Mais de 200 cientistas e personalidades membros da Ordem Nacional do Mérito Científico divulgam carta aberta

ordem do mérito

“Manifestamos nossa indignação e nosso veemente protesto em relação à exclusão arbitrária dos cientistas Adele Schwartz Benzaken e Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda da lista de agraciados com a Ordem Nacional do Mérito Científico de 2021, por meio de decreto presidencial de 05/11/2021”, protestam 

Mais de 200 cientistas e personalidades membros da Ordem Nacional do Mérito Científico divulgaram nesta quarta-feira, 10 de novembro, uma carta aberta em protesto à exclusão arbitrária dos cientistas Adele Schwartz Benzaken e Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda da lista de agraciados com a Ordem Nacional do Mérito Científico de 2021.

Os membros afirmam que o “ato de exclusão é o ápice de um processo de desvalorização e negacionismo em relação à ciência e de severas reduções orçamentárias, que têm afetado severamente o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, e que constituem uma grave ameaça à ciência brasileira e ao desenvolvimento do país”.

Os demais cientistas e personalidades membros da Ordem Nacional do Mérito Científico que quiserem assinar a manifestação escrevam, por gentileza, para: agraciadosomc@gmail.com.

Leia o documento na íntegra:

Carta aberta de cientistas e personalidades que são membros da Ordem  Nacional do Mérito Científico 

A Ordem Nacional do Mérito Científico (ONMC), criada em 1993, é um instrumento de Estado para reconhecer contribuições científicas e técnicas de personalidades brasileiras e estrangeiras. Não se trata, portanto, de uma honraria a ser usada com interesses políticos ou ideológicos particulares de eventuais governos. Os abaixo-assinados são cientistas e personalidades membros da Ordem Nacional do Mérito Científico, por terem sido admitidos nela ao longo das três últimas décadas e por governos diversos. Manifestamos nossa indignação e nosso veemente protesto em relação à exclusão arbitrária dos cientistas Adele Schwartz Benzaken e Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda da lista de agraciados com a Ordem Nacional do Mérito Científico de 2021, por meio de decreto presidencial de 05/11/2021.

Somos solidários e reconhecemos a dimensão ética da atitude adotada por colegas, que foram admitidos na Ordem Nacional do Mérito Científico em recente decreto presidencial, expressa na “Carta aberta dos cientistas condecorados com a Ordem Nacional do Mérito Científico em 03/11/2021”, e apoiamos os termos de sua manifestação. A ação de censura perpetrada pelo governo federal, com o expurgo dos dois colegas cientistas da ONMC, nos faz recordar tempos sombrios. Não aceitamos, assim como a comunidade científica e a grande maioria do povo brasileiro, o retorno do arbítrio e do autoritarismo. Este ato de exclusão é o ápice de um processo de desvalorização e negacionismo em relação à ciência e de severas reduções orçamentárias, que têm afetado severamente o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, e que constituem uma grave ameaça à ciência brasileira e ao desenvolvimento do país.

Cientistas e personalidades que assinam a carta:

