Injustiça climática, aqui e lá, atingirá desproporcionalmente os pobres

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Um interessante artigo escrito pelas jornalistas Anne Bennand, Corey Kilgannon, Jazmine Hughes e Emma Goldberg para o “The New York Times” sob o título de “It is going to be a hot summer. It will be hotter if you´re not rich” (em português “Vai ser um verão quente, que será mais quente se você for pobre”) são apontados vários elementos do que seria “injustiça climática”. É que no frigir dos ovos, as mudanças climáticas e suas diversas manifestações irão atingir os segmentos mais pobres da população nova iorquina, na medida em que até mesmos os espaços públicos destinados aos ricos irão protegê-los melhor das altas temperaturas que deverão ocorrer no próximo verão.

Diferente do que está posto no artigo das jornalistas do New York Time, injustiça climática no Brasil não é mais só um prognóstico, mas um fato que está se tornando corriqueiro, só que na forma de chuvas extremas que chegam rapidamente e atingem mais duramente as áreas que restaram para os mais pobres morarem.

Apenas em 2022 já tivemos os exemplos de Petrópolis, da Baixada Fluminense, de Angra dos Reis e Paraty, de inúmeras cidades de Minas Gerais, e agora no Recife.  Em todos esses lugares as chuvas chegaram rápidas e intensas, e causaram enormes perdas de vidas humanas e colocaram abaixo milhares de habitações localizadas em regiões geologicamente instáveis que foram ocupadas depois que o filé mignon imobiliário foi ocupado e submetido a um processo de valorização que expulsou para longe quem não tinha como pagar.

No caso brasileiro, a injustiça climática continuará se agravando até que se faça uma radical reforma da terra urbana, que inclua ainda a tomada pelo Estado de um grande estoque de imóveis que os proprietários deixam vazios até que possam adentrar a próxima bolha imobiliária ou algum processo de gentrificação que é normalmente é financiado com dinheiro público.

A verdade é que qualquer medida paliativa para esconder o acúmulo de cadáveres causados pela injustiça climática servirá apenas para causar a chegada de outro desastre social de base climática. É que, queiramos ou não, as mudanças climáticas chegaram para ficar, servindo ainda para expor as dramáticas diferenças sociais existentes nas cidades brasileiras.

 

Flexibilização da proteção às margens dos rios pode deixar a população mais exposta a desastres naturais e crise hídrica

Projeto de lei aprovado pelo Congresso nesta quarta-feira, 8/12, altera o Código Florestal e dá autonomia aos municípios para legislarem sobre as Áreas de Preservação Permanente (APP) em centros urbanos. Especialistas veem riscos de aumento das pressões locais pelo uso de áreas que deveriam ser preservadas

unnamed (39)Vista do mirante do Parque Passaúna, em Curitiba – Foto Pixabay

O Congresso Nacional aprovou nessa quarta-feira, 8/12, um projeto de lei que transfere da União para os municípios a competência para definir as regras de proteção às margens de rios, lagos, lagoas e demais cursos d’água de cidades brasileiras. O texto aprovado, que segue para sanção da Presidência da República, altera o Código Florestal e pode permitir a realização de intervenções e obras, além de facilitar a regularização de construções irregulares. A alteração na legislação foi recebida com preocupação por pesquisadores e organizações comprometidas com a conservação da natureza e o desenvolvimento sustentável no Brasil, que temem o aumento das pressões pelo uso de áreas que deveriam ser preservadas. De acordo com o Código Florestal, margens de rios são Áreas de Preservação Permanente (APP).

A definição das faixas mínimas a serem protegidas nas margens dos rios, conforme especificado na lei federal, visa garantir que as funções gerais dessas áreas sejam minimamente resguardadas, tanto no espaço rural quanto no urbano. A tentativa de remeter a definição de APP ao legislador municipal pode facilitar a redução dessas áreas. Uma das consequências diretas deve ser o aumento dos riscos de deslizamentos de encostas e a potencialização dos efeitos das enchentes, causando prejuízos econômicos, sociais e sanitários. Além disso, recursos hídricos desprotegidos comprometem o fornecimento de água, agravando a crise hídrica e potencializando uma iminente crise energética.

A Aliança Bioconexão Urbana, formada por oito organizações que defendem o uso de Soluções Baseadas na Natureza para enfrentar desafios das cidades, realça que proteger as nascentes e cursos d’água deveria ser uma prioridade nacional, já que os recursos hídricos são estratégicos para o abastecimento da população, irrigação de lavouras, geração de energia e o desenvolvimento das mais variadas atividades econômicas. “As APPs contribuem para a proteção da biodiversidade, ajudam a regular o microclima, protegem recursos hídricos, reduzem os efeitos das ilhas de calor em grandes cidades e regiões metropolitanas e também oferecem bem-estar para as populações. Não faz sentido flexibilizar a legislação, gerando incertezas sobre essas áreas e colocando a população em risco. Ao poder induzir desmatamentos, a mudança na lei também vai contra o acordo de desmatamento zero até 2030 assumido pelo Brasil durante a COP26”, alerta André Ferretti, gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, uma das organizações que integram a Aliança Bioconexão Urbana.

Menos áreas verdes

A transferência de competência na legislação sobre APPs também pode facilitar a redução de áreas verdes em grandes cidades, gerando ainda maior gasto público com serviços como o abastecimento de água. Caso isso ocorra, a medida vai na contramão de políticas públicas adotadas com sucesso no Brasil e em outros países em relação às chamadas Soluções Baseadas na Natureza (SBN), que utilizam infraestrutura verde como estratégia para solucionar diversos desafios enfrentados pelas cidades.

Para Cecília Herzog, paisagista urbana, especialista em Preservação Ambiental das Cidades e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), os legisladores deveriam considerar que a natureza oferece uma série de serviços ecossistêmicos essenciais à qualidade de vida da população. “Diversos estudos comprovam que a manutenção da infraestrutura natural nas margens de rios reduz os sedimentos depositados nas águas e, consequentemente, gera economia de recursos ao poder público nos sistemas de tratamento e distribuição de água. Manter áreas verdes nas margens dos rios é uma maneira inteligente de gerar economia em gastos com dragagem dos reservatórios e também na aquisição de produtos químicos para tratamento”, salienta a especialista.

Além de preservar os recursos hídricos, APPs contribuem para a preservação da biodiversidade e podem ser importantes para melhorar a saúde e a qualidade de vida da população, conforme explica André Ferretti. “Com a adoção de parques e corredores ecológicos nas margens dos rios, é possível estimular a atividade física e o lazer, além de diversas atividades culturais e econômicas, gerando um ciclo virtuoso a partir do contato com a natureza. Áreas verdes devem ser compreendidas como grandes ativos das cidades”, ressalta.

E-book gratuito

Para saber mais sobre como as Soluções Baseadas na Natureza são importantes para que as cidades se preparem para os desafios das mudanças climáticas, a Fundação Grupo Boticário disponibiliza gratuitamente o e-book “Cidades Baseadas na Natureza – infraestrutura natural para resiliência urbana”. O material traz exemplos de diferentes metrópoles que adotaram com sucesso a infraestrutura verde para solucionar problemas urbanos. Baixe aqui.

