The Intercept libera novos documentos secretos entregues por Edward Snowden

O site The Intercept, que tem o jornalista Glenn Greenwald como  um dos seus principais colaboradores, liberou hoje um novo conjunto de arquivos contendo documentos secretos entregues pelo ex-técnico da National Security Agency (NSA) dos EUA, Edward Snowden.

Os arquivos contém tópicos relacionados ao papel da NSA nos interrogatórios de prisioneiros pelas forças militares e de inteligência dos EUA, à Guerra do Iraque, à chamada Guerra ao Terror, e ao uso da internet e de aparelhos móveis de comunicação. 

O acesso a estes arquivos é, por um lado, uma demonstração de que as formas de controle que existem às informações sensíveis geradas por organizações estatais não são completamente intransponíveis. Por outro, este acesso deverá oferecer uma série de novas revelações bombásticas sobre os métodos de ação da NSA e, por extensão, dos órgãos de inteligência dos EUA.

Quem quiser ter acesso aos arquivos liberados hoje pelo “The Intercept”, basta clicar  (Aqui!).

Espionagem cibernética reversa: Hackers russos teriam invadido contas de e-mail de Barack Obama

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O New York Times acaba de colocar na sua plataforma online uma matéria que torna pública a invasão das contas de correio eletrônico do presidente estadunidense Barack Obama em outubro de 2014, e de outros membros do staff que serve diretamente na Casa Branca (Aqui!). A matéria do New York Times (ver extrato abaixo) dá conta que a invasão teria sido mais severa do que inicialmente informado pelo governo estadunidense, o que representaria um duro golpe contra a segurança cibernética daquele país.

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Um aspecto que diferencia os ataques de hackers russos é que, ao contrário dos chineses que concentram suas atividades sobre alvos de natureza comercial, eles se concentram em alvos de natureza política, como nesta invasão das contas de e-mail de Barack Obama.

O interessante é que, coincidência ou não, os estadunidenses chamaram recentemente a atenção sobre a questão da segurança das comunicações eletrônicas ao serem denunciados pelo ex-analista da National Security Agency (NSA), Edward Snowden, de possuírem acesso direto a centenas de milhões de contas de correio eletrônico graças a um sofisticado sistema de espionagem de e-mails e ligações telefônicas.  Duas vítimas notórias dessa espionagem foram a primeira ministra alemã Angela Merkel e a presidente Dilma Rousseff.

Agora, ao que parece, os russos deram o troco em Barack Obama. É aquela velha máxima de quem aqui espiona, aqui mesmo é espionado.

O NSA ataca novamente! Kaspersky identifica dedo de agência estadunidense na infecção de computadores em 30 países

Enquanto o Brasil inteiro se sacode ao ritmo do samba, o mundo da espionagem cibernética não para! Pelo menos é que dá a entender, um artigo produzido por jornalistas ligados à Bloomberg News que repercutiram a descoberta pela empresa russa  Kaspersky Lab Inc. de mais uma campanha de espionagem engendrada pela National Security Agency (NSA). Segundo os jornalistas Chris Strohm, Jon Morgan e Elizabeth Wasserman. a Kaspersky detectou a contaminação de computadores, discos rígidos e pentes de memória em rota para serem comercializados em diferentes partes do mundo.

Segundo a matéria da Bloomberg, a estratégia da NSA incluiu a inoculação de vírus espiões em discos rígidos produzidos pelas empresas Western Digital Technologies Inc., Samsung Electronics Co. e Seagate Technology Plc.

A extensão da contaminação e de quantas pessoas foram “presenteadas” com produtos inoculados pela NSA ainda não foi totalmente esclarecido pelos representantes da Kaspersky LAb. Inc, mas deverão gerar uma série de medidas contrárias aos interesses estadunidenses que já haviam sido abalados pela divulgação do chamado “Snowden leaks”.

Quem quiser saber mais sobre este assunto, basta clicar Aqui! e Aqui!

Wikileaks prepara novo vazamento de arquivos secretos

Getty Images

Julian Assange

Julian Assange: ativista criticou a centralização da informação em poucas mãos e acusou o Google de manter estreitas relações com o governo americano

Da EFE

Lisboa – O fundador do Wikileaks, Julian Assange, revelou neste domingo que a organização prepara um novo vazamento de arquivos secretos e criticou o Google por considerá-lo a serviço do governo dos Estados Unidos.

