Servidores-fantasmas da Fundação Ceperj e Uerj voltam a assombrar Cláudio Castro e aliados próximos

Uma curiosidade que eu tinha até a tarde desta 3a. feira (14/12) era como o governador acidental Cláudio Castro havia conseguido passar incólume pelas fartas evidências de que sua campanha usufruiu de recursos públicos via o emprego de servidores fantasmas na Fundação Ceperj e Uerj. 

Bom, o que tudo indica é que Cláudio Castro e vários de seus companheiros de governo e campanha eleitoral não passaram tão incólumes quansto eu pensava. É que hoje o Ministério Público Eleitoral denunciou a chapa formada por Claúdio e Thiago Pampolha de abuso de poder econômico e político por causa do esquema de pagamento na boca do caixa que foi inicialmente revelado por matérias escritas pela dupla Ruben Berta e Igor Mello, as quais foram publicadas pelo portal UOL.

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Segundo a denúncia oferecido pelo MP Eleitoral, Cláudio Castro teria utilizado de desvios na Fundação Ceperj que aconteciam por meio de projetos como Esporte Presente, Casa do Trabalhador, RJ para Todos e Cultura para Todos; e na Uerj, por projetos como o Observatório Social da Operação Segurança Presente.

A coisa fica ainda mais grave quando se vê que além de Cláudio Castro e Thiago Pampolha, vários outros membros da entourage mais próxima do governador acidental também estão sendo acusados (ver lista completa logo abaixo).

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Em condições normais, essa denúncia teria pouca chance de prosperar, mas como não vivemos condições normais no Brasi ou, tampouco, no Rio de Janeiro, estamos diante de um momento de completa indefinição. Como as provas amealhadas pelo Ministério Público Eleitoral têm tudo para serem robustos, pois bastaria aos procuradores compilarem as reportagen de Berta e Mello para terem muitos fatos concretos para montar sua peça, os próximos dias deverão ser de tensão absoluta no Palácio Guanabara.

Mas cá entre nós, o fato de que a campanha eleitoral para o governo do Rio de Janeiro foi claramente repleto de curiosidades já é conhecido da maioria dos cidadãos que habitam o território fluminense, inclusive os que votaram em na dupla Castro/Pampolha. Eu particularmente achava que Cláudio Castro seria assombrado pelos fantasminhas que foram plantados na Fundação Ceperj e na Uerj após tomar posse em janeiro de 2023. Entretanto, o assombro ocorreu antes, uma prova que no Rio de Janeiro pode-se morrer de tudo, menos de tédio.

Escândalo do CEPERJ: quem em Campos tem medo do fantasminha do Freixo?

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Boneco inflável do “fantasma do Ceperj” foi colocado na frente da sede do órgão. Em Campos dos Goytacazes atentado político impediu que o “fantasminha” desse o ar da graça

Que as revelações trazidas inicialmente pelas reportagens escritas pela dupla de jornalistas do UOL, Ruben Berta e Igor Mello, deixaram muita gente tensa na cidade de Campos dos Goytacazes e municípios vizinhos eu não tenho a menor dúvida. Afinal de contas, quanto mais eu ouço falar do escândalo financiado em grande parte com recursos obtidos pela escandalosa privatização da CEDAE, mais eu fico sabendo que a teia de gente envolvida cruza partidos políticos da direita à esquerda.

Agora, a informação publicada pelo jornal O ESTADO DE SÃO PAULO que um grupo de militantes da campanha do candidato a governador, Marcelo Freixo, teve um membro espancado por “desconhecidos armados” ao tentar iniciar uma atividade ornamentada com um “fantasma” em alusão justamente ao esquema desvelado por Berta e Mello, e que vem tendo ampla cobertura em outros veículos da mídia corporativa.

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Eu não sei qual foi o “jênio” que deu a ordem para que essa ordem para que esse atentado político fosse realizado, mas o efeito prático é que o escândalo do CEPERJ, que estava em um período de calmaria, volte com força em novas reportagens. É que não vai faltar gente investigando quem foram os autores do atentado e, muito certamente, os mandantes do mesmo.

