Extração ilegal de madeira na Amazônia tem aumento de 184% em Unidades de Conservação

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Por Imaflora 

De agosto de 2023 a julho de 2024, a exploração ilegal de madeira na Amazônia brasileira aumentou 184% em Unidades de Conservação (UCs). No período analisado, foram explorados 8,1 mil hectares nessa categoria fundiária, contra 2,8 mil no período anterior. A informação consta em estudo divulgado nesta quinta (18) pela rede Simex, composta pelo ICV, Imaflora e Imazon.

Ao todo, foram extraídos 327,6 mil hectares de florestas nativas para fins madeireiros no bioma, o que representa uma redução de 10,5% em comparação com o total identificado no estudo anterior. Desse número, 69% (225,1 mil ha) foram explorados de forma legal, com autorização emitida pelos órgãos competentes, enquanto 31% (102,5 mil ha) ocorreram de forma não autorizada.

Além do aumento da extração ilegal em UCs, houve também o aumento da exploração em Terras Indígenas (TIs) e assentamentos rurais. Em TIs, a extração de madeira chegou a 25,2 mil hectares, o que corresponde a um aumento de 24%. Já em assentamentos rurais, o número é de 6,7 mil hectares, 66% superior ao explorado no período anterior.

Do total explorado de forma não autorizada, os imóveis rurais privados respondem por 53%. Foram 54,4 mil hectares de floresta com exploração  nessa categoria durante o período analisado. Em comparação com o período anterior, contudo, o número representa uma redução de 39%.

As áreas de exploração madeireira foram identificadas e mapeadas por meio de imagens de satélite e contrapostas às autorizações de exploração emitidas pelos órgãos ambientais. O Simex é o principal indicador da atividade madeireira legal e ilegal na região amazônica. Os índices reúnem informações de sete estados (Acre, Amapá, Amazonas, Mato GrossoPará, Rondônia e Roraima).

Conforme destacou Leonardo Sobral, diretor de Florestas e Restauração do Imaflora, em 2024 foi observada uma tendência de estabilidade da área total explorada, mas a persistência de exploração não autorizada em áreas críticas reforça a necessidade de políticas continuadas de governança, transparência e comando e controle.

“A consolidação dos dados do Simex para a Amazônia mostra que o avanço do monitoramento da exploração madeireira tem produzido um retrato mais preciso da atividade na região, permitindo separar o que é manejo sustentável do que ainda ocorre à margem da legalidade”, explicou o diretor do Imaflora.

A pesquisadora Camila Damasceno, do Imazon, destacou que apesar da redução da extração ilegal ser positiva, a redução da extração legal acende um alerta, pois pode indicar um enfraquecimento da gestão florestal, o que gera um mercado desleal para quem segue as práticas do manejo florestal.

“Por isso, compreender esses movimentos é essencial para orientar políticas públicas que fortaleçam o manejo florestal sustentável e ampliem a proteção da floresta. Os números do Simex ajudam a identificar os pólos de maior pressão sobre a floresta e evidenciam onde é prioritário avançar na gestão, na fiscalização e no apoio à produção legal”, disse.

Ranking

Mato Grosso é o estado com mais área florestal explorada para fins madeireiros na Amazônia brasileira, com 190 mil hectares extraídos, o que corresponde a 58% do total. Em seguida, aparece o Amazonas, com 46,1 mil hectares (15%) e o Pará, com 43 mil hectares (13%).

No ranking dos dez municípios com mais exploração ilegal no período, 6 estão localizados em Mato Grosso, sendo o primeiro Aripuanã, com 12,7 mil hectares explorados ilegalmente. Em seguida, aparecem Colniza (3º), Nova Ubiratã (4º), Paranatinga (6º), Marcelândia (7º) e Juína (9º).

Também compõem a lista Lábrea/AM (2º), Paragominas/PA (5º), Porto Velho/RO (8º) e Dom Eliseu/PA (10º). Juntos, esses dez municípios concentram 51% de toda a exploração madeireira ilegal mapeada na Amazônia brasileira no período analisado.

Para Vinicius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV, Mato Grosso lidera o ranking dos estados com mais exploração madeireira na Amazônia por uma série de fatores, entre eles o relevante papel econômico do seu setor de base florestal, a localização e o histórico de ocupação das áreas florestais, mas também a persistência da exploração não autorizada, que se beneficia especialmente da fragilidade em áreas protegidas.

“Os caminhos para coibir a exploração madeireira ilegal e buscar sua erradicação na Amazônia devem envolver uma combinação de fortalecimento da fiscalização, aprimoramento da rastreabilidade e da transparência, e incentivo à legalidade e ao manejo florestal sustentável”, explicou.

“A fiscalização precisa ser mais focada, ágil e punitiva para desmantelar as cadeias de ilegalidade. Com isso, concentrar o esforço de fiscalização, inclusive com operações conjuntas, nos municípios com maior incidência de ilegalidade, que historicamente concentram a maior parte do problema.”

A ilegalidade avança sobre áreas protegidas

O mapeamento de 2024 traz um sinal de alerta: a exploração madeireira sem autorização cresceu justamente onde a floresta deveria estar mais blindada – Terras Indígenas (TIs) e Unidades de Conservação (UCs). Ao todo, foram 33.454 hectares explorados ilegalmente nessas duas categorias, uma alta de 44% em relação a 2023 (23.120 ha). Na prática, isso significa que cerca de um terço de toda a área explorada sem autorização no período analisado ocorreu dentro de áreas protegidas.

A maior fatia da ilegalidade recaiu sobre as Terras Indígenas, com 25.278 hectares – 25% de toda a exploração ilegal mapeada. As Unidades de Conservação responderam por 8.177 hectares, o equivalente a 8% do total identificado.

