de Cocais (MG), para que apresentasse o estudo dos impactos relacionados ao eventual rompimento das estruturas da Mina de Congo Soco.

“A Vale, no prazo fixado pela determinação judicial, apresentou o relatório mais atualizado de dam break da Barragem Sul Superior, explicando naquela oportunidade a adequação dos critérios técnicos”, diz a nota enviada pela Vale à Agência Brasil.

Movimento

Segundo a coordenadora nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Maria Júlia Andrade, a forma como as informações estão sendo repassadas pela Vale é inadequada, o que tem gerado “pânico e terror” na população local. Maria Júlia diz que há uma preocupação muito grande, nos últimos dias, após ter vindo à tona a informação de que existe um talude da cava da mina prestes a desmoronar.

“Esse problema já existia, mas ele só veio à tona agora. E o maior problema é que esta cava está localizada muito perto, cerca de 300 metros, da barragem que já estava em risco máximo há mais de três meses”, disse a coordenadora.

Na avaliação do MAM, “as informações [sobre os riscos] são dadas a conta-gotas, e o pânico e o terror estão generalizados [na região]. As pessoas não sabem se o risco é real, não sabem se a barragem vai romper ou não. Só sabem que existe um pânico e um medo de uma bomba relógio em cima de suas cabeças”, disse.

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Este artigo foi originalmente publicado pela Agência Brasil [Aqui!].

Vídeos mostram a situação em Barão de Cocais pré-Tsulama de Gongo Soco

para onde correr

Os vídeos abaixo, os dois primeiros produzidos pela Defesa Civil de Minas Gerais e o terceiro de uma afiliada da Band, mostram a situação pré-ruptura do talude norte da cava de Gongo Soco na área que romperá e seus efeitos na população de Barão de Cocais (MG).

Informações vindas de Barão de Cocais dão conta que há uma grande insatisfação em relação à forma com que a Vale vem tratando mais esse rompimento de uma das suas barragens no estado de Minas Gerais.

Os vídeos abaixo podem ser considerados como um testemunho do que ainda virá e de porque não se pode deixar com que a narrativa da Vale seja a única a ser veiculada, visto que isto faz parte da estratégia da empresa de controle dos territórios destruídos pela ruptura de suas barragens de rejeitos.

 

 

Análise integrada de riscos aponta que perigo de Gongo Soco está sendo subestimado

GONGO SOCO AMEAÇA

Desde o início de fevereiro venho acompanhando com bastante preocupação a situação envolvendo a mina de Gongo Soco que a mineradora Vale opera (ou operava) no município de Barão de Cocais, quando foram soadas as sirenes de alerta para prevenir a população para um eventual ruptura da barragem de rejeitos Sul Superior (ver vídeo abaixo).

Eu, como a maioria das pessoas que acompanham o problema, tenho me atido a me preocupar com o volume de rejeitos que escapariam da barragem Sul Superior caso a mesma viesse a se romper, pois existem pelo menos 3 municípios na vizinhança imediata daquela estrutura (i.e, Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo). É que as estimativas fornecidas pela Agência Nacional de Mineração (ANM) dão conta que algo em torno de 6 milhões de metros cúbicos de rejeitos estariam estocados na Sul Superior e, em caso de ruptura, poderiam atingir diretamente todas as áreas urbanas da vizinhança imediata em questão de poucas horas.

gongo-soco-barragem-sul-superior

Pois bem, hoje tive acesso a mais um conjunto de inspeções visuais realizadas pelo arquiteto e urbanista Frederico Lopes Freire que me levaram a concluir que os riscos apontados para uma possível ruptura do talude da cava da mina de Gongo Soco, e o possível que isso teria em causar o mesmo processo de liquefação que ocorreu em Mariana e Brumadinho na Sul Superior,  estão sendo subestimados.

Gongo Soco - foto - profundidade.jpg

Para explicar as análises visuais que apoiam esta conclusão mostro uma primeira imagem da cava da Gongo Soco que teria em torno de 200 metros de profundidade, algo em torno de 800 metros de comprimento e 150 metros de largura. Então com medidas estimativas, há ali um potencial de estocagem de  pelo menos 15 milhões de metros cúbicos de água, usando uma medida conservadora (ver figura abaixo).

Gongo Soco - água acumulada

Assim, ao risco que está sendo aventado de que a ruptura do talude resulte na liquefação da Sul Superior, há que se acrescentar a possibilidade de que pelo menos parte da água estocada na cava de Gongo Soco escape dali e force a ruptura, levando junto os rejeitos ali estocados. 

