Novo incidente envolvendo barragem de mineração em Minas Gerais mostra riscos existentes

turmalinaLocal teve que ser evacuado após o desmoronamento (Redes sociais / Divulgação)

Por Agência Nacional de Mineração 

Aproximadamente às 7 da manhã de ontem (07/12), foi identificado o deslocamento de parte do material da Pilha de Rejeitos/ Estéril sólidos Satinoco da Mina Turmalina, localizada no município de Conceição do Pará/MG, resultando no rompimento parcial da estrutura. Conforme relato da Mineração Serras do Oeste Ltda. (MSOL), empresa responsável pelo empreendimento, a área foi imediatamente isolada e os setores responsáveis foram notificados.

Às 9:48, iniciou-se a evacuação dos moradores da comunidade de Casquilho de Cima, situada nas proximidades da pilha, mantendo-se no local somente pessoal da equipe de drenagem de mina, para garantir questões de segurança no local. Cerca de 75 pessoas foram realocadas para hotéis.

Um posto de abastecimento de combustível da mina foi parcialmente atingido. Apesar do impacto, os tanques permanecem intactos, conforme relato da empresa, e há um estudo para o esvaziamento seguro dos tanques, que comportam aproximadamente 15.000 litros de diesel.

Além do posto, foi atingido um tanque de emulsão, contendo 43 m³ de emulsão, a princípio inerte, utilizado para atividades de mineração. Os tanques também foram preservados, de acordo com a empresa.

A equipe de fiscalização da Agência Nacional de Mineração (ANM) realizou vistoria in loco após a comunicação do ocorrido e identificou risco iminente para a segurança da estrutura, da comunidade e do meio ambiente, efetuando a interdição e a suspensão imediata de todas as atividades do empreendimento, por meio do Auto de Interdição nº 52/2024/GER-MG/DIFIL-MG.

Caberá à empresa providenciar todas as ações necessárias para estabilidade da pilha, segurança da mina, comunidade de entorno e meio ambiente. As ações incluem monitoramento da pilha e da mina subterrânea, obra para estabilização, ações de controle com meio ambiente e proteção da comunidade envolvida, dentre outras atividades a serem informadas no plano de ação da empresa.

A ANM também poderá realizar exigências específicas ao longo do monitoramento de todo o processo.

A Defesa Civil Municipal de Conceição do Pará, a Defesa Civil Estadual de Minas Gerais, Núcleo de Emergências Ambientais, o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, o Núcleo de Combate aos Crimes Ambientais do Ministério Público de Minas Gerais, a Agência Nacional de Mineração e a Polícia Militar de Minas Gerais estão monitorando a situação e permanecem preparados para prestar assistência à comunidade.

Reforçamos o apelo para que as pessoas impactadas não retornem à área até que as autoridades emitam orientações oficiais sobre a retomada da normalidade.

Barragem Turmalina 

Uma das faces da pilha encontra-se a aproximadamente 250 metros da barragem da mina, situada no mesmo complexo minerário.

A ANM foi a campo imediatamente para verificar o status da barragem turmalina. Após vistoria, foi verificado que o ocorrido na pilha não teve interferência direta na barragem, a qual mantém seu status, com níveis de segurança dentro dos parâmetros de legislação e sem anomalias.


Fonte: Agência Nacional de Mineração

Mineradora canadense Equinox Gold esconde uma verdade incômoda sobre rompimento de barragem no Maranhão

aurizona

Por Jan Morril para a “Earthworks”

Em 1º de junho, executivos da mineradora canadense Equinox Gold fizeram uma apresentação sobre os compromissos Ambientais, Sociais e de Governança (ESG) da empresa e seu relatório ESG lançado recentemente . 

A Earthworks e outras organizações internacionais apoiam a comunidade de Aurizona em Godofredo Viana, Maranhão, Brasil desde março de 2021, quando uma barragem rompeu na mina de ouro Mineração Aurizona SA (MASA), de propriedade da Equinox Gold. Esta falha deixou os moradores sem acesso a um abastecimento regular e adequado de água por mais de um ano. O que sabemos sobre a situação em Aurizona mostra que a retórica ESG da Equinox não corresponde à realidade .

A barragem que rompeu foi uma barragem de retenção de sedimentos de 7 metros de altura, ligada a uma lagoa chamada Lagoa do Pirocaua. A falha ocorreu depois que um transbordamento erodiu a face da barragem, causado por um influxo de água de um poço de mineração próximo. O esgotamento do conteúdo da barragem, que a Agência Nacional de Mineração (ANM) informa, continha sedimentos e águas pluviais coletadas para uso no processamento mineral, enviaram lama e água a jusante para um reservatório de água potável e outras fontes de água locais. A ANM ordenou que a empresa suspendesse o uso da barragem , e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente multou a empresa por danos ambientais e falta de plano de emergência. 