Para Júlia Niero, analista técnica do Imaflora, o dado expõe um problema estrutural: “Quando a exploração ilegal cresce dentro de Terras Indígenas e Unidades de Conservação, isso indica fragilidade nos mecanismos de comando e controle e uma resposta insuficiente diante de um problema que se repete há anos”. Ela ressaltou que os impactos vão além da retirada de árvores: “A exploração madeireira ilegal abre caminho para degradação do habitat, perda de biodiversidade e aumento do risco de incêndios – pressionando áreas estratégicas para o clima e para a proteção dos modos de vida de povos indígenas e comunidades tradicionais”.

O padrão geográfico repete o mapa de pressão já observado em 2023, com maior impacto no sul do Amazonas, norte de Rondônia e noroeste do Mato Grosso – regiões historicamente marcadas por degradação e desmatamento.

Entre as Terras Indígenas, a TI Aripuanã (MT) aparece como o principal foco em 2024, com 8.601 hectares afetados. Na sequência, estão o Parque Indígena do Xingu (MT) (4.770 ha), a TI Kaxarari (AM/RO) (2.885 ha) e a TI Amanayé (PA) (2.026 ha). Somadas, essas quatro áreas concentram 54% de toda a exploração ilegal registrada em áreas protegidas.

Já nas Unidades de Conservação, a Reserva Extrativista Guariba/Roosevelt (MT) lidera como a mais impactada — e chama atenção por não ter figurado entre as mais afetadas no levantamento anterior. Para Júlia, o dado é um recado direto: “O avanço em uma UC que não estava no topo da pressão mostra que a ilegalidade é dinâmica e pode ‘migrar’ rapidamente. Nenhuma área protegida está fora de risco quando há falhas de fiscalização e impunidade no entorno”.


Fonte: Imaflora

Governo Lula realiza suas primeiras ações de repressão ao desmatamento ilegal na Amazônia

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Por Jake Spring para a Reuters

URUARA, Brasil, 19 Jan (Reuters) – As primeiras incursões do Brasil contra o desmatamento ilegal na floresta amazônica sob o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estavam em andamento na quinta-feira, após a promessa do novo líder de acabar com a destruição que aumentou sob seu antecessor Jair Bolsonaro.

A Reuters acompanhou exclusivamente as incursões lideradas pela agência ambiental Ibama no estado da floresta tropical do Pará para impedir que madeireiros e fazendeiros derrubassem ilegalmente a floresta. A agência também lançou batidas esta semana nos estados de Roraima e Acre, disse a coordenadora de fiscalização ambiental do Ibama, Tatiane Leite.

Cerca de 10 agentes do Ibama partiram em caminhonetes na quinta-feira de sua base no município de Uruara, no Pará, juntamente com uma dezena de policiais federais, em direção a uma reserva indígena onde imagens de satélite mostraram madeireiros e fazendeiros trabalhando recentemente na derrubada ilegal da floresta. A missão visa deter ou afugentar madeireiros para evitar novas incursões na floresta e multar quem for flagrado com madeira ilegal.

O governo Bolsonaro reduziu o número de funcionários e fundos para fiscalização ambiental do Ibama em seus quatro anos de mandato, enquanto o ex-presidente criticou repetidas vezes o órgão por emitir multas a fazendeiros e mineradores.

Bolsonaro deu aos militares e depois ao Ministério da Justiça autoridade sobre as operações de combate ao desmatamento, deixando de lado o Ibama , apesar da vasta experiência e sucesso da agência no combate à destruição da Amazônia.

Uma área maior que a Dinamarca foi desmatada sob Bolsonaro, um aumento de 60% em relação aos quatro anos anteriores.

Lula na campanha eleitoral do ano passado prometeu colocar o Ibama de volta no comando do combate ao desmatamento com financiamento e pessoal reforçados. Ele assumiu o cargo em 1º de janeiro, então dinheiro adicional e equipe ainda não chegaram aos policiais da linha de frente. Mas agentes do Ibama disseram à Reuters que já se sentiam mais fortalecidos por Lula anunciar a proteção ambiental como prioridade máxima.

O governo de Bolsonaro negou vários pedidos da Reuters para acompanhar as missões do Ibama durante seu governo 2019-2022. Seu governo instituiu uma liminar proibindo os agentes do Ibama de falar com a imprensa, que, segundo os agentes, já foi revogada no governo Lula.

“Divulgar batidas para dissuadir criminosos ambientais já é uma grande mudança. Isso não acontecia no governo anterior, cujo objetivo era mostrar que não estávamos fazendo nada”, disse Givanildo dos Santos Lima, agente que comanda a missão Uruara do Ibama.

Lula assumiu o cargo pela primeira vez em 2003, quando o desmatamento da Amazônia estava próximo de seu recorde histórico, e por meio da estrita aplicação das leis ambientais o reduziu em 72%, para um nível quase recorde quando deixou o cargo em 2010.

Jake Spring é  Correspondente Global de Clima e Meio Ambiente, baseado no Brasil. Os interesses incluem ciência, florestas, geoengenharia, criosfera, política/diplomacia climática, responsabilidade e reportagens investigativas. Seu trabalho sobre a destruição ambiental sob o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, recebeu prêmios da Covering Climate Now e da Society of Environmental Journalists. Anteriormente baseado na China, ele é fluente em português e chinês mandarim.


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Este escrito originalmente em inglês foi publicado pela agência Reuters [Aqui!].