 Abílio Afonso Baeta Neves

Adalberto Fazzio

Adalberto Luis Val

Adalberto Ramon Vieyra

Ado Jório Vasconcelos

Adolpho José Melfi

Alaor Chaves

Alberto Laender

Alberto Passos Guimarães

Alberto Santoro

Alcides Lins Neto

Alcides N. Sial

Aldina Maria Prado Barral

Alexander Kellner

Alfredo Miguel Ozorio de Almeida

Alice Abreu

Álvaro Toubes Prata

Ana Lúcia Gazzolla

Ana Maria de Lauro Castrucci

Anibal Eugênio Vercesi

Antonio Galves

Antônio Gomes de Souza Filho

Antonio Marcus Nogueira Lima

Aquilino Senra

Aroldo Misi

Beatriz Barbuy

Betty Mindlin

Branca Vianna

Carlos Alberto Aragão

Carlos Alberto Lombardi Filgueiras

Carlos Alexandre Netto

Carlos Alfredo Joly

Carlos Américo Pacheco

Carlos Frederico Martins Menck

Carlos Henrique de Brito Cruz

Carlos Médicis Morel

Carlos Nobre

Carlos Ricardo Soccol

Carlos Rodrigues Brandão

Carlos Vogt

Celina Maria Turchi Martelli

Celso Amorim

Celso Barros de Gomes

Celso Lafer

Celso Pinto de Melo

Cesar Leopoldo Camacho Manco

Charles R. Clement

Claudia Maria Bauzer Medeiros

Claudio Landim

Cláudio Leonardo Lucchesi

Concepta Margaret McManus Pimentel

Constantino Tsallis

Cristovam Buarque

Débora Foguel

Diogenes de Almeida Campos

Diogo Onofre Gomes de Souza

Dora Selma Fix Ventura

Edgar Dutra Zanotto

Edson Watanabe

Eduardo Viveiros de Castro

Elibio Rech

Eliezer J. Barreiro

Elisa Reis

Enrique Pujals

Erney Plessmann de Camargo

Esper Cavalheiro

Etelvino José Henriques Bechara

Eugenius Kaszkurewicz

Fernando Galembeck

Fernando Rizzo

Flávio Rech Wagner

Francilene Procópio Garcia

Francisco César de Sá Barreto

Gervásio Annes Degrazia

Glaucius Oliva

Guilherme Suarez Kurtz

Helena Bonciani Nader

Helgio Trindade

Helio Waldman

Henrique Eisi Toma

Hernan Chaimovich

Hilário Alencar da Silva

Ildeu de Castro Moreira

Isaac Roitman

Israel Vainsencher

Jacob Palis Junior

Jacques Marcovitch

Jailson Bittencourt de Andrade

Jairton Dupont

Jean Pierre von der Weid

Jefferson Cardia Simões

Jerson Lima da Silva

João Calixto

João dos Anjos

João Fernando Gomes de Oliveira

João José Reis

João Luís Ribeiro Fragoso

João Moreira Salles

João Valdir Comasseto

Jorge Kalil

Jorge Luis Nicolas Audy

José Alexandre Felizola Diniz Filho

José Antunes Rodrigues

José Barbosa Filho

José Carlos Maldonado

José d’Albuquerque e Castro

José Ellis Ripper Filho

José Fernando Perez

José Fernando Thomé Jucá

Jose Galizia Tundisi

José Israel Vargas

José Luiz Lima Filho

José M. Riveros

José Murilo de Carvalho

Jose Reinaldo de Lima Lopes

Julio Cezar Melatti

Keti Tenenblat

Lauro Kubota

Léo Afraneo Hartmann

Liu Hsu

Lívio Amaral

Lucia Carvalho Pinto de Melo

Lucia Previato

Luís Eugênio de Araújo de Moraes Mello

Luís Manuel Rebelo Fernandes

Luiz Antonio Rodrigues Elias

Luiz Davidovich

Luiz Fernando Dias Duarte

Luiz Gylvan Meira Filho

Manoel Barral Netto

Marcello André Barcinski

Marcelo Gattass

Marcelo Knobel

Márcia Cristina Bernardes Barbosa

Marcio de Castro Silva Filho

Marcio G. Soares

Marco Antonio Chaer do Nascimento

Marco Aurelio De Paoli

Marcos Pimenta

Maria Aparecida Soares Ruas

Maria Aparecida Stallivieri Neves

Maria Hermínia Tavares de Almeida

Maria Julia Manso Alves

Maria Manuela Carneiro da Cunha

Maria Rita dos Santos e Passos-Bueno

Maria Vargas

Mariangela Hungria da Cunha

Mario Neto Borges

Mariza Peirano

Mayana Zatz

Mercedes Bustamente

Naercio Aquino Menezes Filho

Nelson Maculan

Nivio Ziviani

Otávio Guilherme Cardoso Alves Velho

Paolo Piccione

Paulo Arruda,

Paulo Domingos Cordaro

Paulo Eduardo Artaxo Netto

Paulo Suarez

Pedro Wongtschowski

Philip Fearnside

Rafael Linden

Raimundo Braz Filho

Ramayana Gazzinelli

Raúl A. Feijóo

Reinaldo Guimarães

Renato Janine Ribeiro

Roberto Amaral

Roberto Germano Costa

Roberto Kant de Lima

Roberto Lent

Rogério Cézar de Cerqueira Leite

Ronaldo Aloise Pilli

Ronaldo Mota

Ruben George Oliven

Rubens Belfort Jr

Said Najati Sidki

Samuel Goldenberg

Sandoval Carneiro Jr

Sara T. Olalla Saad

Sergio Adorno

Sérgio Bruni

Sergio Danilo Juno Pena

Sergio Machado Rezende

Sergio Miceli Pessoa de Barros

Shirley Schreier