Conhecendo um pouco com pensa Marcelo Freixo, esse atentado vai ser usado de forma bastante direta em sua campanha de TV e rádio nos próximos dias. É que esse atentado abriu o caminho para que se pergunte quem é que tem medo do Fantasminha do Freixo. Como o governador acidental Cláudio Castro tem um imenso telhado de vidro no escandâlo do CEPERJ, quem pode culpar Marcelo Freixo se fizer a pergunta que não quer calar: quem tem medo das revelações que milhares de fantasmas recebiam na boca do caixa sem sequer saber onde trabalhavam ou que deviam fazer em troco de salários gordos custeados com as verbas da CEDAE?

Ah, sim, como ainda há muita apuração em curso por vários jornalistas investigativos, não seria de se estranhar que novas reportagens, inclusive uma sobre este atentado político, estejam já em curso.  O mais lamentável é ver Campos dos Goytacazes novamente nas manchetes nacionais, mas pelos motivos completamente errados.

 

Aumenta pressão no escândalo dos cargos secretos do governo Castro: Alerj quer que TCE audite programas de outros órgãos estaduais

Deputados pedem apuração em programas da Uerj, do DER e secretarias como a de Educação

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A Fundação Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio (Ceperj), em Botafogo Domingos Peixoto/O GLOBO

Por Rafael Galdo para “O Globo”

A Comissão de Tributação da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) aprovou nesta quinta-feira um pedido que será enviado ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) para que sejam auditados e investigados mais de 21 programas de órgãos do governo fluminense devido a indicativos de irregularidades, parte delas nos moldes das suspeitas que recaem sobre o Ceperj, fundação que está na mira do Ministério Público do Rio. O ofício cita projetos ligados às secretarias de Educação, de Infraestrutura e de Cidades, além da Universidade do Estado do Rio (Uerj) e do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ).

De acordo com o presidente da comissão, o deputado estadual Luiz Paulo (PSD), as irregularidades podem caracterizar improbidade administrativa e crime eleitoral.

— Neste momento, muitas coisas podem estar envolvidas: a improbidade administrativa, o crime eleitoral. Muitas hipóteses podem ser aventadas. Então, é necessário que não misture o joio com o trigo — disse o deputado.

O texto do ofício pede, por exemplo, que as apurações se debrucem sobre projetos contratados à Uerj pelo Poder Executivo em parcerias com secretarias e fundações, que tenham levado à “contratação de pessoas externas, ou não, ao serviço público, sem transparência”. Nesse âmbito, são citados programas como o Observatório Social da Uerj da Operação Segurança Presente e o Casa da Gente, que desenvolve trabalhos voltados à habitação de interesse social.

O TCE já tem aprovada uma auditoria especial em todos os projetos do Ceperj em conjunto com outros órgãos, além de uma auditoria específica sobre o programa Esporte Presente. Sobre essas iniciativas, uma ação civil pública do MPRJ aponta a contratação de mão de obra externa ao governo, sem transparência, com mais de R$ 226 milhões em saques na “boca do caixa” realizados por pessoas físicas por meio de ordens de pagamento bancário da fundação.

Além do ofício que a Comissão de Tributação enviará ao TCE, em outra frente, o deputado estadual Flavio Serafini (PSOL), presidente da Comissão de Educação da Alerj, enviou à reitoria da Uerj na última quarta-feira uma requerimento de informação sobre a “íntegra dos processos, incluindo os nomes de todos os participantes com a discriminação de cargo exercido, remuneração e local de lotação, referentes à todos os contratos celebrados entre a UERJ e qualquer outro órgão do estado do Rio, ou terceiros, que envolvam contratação de pessoal externo ao serviço público estadual e o pagamento de valores adicionais a colaboradores de Secretarias Estaduais como por exemplo, no projeto Observatório Social do Segurança Presente, no projeto Mulheres Apoiando a Educação, dentre todos os demais”. Um segundo requerimento, esse endereçado à Secretaria estadual de Educação, pede os processos referentes aos contratos celebrados entre a pasta e a Uerj, bem como entre a secretaria e o Ceperj.

Sobre o ofício que será enviado pela Comissão de Tributação ao TCE, o governo informou que ainda não foi notificado. “Mas o Estado tem total interesse em dar transparência, apurar os fatos e prestar todas as informações necessárias”, diz em nota.


