National Geographic Documentary Films e O2 Play lançam vencedor de dois prêmios em Sundance, “O Território”, nos cinemas brasileiros no dia 8 de setembro

Do diretor Alex Pritz, dos produtores indicados ao Oscar® Darren Aronofsky e Sigrid Dyekjær e da produtora executiva Txai Suruí, documentário conta a história dos indígenas Uru-eu-wau-wau e seu ativismo ambiental

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São Paulo, agosto de 2022 – Hoje, a National Geographic Documentary Films e a O2 Play anunciam que “O Território”, premiado documentário de estreia do diretor Alex Pritz, estará disponível nos cinemas brasileiros a partir de 8 de setembro e faz parte da mostra Mês Amazônia no CineSesc.

Produzido pelo cineasta indicado ao Oscar® Darren Aronofsky, pelo indicado ao Oscar® e vencedor do Emmy Sigrid Dyekjær (“A Caverna”), Will N. Miller, Gabriel Uchida, Lizzie Gillett e Pritz, com produção executiva da ativista Txai Suruí, com trilha sonora original de Katya Mihailova e edição de Carlos Rojas Felice, o filme é uma coprodução com a comunidade indígena Uru-eu-wau-wau.

Vencedor de mais de dez prêmios internacionais e com 95% de aprovação no Rotten Tomatoes, “O Território”, fornece um olhar imersivo sobre a luta incansável dos povos indígenas Uru-Eu-Wau-Wau da Amazônia contra o desmatamento invasor trazido por agricultores e colonos ilegais. Com uma cinematografia inspiradora mostrando a paisagem e um design de som ricamente texturizado, o filme leva o público para dentro da comunidade Uru-Eu-Wau-Wau e oferece acesso sem precedentes aos agricultores e colonos que queimam e desmatam ilegalmente a terra indígena protegida.

Parcialmente filmado pelo povo Uru-Eu-Wau-Wau, o filme se baseia em imagens reais capturadas ao longo de três anos, enquanto a comunidade arrisca suas vidas para montar sua própria equipe de mídia na esperança de expor a verdade.

“Este filme apresenta uma realidade que precisa ser exposta. Estamos felizes com a relevância e o alcance que essa produção está adquirindo”, comenta Alex Pritz. “Em todos os lugares onde levamos ‘O Território’, todos foram impactados e se sensibilizaram pela situação que os Uru-eu-wau-wau vivenciam. Tenho certeza que, em sua estreia no Brasil, o efeito do filme será maior e mais poderoso ainda”, declara o diretor.

“Todo barulho que estamos conseguindo fazer com o filme mostra que estamos superando uma herança de apagamento e marginalização. Nós já estávamos registrando nossa vida e nosso cotidiano para nos preservar, e agora estamos fazendo estas imagens e essa história chegarem a lugares que nem imaginávamos poder alcançar”, declara Bitaté Uru-eu-wau-wau, o jovem líder do Uru-eu-wau-wau em “O Território”.

O filme, que teve seu lançamento mundial na competição World Cinema em Sundance 2022, ganhou o Prêmio do Público e o Prêmio Especial do Júri, tornando-o o único filme do evento a ganhar prêmios do público e do júri. Muitos outros se seguiram, incluindo o True/False True Life Fund Recipient 2022, o CPH:DOX Special Menção do Júri, o Netherlands’ Movies That Matter Activist Documentary Award, o Seattle International Film Festival Golden Space Needle Award de Melhor Documentário, o Philadelphia Environmental Prêmio do Público do Festival de Cinema, o Prêmio Documentário John Schlesinger do Festival Internacional de Cinema de Provincetown, o Prêmio de Melhor Categoria Planeta Sustentável do Festival Internacional de Cinema de Vida Selvagem e o Prêmio Melhor do Festival, o Prêmio DocsBarcelona Anistia Internacional da Catalunha e o Prêmio MountainFilm Minds Moving Mountains.

“O Território” foi feito pela Documist, pela Associação Jupaú do Povo Uru-Eu-Wau-Wau, Real Lava, e pela três vezes vencedora do Oscar® Passion Pictures e Protozoa Pictures, em parceria com TIME Studios e XTR com apoio da Luminate e Doc Society .