A falha da barragem comprometeu o acesso à água para cerca de 4.000 pessoas a jusante. As famílias afetadas exigiram um abastecimento urgente de água potável e a empresa começou a fornecer água potável transportando-a de fora da área. No entanto, a comunidade relatou que a água distribuída pela empresa era totalmente insuficiente e muitos membros da comunidade tiveram que se deslocar para encontrar outros locais, como nascentes naturais, para ter acesso à água . A empresa também construiu uma estação de tratamento de água. No entanto, a usina não tem capacidade para abastecer regularmente toda a comunidade. Os membros da comunidade relatam que a água às vezes só está disponível três dias por semana, e muitas vezes é de cor escura. Em 19 de abril de 2022, comunidades impactadas denunciaram a empresa por não fornecer água há mais de um mês . 

A fonte de água para a estação de tratamento também é uma preocupação da comunidade. Uma das principais fontes é o reservatório de Juiz de Fora, embora a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (SEMA) tenha proibido o uso de água desse reservatório. Estudos de qualidade da água e do solo realizados por cinco universidades públicas em 2022 encontraram “contaminação persistente ” na água e no solo afetados pelo processo de mineração e pelo rompimento da barragem. 

Os detalhes deste incidente estão surpreendentemente ausentes do relatório ESG da Equinox Gold e não foram mencionados durante sua apresentação. Christian Milau, CEO da Equinox Gold, falou sobre as enchentes e seus efeitos no abastecimento de água da comunidade, mas nunca mencionou a barragem da Lagoa do Pirocaua ou seu papel na contaminação da água a jusante. Ele reiterou as alegações da empresa de que as inundações na área foram causadas por um período excepcionalmente pesado, um evento de tempestade de 1 em 10.000 anos. Esta alegação foi desmascarada por uma revisão independente de dados meteorológicos. O Dr. Steven Emerman, um geofísico especialista em barragens, descobriu que “com base nos registros de precipitação das estações meteorológicas vizinhas, o período de retorno da tempestade foi inferior a um ano”. Além disso, ele observou que “a causa raiz da falha da barragem foi a falta de qualquer inspeção e manutenção”.

Achei a omissão dos fatos durante a apresentação surpreendente e enviei uma pergunta no bate-papo de perguntas e respostas perguntando: “Você mencionou inundações em Aurizona, mas não mencionou o rompimento da barragem de retenção da Lagoa do Pirocaua no local da mina, que foi em desacordo com a Agência Nacional de Mineração. As comunidades a jusante ainda não têm acesso a água potável confiável. Por que a Equinox Gold não garantiu o direito básico à água para toda a comunidade de Aurizona ou atendeu a outras demandas da comunidade, como acesso a estudos de qualidade da água e reparação de violações de direitos humanos, mesmo que a empresa tenha aumentado os lucros e as atividades de exploração?” No entanto, o moderador omitiu qualquer referência ao rompimento da barragem e leu minha pergunta como, “Ainda parece haver um equívoco de que a aldeia de Aurizona não tem acesso a água potável confiável.” Durante sua resposta inadequada, o Sr. Milau reafirmou que a empresa resolveu os problemas de acesso à água. Ele afirmou que “temos um bom feedback dos líderes comunitários e dos moradores” sobre como a empresa está lidando com a situação.

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) vem trabalhando com a comunidade atingida desde o rompimento da barragem e eles discordam. Porta-vozes do MAB me disseram que: “Não sabemos quem são esses líderes comunitários e não os conhecemos. Nenhum dos líderes comunitários ou famílias afetadas com quem conversamos no último ano e três meses deram feedback positivo em relação à água em Aurizona, muito pelo contrário. Temos recebido diariamente reclamações sobre problemas de pele, coceira e problemas gástricos, entre outros. Ficamos surpresos com essa declaração da mineradora. Esta afirmação parece enganosa ou baseada na retórica da empresa.” 

Membros da comunidade afetada organizaram uma série de protestos contra a empresa no último ano, exigindo água potável confiável, acesso a estudos de qualidade da água e relatórios técnicos e financiamento para revisão de curto, médio e longo prazo das violações de direitos humanos sofridas pelos comunidades impactadas. Em resposta a esses protestos, a Equinox Gold solicitou ao tribunal que apresentasse acusações contra manifestantes pacíficos que realizavam manifestações na estrada que leva à mina. 