As declarações foram dadas durante participação em um fórum sobre “Vigilância de Massas” no Festival de Cinema de Lisboa e Estoril (Leffest), por meio de teleconferência, já que continua recluso na embaixada do Equador em Londres.

O ativista australiano não forneceu detalhes sobre o conteúdo do vazamento nem a data que os arquivos serão divulgados.

Durante o discurso, Assange fez duras críticas ao governo e às agências de inteligência americanas por tentarem controlar o maior número possível de dados em nível mundial. Ele destacou que apesar dos muitos ataques contra o Wikileaks, a organização conseguiu sobreviver e segue funcionando.

“Não conseguiram destruir nem um só documento, eles (americanos) perderam”, ressaltou o ativista australiano, refugiado na representação diplomática do Equador em Londres desde julho de 2012, após a Corte Suprema Britânica ter autorizado sua extradição para a Suécia.

Os suecos acusam Assange de ter cometido crimes sexuais no país, fato negado pelo ativista. Ele afirma que a extradição é interesse dos Estados Unidos, que quer ele seja julgado assim como Chelsea Manning, soldado que vazou documentos diplomáticos para o Wikileaks em 2010 e condenado a 35 anos de prisão.

Chelsea Manning, ex-analista de inteligência do exército americano, era conhecida como Bradley Manning na época do vazamento, e passou por uma operação de mudança de sexo. A militar atuou em operações americanas no Iraque.

O fundador do Wikileaks defendeu que a principal ameaça de segurança em nível mundial é o poder ilimitado das agências de inteligência. Ele descartou que a vigilância em massa seja o método mais adequado para combater o terrorismo.

Assange criticou a centralização da informação em poucas mãos, algo que, em sua opinião, transformaria o mundo em totalitário, e acusou o Google de manter estreitas relações com o governo americano. 

FONTE: http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/wikileaks-prepara-novo-vazamento-de-arquivos-secretos

Diretoria da ADUENF denuncia monitoramento de serviços de internet na UENF

No dia 08 de Outubro publiquei uma postagem neste blog que havia uma forte possibilidade de que mecanismos de identificação de computadores teria sido usada para identificar a origem de uma denúncia anônima feita no Ministério Público (Aqui!).

Pois bem, no dia de hoje (16/10) a diretoria da Associação de Docentes da UENF lançou um informe a seus associados dando conta de que as máquinas usadas pelos professores está sendo monitorada, dando inclusive dicas de como identificar o procedimento sendo utilizado pela UENF para realizar este monitoramento (Aqui!). O aspecto mais grave do informe da ADUENF aos seus associados é que este monitoramento estaria alcançando inclusive os computadores usados nos ambientes domésticos dos professores.

Esta é uma denúncia grave, pois implica na violação do direito básico à privacidade e sem que qualquer informação tivesse sido dada de que o mesmo estava ocorrendo. Tal procedimento, se confirmado pela reitoria da UENF, implicaria em um escândalo semelhante ao que foi denunciado pelo ex-analista da National Security Agency (NSA), Edward Snowden. E o pior é que estaria sendo feito não por uma agência de espionagem, mas pela direção de uma instituição universitária pública.

Agora vamos esperar pelas repercussões deste escândalo. Pelo que tipo essas repercussões não serão pequenas e não deverão ficar restritas ao ambiente interno do campus da UENF.

E agora que o gato foi colocado para fora do saco, vamos ver como se comporta o “grande irmão” uenfiano. De toda forma, George Orwell teria adorado a ironia de ver o seu grande irmão se materializando dentro da universidade criada por Darcy Ribeiro. 

