Projeto de lei para extinção da reserva legal trará mais devastação ambiental

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Fim da reserva legal servirá para legalizar o que atualmente é crime.

No que se apresenta como mais um ataque ao sistema nacional de meio ambiente, a dupla formada pelos senador Flávio Bolsonaro (PSL/RJ) e Márcio Bittar (MDB/AC) apresentaram projeto de lei com o objetivo de revogar o quarto capítulo do Código Florestal, chamado de “Da área de reserva legal”.

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Se consumada a aprovação desse projeto de lei, o que teremos será uma ampliação desenfreada da devastação dos biomas florestais brasileiros, em especial o Amazõnico para onde convergem todos os interesses manifestos de exploração de seus recursos naturais.

A alegação por detrás desse atentado contra não apenas as nossas florestas, mas principalmente a biodiversidade que as mesmas possuem e os serviços ambientais que fornecem. Também sofrerão as duras consequências do que promete ser um avanço descontrolado do desmatamento as comunidades tradicionais e povos indígenas que dependem do que as florestas fornecem para garantir sua reprodução social e sobrevivência econômica.

Como estudioso do processo de desmatamento da Amazônia, com diversas publicações em revistas internacionais de alto impacto desde 1993, posso testemunhar que hoje há mais terra desmatada do que se necessita para cultivar ou plantar pastagens. A quantidade de terra desmatada que se tornou improdutiva é significativamente alta, e a remoção das florestas atende a outras interesses que não os alegados pelos dois senadores.

Um detalhe a mais que me faz ser totalmente contra esse projeto pró-desmatamento é o fato de ser junto com meus irmãos e irmã o co-proprietário de uma área de 17 ha de floresta ombrófilo mista que contém centenas de árvores de auracaria, e por onde passam 3 riachos que seguem fornecendo água para as propriedades vizinhas. Essa floresta só existe porque meu avô paterno cumpriu por mais de 70 anos as regras relacionadas à reserva legal.  E é nesse fragmento que ainda resistem inúmeras espécies de pássaros, serpentes, insetos e orquídeas.  E, apesar do custo anual com a manutenção de cercas e aceros, temos atualmente um início de retorno econômico com a apicultura, o que deverá ao menos subsidiar o o pagamento  desses serviços.  E isso tudo só é possível por causa da reserva legal que agora querem extinguir.

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Propriedade familiar que já foi uma reserva legal por mais de 70 anos: é esse tipo de estratégia de conservação que será exterminada pelo projeto de Flávio Bolsonaro e Márcio Bittar.

Venho dizendo e repito que todos esses ataques à proteção ambiental de ecossistemas e biomas nacionais ainda custará cara ao Brasil, e não me surpreenderei se houver a imposição de barreiras comerciais por causa da destruição que está sendo permitida ou engendrada pelo governo Bolsonaro. 

Aliás, a recente suspensão do jantar de entrega de um prêmio ao presidente Jair Bolsonaro nas dependências do Museu de História Natural se deveu justamente por causa dos ataques realizados contra a proteção ambiental na Amazônia.  Mas essa refrega não parece ter sido bem compreendida no âmbito dos apoiadores da destruição ambiental no Brasil. Disso certamente resultarão novas e mais dolorosas lições.

 

Flávio Bolsonaro e a suprema irresponsabilidade de um neófito

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Movimento Hamas emitiu comunicado de imprensa que irritou o senador Flávio Bolsonaro.

O agora (ou seria ainda?) senador Flávio Bolsonaro mostrou o característico pavio curto que parece caracterizar a sua família e respondeu a uma crítica do movimento “Hamas” dizendo (ou desejando) que queria que o movimento palestino explodisse (ver imagem abaixo)

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A mídia corporativa informa que provavelmente orientado por pessoas mais racionais que o acompanham na viagem que ainda realiza a Israel, Flávio Bolsonaro apagou o tweet em que informava ao Hamas seu desejo de que se explodisse.

O primeiro problema aqui é que o Hamas possui notório conhecimento em mídias digitais e certamente não só de um “print” no tweet com o desejo do filho mais velho de Jair Bolsonaro, como já o está circulando em suas mídias.