Flexibilização de Áreas de Preservação Permanente (APP) pode deixar a população mais exposta a desastres naturais e crise hídrica

Propostas em votação na Câmara e no Senado podem reduzir ainda mais áreas verdes em grandes cidades. Medidas estão na contramão de políticas públicas adotadas com sucesso em diferentes países

unnamed (37)Vista do Mirante do Passaúna, em Curitiba / Foto: Rodrigo Santos – Pixabay

Elaborados para flexibilizar a definição sobre Áreas de Preservação Permanente (APP) em regiões urbanas, dois Projetos de Lei (PL) ameaçam a proteção às margens de rios, lagos, lagoas e demais cursos d’água de cidades brasileiras. O PL 2.510/2019, aprovado em regime de urgência na Câmara dos Deputados em agosto, e o PL 1.869/2021, pronto para ser votado a qualquer momento no Senado Federal, dão autonomia a municípios para legislarem sobre as APPs, alterando o Código Florestal e permitindo a realização de intervenções e obras, além de facilitarem a regularização de construções irregulares. A flexibilização é vista como retrocesso por organizações e entidades comprometidas com a conservação da natureza e o desenvolvimento sustentável no Brasil.

A definição das faixas mínimas a serem protegidas nas margens dos rios, conforme especificado no Código Florestal, visa a garantir que as funções gerais dessas áreas sejam minimamente resguardadas, tanto no espaço rural quanto no urbano. A tentativa de remeter a definição de APP ao legislador municipal pode facilitar a redução dessas áreas. Uma das consequências diretas deve ser o aumento dos riscos de deslizamentos de encostas e a potencialização dos efeitos das enchentes, causando prejuízos econômicos, sociais e sanitários. Além disso, recursos hídricos desprotegidos comprometem o fornecimento de água, agravando a crise hídrica e potencializando uma iminente crise energética.

Aliança Bioconexão Urbana, formada por oito organizações que defendem o uso de Soluções Baseadas na Natureza para enfrentar desafios das cidades, realça que proteger as nascentes e cursos d’água deveria ser uma prioridade nacional, já que os recursos hídricos são estratégicos para o abastecimento da população, irrigação de lavouras, geração de energia e o desenvolvimento das mais variadas atividades econômicas. “As APPs contribuem para a proteção da biodiversidade, ajudam a regular o microclima, protegem recursos hídricos e também oferecem bem-estar para as populações. Não faz sentido flexibilizar a legislação, gerando incertezas sobre essas áreas e colocando a população em risco”, alerta André Ferretti, gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, uma das organizações que integram a Aliança Bioconexão Urbana.

Menos áreas verdes

Caso sejam aprovados, os projetos de lei podem reduzir ainda mais áreas verdes em grandes cidades, gerando ainda maior gasto público com serviços como o abastecimento de água. A medida vai na contramão de políticas públicas adotadas com sucesso em diferentes países em relação às chamadas Soluções Baseadas na Natureza (SBN), que utilizam infraestrutura verde como estratégia para solucionar diversos desafios enfrentados pelas cidades.

Para Cecília Herzog, paisagista urbana, especialista em Preservação Ambiental das Cidades e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), os legisladores deveriam considerar que a natureza oferece uma série de serviços ecossistêmicos essenciais à qualidade de vida da população. “Diversos estudos comprovam que a manutenção da infraestrutura natural nas margens de rios reduz os sedimentos depositados nas águas e, consequentemente, gera economia de recursos ao poder público nos sistemas de tratamento e distribuição de água. Manter áreas verdes nas margens dos rios é uma maneira inteligente de gerar economia em gastos com dragagem dos reservatórios e também na aquisição de produtos químicos para tratamento”, salienta a especialista.

Além de preservar os recursos hídricos, APPs contribuem para a preservação da biodiversidade e podem ser importantes para melhorar a saúde e a qualidade de vida da população, conforme explica André Ferretti. “Com a adoção de parques e corredores ecológicos nas margens dos rios, é possível estimular a atividade física e o lazer, além de diversas atividades culturais e econômicas, gerando um ciclo virtuoso a partir do contato com a natureza. Áreas verdes devem ser compreendidas como grandes ativos das cidades”, ressalta.

E-book gratuito

Para saber mais sobre como as Soluções Baseadas na Natureza são importantes para que as cidades se preparem para os desafios das mudanças climáticas, a Fundação Grupo Boticário disponibiliza gratuitamente o e-book “Cidades Baseadas na Natureza – infraestrutura natural para resiliência urbana”. O material traz exemplos de diferentes metrópoles que adotaram com sucesso a infraestrutura verde para solucionar problemas urbanos. Baixe aqui.

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Conheça as organizações que integram a Aliança Bioconexão Urbana:

Fundação Grupo Boticário– Com 30 anos de história, a Fundação Grupo Boticário é uma das principais fundações empresariais do Brasil que atuam para proteger a natureza brasileira. A instituição atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada nos negócios e em políticas públicas e apoia ações que aproximem diferentes atores e mecanismos em busca de soluções para os principais desafios ambientais, sociais e econômicos. Já apoiou cerca de 1.600 iniciativas em todos os biomas no país. Protege duas áreas de Mata Atlântica e Cerrado – os biomas mais ameaçados do Brasil –, somando 11 mil hectares, o equivalente a 70 Parques do Ibirapuera.

Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) – Organização sem fins lucrativos que tem como objetivo subsidiar processos de tomada de decisão em temas relacionados à ciência, tecnologia e inovação. Atua por meio de estudos em prospecção e avaliação estratégica baseados em ampla articulação com especialistas e instituições. Trabalha diretamente com Soluções Baseadas na Natureza para cidades. 

Rede Brasil do Pacto Global da ONU – Iniciativa da Organização das Nações Unidas para encorajar empresas a adotar políticas de responsabilidade social corporativa e sustentabilidade. Criada em 2003, a Rede Brasil responde à sede do Pacto Global, em Nova Iorque, e preside o Conselho das Redes Locais na América Latina. Os projetos conduzidos no país são desenvolvidos por meio das Plataformas de Ação e dos Programas Internacionais. Atualmente estão em andamento cerca de 40 iniciativas, que contam com o envolvimento de centenas de empresas, assim como agências da ONU e agências governamentais.

ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) – Rede global de mais de 2.500 governos locais e regionais comprometida com o desenvolvimento urbano sustentável. Ativos em mais de 125 países, a Rede influencia políticas de sustentabilidade e impulsiona a ação local para o desenvolvimento de baixo carbono, baseado na natureza, equitativo, resiliente e circular. A Rede e equipe de especialistas trabalham juntos oferecendo acesso a conhecimento, parcerias e capacitações para gerar mudanças sistêmicas em prol da sustentabilidade urbana.

WRI Brasil – Instituto de pesquisa que transforma grandes ideias em ações para promover a proteção do meio ambiente, oportunidades econômicas e bem-estar humano. Atua no desenvolvimento de estudos e implementação de soluções sustentáveis em clima, florestas e cidades. Alia excelência técnica à articulação política e trabalha em parceria com governos, empresas, academia e sociedade civil. O WRI Brasil faz parte do World Resources Institute (WRI), instituição global de pesquisa com atuação em mais de 60 países. 

BPBES – A Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos – BPBES (do inglês, Brazilian Platform on Biodiversity and Ecosystem Services) foi constituída inicialmente como Grupo de Trabalho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência/SBPC. Suas atividades são desenvolvidas desde 2015 com destaque para o Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. Em 2019, a Plataforma foi reestruturada para apoiar e fomentar a elaboração de novos relatórios, apoiando-se em três pilares: a coordenação executiva, conselho técnico-científico, e autores de diagnósticos.

Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) – O Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) se espelha no Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) e objetiva fornecer avaliações científicas sobre as mudanças climáticas de relevância para o Brasil, incluindo os impactos, vulnerabilidades e ações de adaptação e mitigação.

TNC – A The Nature Conservancy (TNC) é uma organização global de conservação ambiental dedicada à proteção das terras e águas das quais toda a vida depende. Guiada pela ciência, a TNC cria soluções locais inovadoras para os principais desafios do mundo, de forma que a natureza e as pessoas possam prosperar juntas. Trabalhando em mais de setenta países, a organização utiliza uma abordagem colaborativa, que envolve comunidades locais, governos, setor privado e a sociedade civil. No Brasil, onde atua há mais de 30 anos, o trabalho da TNC concentra-se em solucionar os complexos desafios de conservação da Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica a partir de uma abordagem sistêmica, com foco na implementação e geração de impacto, para reverter as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade.

Cidades amazônicas sob risco de grandes incêndios por causa das queimadas

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Área urbana de Tangará da Serra (MT) cercada pelas chamas no dia de ontem (11/09).

Um dos aspectos que é pouco considerado quando se pensa nas mudanças do uso da terra que estão ocorrendo na Amazônia brasileira é o fato de que a região Norte possui uma taxa de urbanização acima de 70% (no Brasil como um todo, esta taxa está em torno de 85%).

Decorrente dessa alta taxa de urbanização da Amazônia (para os interessados no processo, eu recomendo o livro de John Browder e Brian Godfrey intitulado “Cidades da floresta: urbanização, desenvolvimento e globalização na Amazônia Brasileiraque oferece uma análise regional completa do processo de urbanização acontecendo na Amazônia Brasileira), o que temos é uma proximidade grande entre as aglomerações urbanas e as regiões florestadas que já foram ou estão sendo alteradas pelos processos de desmatamento e degradação florestal em curso na região.

Por isso, as cenas das chamas oriundas de queimadas cercando diferentes cidades na Amazônia não deveria surpreender ninguém (ver abaixo a situação que ocorreu ontem na cidade de Tangará da Serra, localizada no sudoeste do estado do Mato Grosso) (ver video abaixo).

A verdade é que outras cidades com tamanho mais significativo do que Tangará da Serra estarão, cedo ou tarde (talvez mais cedo do que tarde) no caminho de grandes incêndios na Amazônia, com consequências incalculáveis.

Por isso, quando leio que apoiadores do governo Bolsonaro utilizam as cenas de grandes incêndios ocorrendo na Califórnia como uma espécie de desculpa minimizadora do que está acontecendo na Amazônia, eu só posso pensar que a ignorância é a causa desse esforço negacionista. 

É que, ao contrário da Califórnia, a maioria das cidades da Amazônia brasileira não possui equipamentos para combater grandes incêndios, o que amplia a chance de que uma grande quantidade delas esteja hoje vivendo sob o risco da devastação via o fogo. Como já estive fazendo trabalhos de campo por quase 20 anos em Rondônia, posso afirmar que essa proximidade com as áreas de queimada aumenta a chance de que áreas urbanas sejam atingidas em cheio por grandes incêndios por causa delas.

Enquanto isso, vemos o presidente e o vice-presidente da república, bem como o ministro do Meio Ambiente, envolvidos em esforços rocambolescos de negação da catástrofe ambiental que está ocorrendo tanto na Amazônia quanto no Pantanal Matogrossense.  Esse tipo de comportamento negacionista ainda poderá resultar em grandes perdas humanas, além da ambiental que já está em curso. O governo Bolsonaro neste momento literalmente brinca com fogo.

As cidades devem pensar nas árvores como uma infraestrutura de saúde pública

torontoToronto, Ontário, Canadá. Imagem: Shutterstock Shipfactory

Plantar árvores é uma forma de melhorar a saúde das pessoas, e uma medida muito fácil e barata de se tomar. As árvores, além de embelezar uma cidade, proporcionam ar fresco e limpo. Por isso deveria se pensar nelas como uma infraestrutura de saúde pública.

Todas as pessoas deveriam poder respirar ar puro. Isso deveria ser possível também nas grandes cidades. As árvores não só ornamentam as ruas como ajudam a manter a saúde física e mental dos seus habitantes, ajudando a criar um ambiente mais saudável.

A organização The Nature Conservancy questiona por que não são incluídos esses conceitos nos orçamentos governamentais direcionados à saúde pública.

Esta organização elaborou recentemente um documento que explica com cifras as razões pelas quais se deve mudar o paradigma das verbas públicas, para incluir o investimento em criação e manutenção de áreas verdes nos gastos de saúde.

Para elaborar este documento usou-se o exemplo dos Estados Unidos, já que nesse país se dedica apenas 1% do seu orçamento para o plantio e manutenção das áreas verdes – e somente um terço disso é realmente investido. Como consequência, as cidades do país norte-americano perdem cerca de 4 milhões de árvores por ano.

Este é um documento oficial que detalha o problema, suas causas, conceitos e as soluções para lutar contra ele.

Se estima que com uma média de 8 dólares por pessoa em cada ano seria possível impedir a perda de árvores no país.

Também seria possível aumentar o aproveitamento dos benefícios que elas geram. O número não sugere o valor, senão apresenta uma mostra de que esse investimento necessário também é possível.

Investimento verde diminuindo

Com respeito aos investimentos, o informe indica que, atualmente, os municípios estão gastando menos com o plantio e o cuidado das árvores, em comparação com o que era gasto em décadas anteriores.

A falta ou presença de árvores em um local muitas vezes está ligada ao nível de renda de um bairro. Isso também cria uma enorme desigualdade nas cifras de saúde.

Nos Estados Unidos, a diferença nas expectativas de vida entre bairros de uma mesma cidade que estão próximos geograficamente pode chegar a ser de até uma década.

Embora a diferença nos índices de saúde não tem a ver somente com a questão das árvores, os investigadores asseguram que os bairros com menos áreas verdes têm piores resultados com relação à saúde de seus residentes. Desta forma, é possível concluir que a desigualdade urbanística pode se refletir em piores níveis saúde.

Entretanto, há outras cidades (como é o caso de Londres) ou países (como é o caso da China ou da Nova Zelândia) onde existe sim uma preocupação em promover o reflorestamento de forma mais massiva.

Medidas para aumentar as áreas verdes numa cidade

O documento propõe uma série de conselhos que podem ser usados pelo poder público e privado, entre os quais estão os seguintes:

Implementar políticas que incentivem o semear de árvores, seja por iniciativa privada ou pública.

Intercâmbios municipais que visem facilitar a colaboração de organismos de saúde pública e agências ambientais.

Relacionar o financiamento de árvores e parques a objetivos e metas das políticas de saúde pública.

Educar a população sobre os benefícios das áreas verdes para a saúde pública, e também sobre o impacto econômico das mesmas.