O grande irmão de George Orwell está vivo e forte na UENF

O grande irmão de George Orwell está entre nós! Mas, como assim?  É que me foi chamada a atenção para o fato de que na UENF um denunciante anônimo junto ao MP teve sua máquina identificada após uma meticulosa busca interna. Essa descoberta inclusive já teria resultado em juras de justa retribuição, além de declarações de que isso não passa de mais uma manobra visando ganhos eleitorais em 2015.
Então qual é o aviso aos que quiserem denunciar algum malfeito: das duas uma: ou se faz a entrega denúncia publicamente no MP, ou não se faz no horário do expediente! Do contrário, o NSA uenfiano vai te identificar!
E em homenagem àqueles que identificaram tão celeramente alguém que comunicou ao MP uma transgressão interna em vez de apurá-la antes que a justiça o faça, posto uma singela imagem do presidente do Barack Obama no ´período em que explodiu o escândalo causado pelas denúncias feitas por Edward Snowden.
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Leitura obrigatória! Os arquivos de Snowden

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Viajar nos traz sempre a chance de entrar em contato com um mundo de informações que normalmente não temos chance de acessar, a despeito de toda as comodidades que a internet nos oferece nesse sentido. Na recente viagem que fiz ao Reino Unido, topei com o livro recém-lançado por Luke Harding e que trata do escândalo de espionagem revelado pelo ex-analista da National Security Agency (NSA) dos EUA, Edward Snowden.  Já comecei a ler o livro e a sua leitura é rápida e fácil, e o livro é cheio de detalhes interessantes.

Felizmente quem tiver interesse em saber mais como Edward Snowden se tornou um dos maiores casos de vazamento de informações na história recente da espionagem, o livro também já foi lançado em português e atende pelo sugestivo nome de “Os arquivos Snowden: a história secreta do homem mais procurado do mundo“, e foi lançado pela Editora Leya.

Uma coisa que me intriga é o atual silêncio sobre as discussões que estavam sendo realizadas pelo Brasil e pelos EUA em torno das escutas telefônicas feitas no telefone pessoal da presidente Dilma Rousseff. Acho que vou ter que ler o livro de Harding para saber mais também sobre isso.

Chomsky: Edward Snowden é o “criminoso mais procurado” do mundo

Noam Chomsky

O ex-funcionário da NSA (Agência Nacional de Segurança, dos EUA) Edward Snowden concedeu na última quarta-feira (28) entrevista à rede norte-americana NBC, direto da Rússia, onde Snowden obteve asilo políticoO ex-funcionário da NSA (Agência Nacional de Segurança, dos EUA) Edward Snowden concedeu na última quarta-feira (28) entrevista à rede norte-americana NBC, direto da Rússia, onde Snowden obteve asilo político

Nos últimos vários meses, recebemos lições instrutivas sobre a natureza do poder do Estado e as forças que conduzem a política de Estado. E sobre uma questão intimamente relacionada: o sutil e diferenciado conceito de transparência.

A fonte da instrução, é claro, é o grande número de documentos sobre o sistema de vigilância da Agência Nacional de Segurança divulgados pelo corajoso combatente da liberdade Edward Snowden, peritamente resumidos e analisados por seu colaborador Glenn Greenwald em seu novo livro, “Sem Lugar para se Esconder”.

Os documentos revelam um projeto notável de expor ao escrutínio do Estado informação vital sobre cada pessoa que caia nas garras do colosso – em princípio, todas as pessoas ligadas à sociedade eletrônica moderna.

Nada tão ambicioso foi imaginado pelos profetas distópicos de tristes mundos totalitários do futuro.

Não é de pequena importância o fato de o projeto estar sendo executado em um dos países mais livres do mundo, e em radical violação da Carta de Direitos da Constituição dos EUA, que protege os cidadãos de “buscas e revistas irracionais” e garante a privacidade de suas “pessoas, casas, papéis e objetos”.

Por mais que os advogados do governo tentem, não há como reconciliar esses princípios com o assalto à população revelado nos documentos de Snowden.

Também é bom lembrar que a defesa do direito fundamental à privacidade ajudou a iniciar a Revolução Americana. No século 18, o tirano era o governo britânico, que alegava o direito de se intrometer livremente nas casas e nas vidas pessoais dos colonos americanos. Hoje é o próprio governo dos cidadãos americanos que se arroga essa autoridade.

A Grã-Bretanha mantém a posição que levou os colonos à rebelião, embora em escala mais restrita, conforme as mudanças do poder nos assuntos mundiais. O governo britânico pediu que a ANS “analise e retenha o número de telefone celular e fax, e-mails e endereços IP de qualquer cidadão britânico varrido por sua rede”, relata o jornal “The Guardian”, trabalhando a partir de documentos fornecidos por Snowden.