O segundo problema, que decorre diretamente do primeiro, é que faltou a um senador da república o mínimo de sensibilidade ao se dirigir a um movimento que já demonstrou forte capacidade de ação militar e de usar com grande êxito táticas heterodoxas típicas da guerra de guerrilha.

Juntados os dois erros, o que temos é um agravamento do risco político causado pela visita e dos compromissos firmados pelo presidente Jair Bolsonaro com o líder israelense Benjamin Netanyahu.

Outro aspecto que gostaria de ressaltar é a impossibilidade de concretização de desejos de boa parte da mídia corporativa de que o alto número de militares no governo Bolsonaro serviria como uma espécie de contrapeso racional às manifestações intempestivas que brotam do presidente e de seus três filhos.  O que está provocação ao Hamas demonstra é que eles são incontroláveis e impulsionados por sua condição de neófitos em ação política internacional estão a nos causar danos irreparáveis nas relações comerciais, e ainda nos expondo a uma possível fúria do Hamas. Simples, mas ainda assim totalmente trágico.

 

Fala fraca e fuga de coletiva de imprensa em Davos explicitam esclerose precoce do governo Bolsonaro

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O presidente Jair Bolsonaro, no Fórum Econômico Mundial em Davos Foto: Fabrice Coffrini / AFP

Se a repercussão da aparição meteórica na mesa de abertura da edição de 2019 do Fórum Econômico Mundial de Davos já não tivesse sido ruim o suficiente para a imagem de Jair Bolsonaro e um governo em estágio inicial, a coisa ficou pior ainda com a fuga de uma entrevista coletiva onde o presidente e seus principais ministros deveriam expor seus projetos para o Brasil.

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Essa imagem me traz inclusive à lembrança o cantor Nelson Gonçalves e aquela canção que diz que “naquela mesa está faltando ele” (ressalvando-se que no caso de Davos a ausência foi coletiva).

O cenário fica ainda pior para Jair Bolsonaro e seu governo quando se vê que ele esteve disponível para entrevistas no melhor estilo “chapa branca” com veículos da mídia corporativa brasileira que optaram por aderir ao seu projeto político, sabe-se lá por quais razões.

Se essa tática de fugir de situações complicadas para falar com a “imprensa amiga” funciona no Brasil, isso não quer dizer que funcionará fora dele.  E Bolsonaro deveria ter sido melhor orientado nesse sentido, mas o problema é que não foi.

Para adicionar pitadas fortes de constrangimento há ainda o vaivém em torno do escândalo que cerca seu primogênito,  o senador eleito pelo Rio de Janeiro Flávio Bolsonaro, cujo caso evoluiu da, dizem, corriqueira subtração de parte dos salários de assessores na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para questões bem mais complexas que envolvem negócios com imóveis no melhor estilo “the Flash” para problemas bem mais delicados como o envolvimento com milicianos, incluindo a concessão de emprego para a mãe e a esposa de um deles.

Após parecer que iria jogar o filho “ao mar” para se livrar de possíveis ligações perigosas dizendo que se “ele (Flávio Bolsonaro) errou e isso ficar provado, eu lamento como pai, mas ele vai ter que pagar“; Jair Bolsonaro usou uma das entrevistas “chapa branca” para dizer que o alvo é ele e seu primogênito seria só vítima de um jogo sujo. Ao fazer isso, consciente ou inconscientemente, o presidente do Brasil se reaproximou da frigideira política em que o filho está sendo assado.

Se tudo não estivesse com cara de pudim desandado, Jair Bolsonaro resolveu se envolver diretamente na aventura política de remover Nicolás Maduro do poder na Venezuela. É que ao alinhar o Brasil automaticamente à posição do governo estadunidense que quer impor a derrubada de Maduro, Jair Bolsonaro corre o risco de alienar parceiros comerciais importantes como a Rússia e a China.  Uma amostra do preço deste tipo de alinhamento já foi dada  pela Arábia Saudita que suspendeu a compra de carne de frango de 33 frigoríficos brasileiros  como uma forma velada de protesto contra a anunciada mudança da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

Entre os frigoríficos de carne de frango suspensos pela Arábia Saudita, estão unidades da BRF e JBS

Getty Images. Entre os frigoríficos de carne de frango suspensos pela Arábia Saudita, estão unidades da BRF e JBS.  Fonte: Economia IG. 