Silvio Crestana

Silvio R. A. Salinas

Simon Schwartzman

Sylvio Canuto

Takeshi Kodama

Tomasz Kowaltowski

Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses

Umberto Giuseppe Cordani

Vanderlan Bolzani

Vanderlei Salvador Bagnato

Virgilio Almeida

Virginia S.T. Ciminelli

Wagner F Gattaz

Walter Araujo Zin

Walter Colli

Wanderley de Souza

Wilson Suzigan

Wilson Teixeira

Wrana Maria Panizzi

Yuan Jinyun

Yvonne P. Mascarenhas

Com o Brasil com sua ciência em estado comatoso, Jair Bolsonaro concede a si mesmo ordem nacional do mérito científico

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Após decreto de própria lavra, Jair Bolsonaro tornou-se Grão-Mestre da Ordem Nacional do Mérito Científico, e Marcos Pontes, chanceler. Enquanto isso, a ciência brasileira continua em estado comatoso
Pode-se dizer o que for do presidente Jair Bolsonaro, mas não se pode negar que ele seja capaz de produzir momentos do mais puro e fino cinismo. É que poucas semanas após o Ministério da Fazenda ter dado uma tesourada praticamente letal na ciência brasileira com um corte de R$ 600 milhões no orçamento da CAPES e do CNPq, hoje (04/11) o Diário Oficial da União trouxe a publicação de um Decreto que concede a chamada “Ordem Nacional do Mérito Científico” a ele próprio, ao dublê de ministro e astronauta, Marcos Pontes, um seleto grupo de políticos, e, finalmente, a pesquisadores que supostamente possuem alto mérito na sua produção científica.
Um fato ainda mais saliente é que, pela ordem, os ocupantes de postos chaves no governo federal que receberão esta Ordem, são os seguintes: a) Grão-Mestre: JAIR MESSIAS BOLSONARO, Presidente da República; b) Chanceler: MARCOS CESAR PONTES, Ministro de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovações; e os membros do Conselho da Ordem Nacional do Mérito Científico: CARLOS ALBERTO FRANCO FRANÇA, Ministro de Estado das Relações Exteriores; PAULO ROBERTO NUNES GUEDES, Ministro de Estado da Economia; e MILTON RIBEIRO, Ministro de Estado da Educação.
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O que me deixa curioso nessa situação toda é o que farão com suas medalhas os pesquisadores, alguns de inegável contribuição para o desenvolvimento da ciência brasileira, durante a cerimônia de entrega desta ordem. Vão lá aproveitar o rega-bofe que certamente será oferecido após a entrega de medalhas para se congraçar alegremente com Jair Bolsonaro, Marcos Pontes, Paulo Guedes e Milton Ribeiro, como não se fossem esses senhores responsáveis pela condição comatosa em que a ciência brasileira se encontra neste momento (situação comatosa em condição de agravamento, gostaria de frisar)?
Não sei por quê, mas desconfio que nesta cerimônia que será presidida pelo “Grão Mestre” Jair Bolsonaro não teremos um momento a la Marlon Brando, quando o ator estadunidense em uma cerimônia de entrega de um Oscar por sua atuação em “O Poderoso Chefão”, enviou uma ativista apache, Sacheen Littlefeather, para recusar o prêmio entregue a ele como forma protestar pela forma como os povos originários dos EUA eram retratados em Hollywood.
O problema, como já disse um dia Simone Beauvoir, o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos. E sirvam-se as medalhas, enquanto a fila dos aeroportos continuam empurrando os cientistas brasileiros para o exílio.

Apagão de dados no CNPq representa o auge da desconstrução da ciência brasileira pelo governo Bolsonaro

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Se as informações fornecidas pelo jornalista Marcelo Hailer, do “Fórum”, o que aconteceu no CNPq é mais grave do que o prosaico informe postado pela diretoria da principal agência de fomento nacional. Segundo Hailer, o que aconteceu foi que o servidor onde estavam depositadas as plataformas do CNPq “queimou” sem que houvesse um sistema de back up.

Em outras palavras, tudo o que estava armazenado nas plataformas do CNPq, a começar pela Base Lattes, pode ter sido perdido. Se isso de fato aconteceu, estamos diante da perda de décadas de informações científicas que ali estavam depositadas nos currículos dos pesquisadores brasileiros.