A Equinox Gold está tentando encobrir os impactos de suas perigosas práticas de mineração nas comunidades e bacias hidrográficas a jusante. Ao escolher seletivamente as informações apresentadas em seus relatórios e ao censurar perguntas durante suas apresentações, eles não estão fornecendo uma visão completa de seus impactos ESG. Os investidores presentes à sua apresentação não ouviram a história completa sobre as violações da empresa ao direito humano internacionalmente reconhecido de acesso à água potável. A Equinox Gold deve responder imediatamente às demandas claramente articuladas pela comunidade de Aurizona e representar com precisão suas ações em materiais públicos.

A Earthworks e seus parceiros organizaram uma petição pedindo ao Equinox Gold para abordar de forma abrangente as violações dos direitos dos membros da comunidade em Aurizona.  Mostre seu apoio adicionando seu nome ao apelo à ação . 


compass black

Este texto foi originalmente escrito em inglês e publicado pela Earthworks [Aqui!].

Mais uma barragem rompe no Brasil. Não será a última

bahia rompimento

A mídia corporativa está informando que mais uma barragem rompeu no Brasil, agora em  Pedro Alexandre (BA), tendo já inundado o povoado de Quati, que integra o município.  Segundo informações do site UOL, as águas que escaparam desta barragem também atingiram parte da cidade de Coronel João Sá, a 40 km do ponto de rompimento (ver vídeo abaixo).

O impacto em termos de perdas materiais e de vidas humanas certamente será medido nos próximos dias, mas é provável que mais uma vez não fiquemos sabendo da real extensão dos danos.

O problema da segurança das centenas de barragens espalhadas dentro do território nacional já tinha ficado explícito com os rompimentos que ocorreram em Mariana e Brumadinho, e seria de se esperar que medidas urgentes tivessem sido tomadas para a realização de uma auditoria nacional independente para que se estabelecesse o nível de risco a que essas estruturas se encontram.

Entretanto, a agenda de desmantelamento das estruturas de monitoramento e fiscalização que está sendo aplicada pelo governo Bolsonaro indica que continuaremos vivendo em uma espécie de voo cego em meio a centenas de barragens que possuem estruturas pouco inseguras ou em vias de rompimento, especialmente aquelas construídas por grandes mineradoras.

https://youtu.be/PewqMr6Z4ho

Por essas e outras é que não hesito em afirmar que o caso do rompimento dessa barragem não deverá ser o último. E salve-se quem puder.

Vale tem mais 10 barragens colocadas em nível de alerta em Minas Gerais

 

barragens itabira

Em Itabira, Minas Gerais, a mineradora Vale tem 15 barragens Foto: DEA / PUBBLI AER FOTO / De Agostini/Getty Images

Em matéria assinada pela jornalista Lara Alves, o jornal “O TEMPO” informou na manhã desta 2a. feira, 10 barragens da mineradora Vale em Minas Gerais tiveram sua estabilidade colocada em questão, e foram assim declaradas como interditadas (ver quadro abaixo).

BARRAGENS INTERDITADAS

Lista de barragens interditadas da mineradora Vale em Brumadinho, Congonhas, Itabira, Nova Lima e Ouro Preto. Fonte: O TEMPO

Curiosamente problemas de estabilidade (bem como os potenciais fatores causais dessa situação) já tinham sido identificadas pelo arquiteto e urbanista Frederico Lopes Freire e publicadas por este blog, incluindo as das minas de Mar Azul e do Pontal [Aqui! e Aqui!].

O problema é agravado pelo fato de que pelas análises realizadas por Frederico Lopes, a condição das barragens requerer que sejam adotadas medidas urgentes de estabilização e não apenas de interdição.

Por outro lado, é interessante notar que no dia de hoje, o jornalista Eduardo Militão publicou uma matéria no site UOL dando conta que a mineradora Vale teria sonegado pelo menos R$ 23 bilhões em impostos devidos pelas exportações de minério de ferro entre 2009 e 2015 a partir de um processo de triangulação com uma subsidiária sediada na Suiça (ver figura abaixo).

triangulação

Fonte: UOL

Em outras palavras, além de obter lucros bilionários como os mais de R$ 25 bilhões obtidos em 2018, a Vale ainda se dá ao direito de sonegar impostos enquanto deixa seu sistema de barragens sem a devida manutenção, colocando em risco bacias hidrográficas inteiras sob o espectro da destruição.

Resta saber agora como se portarão as autoridades estaduais de Minas Gerais que têm diante de si um cenário potencialmente catastrófico. É que todas as barragens (i.e., 14) com problemas detectados de estabilidade romperem, haverá grave ameaça ao fornecimento de água, sem  falar nas potenciais perdas humanas e destruição de ecossistemas inteiros.