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Este artigo foi originalmente publicado pelo jornal “O Globo” [Aqui].

O enredo dos cargos secretos se adensa na UERJ com nova reportagem do UOL

Em mais uma primorosa reportagem assinada pela dupla de jornalistas Igor Mello e Ruben Berta fica evidente que o esquema dos cargos secretos que foi inicialmente detectado na Fundação Ceperj está mais entranhado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) do que inicialmente parecia. É que, como mostram Mello e Berta, até o ex-vereador Daniel Marcos Barbiratto de Almeida , preso na chamada Operação Furna da Onça, estava na lista de pagamentos do Observatório Social da  Operação Segurança Presente, realizado na Uerj com recursos da Segov (Secretaria Estadual de Governo).  E com um detalhe bastante peculiar: recebendo salários generosos (i.e, R$ 16 mil mensais) que a maioria dos servidores públicos concursados nem sonha receber.

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Um detalhe interessante é que o ex-vereador é enteado do deputado estadual Luiz Martins (União Brasil-RJ), também preso na Furna da Onça. A reportagem aponta que Barbiratto ficou nove meses preso preventivamente sob a acusação de corrupção passiva, e que o processo deixou a esfera criminal e corre na Justiça Eleitoral, onde ainda aguarda denúncia.

Este caso em específico demonstra que os “programas especiais” do governo acidental de Cláudio Castro estavam sendo usados para alocar apadrinhados políticos a salários vultosos. O problema é que agora está ficando mais do que evidente que a Uerj estava servindo, ao que tudo indica, como uma espécie de barriga de aluguel desse esquema de apadrinhamento político.

Em tempo: em nota a reitoria da Uerj prometeu dar a devida transparência às folhas de pagamento executadas pela instituição para remunear os participantes dos projetos especiais do governo Castro que estavam sendo executados pela instituição. Vamos esperar que isto realmente ocorra, pois, se não ocorrer, vai meio dar vida à famosa frase “Há algo de podre no reino da Dinamarca” que foi imortalizada pelo personagem Marcelo na peça “Hamlet” de Willian Shakespeare. Só que no caso, o reino é a Uerj.

 

Uerj é a nova peça no tabuleiro do esquema de “servidores-fantasmas” revelado na Fundação Ceperj, mostra reportagem do UOL

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O governador acidental Cláudio Castro e o presidente da Alerj, André Ceciliano, na foto com o então reitor Ricardo Lodi, sendo condecorados pela Uerj em outubro de 2021

Aqui com meus botões eu estava desconfiado de que a Fundação Ceperj não tinha como ser o único ponto de chegada do esquema envolvendo o uso de servidores-fantasmas que foi revelado em seguidas reportagens produzidas pela dupla de jornalistas Ruben Berta e Igor Mello. Eis que na manhã deste sábado vem a confirmação de que o milionário esquema envolvendo cargos secretos (fantasmas mesmo) está presente em pelo menos mais um órgão estadual, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Ficamos sabendo desse envolvimento em mais uma reportagem excelente da dupla Berta e Mello que revela que os valores que estariam sendo executados na Uerj são quase o dobro daquele associado aos projetos que estariam sendo executados pela Fundação Ceperj, ou seja, quase R$ 600 milhões. Para justificar essa quantia milionária, cerca de 18 projetos, um deles o chamado “Observatório Social da Operação Segurança Presente”. Aliás, considero particularmente interessante que um programa do governo, o “Segurança Presente”, cujo custo não ficou claro até hoje,  seja objeto de um observatório social que sozinho recebeu a baba de R$ 124 milhões, com 99,7% (isso mesmo, 99,7%) alocados para gastos com pessoal.

Obviamente tanto o governo Castro como a reitoria da Uerj já tentaram dar as mesmas respostas de sempre para a revelação de que o mesmo esquema de servidores-fantasmas flagrado na Fundação Ceperj também estaria em andamento em uma universidade que nas últimas décadas vive com sérias dificuldades orçamentárias e com diversas de suas estruturas físicas em condições deploráveis. Mas até aqui, essas explicações não resolvem a questão central que é explicar como os valores revelados foram gastos e, pelo menos, quais têm sido as repercussões práticas (que não seja a possibilidade de entregar dinheiro na boca do caixa para quem recebe sem trabalhar) dos 18 projetos escolhidos para serem turbinados com verbas especiais (aliás, quanto desse dinheiro da Uerj também veio dos recursos obtidos com a venda da CEDAE?).