*Publicado originalmente em EcoInventos  

Tendências pós-pandemia apontam para cidades mais integradas à natureza

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Segundo Pedro Lira, sócio fundador da Natureza Urbana, representante do Brasil na WUP (World Urban Parks) e consultor do United Nation Office for Planning Services (UNOPS), devolver espaço à natureza é fundamental para reduzir as chances de novas pandemias acontecerem

A restrição à liberdade de ir e vir e socializar causada pela pandemia do novo coronavírus trouxe aos seres humanos uma oportunidade única de reflexão, principalmente sobre como lidamos e passaremos a lidar com a natureza, segundo o arquiteto e urbanista Pedro Lira, sócio fundador da Natureza Urbana, escritório de arquitetura, urbanismo e planejamento estratégico especialista na elaboração de projetos de grande escala, entre eles equipamentos de uso público e de interesse turístico, no âmbito das cidades e de áreas naturais.

O impacto negativo da atividade humana e suas consequências para o planeta pode ser visível a partir do atual período em que o mundo enfrenta. Pesquisa realizada por Marshall Burke, da Universidade de Stanford, nos EUA, aponta que o isolamento realizado pelo governo chinês durante a epidemia diminuiu de forma expressiva a poluição por lá, o que pode ter salvado a vida de, ao menos, 50 mil pessoas.

Para Lira, o estudo apenas reforçou que o desenvolvimento desenfreado nos fez chegar aonde estamos hoje, e que apenas um repensar na forma em como vivemos e nos relacionamos com o meio ambiente permitirá ao homem uma vida longa e saudável. “Tal alegação parece não ser novidade, mas foi preciso uma pandemia para que a levássemos a sério”, explica o arquiteto, que também é consultor para espaços públicos da United Nation Office for Planning Services (UNOPS) e representante do Brasil no comitê de cidades emergentes World Urban Parks (WUP).

Enquete aponta tendências nas cidades

Considerando que o ser humano é um animal social por natureza e que a maior parte da população mundial vive em áreas urbanas, quão grande é o desafio de reestruturar nosso modo de viver para atender às demandas de distanciamento social?

A partir desse questionamento, a Natureza Urbana realizou uma pesquisa em suas redes sociais e obteve respostas de aproximadamente 1000 participantes que se interessam por temas como planejamento urbano, mobilidade, política, arquitetura e turismo. A maioria dos respondentes foram dos estados de Minas Gerais (11%), Ceará (10%), Bahia (10%), São Paulo (8%) e Pernambuco (8%).

Questionados sobre quais locais serão mais frequentados pós-COVID-19, 55% apontaram para parques e praças, 22% para bares e restaurantes, 17% acreditam que espaços para o pedestre em geral serão os mais buscados e apenas 6% indicam os shoppings como possíveis lugares mais frequentados. A respeito do efeito sobre deslocamentos e quais meios de locomoção serão os mais privilegiados, 65% apostam em transportes que permitam deslocamentos de forma individual, como bicicletas, a pé ou veículos, 23% optaram por evitar deslocamentos, enquanto apenas 12% afirmam que vão buscar mais ônibus e metrô, sendo a maioria (65%) na faixa etária entre 18 e 24 anos.

Com relação aos espaços de trabalho, 81% acreditam que a relação mudará de forma permanente, e 72% acreditam que haverá uma redução na demanda por edifícios de escritórios. Por fim, perguntados livremente sobre quais hábitos serão criados nas cidades pós-pandemia, a maioria confirma a tendência de se evitar deslocamentos com o aumento do home office, de compras on-line e ensino a distância, havendo ainda uma demanda por um número maior de espaços públicos e mais amplos.

Para Lira, a enquete aponta para a tendência de maior valorização dos espaços livres nas cidades, que se confirmarão como os principais locais de lazer, para a realização de atividades físicas e até escolares, já que nesses espaços o distanciamento social pode ser mais bem administrado.

“Os resultados fortalecem a ideia de que a criação de mais parques equipados, associados a equipamentos de interesse público, sejam eles escolas, mercados, bibliotecas ou outras instituições que possam estender suas atividades ao espaço livre seja uma solução, principalmente em grandes centros áridos como São Paulo”, destaca o sócio fundador da Natureza Urbana.

Mobilidade ativa

Com relação à mobilidade, a enquete ressalta a importância da estruturação de uma infraestrutura urbana que permita mobilidade ativa, tais como ciclovias e espaços mais adequados aos pedestres, indicando a tendência de uma provável diminuição dos deslocamentos, situação que deve contribuir para redução nos índices de poluição.

“Faz-se necessário implantar uma rede contínua de espaços livres de fato, composta por eixos caminháveis e cicláveis associados a praças e parques. Para tal, transformar parte de nossas ruas em espaços para a mobilidade ativa e de lazer para o pedestre, em todos os bairros, pode ser solução de implantação rápida e barata”, explica Pedro Lira, dando como exemplo de Barcelona, que redesenhará a cidade nos próximos dias a fim de que a falta de confinamento não impeça a manutenção das distâncias recomendáveis de segurança nas ruas.

A prefeita catalã Ada Calau comentou, em uma coletiva de imprensa no último sábado (25), a proposta do governo de não ter o carro como principal meio de locomoção, mas sim alargar calçadas, demarcando-as com tinta, para que amplie seu uso por pedestres, facilitando também o uso da bicicleta e da scooter como meio de transporte. Iniciativas parecidas estão sendo pensadas em Milão, Paris e Nova York.

Segundo Pedro Lira, as tendências pós-pandemia apontam para uma oportunidade de diminuir definitivamente os impactos do homem sobre o planeta, “e indicam que parte das soluções já estão presentes no nosso dia a dia há muito tempo, desde repensar o modelo de ocupação do território ao tipo de comida que é colocada em nossos pratos, mas nunca houve a coragem de implantá-las”.

“A pandemia é resultado do excesso de pressões que exercemos sobre o ecossistema. Se não mudarmos a nossa relação com o planeta, outras virão com maior impacto. Devolver espaço à natureza em nossas vidas é a grande solução”, reforça o arquiteto.

Sobre a Natureza Urbana

Criada pelos arquitetos e urbanistas Manoela Machado e Pedro Lira, a Natureza Urbana (http://naturezaurbana.net/), escritório de arquitetura, urbanismo e planejamento estratégico, é especialista na elaboração de projetos de grande escala no âmbito público e privado, entre eles equipamentos de uso público, de interesse turístico, tanto no âmbito das cidades como de áreas naturais. O escritório apresenta projetos inovadores que atendem as demandas da sociedade, tendo a sustentabilidade econômica, ambiental e social como princípios dos seus trabalhos, fazendo uma imersão nas variáveis de cada projeto para entender seus desafios e potenciais, e a partir disso criar um conceito e visão de futuro para sua implantação. Seus projetos podem ser encontrados em 15 estados brasileiros e também no exterior. Em 2020, Pedro Lira passou a representar o Brasil na World Urban Parks (WUP), organização internacional para parques urbanos e espaços públicos que contribui para o diálogo a respeito da importância da criação de espaços livres e cidades sustentáveis a fim de minimizar o impacto dos eventos climáticos e auxiliar no processo de recuperação e reconstrução desses locais. Também é consultor para espaços públicos da United Nation Office for Planning Services (UNOPS).