A questão é que hoje a saúde balança comercial brasileira depende diretamente da venda de suas commodities agrícolas e minerais para países que estão mostrando posições distintas não apenas no caso da Venezuela e da localização de suas embaixadas em Israel.  Se a posição da Arábia Saudita for seguida por outros países, a crise só tenderá a aumentar.

Todas estas sinalizações apontam para a ocorrência de uma esclerose altamente precoce do governo Bolsonaro. Se ainda nem chegamos ao final do primeiro mês e o novo congresso ainda nem foi instalado, imaginemos o que poderá acontecer ao longo de 2019. Por tudo o que se viu até agora, o calvário de Jair Bolsonaro e seus filhos está apenas começando (para usar uma imagem tão a gosto de sua base neopentescotal). Resta saber se o presidente saberá lidar com todas as pressões que apontam no horizonte.

Estréia de Bolsonaro em Davos foi ofuscada pelo crescente escândalo em torno do filho

Flávio Bolsonaro nega que jornal brasileiro afirma ter empregado uma vez a mãe e a esposa de um suposto líder do esquadrão da morte

Jair Bolsonaro diz que vai “abrir” a economia do Brasil em discurso pró-negócios em Davos – vídeo

Por Tom Phillips, correspondente para a América Latina do “The Guardian”

O presidente de extrema-direita do Brasil, Jair Bolsonaro, usou sua estréia internacional para soar a sentença de morte para a esquerda “bolivariana” da América do Sul e proclamar uma nova era conservadora de governança limpa e piedade na região.

Mas sua aparição concisa no Fórum Econômico Mundial na terça-feira foi ofuscada por um escândalo de bola de neve envolvendo um de seus filhos, o recém-eleito senador Flávio Bolsonaro.

Enquanto o presidente – que chegou ao poder prometendo libertar o Brasil da corrupção e da criminalidade – se preparou para subir ao palco em Davos, relatórios em um dos principais jornais brasileiros ligaram seu filho a membros de um grupo de extermínio do Rio de Janeiro chamado Escritório do Crime.

O jornal O Globo afirmou que durante o período de Flávio Bolsonaro como legislador do Rio, ele empregou a mãe e a esposa do suposto líder da gangue, um ex-agente Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Adriano Magalhães da Nóbrega.

Nóbrega, que supostamente está fugindo após a polícia atacar seu grupo com uma operação apelidada de Os Intocáveis“, é acusado de ser um membro sênior do que O Globo chamou de “a mais letal e secreta falange de pistoleiros” do Rio de Janeiro.

A polícia e os promotores  suspeitam que membros do Escritório do Crime estão por trás do assassinato ainda sem solução da vereadora Marielle Franco, da cidade do Rio de Janeiro, no ano passado.

O Globo também afirmou que a suposta esposa e mãe do gângster haviam sido recomendadas a Flávio Bolsonaro por Fabrício Queiroz, um amigo de longa data do presidente brasileiro que foi fotografado socializando com Jair Bolsonaro em uma foto onde os dois homens aparecem sem camisas.

Marcelo Freixo, legislador de esquerda e amigo de Marielle Franco, estava entre os que exigiam respostas nesta terça-feira. “A família Bolsonaro deve as explicações à sociedade”, ele twittou.

Flávio Bolsonaro rejeitou o relatório – que segue um punhado de outras alegações prejudiciais sobre suas transações financeiras – e afirmou que ele era a “vítima de uma campanha de difamação” destinada a ferir seu pai. “Aqueles que cometeram erros devem ser responsabilizados por seus atos”, disse ele em um comunicado.

Celso Rocha de Barros, colunista político do jornal Folha de São Paulo, disse: “A família Bolsonaro deve estar em pânico”.

“É difícil medir as repercussões que isso pode ter … É uma bomba – uma bomba nuclear”, acrescentou Barros.

O crescente escândalo abalou as promessas de Jair Bolsonaro em Davos de encabeçar uma cruzada contra a corrupção e o crime organizado.