Auditoria inédita realizada em Rondônia apresenta recomendações de fortalecimento da governança florestal no estado

A iniciativa, que apresenta metodologia inovadora valorizando o controle social e a participação da sociedade civil, aponta caminhos concretos para melhorias na área ambiental
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Está sendo lançado nesta terça-feira (19) o relatório da auditoria de Integridade Socioambiental do Setor Florestal do Estado de Rondônia. Realizada pela Controladoria Geral do Estado (CGE) e pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (SEDAM) entre junho de 2020 e março de 2021, trata-se de uma auditoria inédita por meio da qual foram elaboradas recomendações com o objetivo de fortalecer a gestão florestal rondoniense. A iniciativa também contou com a colaboração da Transparência Internacional – Brasil, organização que propôs a auditoria e participou do planejamento e análise dos seus resultados.

Representando o terceiro maior estado produtor de madeira nativa do Brasil, Rondônia enfrenta constantemente os impactos ambientais e sociais provocados pela prática de exploração ilegal de madeira. Por isso, é importante criar e aprimorar medidas que combatam essa prática e suas graves consequências socioambientais, que vão muito além da questão ambiental, implicando, por exemplo, em conflitos fundiários que muitas vezes resultam em morte e destruição. Implementar e fortalecer uma gestão florestal que dê conta de todos esses desafios, portanto, é de grande importância e a sociedade civil possui um papel importantíssimo na indicação de caminhos para enfrentar o problema.

“A Auditoria Operacional no Setor Florestal foi um trabalho técnico realizado de forma inédita, envolvendo diversos agentes, que atuam diretamente e indiretamente na produção industrial madeireira do estado de Rondônia, como engenheiros florestais, empresários, terceiro setor e os órgãos de controle e fiscalização. Com essa inovação, o Governo do Estado de Rondônia por meio da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental – SEDAM participou do Diagnóstico Florestal, que teve como resultado a Matriz de Risco Relacionada à integridade ambiental do Setor Florestal. O trabalho guiará o estado para propor políticas públicas para melhoria e fortalecimento de todo setor florestal”, explica o secretário da SEDAM, Marcilio Leite Lopes.

A metodologia utilizada inovou ao realizar consulta pública permitindo que outras organizações da sociedade civil, do setor privado e órgãos públicos pudessem enviar contribuições para o planejamento da auditoria. Além disso, na fase de execução, foram consultados diversos atores que compõem o setor florestal, como técnicos e gestores da SEDAM, membros de conselhos de unidades de conservação e empresários.

“A realização dessa auditoria inovadora se mostrou uma estratégia importante tanto para identificar pontos que precisam ser aprimorados na gestão florestal do estado, quanto para elaborar recomendações. O fortalecimento da SEDAM, um melhor monitoramento e controle da exploração florestal e medidas que qualifiquem a gestão das áreas protegidas mostram-se fundamentais para que o estado promova o uso sustentável da floresta”, esclarece Renato Morgado, gerente de Meio Ambiente e Clima da Transparência Internacional – Brasil.

Sobre os resultados e recomendações – Os resultados da auditoria indicaram para a necessidade de um aprimoramento da gestão florestal rondoniense em áreas como a exploração de madeira, gestão das Unidades de Conservação e na regularização e fiscalização ambiental. Foram identificados 89 riscos, sendo 31 deles considerados extremos, 26 altos, 23 médios e 9 baixos.

A partir desse diagnóstico, a auditoria propôs 58 recomendações, que se dividem em três blocos:

– Fortalecimento institucional da SEDAM: dentre as recomendações que constam nesse bloco está a elaboração de um planejamento estratégico da SEDAM, de estudos de demandas de contratação de servidores, bem como a elaboração e implementação de ações de capacitação dos servidores, que inclua temas como código de ética, conflito de interesses, detecção e combate à fraude, canais de proteção a denunciantes de irregularidades e corrupção e requisitos legais de autos de infração;

– Licenciamento, monitoramento e controle da exploração madeireira: aqui as recomendações incluem a criação de um sistema de monitoramento da execução dos Planos de Manejo Florestal (PMFS) via imagens de satélite, visando identificar eventuais discrepâncias entre o que foi autorizado pela SEDAM e o que foi efetivamente explorado, além do estabelecimento de parcerias para melhor detecção e combate a fraudes nos sistemas de controle da exploração florestal;

– Gestão territorial, regularização ambiental e áreas protegidas: dentro desse tema está a recomendação de elaboração de um plano de monitoramento e prevenção contra invasões de Unidades de Conservação do Estado, incluindo ações de combate à grilagem e à exploração ilegal de madeira.

Acesse aqui a íntegra da auditoria e suas recomendações.

Sobre a Transparência Internacional – Brasil – A Transparência Internacional é um movimento global com um mesmo propósito: construir um mundo em que governos, empresas e o cotidiano das pessoas estejam livres da corrupção. Atuamos no Brasil no apoio e mobilização de grupos locais de combate à corrupção, produção de conhecimento, conscientização e comprometimento de empresas e governos com as melhores práticas globais de transparência e integridade, entre outras atividades. A presença global da TI nos permite defender iniciativas e legislações contra a corrupção e que governos e empresas efetivamente se submetam a elas. Nossa rede também significa colaboração e inovação, o que nos dá condições privilegiadas para desenvolver e testar novas soluções anticorrupção.