Como vivemos um período em que informação é mais uma commodity, essa perda, se confirmada, trará custos monstruosos para o Brasil, em um momento em que inexistem verbas sequer para necessidades básicas dos pesquisadores brasileiros.

Em outras palavras, podemos estar diante de um mega apagão de dados científicos com prejuízos incalculáveis. Agora veremos o que fará o dublê de ministro e vendedor de travesseiros, o tenente-coronel aviador Marcos Pontes. Provavelmente o que faz desde que sentou na cadeira de ministro, ou seja, nada.

Depois de ficar sem verbas para pesquisa, CNPq fica com sistemas indisponíveis

No governo Bolsonaro, nada está tão ruim que não possa piorar

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A situação de completa asfixia financeira que tem sido imposto às agências federais de fomento à pesquisa científica e tecnológica pelo governo Bolsonaro deixou o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) completamente incapaz de atender as necessidades mínimas de fomento de centenas de grupos de pesquisa e empurrou uma quantidade de jovens pesquisadores para o exílio, no que se configura em uma lamentável fuga de cérebros.

Mas como a primeira “Lei de Murphy” bem diagnostica, nada que está tão ruim que não possa piorar. Eis que agora todos as plataformas do CNPq se encontram indisponíveis (a começar pela celebrada Plataforma Lattrs), deixando os pesquisadores brasileiros em um voo na escuridão.

A diretoria do CNPq respondeu a essa situação inédita circulando um informe onde diz que está tomando as providências para “o restabelecimento dos sistemas após evento (indeterminado, grifo meu) que causou a indisponibilidade das plataformas (ver imagem abaixo).

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Se depender da habilidade e disponibilidade para o trabalho do ministro e dublê de astronauta, o tenente-coronel aviador da reserva da Aeronáutica Marcos Pontes, uma coisa é certa: as plataformas do CNPq continuarão indisponíveis até o final do trágico governo que ele compõe. 

O problema é que esse governo ainda durará longos dezenove meses e os estragos que ainda poderá causar ao futuro do sistema científico nacional são incontáveis, e resistir a esse desmanche programado será uma tarefa central não apenas da comunidade científica, mas de todos os que desejam defender a capacidade do Brasil de gerar conhecimento de ponta. Às ruas, pesquisadores!

Marcos Pontes, o ministro astronauta, finalmente deu as caras, só que na “motociata” Bolsonarista

O ministro da Ciência e Tecnologia, o “astronauta” Marcos Cesar Pontes, é uma daquelas ausências que preenche lacunas em uma das equipes ministeriais mais medíocres e bizarras da história da república brasileira. A ausência de Pontes do noticiário só é comparável à que ele oferece enquanto o ocupante de um ministério que em democracias mais consolidadas é ocupada por pessoas que realmente se preocupam com o avanço do sistema científico de seus respectivos países. Mas esse claramente não é o caso de Marcos Pontes, pois enquanto o governo do qual ele participa promove uma caçada à ciência e aos cientistas brasileiros, ele é um completo ausente de qualquer debate sério para evitar o desmanche de um sistema científico que vinha em processo de consolidação, mas que agora se desmancha a olhos vistos.

Pois bem, aparentemente para compensar sua completa nulidade enquanto ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes resolveu ontem se juntar à malta de apoiadores do presidente da república que saíram pelas ruas de São Paulo para tentar impor a imagética bolsonarista que, entre outras coisas, tem como um dos seus pilares a diminuição do valor da ciência enquanto um instrumento de combate à pandemia da COVID-19 (ver imagem abaixo).

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Sem usar máscara, ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, faz uma “selfie” ao lado do presidente Jair Bolsonaro durante a “motociata” ocorrida em São Paulo

Por essas e outras é que considero o absoluto silêncio no interior da comunidade científica brasileira sobre o papel nefasto que Marcos Pontes vem cumprindo no esforço de destruir a ciência brasileira. Para mim, ele está no mesmo nível de outros ministros que têm merecido mais atenção, como é o caso de Ricardo Salles e Damares Alves. Entretanto, pouco ou nada se ouve das associações e sociedades científicas sobre a gestão desastrosa de Pontes, que assim pode tranquilamente participar de motociatas, sem que se ouça qualquer voz apontando para a sua parcela direta de culpa no que estamos assistindo nas agências de fomento, universidades e institutos públicos de pesquisa.