Durante um breve discurso de seis minutos na cúpula anual, Bolsonaro disse esperar que o mundo veja seu “novo” Brasil mais limpo com novos olhos depois de um escândalo maciço de corrupção que devastou a elite política do país.

“Assumi o Brasil em meio a uma profunda crise ética, moral e econômica. Estamos comprometidos em mudar nossa história… Queremos governar pelo exemplo ”, declarou Bolsonaro.

O nacionalista de extrema-direita lançou-se como porta-bandeiras da nova vanguarda conservadora da América Latina. “Não queremos uma América bolivariana”, disse ele, em referência ao falecido presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que esperava unir o continente com uma aliança de líderes progressistas.

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Um dos principais jornais do Brasil ligou Flávio Bolsonaro a membros de um grupo de extermínio do Rio de Janeiro chamado Escritório do Crime. Foto: Sergio Moraes / Reuters

Bolsonaro disse ainda que os líderes de direita, como o argentino Mauricio Macri e o chileno Sebastián Piñera, estavam determinados que “a esquerda não prevalecerá nesta região”.

O presidente brasileiro também se pintou como um estadista global em busca de “um mundo de paz, liberdade e democracia”. “Com o slogan: ‘Deus acima de tudo’, acredito que nossas relações [com o mundo] trarão progresso interminável para todos”, declarou Bolsonaro.

Observadores políticos e membros da audiência não se impressionaram com a aparição de Bolsonaro no cenário mundial.

“Ele me assusta … o Brasil é um país grande e merece alguém melhor”, disse o economista Robert Shiller, ganhador do Nobel, ao jornal Valor Econômico.

Outro membro da audiência supostamente reclamou: “[Um] desastre. Eu queria gostar dele, mas ele não disse nada. Por que ele veio?

Bolsonaro pressiona líder venezuelano com promessa de “restabelecer a democracia”

De Barros chamou o discurso curto de Bolsonaro de um “fiasco” genérico que provavelmente havia sido cortado por causa do escândalo que se desenrolava em casa.

Falando na véspera do discurso de Davos de Bolsonaro, José Roberto de Toledo, um jornalista político da revista Piauí, disse que sua popularidade interna permaneceu alta.

“A confiança do consumidor é a maior em anos… o dinheiro vem do exterior. O dólar caiu. O mercado de ações está quebrando recordes … Ninguém pode suportar mais cinco anos de crise. Todo mundo quer apertar o botão de reiniciar.

Mas ele especulou que Bolsonaro pagaria um preço político pelo crescente cheiro de corrupção em torno de seu filho. “Flávio colocou uma espada [de Dâmocles] sobre a cabeça de seu pai que será usada para chantageá-lo, no congresso, nos tribunais, nas redes sociais e na imprensa. Será um peso que ele sempre terá que carregar – e a probabilidade é que esse peso cresça com o tempo ”.


Este artigo foi publicado originalmente em inglês pelo “The Guardian” [Aqui!]

O dia em que 45 virou 6: uma síntese do tamanho do buraco onde o Brasil se meteu

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O presidente Jair Bolsonaro discursa no Fórum Econômico Mundial de Davos. Discurso que deveria durar 45 minutos, durou apenas 6.
Nas primeiras três semanas do governo Bolsonaro ficamos sendo brindados com a informação de que o novo presidente brasileiro iria discursar por 45 minutos no Fórum Econômico de Davos para apresentar ao mundo a sua visão de futuro do Brasil.
Acabo de saber que os 45 minutos viraram 6, o que num jogo de futebol significaria dizer que em vez de se jogar todo o tempo regulamentar, o juiz fosse obrigado a parar a partida quando os times ainda estavam se estudando. Em outras palavras, o que era para ser o ponta inicial para os investidores internacionais, acabou sendo uma espécie de “micro discurso” de generalidades superficiais.
Mas o que esperar deste governo senão pitadas intermináveis de situações bizarras que vão rapidamente tornando este governo uma aposta para lá de arriscada por parte das elites brasileiras? O problema é que a maior parte da elite brasileira nem vive no Brasil, preferindo ir ao país apenas para recolher as fortunas acumuladas na especulação financeira. Vão e voltam do Brasil em seus jatinhos privados, e a maioria dos brasileiros que se dane.
Por outro lado, é compreensível que Jair Bolsonaro estivesse nervoso em Davos. É que ali se joga um jogo para o qual ele nunca realmente se preparou. Não falo nem da incapacidade de se comunicar em língua inglesa, pois o ex-presidente Lula também não falava a língua de Shakespeare e sempre sai bem. A ponto de termos aquela cena durante um encontro do G-20 em que Barack Obama e Lula trocaram amabilidades com a conjunta de um intérprete (ver vídeo abaixo). Mas Lula é Lula, e Bolsonaro e Bolsonaro.