O fato singular: o Bradesco fazendo o trabalho dos órgãos de controle

Um dos fatos, dentre muitos, curiosos dessa nova reportagem publicada pelo UOL é a revelação de que foi o Bradesco quem tomou a providência de solicitar à Uerj que suspendesse a prática de utilizar as chamadas “Ordens de Pagamento Bancária” para pagar os prestadores de serviços dos projetos financiados via verbas descentralizadas (ver documento abaixo).

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Curiosamente, essa ação do Bradesco revela que os órgãos de controle foram ultrapassados por uma instituição financeira no tocante à cobrança no sentido da cessação de práticas com potencial para facilitar crimes contra o tesouro estadual.  Ainda que a posição do Bradesco seja comendável, a pergunta que se coloca é por onde andavam os órgãos de controle (a começar pelo Tribunal  de Contas do Estado) que não viram o que estava acontecendo na Fundação Ceperj e, pelo menos, também na Uerj?

Campos dos Goytacazes também no epicentro dos projetos especiais da Uerj

A mais nova matéria do UOL também mostra a conexão do esquema de servidores-fantasmas com o município de Campos dos Goytacazes, o que já tinha acontecido no caso da Fundação Ceperj, mantendo alguns personagens no núcleo central do enredo.  

Aí eu repito o que já disse anteriormente em relação ao fato de um certo ex-governador estar dando gargalhadas gostosas, pois os personagens em tela estavam atazanando  (e muito) a vida do prefeito Wladimir Garotinho, havendo quem previsse até a aplicação de um processo de impeachment até meados de 2023, a partir da construção de uma maioria, para muitos inexplicável, na Câmara de Vereadores.

Agora vamos quais as explicações que vão aparecer para mais esse caso envolvendo servidores-fantasmas pagos na boca do caixa.  Mas tudo indico que o projeto “impeachment do Wladimir” já fez água.

A dúvida que fica: em que outros órgãos do governo do RJ o esquema “Ceperj/Uerj” vai ser descoberto?

Não quero dar uma de oráculo, mas já dando, quero dizer que as matérias do UOL (e de outros veículos), que levantaram o manto de segredo que pairava sobre os projetos “especiais” na Fundação Ceperj e na Uerj, podem ainda ter desdobramentos em outros órgãos estaduais.

Como posso intuir isso? É que o esquema estava bem azeitado que tinha como ter ficado restrito a apenas dois órgãos. Resta saber agora onde eclodirão as novas evidências e quais serão os montantes envolvidos. A ver!

Escândalo dos fantasmas da Fundação Ceperj: Castro promete transparência, mas fica só na promessa

Escândalo do Ceperj: governo botou sob sigilo documentos de três projetos investigados pelo MP.  Juntos, até julho deste ano, os programas consumiram R$ 25 milhões apenas em pagamentos a mão de obra

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Por Gabriel Saboia e Rafael Galdo — Rio de Janeiro- para o “O GLOBO”

A restrição de acesso onde, após denúncias, o governo do Rio tem prometido transparência. Três dos projetos da Fundação Ceperj na mira de investigação do Ministério Público do Rio (MPRJ) e de auditoria especial do Tribunal de Contas do Estado (TCE) — RJ Para Todos, Resolve RJ e RJ Sustentável — têm seus documentos classificados como sigilosos no Sistema Eletrônico de Informações (SEI-RJ), que dá publicidade às ações da gestão fluminense. Juntas, até julho deste ano, essas iniciativas já tinham consumido R$ 25 milhões só em pagamentos à mão de obra contratada por prazo determinado, no centro das denúncias contra o Ceperj.

Mas seus planos de trabalho, relatórios, pagamentos, entre outros dados, continuam com leitura bloqueada ao cidadão nas relações de documentos referentes aos termos de cooperação para realização dos projetos. Cada uma dessas listas, que incluem até ofícios e e-mails trocados entre servidores sobre o tema, ganha um número SEI. Os SEIs dos processos de origem dos três programas estão trancados. Já os que detalham outros três projetos — Agentes de Trabalho e Renda, Observatório do Pacto RJ e Cultura Para Todos, também investigados — estão parcialmente abertos.