E pensar que foi o ex-presidente Lula quem alçou Pontes a algum tipo de notoriedade ao pagar caro para ele dar um passeio espacial às custas dos impostos pagos pelos trabalhadores brasileiros.

Governo Bolsonaro comete equívoco estratégico ao precarizar o INPE

ministro-astronautaO ex-astronauta e vendedor de travesseiros Marcos Pontes é um dos artífices dos ataques perpetrados pelo governo Bolsonaro ao Inpe

A inconformidade do alto escalão do governo Bolsonaro com a ciência produzida pelos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) ficou evidente com a demissão do seu então diretor, o físico Ricardo Galvão em agosto de 2019.

De lá para cá, uma série de movimentos indicam que a opção preferencial do presidente Jair Bolsonaro, secundado pelo ministro “lost in space“, o ex-astronauta e atual vendedor de travesseiros, o oficial da reserva Marcos Pontes, é de asfixiar financeiramente o Inpe, na provável e vã esperança de que não haverá mais monitoramento de qualidade na mudança da cobertura vegetal da Amazônia brasileira.

A coisa é tão explícita que a Agência Espacial Brasileira decidiu cortar para zero o orçamento de pesquisa, desenvolvimento e capital humano do Inpe  para 2021.  Com isso, não haverá para que os pesquisadores do instituto possam aprimorar suas capacidades para responder aos crescentes desafios científicos que estão emergindo por causa do avanço da franja de desmatamento e degradação dos ecossistemas amazônicos.

Outra colossal e onerosa besteira que bem exemplifica a disposição de sabotar o Inpe foi o gasto de R$ 145 milhões pelo Ministério da Defesa para a aquisição de microssatélites para fazer um serviço que já é feito com mais qualidade e precisão em São José dos Campos. 

O pior é que brevemente ficará dolorosamente evidente que o governo brasileiro precisará cada vez mais da expertise e da respeitabilidade internacional que o Inpe e seus pesquisadores possuem, até para se defender de novas descobertas que virão a público sobre o grau de destruição dos ecossistemas amazônicos.

A verdade é que o governo Bolsonaro, ao sabotar abertamente a capacidade funcional do Inpe, está dando um tiro (de bazuca) no próprio pé. É que em todos os anos em que foi permitido que desenvolvesse suas pesquisas sem graves intromissões ideológicas, os pesquisadores do Inpe atuaram não apenas como um instituto de excelência científica, mas com um órgão de Estado. 

E há que se notar que, por mais que se queira impedir o avanço da ciência, as rodas que movem o avanço do conhecimento científico sempre são mais fortes do que os desejos dos governantes de plantão. Em outras palavras, não há como brecar o avanço da ciência, e quando muito pode-se torná-lo mais lento.

Finalmente, há que ficar claro que a defesa do Inpe sintetiza hoje a defesa da ciência nacional e as possibilidades de que o Brasil possa ter um destino que não seja apenas ser terra arrasada pela dependência na venda de commodities agrícolas e minerais.

Marcos Pontes, o ministro astronauta é um soldado “missing in action” na guerra contra o COVID-19

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O ministro da Ciência e Tecnologia, o ex-astronauta Marcos Pontes, era mais vocal e presente vendendo travesseiros do que agora defendendo o papel da ciência na superação da pandemia causada pelo COVID-19

Em meio às muitas declarações sem qualquer fundamento científico que partem de representantes do governo Bolsonaro no tocante ao combate do coronavírus, a começar pelo próprio presidente, um ministro tem estado particularmente calado em meio ao debate sobre o papel da ciência para que o Brasil chegue à respostas robustas para superarmos esta pandemia mortal. 

Falo aqui do dublê de astronauta aposentado e ministro da Ciência e Tecnologia, e ainda tenente-coronel reformado da Força Aérea Brasileira, Marcos Pontes.  Pontes tem assistido em silêncio sepulcral não apenas à declarações que desconsideram aspectos elementares do saber científico sobre as possíveis formas de controle do coronavírus, mas também no tocante aos seguidos cortes que têm sido realizados no orçamento para o sistema nacional de ciência e tecnologia.

marcos pontes 1O ministro da Ciência, Marcos Pontes, em visita ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais de Campinas (SP) (Foto: Helen Sacconi/EPTV Campinas) 

O astronauta transformado em vendedor de travesseiros chegou ao ministério de Ciência e Tecnologia no mínimo com o benefício da dúvida por parte das lideranças científicas brasileiras. Mas após 15 meses e poucos dias de mandato à frente do “Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações” (MCTIC), Pontes não fez nada até agora que justificasse isso.