A extração madeireira penetra no núcleo intocado da região amazônica brasileira

Entre agosto de 2019 e julho de 2020, 464.000 hectares foram desmatados. A degradação progressiva da floresta é outro problema que até agora tem sido negligenciado

madeira mtO estado de Mato Grosso respondeu por mais da metade da extração de madeira amazônica. FONTE: ICV

Por Ulrike Bickel para o Amerika21

De acordo com um novo estudo baseado em satélite da rede Simex , a extração ilegal de madeira nas áreas periféricas está penetrando cada vez mais fundo na zona central da floresta amazônica. Uma aliança das quatro organizações ambientais brasileiras sem fins lucrativos Imazon, Imaflora, Idesam e Instituto Centro de Vida (ICV) documentou a extração de madeira em quase todas as partes da Amazônia pela primeira vez. Para tanto, foram mapeados sete dos nove estados brasileiros (Acre, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima) , dos quais, juntos, vem quase 100% da produção de madeira da floresta tropical.

O mapeamento baseado no rastreamento das árvores derrubadas mostra a extensão da destruição da floresta: entre agosto de 2019 e julho de 2020, 464 mil hectares foram desmatados, uma área três vezes maior que a da metrópole de 21 milhões de habitantes de São Paulo. Mais da metade (50,8%) da exploração madeireira estava no estado de Mato Grosso, seguido por Amazonas (15,3%) e Rondônia (15%), dos quais a maior parte (78%) era de propriedade privada.

A extração de madeira em reservas indígenas (24.866 hectares) e reservas naturais (28.112 hectares) é, de acordo com o estudo do Simex, totalmente ilegal porque é proibida.

Segundo Vinicius Silgueiro, coordenador de monitoramento territorial do ICV de Mato Grosso, quase não existem controles e sanções estaduais para as inúmeras violações. As licenças legais são freqüentemente usadas para disfarçar a extração de madeira em áreas restritas, também conhecidas como “lavagem de árvores”. Segundo Marco Lentini, coordenador-chefe do projeto do Imaflora, o avanço da agricultura industrial do chamado ‘arco do desmatamento’ para o seio da Amazônia deve ser interrompido com urgência. Quanto mais licenças as autoridades emitem para o desenvolvimento da floresta, mais madeira ilegal existe.

O cartão Simex também inclui áreas onde, em março de 2021, a Polícia Federal apreendeu 226 mil metros cúbicos de madeira na fronteira entre os estados do Amazonas e Pará, a maior apreensão de madeira ilegal da história do Brasil. Esta ação foi o gatilho para a demissão do controverso ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles em junho, depois que ele havia exigido uma liberação impune da madeira confiscada.

Já em 2018, o estudo do Greenpeace “Árvores imaginárias, destruição real” destacou a falta de confiabilidade dos sistemas de licença e controle florestal brasileiro, que são suscetíveis a fraudes. Como resultado, há uma deficiência crucial na fraqueza do processo de aprovação de planos de manejo florestal sustentável, antes do qual nenhuma inspeção de campo ou apenas inspeções de campo de baixa qualidade são normalmente realizadas. Os estoques de madeira seriam superestimados ou árvores inexistentes com alto valor comercial seriam incluídas no inventário florestal da área.

De acordo com o Greenpeace, as autoridades estaduais emitiram licenças para a colheita e transporte dessa madeira valiosa inexistente, que na verdade é derrubada ilegalmente em outras áreas em terras indígenas, em áreas protegidas ou em terras públicas.

De acordo com um estudo mais detalhado do Imazon , mais da metade da exploração madeireira no estado do Pará não tinha licença das autoridades ambientais – 20% a mais que no ano anterior. Na maioria dos estados, é quase impossível verificar se é ilegal devido à falta de transparência ou barreiras tecnológicas. Em muitos casos, segundo o ICV, os certificados das atividades florestais legais são apresentados em papel, o que dificulta a correspondência dos dados com as imagens de satélite. Apenas Pará e Mato Grosso já digitalizaram bancos de dados.

Além do desmatamento bem documentado da Amazônia, a degradação contínua das florestas é um grande problema que até agora foi negligenciado e tem efeitos de longo alcance sobre a biodiversidade e o sequestro de carbono. Por exemplo, um estudo científico publicado recentemente na Science pela primeira vez mapeou a degradação de longo prazo para toda a região amazônica brasileira e registrou as causas. Como resultado, no período de 1992 a 2014, a área total afetada foi de 337.427 Km2, em comparação com 308.311 Kmdo desmatamento total. Isso significa que a área destruída pela degradação florestal agora é maior do que pelo desmatamento.

Segundo Silgueiro, a extração legal e ilegal persiste em uma proporção em torno de 60:40. Quanto mais licenças as autoridades emitem para o desenvolvimento da floresta, mais madeira ilegal existe. A fraude de registro só vai parar quando o volume de registro real for estimado e cada árvore for rastreada. Segundo o coordenador do ICV, as tecnologias disponíveis só estão sendo implantadas aos poucos pelos países produtores.

A floresta amazônica é um fator estabilizador decisivo para o clima global e armazena grandes quantidades de gases de efeito estufa. Preservá-lo é fundamental para o combate ao aquecimento global.

Há muito tempo, especialistas e organizações ambientais vêm alertando que a destruição da Amazônia terá consequências catastróficas para o clima global: vários estudos recentes de cientistas brasileiros publicados pelo Projeto de Monitoramento da Amazônia (MAAP) e um publicado na revista Nature mostra que, como resultado do corte e queima, desmatamento e mudança climática, a área passou de um sumidouro de carbono a uma fonte líquida de dióxido de carbono. Uma grande parte da floresta tropical já está emitindo mais gases de efeito estufa na atmosfera terrestre do que absorve novamente.

Os pesquisadores suspeitam que esse desenvolvimento ainda pode ser interrompido no momento se a destruição da floresta tropical for interrompida imediatamente e tudo for feito globalmente para deter o aquecimento global.