Bloqueios no caminho

Estão fechados, no entanto, os planos de trabalho desses três últimos. São documentos básicos, que apontam, por exemplo, a missão do programa a ser desenvolvido, o cronograma das ações e os resultados esperados. Em outros números SEI, O GLOBO conseguiu localizar os planos de trabalho do Observatório do Pacto e do Agentes de Trabalho e Renda, sem restrições.

O sigilo imposto ao plano inicial de outro projeto, o Esporte Presente, uma parceria do Ceperj com a Suderj, chegou a motivar o TCE a determinar a apresentação das informações. Assim como a restrição de acesso a documentos relacionados ao processo SEI que culminou com o credenciamento da organização social Fair Play para a gestão do mesmo Esporte Presente está entre as justificativas para o MP instaurar inquérito sobre a fundação. O plano de trabalho do projeto agora está aberto. Os documentos da Fair Play seguem trancados.

O governador Cláudio Castro no debate da Band — Foto: Reprodução

O governador Cláudio Castro no debate da Band — Foto: Reprodução

O governador Cláudio Castro, no entanto, disse durante o debate entre os candidatos ao governo do Rio, realizado pela Band no último domingo, que “os dados (relativos ao Ceperj) estavam disponibilizados e públicos”. Na semana passada, ele usou o Twitter para dizer que orientou dar “total transparência” às informações.

Procurado, o governo argumentou ontem que os documentos relacionados pelo GLOBO estão restritos devido à necessidade de atender a normas específicas da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).

“Uma vez que contêm dados pessoais, como por exemplo CPF e RG, estando disponíveis apenas para os órgãos de controle. Todas as entregas e informações sobre a execução estarão disponibilizadas no site e nos seus respectivos processos”, afirmou em nota. O Palácio Guanabara, no entanto, não informou quem foi a autoridade que classificou as informações como sigilosas.

O GLOBO relacionou também ao governo outros SEIs, como os que contêm pedidos de liberação de verba para pagamento de serviços prestados para programas como o Esporte Presente, o Agentes de Trabalho e Renda e o Cultura Para Todos. Em todos eles, as folhas de pagamento estão fechadas ao acesso público. Um deles solicita providências para o pagamento de R$ 3,6 milhões relativos a pessoal externo do Esporte Presente, tendo o mês de fevereiro de 2022 como referência.

Essa folha de pagamentos, contudo, ainda se mantém secreta, uma vez que o Ceperj segue sem entregar as informações pedidas pelo MPRJ. No site do SEI-RJ, o ícone de uma chave indica os documentos com acesso restrito, acompanhada das leis em que o sigilo é baseado. A Lei de Acesso à Informação (12.527/2011), por exemplo, não citada na resposta do governo, é a que aparece na restrição do SEI do Resolve RJ, uma parceria com a Junta Comercial do Estado do Rio (Jucerja).

Múltiplos objetivos

O site do Ceperj descreve que o objetivo do programa é “garantir a retomada da atividade econômica, o empreendedorismo cidadão, a geração de empregos e a seguridade social da população fluminense”. Castro chegou a participar da inauguração da agência do programa em Três Rios. E a previsão era que o projeto chegasse a 12 municípios.

Já o RJ Para Todos é uma parceria com a Secretaria estadual de Governo (Segov), com trabalhos junto à população mais vulnerável e em situação de rua. Seu processo de origem também está completamente sigiloso no SEI. Mas, nas ruas, a Segov, até abril comandada por Rodrigo Bacellar, hoje líder do governo na Alerj, tratou de deixar bem evidente a presença de seus agentes, que trabalham com coletes do governo do estado, conforme demonstra um documento de 15 de fevereiro deste ano. O texto diz que o uso de uniforme reforça a “identidade visual” e aumenta a “credibilidade e a visibilidade”.

A diretora executiva da ONG Open Knowledge Brasil, Fernanda Campagnucci, contesta o trancamento das informações sobre projetos e remuneração dos servidores:

— Esse conjunto de informações está na camada mais básica da transparência ativa. Ninguém está solicitando os contracheques desses agentes públicos. A LGPD está sendo usada como subterfúgio para negar essas informações.