A gestão de Pontes à frente do MCTIC é, no mínimo, pouco memorável, o que é muito grave se formos levar em conta as pesadas demandas que estão sendo colocadas sobre a comunidade científica nacional a partir da eclosão da pandemia do COVID-19. A hora seria de termos um ministro que ocupasse, junto com o da Saúde, um papel de destaque no oferecimento de explicações sólidas que servisse para dirimir quaisquer dúvidas sobre os caminhos a serem seguidos para que o governo federal possa responder aos desafios psotos de forma cientificamente informada.

Desconfio que Marcos Pontes, tal como vários outros ministros estão fazendo, optou por adotar uma posição distante para evitar choques com o chamado “setor ideológico” do governo Bolsonaro, preservando assim o seu cargo de ministro. Se for isso mesmo, estamos muitíssimo mal parados, pois este tipo de posição deixa os cientistas não apenas mal financiados para realizar pesquisas fundamentais sobre o coronavírus, mas principalmente desamparados no tocante à necessária validação do papel da ciência na solução dos problemas postos pela pandemia.

Na hora que mais precisamos dela, governo Bolsonaro impõe mais cortes à ciência brasileira

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Governos em todas as partes do mundo estão neste momento procurando saídas científicas para a pandemia do Coronavírus, o que implica em alocar mais recursos para os sistemas nacionais de ciência e tecnologia.  Mas como o Brasil possui hoje um governo que objetivamente despreza a contribuição da ciência para a resolução dos grandes problemas nacionais, o que temos é mais cortes de bolsas de pós-graduação, sendo o que informa o “Direto da Ciência“.

Segundo o que informa o “Direto da Ciência”, a direção da CAPES está abandonando uma portaria anterior  que foi negociada com o Fórum Nacional de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (Foprop), entidade que reúne pró-reitores de pós-graduação de cerca de 250 instituições brasileiras. 

É preciso lembrar que os valores das bolsas de pós-graduação são relativamente baixos e não trazem consigo nenhum tipo de direito trabalhista, jogando esses anos de formação altamente especializada em uma espécie de limbo trabalhista. De quebra, os bolsistas, mesmo aqueles que estudam doenças altamente contagiosas, realizam suas atividades sem a proteção de planos de saúde, o que deixa por conta deles os custos de tratamento para acidentes ou enfermidades adquiridas durante o período de vigência das bolsas.

O impressionante é que atravessamos um momento em que o orçamento das agências de fomento já estão precarizados por causa de vários anos de desinvestimento. Ao aprofundar os cortes nas bolsas, o governo Bolsonaro contribui para a aceleração da destruição do sistema nacional de pós-graduação. 

E tudo isso em um momento em que o mundo atravessa uma das piores crises sanitárias da história recente com a pandemia do coronavírus. E justamente neste momento de grande demanda para o desenvolvimento de medicamentos e instrumentos de testagem, o governo Bolsonaro decide aprofundar a crise financeira da ciência brasileira. Se isso não for atentar contra a segurança nacional, eu não sei o que poderá ser.

Finalmente, é preciso notar que há vários não se vê a presença pública do ministro da Ciência e Tecnologia, o astronauta Marcos Pontes.  Essa ausência não seria nada se uma pasta tão estratégica para a conjuntura que atravessamos não estivesse sendo completamente asfixiada.

Satélites tornam inútil qualquer tentativa de ocultação do que está acontecendo na Amazônia

03/07/2019 Coquetel de recepção para celebrar o 243º AniversMarcos Pontes, o dublê de ministro e turista espacial, interferiu na autonomia do Inpe para agradar o presidente Jair Bolsonaro, mas não impedirá a vigilância dos satélites que o Brasil não controla.

Todo o esforço que o governo Bolsonaro está realizando para ocultar o avanço explosivo da franja de desmatamento na Amazônia brasileira é inútil por um simples fato: o Brasil não controla os diversos satélites que monitoram diariamente a região.

Uma prova disso é o vídeo abaixo que mostra a situação na Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, de São Félix do Xingu que teria perdido 2.300 ha por causa do desmatamento ocorrido somente em julho de 2019.