Como parceira comercial do Brasil, a Alemanha também é responsável pela compra de grandes quantidades de produtos da destruição da selva, especialmente soja como ração animal para a pecuária local. Mais de 450 organizações da sociedade civil pedem um protesto contra o acordo de livre comércio entre a UE e a aliança econômica Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai), que o governo alemão está promovendo fortemente e que agravaria ainda mais a sobreexploração da Amazonas.

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Este texto foi originalmente escrito em alemão e publicado pelo Amerika21 [Aqui!].

Jair Bolsonaro vai acabar com a extração ilegal de madeira na Amazônia?

Possivelmente, mas a promessa de Brasília tem uma pegadinha: a extração ilegal acabará apenas porque será tornada legal

queimadaCorte e queima ilegal: a fumaça sobe acima da floresta amazônica ao norte da cidade de Sinop em agosto de 2020. © Carl de Souza / AFP / Getty Images

Por Thomas Fischermann para a Zeit

Internacionalmente, praticamente ninguém leva mais a sério o presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Ele se expôs como um líder pouco capacitado que não consegue controlar a crise causada pelo coronavírus, e tem que responder por um aumento dramático na destruição ambiental doméstica. Mas muitos o ouviram de qualquer maneira quando ele apareceu por alguns minutos na Cúpula do Clima online de Joe Biden para 40 chefes de estado e governos no final de abril.  Jair Bolsonaro, que já nomeou os negacionistas das mudanças climáticas como ministros e quis culpar grupos ambientalistas pelos grandes incêndios na região amazônica, fez uma oferta ao mundo: o Brasil quer parar o desmatamento ilegal na floresta amazônica até 2030. Mas alertou: o Brasil precisa de bilhões de dólares do resto do mundo para a proteção das suas florestas.

O fim da derrubada ilegal de florestas até 2030 é na verdade um compromisso antigo do Brasil, que remonta à primeira década deste século. Da boca de Jair Bolsonaro, no entanto, essa promessa antiga parece sensacional. Até agora, a equipe do governo chamou a atenção, dando aos madeireiros ilegais, garimpeiros, aos envolvidos na derrubada e queima ilegal de florestas, e aos criadores de gado uma liberdade particularmente grande para penetrar na floresta tropical.

A clareira atingiu novos valores recordes sob Jair Bolsonaro. Nas temporadas de seca de 2019 e 2020, fotos de grandes incêndios na floresta amazônica circularam pelo mundo. Conhecidos pesquisadores do clima alertam que toda a região passará por um colapso ecológico em alguns anos e se transformará em uma savana. Enquanto isso, o governo Bolsonaro anunciou mais cortes nas agências de proteção ambiental e  de proteção contra incêndios para as florestas apenas algumas semanas atrás.

A comunidade das nações pode pagar se quiser de forma diferente: essa nova proposta de Brasília – que não é tão clara, mas implicitamente surge como uma junção – é na verdade uma ideia antiga. Em 2007, o então chefe de estado do Equador, Rafael Correa , fez uma ação semelhante. Na época, ele queria arrecadar quase quatro bilhões de dólares e, em troca, renunciar à perfuração de petróleo em uma reserva natural particularmente valiosa na floresta amazônica, o Parque Nacional Yasuní . Naquela época, no entanto, apenas alguns países ofereceram uma contribuição, a maioria deles repreendeu Correa como um esquema de proteção em um aspecto ecológico, e no final Correa fez um exercício.

No Brasil, entre todos os lugares, algo semelhante funcionou temporariamente desde 2008. O país recebeu apoio para projetos de florestas tropicais do chamado Fundo Amazônia de bilhões de dólares, financiado principalmente pela Noruega, mas para o qual a Alemanha também fez contribuições substanciais. As atividades do fundo foram praticamente congeladas em 2019 devido à disputa em curso com o governo anti-ambiental em Brasília.

A criação do Fundo Amazônia veio em um momento em que o presidente Luiz Inácio “Lula” da Silva teve um sucesso surpreendente na redução do desmatamento na Amazônia . Devido à pressão política do influente lobby dos proprietários de terras, essa fase durou pouco.

Então, Bolsonaro poderia repetir esse sucesso se a pressão do exterior continuar a aumentar e ele fizer algumas ofertas financeiras? A resposta é: sim, mas com uma pegadinha gigante.

Na era Lula, o desmatamento foi interrompido principalmente por uma expansão massiva do trabalho de caça aos envolvidos em atividades ilegais. Havia novos satélites no céu, mais ataques a invasores da selva, mais poderes para as autoridades ambientais reprimirem no chão. Eles foram autorizados a atear fogo em escavadeiras, colocar bombas em pistas clandestinas para aviões garimpeiros, e assim por diante. Na era Lula ficou rapidamente demonstrado: Com vontade política, o controle do desmatamento na Amazônia é possível.

Tudo parece que Bolsonaro quer impedir a extração ilegal de madeira na Amazônia de uma forma mais problemática: simplesmente declarando-a legal.

Isso também é uma tradição no Brasil. A cada poucos anos são aprovados as chamados leis da grilagem, leis de grilagem ilegal que legalizam retrospectivamente o desmatamento já realizado. Posteriormente, são definidas novas proibições e diretrizes, que todos esperam que sejam retiradas na próxima lei da grilagem .

Diversas novas leis estão sendo preparadas em Brasília, que permitirão formas ilegais de grilagem de terras e as tornarão menos burocráticas e fáceis.

Então, Jair Bolsonaro pode cumprir sua promessa de zerar a extração ilegal de madeira? Certamente. Mas isso é inútil para a proteção do clima.