Já o advogado Bruno Morassutti, especialista em direito público e cofundador da ONG Fiquem Sabendo, disse que lotações, salários e período de trabalho deveriam ser divulgados e não esbarram na LAI nem na LGPD:

— A divulgação desses dados é o preço que o funcionário paga por trabalhar no serviço público. É dinheiro público que os remunera.


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Este texto foi originlmente publicado pelo jornal ” O GLOBO” [Aqui!].

Escândalo do Ceperj: Fundação queria pagar na ‘boca do caixa’ até o fim das eleições

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Alvo de investigação do Ministério Público, a Fundação Ceperj pediu em junho à Secretaria estadual de Fazenda para continuar a fazer os pagamentos da folha secreta na boca do caixa até o fim das eleições. Ofícios obtidos pelo GLOBO mostram que, desde maio, o órgão era alertado pelos técnicos da Contabilidade Geral do Estado de que saque em dinheiro no banco não é o padrão utilizado pelo governo. No entanto, a Fazenda acabou permitindo que as transações continuassem até 5 de novembro, seis dias após o segundo turno.

Os alertas começaram no dia 10 de maio quando uma servidora enviou um comunicado por e-mail ao Ceperj, às 15h, questionando a forma de pagamentos. Uma hora depois, Renato da Silva Vicente, chefe de departamento da fundação, respondeu explicando que o Ceperj tem um “sistema de pagamentos avulsos”, que é enviado diretamente ao banco. Além de a maioria das retiradas ser na boca do caixa, a identificação do dinheiro na saída dos cofres do governo era feita apenas com o nome do programa, como um credor genérico, e não individualizada (com os dados dos funcionários que faziam os saques). Esse modelo também é alvo de investigação do Tribunal de Contas do Estado (TCE), pois dificulta a fiscalização do destino dos recursos.

‘Sistema próprio’

Nessa resposta, Vicente ainda pediu a compreensão da Fazenda porque o volume de pessoas que deveriam ser cadastradas no sistema era “descomunal” e colocaria em risco a continuidade dos projetos. A troca de e-mail continuou, e, uma semana depois, o superintendente Celso Borba, da Secretaria de Fazenda, reiterou que o pagamento de qualquer tipo de serviço contratado deve ser feito por meio do sistema de contabilidade do governo estadual — usado por todas as pastas. Borba ainda ofereceu ajuda dos servidores da pasta para incluir todos os dados no sistema, o que inclusive facilitaria as folhas futuras. Este ano, o Ceperj fez cerca de 90 mil pagamentos a mais de 27 mil pessoas. Denúncias de indicações políticas e funcionários fantasmas são investigadas.

Outro ofício de 23 de junho voltou a citar o mesmo assunto, mas em um novo processo. Desta vez, Gabriel Rodrigues Lopes, então presidente do Ceperj, enviou um e-mail ao secretário estadual de Fazenda, Leonardo Pires. No texto, ele escreveu que a fundação tem um sistema próprio de pagamento, que dá “celeridade ao ato administrativo” e permite o recebimento dos valores por quem não possui conta-corrente. Citando 25 mil colaboradores por mês, repete que o volume é muito grande para cadastrar todos e pede 120 dias para “possível adaptação e mudança de pagamentos exigidas”.

Com o pedido de prazo, Leonardo Pires encaminhou, no dia 8 de julho, o processo para que servidores da pasta tomassem as providências cabíveis após sua ciência. Era o sinal verde para deixar a solução apenas para depois das eleições. Três dias depois, Yasmin da Costa Monteiro, subsecretária de Contabilidade Geral, determinou que, durante os 120 dias, a fundação encaminhe o cronograma de cadastramento.

Banco: regras em contrato

Apesar dos alertas da Secretaria de Fazenda e do pedido do Ceperj para continuar com um sistema de pagamentos avulsos, o governador Cláudio Castro afirmou na semana passada que, desde novembro de 2021, governo exigia a “bancarização” ao Bradesco, mas que não foi atendido. Esse não foi o pedido feito ao banco em fevereiro. Daniel Feliz Tavares Junior, diretor administrativo e financeiro do Ceperj, solicitou a quebra do floating bancário — ou seja, reduzir o prazo entre o depósito das ordens bancárias e a disponibilização do saque. A justificativa foi de que o prazo de praxe colocaria em risco a continuidade dos projetos do órgão.