 

Assim, em vez de interferir na autonomia do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o que o governo Bolsonaro deveria fazer é recolocar os servidores do IBAMA e do ICMBIO em campo para impedir a devastação que está ocorrendo sob os olhares cúmplices do anti-ministro do Meio Ambiente, o improbo Ricardo Salles e, por que não, do ministro Marcos Pontes da Ciência e Tecnologia.

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Aliás, ou fazem logo isso ou o Brasil brevemente sofrerá pesadas punições comerciais pelo que está sendo feito contra a Amazônia.

A censura ao Inpe busca esconder a alta eficiência das políticas anti-ambientais do governo Bolsonaro na devastação da Amazônia

03/07/2019 Coquetel de recepção para celebrar o 243º AniversO presidente Jair Bolsonaro e o ministro Marcos Pontes sinalizam que irão censurar os dados de desmatamento produzidos do Inpe. Ao fazer isso, eles tentam esconder o alto sucesso das políticas anti-ambientais do governo Bolsonaro.

Alguém no governo Bolsonaro deve ter lido a fábula do menino Peter que com um dos seus dedos num buraco formado em um dique de proteção, impedindo que a água do mar invadisse a região em que vivia na Holanda. É que só assim se pode entender a disposição de censurar os dados produzidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o explosivo desmatamento que ocorre ao longo de 2019 na porção brasileira da bacia Amazônica.

É que tomando a fábula holandesa o Inpe é apenas um dos buracos no dique da mentira que se pretende criar para esconder o sucesso (notem que eu disse o sucesso) das políticas do governo Bolsonaro para acelerar o desmatamento na Amazônia. Ao se censurar o Inpe restarão vários buracos que farão esse dique desmoronar. A verdade é que a anunciada censura do Inpe que não mais poderá (dependendo da vontade de Jair Bolsonaro) divulgar publicamente os dados de desmatamento vai se provar rapidamente um tiro no pé do governo Bolsonaro.

Reafirmo que o Inpe é apenas um dos institutos de pesquisa que possuem ferramentas de monitoramento contínuo do avanço do desmatamento da Amazônia brasileira.  E, pior, o Inpe tem agido escrupulosamente como instituto de pesquisa público e preservado o Brasil de maiores vergonhas ao divulgar os dados que gera de forma não apenas organizada, transparente, mas, também, de forma bastante pragmática.

Se tivesse de culpar alguém nesse imbróglio envolvendo os dados de desmatamento, o presidente Jair Bolsonaro deveria culpar a própria eficiência. É que ele apontou um ministro do Meio Ambiente que eficientemente desmontou estruturas de governança e sucateou com velocidade meteórica as estruturas de comando e controle que existiam na Amazônia e no Cerrado.  A consequência disso foi que todos os “drivers” que estavam moderadamente contidos nas últimas décadas puderam agir com completa liberdade, consumindo florestas nativas como a voracidade de um bando de saúvas bravas. 

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Paralisação de estruturas de proteção ambiental causou aumento explosivo do desmatamento na Amazônia.

Em outras palavras, o que o Inpe tem feito é medir o grande sucesso das políticas anti-ambientais acertadas por Jair Bolsonaro com seus grupos de apoio político dentro de atores díspares como madeireiros, garimpeiros e latifundiários.  É essa a realidade que as ações aparentemente alopradas de Jair Bolsonaro e do dublê de ministro de Ciência e Tecnologia e turista espacial,  Marcos Pontes, de condenar a forma de divulgação dos dados de desmatamento pelo Inpe é só uma tentativa canhestra de esconder o sol com a peneira.

Já se sabe que a real questão por detrás do esperneio do governo Bolsonaro acerca da exposição do seu próprio sucesso é o medo de que parceiros comerciais importantes, a começar pela União Europeia, tomem medidas punitivas contra os produtos agrícolas brasileiros por causa da devastação que está sendo permitida nba Amazônia. Mas como alguém que já participou da publicação  vários artigos científicos sobre a perda de cobertura vegetal na Amazônia posso adiantar que censurar o Inpe só vai acelerar e aprofundar os problemas que o Brasil vai enfrentar por causa do que está sendo impulsionado pelo governo Bolsonaro com suas políticas anti-ambientais. 

Entretanto, como bom senso é algo que inexiste no governo Bolsonaro, tenho certeza de que a censura ocorrerá e os custos econômicos e políticos serão imensos. Melhor seria celebrar o próprio sucesso e deixar o Inpe documentá-lo de forma autônoma.