Os cidadãos britânicos (como outros clientes internacionais) sem dúvida também ficarão felizes ao saber que a ANS habitualmente recebe ou intercepta roteadores, servidores e outros dispositivos de redes de computador exportados dos EUA, de modo que possa implantar instrumentos de vigilância, como relata Greenwald em seu livro.

Enquanto o colosso realiza suas visões, em princípio cada toque no teclado poderia ser enviado para os enormes e crescentes bancos de dados do presidente Obama em Utah.

De outras maneiras, também, o advogado constitucional que está na Casa Branca parece decidido a demolir as fundações de nossas liberdades civis. O princípio da presunção de inocência, que data da Magna Carta, há 800 anos, há muito tempo foi relegado ao esquecimento.

Recentemente, o jornal “The New York Times” relatou a “angústia” de um juiz federal que teve de decidir se permitiria a alimentação à força de um prisioneiro sírio que está em greve de fome em protesto contra sua prisão.

Nenhuma “angústia” foi manifestada sobre o fato de que ele está detido sem julgamento há 12 anos em Guantánamo, uma das muitas vítimas do líder do mundo livre, que reivindica o direito de manter prisioneiros sem acusações e submetê-los a torturas.

Essas denúncias nos levam a inquirir sobre a política de Estado de modo mais geral e os fatores que a conduzem. A versão padronizada recebida é de que o objetivo básico da política é a segurança e a defesa contra inimigos.

A doutrina ao mesmo tempo sugere algumas perguntas: segurança de quem, e defesa contra que inimigos? As respostas são esclarecidas de forma dramática pelas revelações de Snowden.

A política deve garantir a segurança da autoridade do Estado e as concentrações de poder interno, defendendo-as de um inimigo assustador: a população doméstica, que pode se tornar um grande perigo se não for controlada.

Há muito tempo se entende que a informação sobre o inimigo dá uma contribuição crítica para o seu controle. Nesse sentido, Obama tem uma série de antecessores distintos, embora as contribuições dele tenham alcançado níveis inéditos, como soubemos pelo trabalho de Snowden, Greenwald e alguns outros.

Para defender o poder do Estado e o poder econômico privado do inimigo interno, essas duas entidades devem se esconder – mas, em forte contraste, o inimigo deve ser totalmente exposto à autoridade do Estado.

O princípio foi claramente explicado pelo intelectual de políticas Samuel P. Huntington, que nos instruiu que “o poder permanece forte quando ele permanece no escuro; exposto à luz do sol, ele começa a evaporar”.

Huntington acrescentou uma ilustração crucial. Em suas palavras, “você pode ter de vender [intervenção ou outra ação militar] de maneira a criar a impressão enganosa de que é a União Soviética que você está combatendo. É o que os EUA vêm fazendo desde a Doutrina Truman”, no início da Guerra Fria.

A percepção de Huntington do poder e das políticas de Estado foi ao mesmo tempo precisa e presciente. Quando ele escreveu essas palavras, em 1981, o governo Reagan estava lançando sua guerra ao terror – que rapidamente se tornou uma guerra terrorista assassina e brutal, principalmente na América Central, mas estendendo-se muito além, para o sul da África, a Ásia e o Oriente Médio.

A partir daquele dia, para praticar violência e subversão no exterior, ou repressão e violação dos direitos fundamentais em casa, o poder do Estado regularmente tentou dar a falsa impressão de que são os terroristas que estamos combatendo, embora haja outras opções: chefões da droga, líderes religiosos islâmicos loucos que buscam armas nucleares e outros monstros que estariam tentando nos atacar e destruir.

O tempo todo permanece o princípio básico: o poder não deve ser exposto à luz do sol. Edward Snowden tornou-se o criminoso mais procurado do mundo por não compreender essa máxima essencial.

Em suma, deve haver completa transparência da população, mas nenhuma dos poderes que precisa se defender desse temível inimigo interno.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Noam Chomsky é um dos mais importantes linguistas do século 20 e escreve sobre questões internacionais.