Informações para a Imprensa:

Agência NB Comunicação

11.5051.2078/ 5051.1426/ 3798-8407

Mudança climática nas cidades: “Precisamos ficar preparados para o pior”

Chuvas e estiagens dos últimos anos demonstram vulnerabilidade das cidades brasileiras aos efeitos do aquecimento global

mudançasFoto: Paulo Pinto/Fotos Públicas

Por Herton Escobar, com diagramação: Cleber Siquette para o Jornal da USP

Era início de janeiro quando o professor Pedro Leite da Silva Dias viu as primeiras notícias sobre uma grande “explosão” de chuvas na ilha de Java, na Indonésia. Para a maioria dos brasileiros, era uma notícia sem importância, sobre um lugar distante, desconectado da nossa realidade. Mas Dias enxergou ali o prenúncio de mais uma possível tragédia nacional. “Macaco velho” das ciências atmosféricas, com quase 50 anos de experiência na área, ele logo pensou: “Essa bomba vai chegar aqui”.

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Professor Pedro Leite da Silva Dias – Foto: Air Pollution Conference Brazil

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E chegou mesmo. Três semanas mais tarde, uma “explosão” semelhante de chuvas torrenciais começou a desabar sobre Belo Horizonte e outros municípios da Zona da Mata Mineira, sul do Espírito Santo e norte do Rio de Janeiro. As cenas de calamidade do réveillon na Indonésia logo se repetiram aqui: alagamentos, desabamentos, destruição, sofrimento, mortes. Só no Estado de Minas Gerais, mais de 50 pessoas perderam a vida em janeiro por causa da chuva, e mais de 50 mil ficaram desabrigadas.

“A experiência me diz que quando acontece uma explosão assim na Indonésia é bom ficar de olho, porque vai dar algum problema por aqui também”, observa Dias, professor titular e atual diretor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.

Não se trata de profecia nem premonição, mas de uma previsão científica, lastreada por décadas de pesquisa acadêmica e trabalho no campo. Além de cientista, Dias é fazendeiro, produtor de café no sul de Minas Gerais — onde depende, também, de uma boa meteorologia para garantir o sucesso de sua lavoura.

A tal “explosão”, no caso, é como os meteorologistas se referem a eventos de chuva intensa que persistem por vários dias, sobre grandes áreas, normalmente detonados por um aquecimento anômalo da água do mar ou pela intrusão de frentes frias na região dos trópicos. Essas “explosões” liberam uma quantidade imensa de energia (gerada pela mudança de fase da água, do estado gasoso para o líquido), que se propaga pela atmosfera na forma de ondas.

“É como quando você joga uma pedra num lago e forma aqueles anéis concêntricos, que espalham a energia na água a partir do ponto onde a pedra caiu”, explica Dias. “No caso da atmosfera, o papel da pedra é feito pela chuva.”

À medida que essas ondas se propagam, elas movimentam massas de ar que vão interferir com fenômenos atmosféricos locais, produzindo anomalias meteorológicas ao redor do globo. Dez dias após a “explosão” na Indonésia, por exemplo, a costa leste dos Estados Unidos foi tomada por uma onda de calor recorde, com temperaturas que passaram dos 20 graus Celsius em Boston e Nova York, em pleno inverno — quando o normal seria estar nevando. Europa, Ásia e Austrália também registraram anomalias no período.

É um exemplo do que os meteorologistas chamam de “teleconexões atmosféricas”; fenômeno pelo qual perturbações do sistema em um ponto do planeta podem surtir efeitos em regiões distantes — numa versão climática (e real) do chamado “efeito borboleta”.

No Brasil, o evento mais marcante desse cenário teleconectado foram as chuvas de janeiro em Minas Gerais. Resumindo: a onda de choque da “explosão” na Indonésia atravessou o Pacífico, passou por cima dos Andes e despejou uma massa de ar seco sobre a Amazônia, que inibiu a formação de chuvas sobre a floresta e “abriu a porta” para um maior fluxo de umidade do Oceano Atlântico para a região Sudeste. Quando essa umidade vinda do Atlântico sul eventualmente se encontrou com a umidade vinda da Amazônia (que deveria ter caído sobre a floresta, mas não caiu, por causa do ar seco), fez-se o dilúvio.

Imprevisibilidade previsível

As previsões meteorológicas do início de janeiro chegaram a prever a ocorrência de chuvas mais fortes em Minas Gerais para o fim do mês, mas não na magnitude observada. “Belo Horizonte estava na área de risco, mas as previsões subestimaram a intensidade do evento”, avalia Dias. O mesmo aconteceu com o temporal de 10 de fevereiro que paralisou São Paulo: os meteorologistas acertaram na previsão de chuva forte, mas o volume de água que desabou sobre a metrópole (114 mm) acabou sendo o dobro do previsto.

Essa é uma das grandes dificuldades (científicas, políticas e econômicas) de se lidar, na prática, com as mudanças climáticas: a imprevisibilidade do clima. As previsões meteorológicas hoje são bastante confiáveis para um período de três a cinco dias, mas o grau de incerteza aumenta a partir daí. E por mais que a ciência avance nesse sentido, a incerteza nunca chegará a zero, porque o sistema climático é complexo e caótico demais para se prever “com certeza” o que vai acontecer num determinado dia.

“A gente precisa aprender a conviver com a incerteza da previsão; ou seja, trabalhar com previsões probabilísticas e tomar ações com base na probabilidade de ocorrência de um determinado evento”, afirma Dias.

Ao ver a “explosão” na Indonésia, ele previu que algum efeito colateral chegaria ao Brasil, mas não sabia como, onde ou quando exatamente esse efeito iria se manifestar por aqui. Poderia ser chuva — como acabou sendo —, mas também poderia ser seca, dependendo das condições atmosféricas do momento. A grande estiagem do verão de 2013-2014 em São Paulo, segundo ele, também foi um evento extremo desencadeado, inicialmente, por uma “explosão” de chuva no sudeste asiático.

Diante das previsões, Dias tomou as precauções que podia em sua fazenda: contratou um equipe para cavar canais adicionais de drenagem em uma área onde ele acabara de plantar café, antes do Natal. Foi a salvação da lavoura. Em um dia, no fim de janeiro, chegou a chover 126 milímetros em 24 horas — uma verdadeira enxurrada, que teria levado grande parte do café novo embora, não fosse pelos canais de escoamento que ele havia feito. “A lição disso é prevenção”, resume Dias.

Dito isso, fica a dúvida: será que os prefeitos de Belo Horizonte, de São Paulo e das outras várias cidades afetadas pelas chuvas das últimas semanas (e dos últimos anos) poderiam ter tomado medidas preventivas para evitar, ou ao menos reduzir, os estragos causados pelos temporais?

Há algumas medidas que podem ser tomadas de forma emergencial — por exemplo, a evacuação de pessoas de áreas de risco, sujeitas a alagamentos e deslizamentos. Mas a adaptação das cidades à mudança do clima exige mudanças muito mais sistêmicas e estruturais do que isso, segundo os especialistas.

“Roleta russa” climática

Ainda que não seja possível prever exatamente onde e quando cada evento climático extremo vai acontecer, é possível dizer com certeza que a frequência desses eventos está aumentando, e que a tendência — segundo os melhores e mais confiáveis modelos de previsão climática disponíveis — é que eles continuem se tornando cada vez mais frequentes e intensos à medida que a temperatura do planeta aumenta. Ou seja, a probabilidade de uma cidade qualquer sofrer com extremos de temperatura, chuvas e estiagens nos próximos anos é imensa. Mais cedo ou mais tarde, todos serão atingidos pela mudança do clima. Portanto, todos precisam se precaver.