A National Geographic Documentary Films lançou anteriormente o vencedor do Oscar®, do BAFTA e de sete prêmios Emmy “Free Solo” e o filme indicado ao Oscar® “The Cave”. Em 2021, lançaram “Becoming Cousteau”, “Fauci”, “The First Wave”, “The Rescue” e “Torn”. Outros filmes aclamados pela crítica incluem “Rebuilding Paradise” de Ron Howard; vencedores do Sundance Audience Award “Science Fair” e “Sea of​​Shadows”; os vencedores do Emmy “LA 92” e “Jane”, ambos incluídos nos 15 principais documentários considerados para um Oscar® em 2017; e vencedor do Prêmio Dupont “Inferno na Terra: A Queda da Síria e a Ascensão do Isis”.

Sinopse

“O Território” fornece um olhar imersivo sobre a luta incansável do povo indígena Uru-eu-wau-wau contra o desmatamento trazido por posseiros, grileiros, garimpeiros e outros invasores de terras na Amazônia brasileira. Com uma cinematografia inspiradora e um design de som ricamente texturizado, o filme leva os espectadores para dentro da comunidade Uru-eu-wau-wau e oferece acesso sem precedentes às queimadas e desmatamentos ilegais causados pelos invasores em terras protegidas da Amazônia. Parcialmente filmado e co-produzido pelo povo Uru-eu-wau-wau, “O Território” se baseia em imagens verídicas capturadas ao longo de três anos, enquanto a comunidade arrisca sua vida para montar sua própria equipe de mídia na esperança de buscar justiça.

Mais informações sobre o filme

Desde que os Uru-eu-wau-wau foram contatados pela primeira vez pelo governo brasileiro em 1981, seu território se tornou uma ilha verde de floresta tropical cercada por fazendas e áreas invadidas — resultado de quatro décadas de desmatamento descontrolado. A comunidade enfrenta incursões ambientalmente destrutivas e muitas vezes violentas por não-nativos que buscam explorar a terra. Os ataques para extração ilegal de madeira e desmatamento tornaram-se mais frequentes e mais descarados ao longo dos últimos anos.

Nas aldeias Uru-eu-wau-wau há menos de 200 pessoas, incluindo idosos e crianças, para defender quase 1.867,117 hectares de floresta tropical. Nos limites do território demarcado, uma rede de agricultores se organiza para alcançar suas reivindicações através de meios legais, enquanto grileiros começam a desmatar trechos de floresta tropical por conta própria. Com a sobrevivência da comunidade em jogo, Bitaté Uru-eu-wau-wau e Neidinha Bandeira — um jovem líder indígena e sua mentora — devem encontrar novas maneiras de proteger a floresta tropical de invasores. Mas, em vez de depender de outros para contar sua história, os Uru-eu-wau-wau assumem o controle da narrativa e criam sua própria equipe de mídia para trazer a verdade ao mundo.

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Neidinha Bandeira, ativista ambiental, toma banho em um rio na floresta amazônica. (Crédito: Alex Pritz/Amazon Land Documentary)

Confira os prêmios de “O Território”:

  • Festival Sundance de Cinema (EUA)
    • Prêmio do Público de Documentário na categoria internacional
    • Prêmio Especial do Júri de Obra Documental
  • CPH:DOX (Dinamarca)
    • Menção especial na categoria F:ACT
  • Filmes que Importam (Holanda)
    • Prêmio de Documentário Ativista
  • Festival de Cinema Ambiental da Filadélfia (EUA)
    • Prêmio do Público
  • Festival Internacional de Filmes sobre Vida Selvagem (EUA)
    • Prêmio de Melhor Filme;
    • Prêmio na categoria Melhor Planeta Sustentável.
  • Festival de Filmes True/False (EUA)
    • Prêmio na categoria Fundo da Vida Real
  • Festival Internacional de Filmes de Seattle
    • Prêmio Golden Space Needle de Melhor Documentário
  • Prêmio DocsBarcelona
    • Anistia Internacional da Catalunha
  • Prêmio MountainFilm
    • Prêmio Moving Mountains
  • Festival de Filmes de Provincetown (EUA)
    • Prêmio de Documentário John Schlesinger
  • Sheffield DocFest (UK)
    • Prêmio Tim Hetherington; Menção do Júri
  • Festival Internacional de Cine Medioambiental de Canarias (FICMEC)
    • Melhor Documentário

Kanindé e WWF-Brasil treinam e equipam povos originários de Rondônia para monitoramento de invasões e outros crimes ambientais