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Este artigo foi escrito originalmente em alemão e publicado pela revista semanal Zeit [Aqui!  ].

A Amazônia degradada já é maior que a desmatada


A área de selva alterada por extração de madeira ou fogo superou a desmatada nas últimas décadas

fogo amazoniaDepois de degradadas, as porções remanescentes de floresta ficam ainda mais expostas a incêndios, como o ocorrido próximo a Novo Progresso, no Pará, em agosto passado.ANDRE PENNER / AP

Por Miguel Ángel Criado para o El País

Há florestas que deixam de sê-lo mesmo sem desaparecer. É o que adverte um grupo de cientistas sobre o estado da região amazônica. Seu amplo desmatamento é bem conhecido, mas igualmente dramática (e mais complexa de medir) é a degradação do que resta. Com dados de mais de duas décadas, os pesquisadores comprovaram que a porção de floresta empobrecida já é maior que a desaparecida.

Com base em dados de satélite reunidos desde 1992, o grupo de pesquisadores mediu o impacto humano sobre a Amazônia. O mais fácil é calcular quanto da vegetação desapareceu para que suas terras fossem destinadas a outra coisa, em sua maioria a pastagem. Segundo o estudo publicado na revista Science, entre 1992 e 2014 desapareceram 308.311 km². A curva do desmatamento foi ascendente ano após ano, até atingir o pico em 2003, quando foram perdidos 29.000 km² ―uma superfície quase equivalente à da Catalunha ou a 75% do Estado do Rio de Janeiro. Seja pela pressão internacional ou pela ação política interna, o ritmo diminuiu até o patamar dos 6.000 km² perdidos anualmente desde 2014.

Mais difícil de calcular ―e de medir as consequências― é a degradação da floresta remanescente. Entre uma vegetação intocada e outra que deu lugar a pastagens, há um amplo leque de paisagens florestais mais ou menos empobrecidos. A degradação pode assumir distintas formas: uma menor densidade de árvores, uma perda de continuidade entre florestas cada vez menores e mais isoladas ou a queima de sub-bosque, entre outras. Uma série de algoritmos considerou as variações de refletância da luz de cada paisagem para determinar o grau de alteração.

“Uma floresta degradada é aquela que foi alterada de forma significativa ou que sofreu o impacto das atividades humanas. Continua contando com um dossel arbóreo, mas com biomassa reduzida”, explica David Skole, pesquisador do Observatório Global de Serviços ao Ecossistema da Universidade Estatal de Michigan (EUA) e coautor do estudo. “Um bom exemplo de degradação florestal é quando a floresta é submetida ao desmatamento seletivo, cortando-se algumas árvores e deixando-se outras.” Nas zonas desmatadas, a degradação se concentra nos limites entre a floresta e a terra nua. “Essas árvores que sobrevivem nas bordas dos terrenos desmatados são afetadas por mudanças no microclima. E há provas de que, no longo prazo, sofrem um colapso em sua biomassa. É o que chamamos de efeito-limite”.

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Os autores do estudo estimam que a porção da floresta amazônica degradada já superou os 337.000 km². Ou seja, a superfície empobrecida excede a afetada pelo desmatamento. E se este provoca o desaparecimento da floresta e de todas as funções associadas, o empobrecimento também tem suas consequências: liberação de gases do efeito estufa, alteração do equilíbrio da água e dos nutrientes, queda da biodiversidade e surgimento de doenças infecciosas.

São quatro os agentes degradantes principais: corte mais ou menos seletivo, incêndios, efeito-limite ou fragmentação e isolamento de porções de floresta. Até 2003, auge do desmatamento, estes dois últimos agentes foram os protagonistas. Desde então, porém, o desmatamento e o fogo têm sido mais importantes.

“Nos anos anteriores, o desmatamento e a degradação geralmente ocorriam no mesmo espaço”, afirma Skole. Como se fosse uma condição prévia ou um estado precedente, “o que levou muitos a verem a degradação como um atalho para o desmatamento, não uma interferência diferente a ser considerada, medida e gerenciada. Demonstramos que agora existe degradação, sobretudo por corte ilegal, que é uma perturbação espacialmente diferente”. De fato, mais da metade das áreas degradadas pelas derrubadas, por exemplo, mantiveram-se nesse estado praticamente durante as duas décadas englobadas pelo estudo.

Raúl Sánchez, pesquisador florestal da Universidade Pablo de Olavide (Espanha), diz que “até agora colocávamos no mesmo saco o desmatamento e a degradação, e este trabalho mostra que não é assim.” O que ele não esperava eram as dimensões do problema ―mesmo com o patamar de 2014. “Este ano, o fator principal tem sido o incêndio de baixa intensidade, primeiro passo para a degradação”, afirma.

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Este artigo foi inicialmente publicado pelo jornal El País [Aqui!].

Science mostra que há mais degradação florestal do que desmatamento na Amazônia brasileira entre 1992 e 2014

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O artigo intitulado “Long-term forest degradation surpasses deforestation in the Brazilian Amazon” que foi publicado hoje na revista Science, e que tem como primeiro autor o professor Eraldo Matricardi do Departamento de Engenharia Florestal da UNB, demonstra que o processo de degradação florestal na Amazônia brasileira afetou uma área maior do que o desmatamento no período de 1992 a 2014.

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O artigo mostra que a área da Amazônia brasileira afetada pela degradação florestal – onde a biomassa da floresta é perdida, mas não completamente convertida para outro uso – é maior do que a área afetada pelo desmatamento. De acordo com os resultados do estudo publicado hoje pela Science, entre 1992 e 2014, a área total de floresta degradada foi de 337.427 quilômetros quadrados, ante 308.311 quilômetros quadrados que foram  desmatados.