“É uma roleta russa”, diz o diretor do Instituto de Biociências (IB) e coordenador do programa USP Cidades Globais, Marcos Buckeridge. “Precisamos ficar preparados para o pior.”

“Era óbvio que uma tempestade dessa dimensão chegaria a São Paulo, após os desastres em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Os eventos extremos gerados pelas mudanças climáticas vieram para ficar e serão cada vez mais contundentes. O governo não pode mais continuar negligenciando essa questão”, escreveu o urbanista Nabil Bonduki, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, em artigo publicado no site da Folha de S. Paulo, no fim da tarde de 10 de fevereiro, com a cidade ainda debaixo d’água.

Chuvas fortes, estiagens e ondas de calor (ou frio) sempre existiram e continuarão a existir — isso não é novidade; faz parte da variabilidade natural do clima. A mudança trazida pelo aquecimento global está na frequência e na intensidade com que esses fenômenos ocorrem, elevando drasticamente o risco que eles oferecem para os grandes centros urbanos. As tragédias não decorrem do clima propriamente dito, mas da interação desses extremos climáticos com uma série de problemas urbanísticos e sociais das cidades brasileiras — que também não são novidade, mas se tornam mais agudos, dolorosos e difíceis de remediar à medida que o clima fica mais extremo, com mais frequência.

“Não é correto achar que as mudanças climáticas globais não tenham a ver com o que está ocorrendo agora. Elas não são o único motivo, mas contribuem, junto aos nossos erros de urbanização, para esta situação terrível em que nos encontramos”, afirma Buckeridge. “Os governos não erram apenas agora. Erraram ao ignorar, durante décadas, as advertências dos cientistas. A pergunta agora é: continuaremos a ignorar os avisos?”

A canalização de rios e a impermeabilização do solo são problemas graves, que impedem o escoamento natural da água da chuva. As margens dos rios Tietê e Pinheiros alagam porque foram feitas para isso — são as chamadas várzeas, ou planícies de inundação, que inundam naturalmente em períodos de cheia. O problema é que agora, em vez de florestas e campos, elas são cobertas de asfalto; além do fato de o curso desses rios ter sido completamente alterado e suas bordas, cobertas de concreto. A falta de cobertura verde, por sua vez, aumenta o calor e dificulta o escoamento da água nas partes mais internas da cidade.

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Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas

“Os eventos extremos não criam, mas potencializam desigualdades e deficiências que nossas cidades já têm”, diz Gabriela Di Giulio, professora do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública e membro do Grupo de Pesquisa Meio Ambiente e Sociedade do Instituto de Estudos Avançados da USP, que estuda comunicação de risco, governança e impacto humano das mudanças climáticas (assista abaixo a apresentação dela sobre o tema no USP Talks).

Os vários eventos extremos registrados no Sudeste nos últimos anos, segundo Gabriela, deixam claro que a necessidade de adaptação das cidades às mudanças climáticas não é um desafio para o futuro, mas uma demanda “para ontem”

“Os dados estão aí; o aumento dos extremos é uma realidade”, diz o meteorologista José Marengo, coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). “Não é uma projeção para o futuro, é algo que estamos vivendo agora.”

Dados da estação meteorológica do IAG-USP mostram que o número de temporais com mais de 80 milímetros de chuva em São Paulo foi quase seis vezes maior no período de 2000 a 2018 (com 23 eventos) do que nas décadas de 1940 e 1950 (com 4 eventos), por exemplo, segundo um estudo coordenado pelo Cemaden que deverá ser publicado em breve. No caso de chuvas extremas, acima de 100 mm, o aumento foi de quatro vezes no mesmo período (8 contra 2). E só neste ano já tivemos duas tempestades acima desse volume — incluindo a tempestade do último dia 10.

O problema não se restringe às grandes metrópoles. Uma das maiores tragédias associadas a extremos climáticos ocorreu na região serrana do Estado do Rio de Janeiro, em 2011, quando deslizamentos e enchentes mataram mais de 900 pessoas em municípios como Teresópolis e Nova Friburgo.

Outra vulnerabilidade urbana que é exacerbada pelas mudanças climáticas, segundo os pesquisadores, é a desigualdade social. Tipicamente, as populações mais afetadas pelos extremos climáticos são as mais pobres, forçadas a viver em áreas de risco, como encostas de morros e margens de rios ou córregos.

“Nós vamos ter que pensar nisso: para fazer as medidas de adaptação no futuro, alguns vão pagar com a vida — e aí não tem preço, não dá para a gente precificar. Do ponto de vista da infraestrutura nós vamos gastar muito mais (…) do que se nos precavêssemos de trabalhar agora”, reforça Buckeridge.

“A tragédia deve servir de alerta para que a sociedade se conscientize de que a mudança climática é uma questão que afeta de forma dramática a vida dos cidadãos, que o planejamento urbano é indispensável para enfrentar o problema das enchentes e que apenas medidas estruturais, proporcionais a esse desafio, podem garantir resultados sustentáveis para aliviar os graves efeitos dos eventos climáticos extremos”, resumiu Bonduki.

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Esta reportagem foi originalmente publicada pelo Jornal da USP [Aqui!].

A poluição do ar é muito mais letal que o coronavírus: novos dados classificam a ameaça à saúde nas cidades

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Goldach, Suíça – A poluição do ar continua a representar uma das maiores ameaças à saúde humana, com 90% da população mundial respirando ar abaixo de níveis seguros. Os últimos dados compilados pela IQAir, publicados no Relatório Mundial da Qualidade do Ar de 201e no ranking das cidades mais poluídas, revelam a mudança do estado da poluição por material particulado (PM2,5) em todo o mundo durante 2019. O novo conjunto de dados destaca os níveis elevados de poluição do ar como um resultado de eventos da crise climática, como tempestades de areia e incêndios florestais, e ganhos de poluição pela rápida urbanização das cidades em regiões como o Sudeste Asiático. Embora algumas conquistas tenham sido feitas na infraestrutura de monitoramento da qualidade do ar em todo o mundo, ainda existem grandes lacunas no acesso aos dados em todo o mundo.

Para Frank Hammes, CEO da IQAir, “enquanto o novo coronavírus está dominando as manchetes internacionais, um assassino silencioso está contribuindo para quase 7 milhões de mortes a mais por ano: a poluição do ar. Através da compilação e visualização de dados de milhares de estações de monitoramento da qualidade do ar, o Relatório Mundial da Qualidade do Ar de 2019 dá novo contexto à principal ameaça à saúde ambiental do mundo. ”

As principais conclusões do relatório incluem:

– Na China: as cidades chinesas alcançaram uma redução média de 9% nos níveis de PM2,5 em 2019, após uma queda de 12% em 2018. Ainda assim, 98% das cidades excederam as diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS) e 53% das cidades excederam as metas nacionais menos rigorosas da China. Na última década, Pequim cortou em mais da metade seus níveis anuais de PM2,5. Este ano, Pequim saiu das 200 cidades mais poluídas do ranking.

– Na Coréia do Sul: este foi o país mais poluído em PM2,5 entre as nações da OCDE em 2019. Os níveis de qualidade do ar nas principais cidades permaneceram relativamente estagnados nos últimos anos.

– Na Índia: enquanto as cidades da Índia, em média, excedem a meta da OMS para exposição anual a PM2,5 em 500%, a poluição do ar nacional diminuiu 20% de 2018 a 2019, com 98% das cidades experimentando melhorias. Acredita-se que essas melhorias sejam em grande parte resultado da desaceleração econômica.