FONTE: http://noticias.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/noam-chomsky/2014/06/02/edward-snowden-e-o-criminoso-mais-procurado-do-mundo.htm

Glenn Greenwald, do caso Snowden, lança site para continuar tratando dos documentos da NSA

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Para quem achava que o jornalista Glenn Greenwald tinha desaparecido de cena após ganhar o prêmio Pulitzer (talvez o maior do jornalismo internacional, se enganou. Além de estar escrevendo um livro para divulgar fatos ainda desconhecidos sobre o escândalo de espionagem envolvendo a National Security Agency (NSA), Greenwald e colaboradores acabam de lançar o site “The Intercept”.

Segundo  que está declarando pelos responsáveis do “The Intercept”,  o site se destina a cumprir dois objetivos básicos, um de curto e outro de longo prazo. O de curto prazo seria oferecer uma plataforma para continuar divulgando documentos vazados por Edward Snowden sobre as atividades ilegais do NSA. O objetivo de longo prazo seria oferecer um tipo de jornalismo independente que tratará de assuntos polêmicos sem se preocupar com quem se revolte ou se sinta alienado.

Para começar os dois objetivos num só artigo, Greenwald já postou um texto sobre o falso Twitter que havia sido criado pela United States Aid Agency (USAID) para fomentar dissidências e promover esforços para subverter o governo cubano.

Quem quiser acessar o “The Intercept” basta clicar (Aqui!).

A vitória de Snowden e o fracasso de Obama

Por Caue Seigne Ameni

Ilustração de Jason Stou

Ilustração de Jason Stou, Ex-agente que denunciou NSA indicado para Nobel da Paz. Em Washington, presidente debate-se para preservar espionagem e salvar aparências

Por Cauê Seignemartin Ameni

Aos poucos vão surgindo as evidências de que a história trabalha mais a favor do ex-agente Edward Snowden, do que do presidente americano Barack Obama. Na quarta-feira (29/01), o ex-agente que revelou a maior plataforma de vigilância da história, foi indicado para concorrer o Prêmio Nobel da Paz. Oscar Wilde, escritor inglês do século XIX, sintetizou uma vez a importância histórica de fatos como este: “a desobediência, é aos olhos de qualquer estudioso da História, a virtude original do homem. É através da desobediência que se faz o progresso, através da desobediência e da rebelião”.

No outro lado da corda, Obama admitiu pela primeira vez em público (17/01), a necessidade de mudanças no trabalho da Agência de Segurança Nacional americana (NSA). Depois de sete meses de revelações cada vez mais desconfortáveis e crescente clamor público, ponderou: “nossa liberdade não pode depender das boas intenções de quem está no poder, e sim da lei que restringe esse poder”. Num longo discurso, apoiou alguns pontos do grupo de especialistas criado pela Casa Branca para reformular o sistema de vigilância do governo. Mas ignorou as sugestões mais importantes, mantendo-se em apenas dois pontos superficiais: 1) restringir progressivamente o programa de armazenamento maciço de dados telefónicos nos EUA, tal como existe hoje e; 2) limitar a espionagem sobre líderes aliados – inimigos continuam sendo alvo – , que provocou uma tempestade diplomática com países amigos.

Para os vastos setores da opinião pública que pedem o fim da perseguição a Snowden, o governo americano passou longe do esperado. Em seu editorial, o próprio New York Times classificou o discurso de Obama como “eloquente sobre a necessidade de equilibrar a segurança da nação com privacidade pessoal e liberdades civis”, mas “frustrante em detalhas e vago na implementação”. O jornalista Lorenzo Franceschi-Bicchierai, especialista nos assuntos sobre ciber-política na revista digital Mashable Nova Yorklistou algumas mudanças importantes que foram completamente ignoradas.

1. Todos os outros programas de coleta em massa de dados contiuam

Obama apoia a proposta do grupo de especialistas que criou, para retirar da NSA o banco de dados sobre as chamadas telefônicas. No entanto, o governo não pronunciou uma palavra sobre como restringirá a coleta em massa de metadados da Internet. “Esse tipo de programa pode ser utilizado para obter mais informações sobre nossas vidas privadas e abre as portas a outros programas mais intrusivos”, diz o NYT.