O Bradesco informou que a prestação dos serviços “está de acordo com as regras previstas no contrato firmado e no edital de licitação, bem como nas diretrizes regulatórias vigentes”. Em nota, a Secretaria estadual de Fazenda divulgou que, desde março, vem orientando o Ceperj a incluir os dados no Sistema Integrado de Gestão Orçamentária, Financeira e Contábil do Rio (Siafe-Rio), “de modo mais detalhado, garantindo a plena rastreabilidade dos valores”. A pasta também afirmou que “o governo vinha exigindo do Bradesco a bancarização dos funcionários do Ceperj” desde novembro.

Fonte: O Globo* via Tribuna NF [Aqui!].

Nova modalidade do Bradesco Prime: saque a la Gasparzinho

Como sou conhecedor do funcionamento da agência 065 do Bradesco em Campos dos Goytacazes, me ocorreu o fato de que o recorde de saques ocorrido no dia 7 de julho, dado o volume envolvido, não deve ter ocorrido nos caixas eletrônicos reservado aos correntistas comuns, já que existe um espaço para as contas mais aquinhoadas, o chamado “Prime”, cujo acesso é mais restrito e discreto.

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Assim, me ocorre que querendo ou não, o Prime do Bradesco no estado do Rio de Janeiro tem agooa uma nova modalidade Prime que é a do “Gasparzinho, funcionário-fantasma da Fundação Ceperj”. 

E pensar que essa modalidade Gasparzinho é quase que completamente turbinada com os recursos da privatização da CEDAE. Pobre classe trabalhadora do Rio de Janeiro!

 

Com escândalo da Fundação Ceperj, agência Bradesco leva Campos dos Goytacazes ao Guinness com saques a cada 43 segundos

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Moro em Campos dos Goytacazes desde janeiro de 1998 e ao longo de duas décadas sempre ouvi os locais dizendo que na cidade quase nunca acontece coisas notáveis, expressando um sentimento de que aqui quase nada dá certo. Eu sempre me esforço para dizer que, ao contrário da crença dos locais, a cidade tem sim muitas razões para se orgulhar.

Eis que agora com o rumoroso escândalo da Fundação Ceperj e seu esquema de fantasma turbinado por recursos gerados pela privatização da CEDAE (ver figura abaixo, vinda de uma matéria do jornal O GLOBO), o campista raiz poderá, enfim, dizer que há sim coisas notáveis que acontecem por aqui, ainda que não necessariamente sejam motivo de orgulho para aqueles que trabalham duro para garantir o seu sustento.

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É que em uma matéria publicada publicada hoje pelo jornal “O GLOBO”, descobriu-se que a agência 65 do Bradesco, localizado no Boulevard Francisco de Paula Carneiro gerou-se um verdadeiro recorde de saques associados a recursos gerados pelo esquema de funcionários-fantasmas da Fundação Ceperj. Segundo nos informa a matéria, “no último dia 7 de julho, segundo consta numa planilha entregue pelo Bradesco ao Ministério Público do Rio, foram realizados 505 transações oriundas da “folha secreta” durante as seis horas de expediente bancário, uma média de uma retirada a cada 43 segundos”.

A matéria informa ainda que a agência 65 foi a que mais registrou saques na boca do caixa feitos pelos funcionários-fantasmas  da Fundação Ceperj em todo o estado do Rio de Janeiro, com a retirada de mais de R$ 12 milhões em dinheiro vivo! É ou não é um tremendo motivo de orgulho? Dá até para demandar um registro no Livro Guiness de Recordes.

Quem quiser ler a reportagem com os recordes da agência 65, basta clicar [Aqui!].

Cláudio Castro pode até se eleger, mas o escândalo do “rachadão” da Fundação Ceperj continuará nos seus calcanhares

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O fato do estado do Rio de Janeiro ser o lócus de situações que são para lá de estranhas não chega a surpreender ninguém, na medida em que, em anos recentes, diversos ex-governadores visitaram as celas prisionais em função de supostos crimes contra o tesouro estadual. Assim, é que também não seria estranho se o governador acidental Cláudio Castro venha a ser eleito governador, na medida em que múltiplas forças claramente se articulam para isso.