– No sul da Ásia: cidades indianas e paquistanesas dominam novamente as cidades mais poluídas do mundo por PM2,5 em 2019. Vinte e uma das 30 principais cidades poluídas estão localizadas na Índia. Cinco das 30 principais cidades mais poluídas estão localizadas no Paquistão.

– No sudeste da Ásia: em uma mudança histórica que reflete a rápida industrialização da região, os centros urbanos de Jacarta e Hanói ultrapassaram Pequim pela primeira vez, entre as capitais poluídas por PM2,5 do mundo.

– Incêndios florestais e práticas agrícolas de queima aberta tiveram um grande impacto na qualidade do ar de cidades e países ao redor do mundo, incluindo: Cingapura, Austrália, Indonésia, Brasil, Kuala Lumpur, Bangcoc, Chiang Mai e Los Angeles, entre muitos outros.

– A desertificação e as tempestades de areia desempenham um papel importante na má qualidade do ar no Oriente Médio e oeste da China.

– Grandes populações em todo o mundo ainda não têm acesso a dados de poluição do ar em tempo real, especialmente na África e no Oriente Médio. Um número crescente de cidadãos e ONGs globais está implantando seus próprios sensores de qualidade do ar de baixo custo para preencher as lacunas de dados onde elas existem. Devido a esses esforços, dados contínuos de qualidade do ar público estão agora disponíveis pela primeira vez em Angola, Bahamas, Camboja, RD do Congo, Egito, Gana, Letônia, Nigéria e Síria.

Os dados de qualidade do ar de 2019 mostram indicações claras de que as mudanças climáticas podem aumentar diretamente o risco de exposição à poluição do ar, através do aumento da frequência e intensidade de incêndios florestais e tempestades de areia. Da mesma forma, em muitas regiões, a causa da poluição ambiental por PM2,5 e os gases do efeito estufa que causam mudanças climáticas estão ligados, a saber, a queima de combustíveis fósseis, como o carvão. É necessária uma ação urgente para combater essas fontes de emissão, proteger a saúde pública e os ecossistemas.

“Enquanto o monitoramento da qualidade do ar está aumentando, a falta de dados sobre a qualidade do ar em grandes partes do mundo apresenta um problema sério, pois o que não é medido não pode ser gerenciado. Estima-se que as áreas que não possuem informações sobre a qualidade do ar tenham uma das poluições atmosféricas mais graves do mundo, colocando em risco populações enormes. Atualmente, a África, um continente de 1,3 bilhão de pessoas, possui menos de 100 estações de monitoramento que disponibilizam os dados do PM2,5 ao público em tempo real. Mais dados da qualidade do ar em tempo real levam os cidadãos e os governos a tomar melhores decisões que melhorarão a vida de milhões nas próximas décadas”, acrescentou Hammes.

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SOBRE – O IQAir AirVisual é uma plataforma global de informações sobre qualidade do ar operada pelo Grupo IQAir. Ao agregar e validar dados de qualidade do ar de governos, indivíduos e organizações não-governamentais, o IQAir AirVisual visa fornecer informações globais e hiper-locais sobre a qualidade do ar que permitem que indivíduos, organizações e governos tomem medidas que melhorem a qualidade do ar em comunidades, cidades e países. países em todo o mundo. Saiba mais em http://www.airvisual.com

Com as mudanças climáticas, chuvas anormais são o novo normal

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As chuvas que castigaram a região Sudeste nos últimos dias trouxeram novos recordes diários em termos não apenas de pluviometria, mas também para a rápida elevação de corpos aquáticos que tomaram rapidamente as áreas urbanas em dezenas de municípios.   Não custa lembrar que cientistas estudiosos das mudanças do clima já tinham previsto que essas chuvas “anormais” seriam o novo normal e que, por causa disso, haveria que se adotar uma série de ajustes na forma pelas quais as cidades estão organizadas em todo o planeta.

Nesse sentido, o Painel Brasileiro das Mudanças Climáticas publicou em 2016, um relatório abordando os impactos das mudanças climáticas sobre as cidades, e quais seriam as mudanças que precisariam ser feitas para promover um ajuste à nova situação que se firma no horizonte.  Até aqui, esse relatório foi literalmente ignorado pelas autoridades competentes que continuam tratando a gestão das nossas cidades no modus operandi do “business as usual“.

Para piorar a nossa situação, o governo Bolsonaro está repleto de figuras que negam até que estejamos passando por um ajuste drástico no funcionamento do clima da Terra.  Para um dos mais notórios deles, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, as mudanças climáticas não passariam de uma conspiração de marxistas mal intencionados que querem frear a economia mundial.

Assim, não chega a ser surpreendente que as situações críticas que se seguiram às fortes chuvas que varreram comunidades e causaram até agora um número desconhecido de mortes estejam sendo tratadas como algo sobrenatural e incontrolável. Uma prova disso foi a declaração do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), que atribuiu às chuvas o papel equivalente de um furacão ou terremoto para, é claro, isentar sua administração de qualquer responsabilidade nas perdas humanas e materiais que ocorreram em sua cidade.

Mas Kalil não foi o único gestor a fugir das responsabilidades e de ignorar a nova realidade que as mudanças climáticas impõem sobre os que estão hoje responsáveis por governar cidades que estarão cada vez mais impactadas e, ainda, sem planos para promover a necessária adequação em uma infraestrutura urbana que não suporta o novo regime pluviométrico.

A questão objetiva é que ou nos preparamos para rever completamente os modelos de cidades que temos nas mãos ou continuaremos a sermos expectadores de novos momentos de destruição e morte.   As mudanças climáticas, queiram os negacionistas ou não, estão aí e ignorá-las só nos empurrará para mais catástrofes.

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Assim, fico curioso para ver como essa situação será tratada nas próximas eleições municipais, a começar aqui mesmo por Campos dos Goytacazes.  A minha expectativa é que, lamentavelmente, a situação dramática que se descortina sobre nossas cidades, especialmente em suas áreas mais pobres, continuará sendo literalmente ignorada pelos candidatos a ocupantes das cadeiras de prefeito. O mais provável é que a “atitude a la Alexandre Kalil” continue sendo a mais comum. 

 

 

Colab e ONU-Habitat fazem segunda consulta sobre condições de vida nas cidades brasileiras

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Consulta pública nacional faz raio-X sobre como cidades do país avançam para se tornar inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis. Todos brasileiros podem participar através do aplicativo gratuito Colab

Por Marina Franco

São Paulo, 1º de outubro de 2019 — A partir desta terça-feira (1º), brasileiros de todos os cantos do país estão convidados a participar da segunda edição da consulta pública Cidades Sustentáveis, para fazer um diagnóstico do avanço do Brasil nas metas de desenvolvimento urbano sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).

A consulta é uma parceria entre ONU-Habitat, o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, e Colab, startup de inovação em gestão pública que conecta cidadãos a prefeituras. As 30 questões de múltipla escolha medem a percepção dos brasileiros sobre como suas cidades estão avançando no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11 (ODS 11) da ONU, que busca tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.

