No dia 11 de Fevereiro publiquei uma análise feita pelo arquiteto e urbanista Frederico Lopes Freire sobre o rompimento das barragens de rejeito da mineradora Vale em Brumadinho e da possibilidade de que outro evento catastrófico se repetisse em Santa Bárbara.
Dez dias depois e com sirenes soando em sucessão em outras represas da Vale em Barão de Cocais e Nova Lima, hoje recebi outra análise feita por Frederico Lopes Freire sobre problemas semelhantes que estariam afetando a barragem de Pontal no município de Itabira, onde a população já tem demonstrado grande preocupação com a situação das grandes barragens da mesma mineradora que estocam um volume 33 vezes maiores do que aquele que vazou em Brumadinho.
Abaixo posto as análises de Frederico Lopes Freire para a barragem de Pontal, onde ele demonstra grande preocupação com a situação que lhe parece bastante semelhante ao que ele visualizou no reservatório de Brumadinho antes que ocorresse o Tsulama de 25 de janeiro.
O que parece evidente nas análises feitas por Frederico Lopes Freire é que os moradores de áreas próximas de grandes barragens de rejeitos em diferentes municípios de Minas Gerais têm razão para estarem assustados. O que impressiona mesmo é o fato de que as autoridades governamentais parecem ter mais interesse em defender os interesses da Vale e de outras mineradoras mais do que defender a vida das pessoas e dos ecossistemas naturais que hoje vivem sob o espectro de novos Tsulamas.
Análise de imagens da Barragem Pontal, Usina Brucutu, município de Itabira-MG
Por Frederico Lopes Freire*
Este é um relatório pessoal, com base em observação direta de imagens de satélite disponibilizadas no Google Earth.
Imagem 01 – Visão Panorâmica da Barragem Pontal.
Imagem 02 – Datada de 31 de agosto de 2018 – Localização da Barragem – Mina Brucutu – Itabira-MG
Localização da Barragem Pontal – Mina de Brucutu – Itabira-MG
Imagem 03 – datada de 16 de junho de 2011.
Na imagem 03 é possível observar uma erosão na base da barragem (ampliada na imagem 3 B), possivelmente a razão para execução de obras de reforço identificadas na imagem 04, datada de 07 de maio de 2013.
Imagem 03 A – Datada de 16 de junho de 2011
Vista parcial da barragem mostrando a direção de entrada e fluxo das águas superficiais das chuvas e de outras possíveis origens na usina e elevações montanhosas em torno. Níveis internos da barragem, perímetro externo e base da barragem estão indicados, bem como da posição da erosão indicada na imagem 03. A mancha das águas superficiais é claramente visível até a parede da barragem. Um canal extravasor está localizado no extremo superior direito da barragem, porém sua cota de entrada (728) não possibilita escoamento das águas abaixo deste nível.
Imagem 03B – datada de 16 de junho de 2011
Indica a posição da erosão mostrada na imagem 03. Possível container e equipamentos são visíveis.
Imagem 04 – Datada de 07 de maio de 2013
Serviços de rebaixamento das águas superficiais e trabalhos na parede e base da barragem em execução. Deformação no alinhamento superior da barragem é visível.
Imagem 05 – Datada de 20 de julho de 2015
Serviços de reforço nas paredes e base da barragem concluídos. Nível das águas superficiais em ascensão com a finalização do bombeamento. Deformação no alinhamento superior da barragem corrigido.
Imagem 06 – Datada de 31 de agosto de 2018 – última imagem disponível no Google.
Deformação no alinhamento superior da barragem reaparece. Águas superficiais estão acumuladas contra a parede da barragem.
Semelhanças com o ocorrido em Brumadinho não podem ser desprezadas. O acúmulo de águas, a ausência de afastamento destas águas em relação a parede da barragem e a deformação do alinhamento horizontal da parede, estão presentes.
A absorção constante de água poderá levar a uma liquefação, já apontada como causa determinante do desastre de Brumadinho. O volume armazenado é cerca de 122.000.000,00 m3, 10 vezes maior nesta Barragem Pontal.
————————————————–
* Frederico Lopes Freire é Arquiteto e Urbanista, possuindo ampla experiência profissional no Brasil e nos EUA, e atualmente vive no município de Colatina, norte do estado do Espírito Santo.
Pedlowski a barragem de Pontal fica em Itabira (220 milhoes de m3).
A mina de Brucutu fica em São Gonçalo do Rio Abaixo e Barão de Cocais, cujas principais barragens são a “do Canal” (cerca de 70 milhões de m3) e a nova, “Norte/Laranjeiras” – projetada para mais de 300 milhoes de m3.
CurtirCurtir
Pingback: Mar Azul e a recorrência do padrão pré rompimento de Brumadinho | Blog do Pedlowski
Pingback: Vale tem mais 10 barragens colocadas em nível de alerta em Minas Gerais | Blog do Pedlowski