Gongo Soco 31-08-2018

Essa combinação de volume de água estocada na cava de Gongo Soco com os rejeitos da Sul Superior teria um potencial destrutivo bem maior do que aquele sendo estimado apenas para a sua simples liquefação. Além disso, a combinação de água e rejeito tornaria ainda mais ineficiente a construção para lá de tardia de um muro de contenção para os rejeitos que foi anunciado pela Vale neste sábado (18/05).

A figura abaixo mostra o percurso que o Tsulama de Gongo Soco assumiria após o rompimento da estrutura da Sul Superior, mostrando exatamente como Barão de Cocais receberia o primeiro impacto.

Congo Soco - caminho da lama

Algo que carece de maior esclarecimento é de porque não se tem divulgado informações para o risco integrado que a água estocada na cava de Gongo Soco e os rejeitos depositados na Sul Superior representa para a população e para o meio ambiente dos municípios que serão diretamente afetados por mais esse incidente causado pela Vale. Isto sem falar na bacia do Rio Doce que receberá outro impacto direto, não tendo ainda se recuperado do evento ocorrido em Mariana.

O pior é que ao se desconsiderar, ou pelo menos não se divulgar os riscos integrados, quem faz isto acaba jogando com a vida das pessoas que estão desinformadas sobre a possibilidade de que a área que será inundada pelo Tsulama da Gongo Soco seja maior do que está sendo divulgado.

 

Em caso de rompimento em Barão de Cocais, Rio Doce seria afetado pelo segundo desastre com barragens

Manancial que foi inundado por onda de rejeitos da Barragem de Fundão, de Mariana, em novembro de 2015, está na rota da lama caso ocorra o rompimento do reservatório Sul Superior, da Mina de Gongo Soco

rio doce

Rio Doce foi praticamente sufocado há mais de três anos e poderia receber nova onda de rejeitos se barragem se romper em Barão de Cocais. Na foto, manancial em Governador Valadares(foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS – 17/10/2018)

Por Guilherme Parnaiba para o “Estado de Minas”

O Rio Doce está mais uma vez na rota das barragens em Minas Gerais. Mais de três anos após a tragédia de Mariana, que devastou a bacia hidrográfica banhada pelo manancial federal desde a nascente até a foz no Oceano Atlântico, o curso d’água está mais uma vez no caminho caso ocorra um novo desastre do tipo em Minas.

Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o manancial seria impactado caso ocorra o rompimento da Barragem Sul Superior, da Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais, na Região Central de Minas.

A Semad informou que uma possível onda de lama passaria por quatro córregos antes de alcançar o Rio Santa Bárbara, para, em seguida, chegar ao Rio Piracicaba e, por fim, ao Rio Doce, em um ponto distante 195,2 quilômetros da barragem. O informe da Semad foi feito depois que a pasta recebeu comunicado da Vale de uma provável ruptura do talude norte da cava de Gongo Soco. Essa ruptura poderia gerar um gatilho para desestabilizar a Barragem Sul Superior, e, consequentemente, espalhar rejeitos pela região.

A qualidade da água desses mananciais poderá ser afetada, “tornando-a imprópria para consumo humano. Pode ocorrer ainda redução do oxigênio dissolvido, com consequente mortandade de peixes e outras espécies aquáticas. Os cursos d’água podem ter redução da vazão decorrente do assoreamento da calha principal e deposição do rejeito”, segundo a Semad.

A pasta que cuida do meio ambiente do estado também identificou outros impactos em decorrência de um possível rompimento em Barão. A lama suprimiria 383 hectares de remanescentes de floresta da mata atlântica, alteraria a composição do solo original, afetando a fertilidade, e causaria impactos energéticos, pois chegaria ao  reservatório da Usina Hidrelétrica de Peti, localizada a 14 km de distância da barragem, entre os municípios de Santa Barbara e São Gonçalo do Rio Abaixo.

Os impactos para a biodiversidade ainda são avaliados, mas, de antemão,  espécies da fauna e da flora nas áreas e corpos hídricos podem ser atingidas pela passagem ou deposição de rejeito. 

Medidas solicitadas pela SEMAD

No último dia 15, em virtude do comunicado sobre riscos de rompimento do talude dentro de Gongo Soco e um possível gatilho para a Barragem Sul Superior, a Semad determinou que a Vale monitore os recursos ambientais da região. A pasta também determinou mitigação de impactos e perparação de equipes para ação imediata.

Entre exemplos de determinações se destacam “identificação de todas as estruturas, equipamentos e insumos existentes na direção do fluxo dos rejeitos no caso de um eventual rompimento; monitoramento das águas superficiais e subterrâneas na área impactada; apresentação de projeto de mitigação do carreamento dos rejeitos para o Córrego Barão de Cocais; além de instalação de hospital veterinário de campanha e Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), com equipes de resgate de fauna mobilizadas”, informou a Semad.

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Este artigo foi originalmente publicado pelo jornal “Estado de Minas” [Aqui!]