No entanto, uma coisa é certa: Cláudio Castro continuará sendo assombrado pelo rumoroso escândalo envolvendo o uso de quase R$ 300 milhões, boa parte oriundos da privatização da CEDAE, para a contratação de fantasmas pela Fundação Ceperj. É que, graças aos jornalistas Ruben Berta e Igor Mello, as estranhas desse escândalo estão, digamos, expostas para quem quiser ver.  

O maior problema para Castro e seus apoiadores é que as evidências expostas pela dupla de jornalistas do site UOL são tantas que órgãos de controle e fiscalização, como o Tribunal de Contas do Estado e o Ministério Público Eleitoral não terão outra alternativa a não ser continuar avançando na trilha de investigações oferecidas por Berta e Mello. Em outras palavras, as celebrações por uma eventual eleição de Cláudio Castro certamente serão azeitadas pelo medo de que entre muita água no chopp, o que deixaria a bebida para lá de aguada.

O “rachadão” da Fundação Ceperj ainda resultará em longas tarrafadas

Um dificultador para que o escândalo da Fundação Ceperj termine em pizza vem da constatação, como bem mostrou o articulista Leonardo Sakamoto do mesmo site UOL, que Cláudio Castro inovou ao possibilitar ao criar “o  aluno-mentira recebendo instruções do professor-fantasma“, usando um esquema que elevou o esquema de “rachadinhas” encontrado na Alerj ao nível d e um milionário “rachadão“.

Com tudo isso, o que teremos é a inevitável instalação de processos judiciais e contábeis que deverão assombrar os beneficiários mais públicos do esquema instalado na Fundação Ceperj, no caso os dirigentes do órgão e os parlamentares que se beneficiaram do processo, ao indicar amigos e parentes para serem “professores-fantasmas” custeados com salários que a imensa maioria dos servidores públicos estaduais concursados jamais receberam em suas vidas profissionais.

Como normalmente há quem dentro desses esquemas não tenha nervos fortes, as investigações vão inevitavelmente resultar em confissões e em delações premiadas. Assim, o que era festa na boca do caixa até antes das reportagens do UOL começaram, pode repentinamente setransformar em noites nervosas.

Os inevitáveis ataques a Ruben Berta acabaram servindo como atestado de idoneidade

Logo no início da série de reportagens mantive um breve contato com o jornalista Ruben Berta, cujo trabalho acompanho desdes os tempos em que ele era empregado da Folha de São Paulo,  quando disse a ele para que se preparasse para as inevitáveis represálias que receberia em função dos personagens envolvidos no escândalo da Fundação Ceperj. Disse ainda para que ele evitasse se expor publicamente, pois as represálias poderiam ir além das campanhas de difamação que sempre são usadas para desacreditar jornalistas que levantam escândalos cabeludos como esse da Fundação Ceperj.

Berta, que considero um excelente jornalista, me respondeu que estava tranquilo e que tomaria os devidos cuidados.

Agora, sem nenhuma surpresa, vejo que existem movimentações para lançar dúvidas sobre a idoneidade de Ruben Berta com base em um trabalho de assessoria realizado em 2018 para o então candidato ao governo do Rio de Janeiro, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.

Esse argumento para minar o impecável trabalho jornalistico de Ruben Berta me lembram do livro “As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Von Münchausen” de Michel Löwy, que traz uma anedota sobre como o Barão teria se retirado junto com seu cavalo de um pântano usando a força dos próprios cabelos ao amarra-los em uma árvore. 

Esses ataques sem qualquer fundamento a Ruben Berta me lembra a anedota do Barão por não possuir qualquer ligação com a realidade fática, e terminam, contraditoriamente, servindo como um estado de idoneidade, já que não há qualquer ilegalidade em se trabalhar e receber por isso. Na verdade, a ilegalidade mostrada por Ruben Berta e Igor Mello na Fundação Ceperj vai no sentido justamente  oposto, na medida em que R$ 300 milhões foram entregues a quem nunca trabalhou por motivos nem sempre republicanos.