Iniciativa faz parte de estratégia de formação de redes de proteção permanentes

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Uma parceria entre o WWF e a Associação de Defesa Etno-Ambiental Kanindé resultou em um curso de pilotagem de drones para um grupo de indígenas e não indígenas que protegem a floresta amazônica. O drone será usado como uma ferramenta para ajudar a monitorar áreas protegidas contra invasões, desmatamento e grilagem de terras. Nesta foto: Juwi Uru Eu Wau Wau (R) e seu marido Awapy Uru Eu Wau Wau Foto Marizilda Cruppe / WWF

A partir do uso de tecnologia de última geração aplicada à conservação da natureza, e contando com parcerias estratégicas de longo prazo com organizações locais da Amazônia, o WWF-Brasil colocou em ação um projeto de proteção territorial, em parceria com a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, que está fortalecendo a capacidade de povos indígenas de Rondônia monitorarem seus próprios territórios.

A iniciativa prevê a formação e expansão de uma verdadeira rede amazônica de proteção, reforçando o protagonismo dos povos indígenas, e vai utilizar diversos recursos tecnológicos para um monitoramento profissionalizado e contínuo de Terras Indígenas e outros territórios tradicionais.

As Terras Indígenas e territórios de populações tradicionais – como as Reservas Extrativistas – têm papel central na conservação da natureza. As comunidades indígenas sempre atuaram na vigilância e proteção de seus próprios territórios e, por isso, são tão bem preservadas: apenas 1,6% da perda de florestas e vegetação nativa no Brasil entre 1985 e 2020 ocorreu em terras indígenas. Ao mesmo tempo, esses territórios possuem um imenso patrimônio natural. Terras Indígenas e reservas extrativistas correspondem a cerca de 30% de toda a área da Amazônia.

Porém, a defesa desses territórios por seus próprios habitantes tem se tornado cada vez mais difícil, por conta da crescente pressão por parte de madeireiros, garimpeiros, grileiros e outros grupos criminosos. A omissão dos órgãos competentes em proteger os territórios indígenas tem impulsionado o desmatamento e as invasões, tornando o trabalho de monitoramento não apenas necessário, mas também mais arriscado.

Por isso, um dos objetivos da iniciativa é justamente empregar a tecnologia para que seja possível identificar e registrar invasões sem que, necessariamente, as pessoas envolvidas nas ações de monitoramento tenham que se aproximar das áreas de risco onde os criminosos estão atuando.

Em Rondônia, onde os trabalhos estão em curso, a organização parceira do WWF-Brasil é a Kanindé, que atua há quase 30 anos em ações de proteção territorial na Amazônia. De acordo com Israel Vale, coordenador técnico da Kanindé, o contexto geral do projeto se baseia na formação dos indígenas para o uso de tecnologias de monitoramento. Ele conta que dois treinamentos para uso de tecnologias na proteção territorial já foram realizados no estado, em setembro e no início de dezembro deste ano.

“Combinamos a formação para o uso de aplicativos online de monitoramento de queimadas e desmatamento com o uso de tecnologias em campo, incluindo protocolos de monitoramento, segurança e pilotagem de drones para uso específico na atividade de monitoramento”, afirma Israel.
 De acordo com ele, outra vertente do projeto fortalece a comunicação entre os indígenas e o apoio para advocacy e assistência jurídica. “Temos um corpo jurídico que dá respaldo às denúncias feitas com base na coleta de dados. O grupo jurídico formaliza as denúncias, dando celeridade aos processos”, explica.

“Para isso, o WWF-Brasil nos apoia com sua estrutura jurídica e de comunicação e nos ajuda na captação de recursos. Além disso, temos uma parceria técnica que já ofereceu três treinamentos que contaram com a participação de três técnicos do WWF-Brasil”, completa Israel.

Centro de monitoramento

O projeto inclui também a instalação de um centro de monitoramento remoto em Porto Velho, para ampliar as ações feitas diretamente nos territórios. “Já estamos na fase final de instalação desse centro. Com isso, o trabalho de monitoramento em campo será complementado com o acompanhamento constante via satélite”, salienta Israel.

Ele conta que a parceria com o WWF-Brasil já é antiga, mas o novo projeto dá outra dimensão à colaboração. Avalia que, depois da participação de membros da Kanindé em um treinamento para pilotagem de drones, realizado pelo WWF-Brasil em Porto Velho no fim de 2019, ficou evidente a importância de agregar novas tecnologias e protocolos à atividade de proteção territorial que os indígenas já realizavam havia anos com apoio da Kanindé.