Estes resultados têm implicações para as emissões globais de gases de efeito estufa e perda de espécies, entre outros fatores. A degradação florestal é mais difícil de medir e monitorar do que o desmatamento, embora várias iniciativas ambientais internacionais, como a Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, apontem a restauração de florestas degradadas como um foco principal.

Atividades que causam degradação florestal, tais como queimadas, extração seletiva de madeira e fragmentação florestal podem ser difíceis de detectar sob um dossel florestal existente. A análise das imagens de satélite feitas pela equipe liderada por Eraldo Matricardi mostram casos onde a degradação persistiu e voltou a ocorrer ao longo do período de 25 anos. Esse é um resultado “bom e ruim”, pois apesar da floresta não ter sido completamente nesses locais, houve uma inevitável perda dos serviços ambientais (ver abaixo a progressão temporal dos diferentes tipos de degradação florestal na Amazônia brasileira ao longo do período estudado).

degradação

Durante o período coberto pelo estudo, as políticas brasileiras contribuíram para a redução do desmatamento, processo que se caracteriza pela conversão das florestas é para um uso inteiramente novo,  tais como pastagem, observaram os pesquisadores. Mas, de 2006 a 2010, a taxa média anual de degradação florestal por extração e queima era quase igual às taxas de desmatamento, e em 2014 as taxas de degradação haviam excedido as taxas de desmatamento.

Uma consequência deste estudo será a necessidade de ser fazer uma mudança na narrativa na situação da cobertura florestal amazônica, especialmente no ponto em que se diz que ainda existem 80% de florestas intocadas na Amazônia brasileira. É que usando formas conservadoras de estimativas, este estudo chegou a um cálculo de que algo em torno de 10% da área da Amazônia brasileira possui a presença de alterações significativas causadas por diferentes formas de degradação florestal.

Quem desejar  acessar este artigo no site da Science, basta clicar [Aqui!].

Dados científicos sugerem que a Europa está perdendo florestas em ritmo alarmante por causa da extração de madeira

O aumento da extração de madeira pode afetar a capacidade das florestas da Europa de combater a crise climática devido à redução da capacidade de absorção de carbono

florestas europeiasUma floresta sueca ao pôr do sol. A perda de biomassa florestal é mais acentuada na Suécia, responsável por 29% do aumento na colheita.  Foto: Alamy

Por Fiona Harvey para o “The Guardian”

Dados científicos de um artigo recém publicado sugerem que a Europa perdeu uma área significativa de florestas devido ao aumento da extração de madeira nos últimos anos, reduzindo a capacidade de absorção de carbono do continente, e possivelmente indicando problemas mais amplos com as tentativas da União Europeia (UE) de combater a crise climática.

Muitas das florestas da UE – que representam cerca de 38% da sua superfície terrestre – são manejadas para a produção de madeira e, portanto, são colhidas regularmente. Mas a perda de biomassa aumentou 69% no período de 2016 a 2018, em comparação com o período de 2011 a 2015, segundo dados de satélite. A área de floresta colhida aumentou 49% na mesma comparação, publicada na revista Nature Research .

Isso indica que muito mais colheitas ocorreram em um curto período, mesmo considerando os ciclos naturais e o impacto de eventos como incêndios florestais e nevascas fortes. Pode-se esperar que a área colhida varie menos de cerca de 10% devido a ciclos de cultivo e plantio e efeitos similares, segundo Guido Ceccherini, do Centro Comum de Pesquisa da UE, autor principal do estudo.

Portanto, é provável que outros fatores estejam em jogo, e isso pode incluir aumento da demanda por madeira como combustível e mercados maiores para madeira e outros produtos de madeira. Os dados de satélite podem, portanto, ser um indicador precoce de demandas insustentáveis ​​colocadas nas florestas da UE.

A perda de biomassa florestal é mais pronunciada na Suécia, responsável por 29% do aumento da colheita, e na Finlândia, por cerca de 22%. Polônia, Espanha, Letônia, Portugal e Estônia foram muito menos afetados, pois juntos representaram cerca de 30% do aumento nos 26 países estudados.

Ceccherini disse ao The Guardian que é improvável que o aumento observado na colheita e a perda de biomassa resultem em um declínio na área da UE que é florestada em geral, pois a maioria das florestas colhidas seria regenerada . Mas isso prejudicaria a capacidade de absorção de carbono das florestas da UE no curto prazo, disse ele.

“As florestas continuam a ser um sumidouro de carbono , mas menos do que antes”, disse Ceccherini. “Mesmo que parte do carbono da biomassa colhida seja usada em produtos de madeira de longa duração, possivelmente substituindo materiais com maior consumo de energia, como aço ou cimento, a maioria retornará à atmosfera como CO2 em um curto período de tempo [desde] meses a alguns anos. Até que o estoque de carbono nas áreas colhidas retorne aos níveis anteriores, o que leva várias décadas, dependendo do tipo de floresta, um aumento na colheita é, portanto, equivalente a um aumento nas emissões de dióxido de carbono para a atmosfera. ”

As florestas compensam cerca de 10% das emissões de gases de efeito estufa da UE. Como é provável que as áreas colhidas sejam replantadas, o novo crescimento continuará absorvendo dióxido de carbono da atmosfera, de modo que o balanço de carbono da Europa poderá não ser muito afetado a longo prazo.

No entanto, os pesquisadores disseram que era importante descobrir por que a colheita aumentou tão repentinamente, caso isso indique problemas subjacentes mais amplos na maneira como as florestas da Europa estão sendo gerenciadas. Este estudo não pode estabelecer definitivamente as causas dos aumentos na colheita, por isso são necessárias mais pesquisas.