Para complicar ainda mais a situação do governo Bolsonaro, hoje tivemos a prisão de membros de uma milícia que estariam implicados na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. A ligação com o governo Bolsonaro veio a público fato que dois dos milicianos arrolados no caso foram alvo de homenagens por Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Se isso não fosse ruim o suficiente, a mãe de um deles foi assessora de Flávio Bolsonaro no mesmo gabinete em que ele hospedeu Fabrício Queiróz.
Em suma, como eu já havia dito aqui, este governo que ainda não chegou ao fim do seu primeiro mês está dando todos sinais de esclerose precoce. O problema é o que vem pela frente se o paciente não sobreviver por muito tempo.

Bolsogate: quando até Rachel Sheherazade bate, a coisa está mesmo feia

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O imbróglio envolvendo o senador eleito pelo Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro, e seu dublê de motorista Fabrício Queiróz está provocando um forte desgaste na imagem não apenas do presidente Jair Bolsonaro, mas também do “superministro da Justiça”, o ex-juiz federal Sérgio Moro.

Uma prova disso foi a contribuição da jornalista Rachel Sheherazade que desde a Austrália adicionou um comentário no “tread” do quase ex-senador Christovam Buarque quando este afirmou que “o mito Bolsonaro está destruindo o mito Moro” (ver imagem abaixo).

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Sheherazade, que é conhecida por suas posições ultra conservadoras, foi implacável ao afirmar que os mitos políticos nem precisam de ciência para desmitificá-los, pois o “encanto se desfaz quando confortados (acho que ela quis dizer “confrontados) com os fatos.

Como Rachel Sheherazade possui cerca de 14 milhões de seguidores apenas na rede social Twitter, não é preciso nem ser um Einstein para saber que o inferno astral da família Bolsonaro ainda nem começou e o que estamos assistindo nos primeiros dias de 2019 são apenas os primeiros salvos na direção de um presidente que foi eleito com a expectativa de que acabaria com a corrupção no Brasil. 

E o Bolsogate está apenas esquentando!

Reinações de Flávio e Fabrício criam cenário de terra arrasada para Jair Bolsonaro

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A situação do filho primogênito de Jair Bolsonaro, o senador eleito pelo Rio de Janeiro Flávio Bolsonaro, que já andava complicada saiu da CTI para a UTI com a revelação de que ele teria feito um pagamento de um título de mais de R$ 1 milhão para um beneficiário ainda não identificado [1].

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Além disso, agora se sabe que o ex-motorista (e guarda-costas) de Flávio Bolsonaro gificativ não “meros” R$ 1,2 milhão em sua conta bancária, mas mais significativos, assim por dizer, R$ 7 milhões entre 2014 e 2017 [2].  Nas palavras do jornalista Lauro Jardim, “haja rolo” para explicar tanto dinheiro nas contas bancárias de quem seria um mero assessor parlamentar cuja residência oficial numa viela no bairro da Taquara , no mínimo, relativamente modesta .

Como disse ontem, a situação de Flávio Bolsonaro fica pior na medida em que ele e sua família utilizaram o combate à corrupção como sua principal bandeira, tendo se destacado e alcançado os cargos que ocupam ou ocuparão justamente por causa disso Assim, ao ser pego em uma situação que fica cada vez mais complicado, Flávio Bolsonaro coloca em risco também  a estabilidade do governo federal, na medida que Fabrício Queiróz também foi assessor de Jair Bolsonaro, além de ser amigo de pescarias e ter feito um depositado polpudo na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Com isso tudo, os setores mais pragmáticos que cercam Jair Bolsonaro em seu ministério devem estar totalmente arrependidos de terem permitido o ataque furioso que realizou contra a mídia corporativa brasileira em seus primeiros dias de governo (e em especial às Organizações Globo). É que após meros 20 dias de duração, o cenário criado com a apuração de apenas um de seus filhos já criou um cenário de terra arrasada. 