“Duas semanas depois do fim daquele curso, já tivemos resultados: o povo Uru-eu-wau-wau utilizou o drone para localizar uma imensa área desmatada que, pela dificuldade de acesso, nunca seria encontrada com o monitoramento por terra. Isso resultou em um processo de denúncia, e, a partir daí, os indígenas começaram a inserir a tecnologia nas suas expedições e a criar seus próprios protocolos de monitoramento. Por isso surgiu a ideia de realizar esse novo projeto e ampliar essa experiência”, diz.

Troca de experiências

Em julho de 2020, a parceria já havia realizado a primeira captação de recursos para o projeto e, em seguida, começou expandir o uso de equipamentos tecnológicos para outras TIs da região, envolvendo os povos Paiter(Suruí), Ikolen(Gavião), Karo(Arara) e Jupaú (Uru-eu-wau-wau). Representantes desses povos participaram dos treinamentos realizados em setembro e dezembro de 2021.

“Cada um desses povos tem uma forma de fazer o monitoramento. Nesses cursos, além do aprendizado com drones – que vai aumentar a capacidade deles para o monitoramento e das orientações para aprimoramento de seus protocolos -, tivemos um resultado inesperado: eles trocaram experiências uns com os outros e estão formando uma rede de monitoramento, que permite a colaboração mútua em todos os territórios”, revela Israel.

Os recursos obtidos pela parceria foram utilizados sobretudo em treinamentos, mas também na aquisição de equipamentos como computadores para o processamento de imagens. “O ponto mais importante desse projeto é o protagonismo dos indígenas. Eles estão ficando independentes no uso dessas tecnologias e não precisam de nós para monitorar, coletar informações e fazer denúncias. Já começam a utilizar as ferramentas também para outros fins, além de monitoramento. O povo Gavião, por exemplo, está usando o drone para definir o local de implantação de um sistema agroflorestal”, afirma.

Redução de riscos

Coordenadora de projetos da Kanindé, a indigenista Ivaneide Bandeira Cardozo, conhecida como Neidinha Suruí, também destaca a importância da tecnologia para evitar confrontos.

“O uso do drone contribui para reduzir os riscos de ataques aos guardiões da floresta, porque eles não precisam chegar tão perto dos grileiros, madeireiros e outros invasores. Hoje, uma das maiores ameaças às Terras Indígenas é a ameaça à vida dos ativistas”, afirma Neidinha.

Ao combinar o uso de drones, câmeras fotográficas, geoprocessamento e aplicativos para denúncias de crimes ambientais, o projeto permite a elaboração de denúncias tão bem fundamentadas que dificilmente poderão ser ignoradas pelas autoridades, acredita Neidinha. “Isso facilita a tomada de decisão, porque nos relatórios o pessoal do Ministério Público e Funai podem visualizar claramente a localização exata e a magnitude do dano ambiental”, diz.

O modelo adotado pelo projeto, segundo Neidinha, fortalece a luta dos indígenas em defesa de seu território, ao dar a eles autonomia nas ações de proteção. Quando o poder público não se mobiliza, os próprios indígenas encaminham suas denúncias diretamente ao Ministério Público, à Polícia Federal e à imprensa.

“Eles estão se sentindo empoderados na defesa de seus territórios. Há um efeito multiplicador importante, tanto que vemos jovens, crianças, idosos, mulheres e homens formando uma verdadeira rede de informações. Com o acesso à internet, igualmente obtido por meio dessa e de outras parcerias, eles mesmos colocam todo esse material também em suas redes sociais, para que suas vozes sejam ouvidas. Isso é empoderamento, isso é autonomia”, declara Neidinha.

Efeito multiplicador

Com o apoio e os treinamentos, o projeto tem um efeito multiplicador entre os indígenas. Bitaté Uru-eu-wau-wau, que antes era aluno, foi monitor do uso de drones no novo treinamento realizado em setembro.

“Eu ajudei a capacitar mais indígenas. Isso me deixa muito feliz, porque foram parentes de outro povo e eu pude passar o conhecimento para eles. Alguns dos parentes que já tinham participado do curso anterior estão pilotando muito bem e já estão multiplicando esse conhecimento. Com isso, estamos formando uma rede de indígenas capaz de monitorar os territórios com muito mais frequência e eficiência”, conta Bitaté.