O aumento da demanda por madeira e produtos de madeira, como celulose e papel, e mais queima de biomassa por combustível podem estar por trás do rápido aumento da colheita observado nos países nórdicos. Nesse caso, de acordo com os pesquisadores, é importante saber para que quaisquer impactos adversos possam ser contidos rapidamente.

O professor Thomas Crowther, fundador do Crowther Lab, que não participou da pesquisa, disse: “É preocupante ver que a crescente demanda por produtos florestais pode estar reduzindo o carbono armazenado na biomassa viva das florestas européias. É possivelmente mais preocupante que a remoção de florestas também possa ameaçar o armazenamento de carbono abaixo do solo. Essas florestas de alta latitude suportam alguns dos maiores estoques de carbono do solo do mundo. Se o desmatamento ameaçar a integridade dos estoques de carbono no solo de alta latitude, os impactos climáticos poderão ser mais fortes do que o esperado anteriormente. ”

fecho

Este artigo foi escrito originalmente em inglês e publicado pelo The Guardian [Aqui!].

Uma pergunta inconveniente: para onde está indo a madeira extraída ilegalmente na Amazônia brasileira?

illegal loggingA pergunta inconveniente: quem está comprando a madeira extraída ilegalmente na Amazônia brasileira.

Tenho visto uma série de vídeos vindos de diferentes regiões da Amazônia mostrando filas razoavelmente grandes de caminhões carregando dezenas de árvores recém abatidas,  e com grande frequência de áreas onde estão localizadas unidades de conservação e terras indígenas.

Uma primeira questão que me vem à mente e que me parece bastante relevante para entendermos a atual dinâmica do desmatamento que está explodindo em diferentes regiões da Amazônia brasileira: quem está comprando toda essa madeira?

O Instituto Socioambiental (ISA) avalia que “apenas entre março e abril de 2019, cerca de 13.865 hectares de novas manchas, que correspondem ao desmatamento, surgiram na área da bacia do Xingu que incide sobre o estado do Mato Grosso“.

desmatamento_azulDesmatamento legal e ilegal no estado de Mato Grosso entre março e abril de 2019 apenas na baxia do Rio Xingu. Fonte: ISA.

A pergunta me parece relevante na medida em que historicamente o principal mercado da madeira extraída (legalmente ou ilegalmente) na Amazônia é o mercado nacional, com significativa participação do setor da construção civil, especialmente estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Mas como o Brasil está efetivamente em grave crise econômica desde meados de 2015 e a construção civil está em um momento de baixa em termos de iniciar novos empreendimentos, a possibilidade maior é de que a madeira que está sendo extraída de unidades de conservação e terras indígenas esteja sendo exportada para mercados internacionais.  Entretanto, essa possibilidade  também tem problemas para ser confirmada, na medida em que exportar madeira não é algo tão simples, ao menos se feita dentro de canais formais e, portanto, legais.

Conversando com um colega cujas pesquisas são centradas na Amazônia, ele levantou a hipótese de que as áreas que estão sendo desmatadas em 2019 já tinham sido desprovidas de espécies com valor comercial antes, o que criaria então um baixo nível de madeira de valor comercial. Nesse cenário, o essencial seria determinar o que está sendo plantado nessas áreas (soja e/ou cana de açúcar, por exemplo) e qual a porcentagem das áreas desmatadas estão tendo algum tipo de uso da terra efetivo, ou quanto está indo direto para a especulação financeira.

Ainda que este colega esteja parcialmente correto, tendo a achar que o volume de madeira que está saindo das áreas mais intensamente desmatadas em 2019 não é assim tão desprezível, e que o mais provável é que uma parte significativa desta madeira está saindo do Brasil de forma ilegal.

Uma questão que dificultará sobremaneira a avaliação do que está ocorrendo em termos de destino da madeira extraída ilegalmente é o virtual desmanche das equipes de fiscalização do IBAMA e do ICMBio que o ainda ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, efetivamente conseguiu fazer desde que assumiu o cargo.

Tenho certeza que eventualmente teremos acesso a dados que ajudem a elucidar esse mistério, visto que esforços estão sendo realizados por organizações não governamentais e movimentos sociais para estabelecer o percurso completo da madeira que está sendo retirada ilegalmente de unidades de conservação e terras indígenas.

 

O longo braço do socialismo de mercado chinês alcança a Amazônia brasileira

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Em mais uma daquelas matérias que a mídia corporativa brasileira opta por ignorar, o jornal britânico “The Guardian” revelou no último domingo que dois empresários chineses foram pegos num esquema que desmatou 6 km de floresta no estado do Amapá [1].

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O interessante é que , segundo o que o jornalista Dom Philips revela, esses dois empresários chineses estavam fomentando um esquema de corrupção que poderia ter causado danos ambientais estimados em 30 milhões de dólares.  Sinal que as estritas regras anti-corrupção adotadas na China não valem para quando seus agentes capitalistas penetram em outros países, especialmente aqueles da periferia como é o caso do Brasil.

Mas a extração criminosa de madeiras certamente não é o único negócio em que empresários chineses ou não estão envolvidos neste momento na Amazônia brasileira. Um exemplo claro é a própria monocultura da soja onde grandes corporações multinacionais estão fomentando a expansão da cultura, ainda que se saiba que às custas do desmatamento de áreas ocupadas por florestas nativas.

Não custa lembrar que a China é um dos principais mercados consumidores da soja brasileira.


[1] https://www.theguardian.com/world/2017/dec/17/brazil-amazon-china-corruption-amazon-amapa?CMP=share_btn_fb