2. O Defensor Público, no Tribunal FISA

O grupo interno recomendou a criação de um “Advogado Defensor do Interesse Público”, para lutar pela privacidade e liberdades civis perante os juízes do “Tribunal FISA” – que podem impedir a coleta de dados privados sobre cidadãos… Advogados e juristas apoiaram a ideia, uma vez o “Tribunal FISA” não respeita direitos civis básicos. Apenas os defensores do governo podem prestar depoimento; as sessões e os vereditos são secretos. Obama porém, não confirmou a aceitação da proposta. Apenas disse, vagamente, que um grupo de especialistas participará das sessões secretas do tribunal. E que serão ouvidos só em “casos significativos…”

3. Revisão Judicial das Cartas da Segurança Nacional

O FBI vem usando as chamadas Cartas de Segurança Nacional há anos, para exigir que bancos, empresas de internet e de telefonia entreguem dados de seus clientes e usuários. Funcionam como uma espécie de “salvoconduto” administrativo, liberando o FBI para requerer dados dos usuários diretamente às empresas, sem necessidade de pedir uma autorização judicial. O grupo interno de Obama, sugeriu que mudasse esse procedimento, reformando a lei, para tornar indispensável a aprovação de um juiz em todos os casos. Porém, a Casa Branca apoiou apenas mais “transparência” e não disse uma palavra sobre a necessidade de supervisão judicial.

4. Espionagem nas bases de dados de empresas comerciais norte-americanas em todo o mundo

Documentos vazados em outubro por Snowden, revelaram que a NSA recolhia vasta quantidade de dados de usuários na internet, sem que as empresas como Google e Yahoo soubessem. A agência obtve acesso aos servidores onde os dados eram armazenados. Obama não disse nada a respeito e o porta-voz da Casa Branca, contatado pelo site Mashable, não quis comentar o assunto.

5. O trabalho da NSA para derrubar os padrões de segurança e encriptação

Em setembro, o New York Times revelou o enorme esforço da NSA para derrubar os padrões de segurança e encriptação, de modo que os agentes tivessem acesso a comunicação que usuários acreditavam estar protegidas.

A NSA e até o FBI foram acusados de invadir sistemas criptografados, depois de terem solicitado que empresas de software incluíssem “portas do fundos” nos programas vendidos a consumidores, uma espécie de entrada secretas, por meio das quais espionavam os usuários da nova versão do Windows, por exemplo.

O grupo para reformular a NSA, apoiou a criação de tecnologia mais forte de encriptação, argumentando que o governo não pode “de modo algum subverter, minar, enfraquecer ou trabalhar para tornar vulneráveis, softwares oferecidos à venda a consumidores como se fossem seguros.” Obama nada disse sobre o caso.

Graves denunciais, nenhuma reposta 

Obama também calou-se em relação às denuncias feitas ao longo dos últimos meses por grandes publicações internacionais, que se assustaram com a capacidade cada vez mais invasora da NSA. Numa das mais recentes, o New York Times revelou, em janeiro de 2014, o programa de implantação de vírus em cerca de 100.000 computadores mundo afora, para devassar dados e lançar ataques até mesmo a computadores sem acesso a internet. .

Usada desde 2008 para invadir computadores, a tecnologia via rádio permite contorna uma das principais dificuldades enfrentada pela agências durante anos: penetrar em maquinas cuja os adversários tornaram impermeável à espionagem ou ciberataque. O dispositivo é inserido fisicamente pelo fabricante do equipamento ou por um espião, transmitindo dados do computador visado comunicar através de radiofrequência.

O principal programa que usa este método radical de espionagem tem codinome Quantum. E entre seus alvos, estão o exército chinês; o sistema militar russo; a rede utilizada pelos cartéis mexicanos; instituições comerciais dentro da União Europeia, e terroristas inimigos da Arábia Saudita, Índia e Paquistão.

Ao expor tudo isso, Snowden girou a roda história. Revelou, lembra o New York Times, a ignorância e falta de controle do presidente americano, que não tinha conhecimento das operações obscuras perpetradas pela agência de segurança de seu próprio governo. Infelizmente, ao invés de parabeniza-lo, Obama preferiu desaprovar seus métodos. “A defesa da nossa nação”, disse, “depende em parte da fidelidade daqueles a quem os segredos são confiados”. A diferença é que, ao contrário do presidente, o ex-agente é mais fiel aos cidadãos do que as agências militares.

FONTE: http://outraspalavras.net/blog/2014/01/31/a-vitoria-de-snowden-e-o-fracasso-de-obama/