Imginemos o que acontecerá quando o governo realmente começar a tentar se consolidar no terreno após o Carnaval. Bom, parece que até as cinzas esfriarem ainda teremos muitas emoções. Enquanto isso, as panelas da classe média continuam silenciosas. Vamos ver por quanto tempo.

 

Bolsogate é objeto de artigo na revista Der Spiegel, maior revista alemã

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Qualquer esperança de que o “Bolsogate” ficasse contido dentro dos limites do território brasileiro está dando rapidamente lugar ao fato objetivo de que o assunto envolvendo Flávio Bolsonaro se tornou objeto de matérias nos principais veículos da mídia internacional.

Neste sábado, a revista Der Spiegel, maior revista da Alemanha, publicou uma matéria sobre os problemas envolvendo Flávio Bolsonaro e seu “ex-motorista e guarda-costas” Fabrício Queiróz (abaixo segue a reportagem na íntegra em português).

Assim, a imagem de Jair Bolsonaro que já não era boa na Europa poderá ter uma perda adicional de credibilidade se o caso envolvendo Flávio Bolsonaro não for resolvido rapidamente. É que o governo Bolsonaro terá grave dificuldades de interlocução se tiver que arriar logo de cara o que era uma das suas principais bandeiras (i.e.,  o combate à corrupção).

É que mais do que nunca valerá o ditado que diz que “À mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta”.  No caso em tela, o filho, o motorista e a mulher de Jair.

 

Reportagem aborda fluxos de caixa duvidosos na conta de Flávio Bolsonaro

Mas começou seu mandato e Jair Bolsonaro é objeto de problemas ameaçadores: entre junho e julho de 2017 foram feitos 48 depósitos na conta bancária do seu filho num total de R$ 96 mil.

FILE PHOTO: Flavio Bolsonaro, son of Brazil's President Jair Bolsonaro is seen behind him at the transition government building in Brasilia

Flávio e Jair Bolsonaro.

As autoridades brasileiras estão investigando uma série de pagamentos em dinheiro duvidosos a Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro. Como o noticiário de TV “Jornal Nacional” informou, foram depositados na conta de Bolsonaro Junior um total de 96.000 reais (cerca de 22.500 euros). Há 48 pagamentos individuais efetuados entre junho e julho de 2017. Naquela época Flávio Bolsonaro era deputado no estado do Rio de Janeiro.

A reportagem da TV Globo baseou-se em um documento da Autoridade Nacional de Combate ao Crime Financeiro (COAF) que afirmou que que não estava claro quem havia pago o dinheiro. O processo é suspeito porque 48 vezes o mesmo montante  foi depositado em um caixa automático localizado no interior da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Não é a primeira vez que são notadas transferências suspeitas a familiares do presidente brasileiro. No ano passado, os investigadores financeiros encontraram “transações atípicas”  no relatório do ex-motorista e guarda-costas de Flávio Bolsonaro.

“Transações atípicas” do guarda-costas

O COAF apurou que em  2016 e 2017 foram depositados mais de R$ 1,2 milhão para o filho e  para a esposa do atual presidente. A soma excedeu claramente a renda do ex-motorista. No entanto,  o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu na última sexta-feira pela suspensão preliminar da investigação. Para o presidente em exercício desde o começo do mês, o processo é desagradável. O político ultra-direitista venceu a eleição presidencial em outubro contra seu colega Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), e anunciou uma dura luta contra a corrupção e o crime. No ano passado, mais de 63 mil pessoas foram mortas no Brasil.


Aqui!Artigo publicado originalmente em alemão [Aqui!]

Bolsogate: imprensa portuguesa repercute imbróglio dos depósitos de Flávio Bolsonaro

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Ao contrário da mídia corporativa brasileira que continua em sua maioria avassaladora “mordendo e assoprando” o ainda a ser empossado Flávio Bolsonaro no escândalo envolvendo depósitos suspeitos que foram feitos em sua conta bancária, em Portugal o nome dado ao caso é bem revelador… Bolsogate.