A ONU tem 17 ODS com metas para serem alcançadas até 2030, para que todos os países sigam um caminho sustentável. Esse plano de ação conjunta e global é conhecido como Agenda 2030. Colab e ONU-Habitat vão realizar a consulta todos os anos até 2030, para avaliar como o Brasil está evoluindo no quesito do desenvolvimento urbano sustentável. Hoje, mais da metade da população mundial vive em áreas urbanas. No Brasil essa parcela é de 85%.

Para responder à consulta, basta entrar em www.colab.re ou baixar o aplicativo Colab. As perguntas abordam temas do dia a dia, como acesso a transporte urbano e serviços básicos, condições de moradia, espaços públicos, poluição do ar e transparência.

Quase 10 mil brasileiros participaram da primeira edição, realizada entre outubro de 2018 e fevereiro deste ano. Os resultados foram publicados em um livro, que foi lançado pelo CEO do Colab, Gustavo Maia, na 1ª Assembleia do ONU-Habitat em Nairóbi, no Quênia, em em maio deste ano.

colab 1Gustavo Maia, CEO do Colab, fala em painel da 1ª Assembleia do ONU-Habitat no Quênia, ao lado de Marina Klemensiewicz, Secretária de Infraestrutura Urbana da Argentina, e Claudio Acioly, chefe de Capacitação do ONU-Habitat

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Em junho foi lançada uma versão atualizada do livro, com uma revisão na metodologia do cálculo feito para elaborar os gráficos de percepção dos brasileiros, para refletir melhor o peso de cada questão.

O documento foi entregue a prefeitos e prefeitas de cidades brasileiras e a organizações públicas, para que possam levar em conta no planejamento de suas gestões a percepção dos cidadãos sobre as condições de vida em suas cidades e fazer um trabalho mais focado em relação às questões de sustentabilidade. No total, foram impressos 300 livros e quase mil pessoas fizeram o download da versão digital.

“Com os resultados dessa consulta reunimos dados e informações em torno de um assunto tão importante não só para as nossas cidades, mas para o nosso planeta com um todo”, diz Gustavo Maia, CEO do Colab. “Além disso, consultar os cidadãos é um passo importante para uma gestão pública aberta e colaborativa. E a tecnologia, além de ajudar a chegar em mais brasileiros, serve como uma ferramenta para a cidadania”, afirma.

Resultados da 1ª edição

A primeira edição da consulta Cidades Sustentáveis apontou que a dimensão com melhor percepção dos participantes foi a de construções sustentáveis e resilientes, enquanto a com pior avaliação foi a de adaptação às mudanças climáticas.

A tabela abaixo apresenta a média nacional para cada dimensão abordada pela pesquisa. A nota vai de zero a 100, sendo 100 a melhor pontuação.

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O mapa abaixo compara o desempenho das dimensões. Quão mais perto a nota estiver das extremidades do gráfico, mais perto o país está da sustentabilidade naquele tema, na percepção dos brasileiros.

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Com os resultados da nova edição da consulta, prefeitos e gestores públicos terão uma evolução sobre a percepção dos cidadãos de sua cidade sobre as condições de vida nela

“Nosso objetivo é fortalecer o ODS 11 diretamente com os governos locais, estimulando boas práticas para criar cidades sustentáveis, seguras, resilientes e inclusivas, onde as pessoas tenham acesso a habitação adequada e qualidade de vida digna”, diz Claudio Acioly, Diretor de Capacitação e Formação Profissional no ONU-Habitat. “A parceria com o Colab nos permite, pela primeira vez, ter acesso em escala e com continuidade a dados e opiniões de uma grande população urbana que nos servem para formular políticas públicas com evidências da cidadania e que respondem aos desafios da urbanização”

Alguns dos parceiros essenciais na realização da primeira edição da pesquisa foram Artemisia, Instituto Vedacit, Vital Strategies e Instituto Arapyaú.

Parceria ONU-Habitat e Colab

Cidades Sustentáveis foi a primeira consulta feita pelo ONU-Habitat diretamente com os cidadãos. Como parceiro, escolheu o Colab, uma startup de gestão colaborativa que faz a ponte entre cidadãos e governos.

Para os cidadãos, Colab atua como rede social, em que é possível postar sugestões ou pedidos de soluções para problemas como falta de iluminação, buracos e calçadas desniveladas. Mais de 230 mil usuários usam o aplicativo.

As prefeituras que adotam o Colab recebem as demandas digitalmente, com geolocalização e na maioria das vezes com foto. Essas solicitações são organizadas em um mapa e chegam diretamente aos órgãos e servidores responsáveis pela resolução. As prefeituras recebem, ainda, workshops e materiais educativos sobre como incluir a participação dos cidadãos na gestão pública.

Com a tecnologia e a metodologia do Colab, algumas prefeituras já conseguiram aumentar significativamente seus índices de atendimento a demandas da população. É o caso de Teresina, onde a taxa de resolução de pedidos dos cidadãos foi de 39% em 2016 para 79% em 2018. As administrações também economizam tempo e recursos, como a prefeitura de Santo André, que nos 6 primeiros meses com o Colab conseguiu economizar aproximadamente 900 mil folhas de papel e reduziu em 90% as vistorias para atender as solicitações de poda de árvore.

O Colab também realiza consultas públicas locais. Em 2019, por exemplo, Juiz de Fora fez uma consulta de Orçamento Participativo, em que a população opinou sobre onde deveria ser investida parte da arrecadação pública, e Recife – numa parceria entre 11 organizações – consultou seus cidadãos sobre qual o uso que dão ao Bairro do Recife, para que melhorias sejam feitas no local.

Sobre Colab

Colab é uma plataforma que conecta cidadão a governo, para dar mais voz ao cidadão e permitir ao governo que pratique uma gestão mais compartilhada e eficiente. As demandas da população são levadas a prefeituras pelo sistema do Colab, sem paradas burocráticas ou empecilhos. E os gestores se baseiam nas propostas e pedidos dos cidadãos para conduzir a administração pública. Colab foi fundado em 2013 e sua plataforma é usada por 230 mil brasileiros e mais de 100 prefeituras em todo o país. A startup já recebeu prêmios nacionais e internacionais pela inovação na gestão pública. www.colab.re

Sobre ONU-Habitat

O ONU-Habitat, Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, estabelecido em 1978, é a agência da ONU para a urbanização sustentável e os assentamentos humanos, cuja missão é tornar as cidades um local onde sua população possa levar uma vida digna e segura, sem bairros insalubres, sem poluir o meio ambiente e sem esgotar os recursos naturais. Seu mandato é trabalhar em prol do desenvolvimento urbano sustentável e promover a habitação adequada para todas e todos. Desta forma, o ONU-Habitat trabalha com todos os temas relacionados à vida nas cidades e com todos os tipos de atores, como governos (federal, estadual e municipal), universidades, ONGs e demais instituições do terceiro setor, setor privado e outros, para alcançar condições de vida adequadas e dignas para a população.

https://nacoesunidas.org/agencia/onuhabitat/ e www.unhabitat.org

Sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são uma chamada universal para eliminação da pobreza, proteção do planeta e garantia de que todas as pessoas possam ter paz e prosperidade. Os 17 Objetivos são construídos sobre o legado dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, e acrescentam novos temas, como mudança climática, desigualdades, inovação, consumo sustentável, paz e justiça, entre outras prioridades. Dentro dos Objetivos há 169 metas conectadas — a chave para o sucesso de uma geralmente envolve assuntos associados a outras.
http://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/