Em matéria assinada pelo jornalista João Almeida Moreira do “Diário de Notícias”  a repercussão aos 48 depósitos de R$ 2.000,00 feitos na conta de Flávio Bolsonaro em um mesmo mês (santa coincidência de valores!) , cita explicitamente que se trata de um “Bolsogate” na medida em que o problema também envolve a primeira dama Michelle Bolsonaro e o próprio pai e presidente da república, Jair Bolsonaro [1].

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A matéria cita ainda que “fontes do governo (Bolsonaro) citadas anonimamente na imprensa admitem que o caso, mesmo envolvendo dois membros do clá Bolsonaro, Flávio e Michelle, que não fazem parte do executivo, causam desgaste ao presidente da República recentemente empossado.”

E eu complemento.. isso é tanto verdade que um governo que nem completou um mês de vida já dá todos os sinais de ter esclerosado precocemente.

Sérgio Moro entrou por vontade própria no labirinto da família Bolsonaro. Saíra ileso?

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O juiz Sérgio Moro deve ter sido desaconselhado pelos seus verdadeiros amigos a não aceitar o papel de super ministro da Justiça do governo Bolsonaro. Mas obviamente ele não ouviu os seus bons amigos, provavelmente movido pela sede de poder e por um ego robusto, e rapidamente aceitou a tarefa de combater a corrupção dentro de um grupo político que já se sabia não era tão santo quanto seus seguidores mais fanáticos acreditavam, pois havia para começo de conversa a história da Wal do Açai para arranhar a imagem tão bem desenhada nas redes sociais [1]. Também havia a questão das tratativas imobiliárias do mesmo filho que acabou jogando Jair Bolsonaro no “limelight” (ou seria “na luz da lama”?) [2].
Agora, com o aparecimento dos problemas envolvendo o assessor/policial militar e aparente gerente de verbas obscuras, a imagem mítica vem ruindo a cada explicação mal dada, deixando o presidente eleito numa posição que beira o constrangedor (ver vídeo abaixo).

Mas pior do que o presidente eleito, está o agora ex-juiz e ainda não ministro da Justiça, Sérgio Moro. É que as apurações que desvelaram a curiosa situação do assessor de Flávio Bolsonaro, o policial militar Fabrício José Carlos de Queiroz, foi revelada por um órgão, o Coaf, que está sendo colocado sob a égide do super ministério que Sérgio Moro irá controlar, certamente com mão de ferro.
Agora que o gato (ou seria cachorro como disse Roberto Requião? [3]) da conta milionária foi colocado para fora do saco pelo Coaf, a questão que fica é de como irá se comportar Sérgio Moro que foi tão criativo para condenar líderes do Partido dos Trabalhadores. A primeira demonstração de fugir de dar explicações à imprensa não foi muito promissora em termos de continuar sendo o paladino da justiça [4].


Para Sérgio Moro a questão é complexa pois, ao contrário de muitos dos que cercam Jair Bolsonaro, ele supostamente não era membro de um partido político e foi alçado aos píncaros ao surfar na indignação contra os casos de corrupção que ocorreram no Brasil nos últimos 15 anos.
É esse envolvimento com indivíduos enrolados com a justiça que se configura na entrada de um labirinto onde se sobressai a receita explosiva que é oferecida por Jair Bolsonaro e seus filhos com cargos eletivos. Como e se Sérgio Moro conseguirá sair ileso de um labirinto onde entrou por vontade própria se tornou uma das coisas a serem observadas ao longo do tempo que o próximo governo durar.


[1] https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/08/assessora-fantasma-de-bolsonaro-continua-vendendo-acai-em-horario-de-expediente.shtml
[2]https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/01/1948527-filho-de-bolsonaro-negociou-19-imoveis-e-fez-transacoes-relampago.shtml
[3] https://www.esmaelmorais.com.br/2018/12/requiao-afirma-que-houve-cachorro-e-pede-a-cassacao-de-flavio-bolsonaro/
[4] https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,moro-evita-comentar-relatorio-do-coaf-que-cita-ex-assessores-da-familia-bolsonaro,70002637127