Uma das principais contribuições do projeto da Kanindé e do WWF-Brasil, na avaliação de Bitaté, é que ele também permitiu que os indígenas se organizassem melhor no planejamento das expedições, no processamento de imagens e no encaminhamento das denúncias de crimes ambientais. “Conseguimos fazer estimativas do que podemos encontrar em uma determinada expedição”, diz Bitaté.

Organização e segurança

 Bitaté conta que o fluxo de trabalho já está organizado. “Primeiro é feita a captação e processamento de imagens, depois o cruzamento com os dados de satélites e produção de relatórios bem fundamentados. Esse apoio também aumentou a interação dos indígenas com a Funai, o Ministério Público e a Polícia Federal”, declara Bitaté.

Segundo ele, além das atividades de monitoramento, os drones também têm outros usos importantes do ponto de vista dos indígenas. Os Uru-eu-wau-wau fizeram imagens de drone, por exemplo, de sua festa cultural, o que, segundo Bitaté, tem uma grande importância para o fortalecimento da sua cultura.

“Mas o mais importante mesmo é que, com esses equipamentos, é possível fazer o monitoramento do território a partir de um local seguro, com o distanciamento adequado para estudarmos uma determinada área e localizarmos ações envolvendo desmatamento e roubo de madeira”, afirma.

“Com equipe Uru-eu-wau-wau, eu subi o drone em uma área a cerca de 1.500 metros de onde estávamos e localizei mais de 15 pontos de desmatamento. Se não fosse o drone, teríamos que caminhar grandes distâncias em áreas de difícil acesso e expostos a muitos riscos”, completa.

Plataforma SMART

 De acordo com Felipe Spina Avino, líder do trabalho em Tecnologias para Conservação do WWF-Brasil, o curso oferecido em setembro teve foco na pilotagem de drones, enquanto o último treinamento, finalizado no início de dezembro, teve um caráter mais amplo, capacitando os indígenas no uso do SMART, um aplicativo de código aberto que otimiza a coleta e o uso de dados sobre áreas protegidas.

“Em setembro, organizamos um treinamento de drones com 25 indígenas. E, em novembro e dezembro, organizamos um treinamento com o mesmo número de participantes para uso da plataforma SMART. A ideia é que os indígenas que já fazem as ações de proteção territorial, ou que estão organizando grupos de monitores, possam usar essas tecnologias para qualificar os dados que eles coletam”, explica Felipe.

Processo participativo

 O especialista em conservação e líder do núcleo de respostas emergenciais do WWF-Brasil, Osvaldo Barassi Gajardo, diz que o enfoque metodológico faz parte de uma construção participativa junto aos grupos indígenas. Eles discutem com os monitores os temas a serem abordados e a própria dinâmica dos treinamentos. Um exemplo disso foi a construção do modelo de dados adotado para uso da plataforma.

“A plataforma SMART necessita de um modelo de dados que identifica os tipos de pressões e ameaças e que medidas precisam ser adotadas em uma determinada área. A construção desse modelo de dados foi feita de forma participativa, por meio de reuniões virtuais com grupos indígenas. Com essas informações, conseguimos elaborar o modelo e organizamos os treinamentos”, salienta Osvaldo.

O passo seguinte será acompanhar os grupos indígenas em campo, para consolidar o uso da ferramenta no monitoramento territorial. Esse domínio da plataforma será fundamental para integrar os dados obtidos em campo com os dados do centro de inteligência de monitoramento por satélite.

“Equipes preparadas e treinadas de indígenas que atuam no monitoramento em campo estarão em estreito contato com o centro de inteligência, para validar informações sobre ilícitos ambientais em Terras Indígenas, como invasões, desmatamento, garimpo, grilagem e outros. Essas equipes trabalharão em integração com um grupo de incidência política composto por advogados e uma equipe de comunicação”, diz.

Contexto político

O diretor de Justiça Socioambiental do WWF-Brasil, Raul Silva Telles do Valle, conta que o uso de tecnologias como drones, armadilhas fotográficas e outras ferramentas para monitoramento de áreas protegidas já era um trabalho relevante da organização. Mas no novo projeto de proteção territorial a estratégia traçada é muito mais ampla.

“A contribuição que o projeto está dando em proteção territorial se alimenta da nossa experiência anterior, mas amplia o uso das tecnologias de monitoramento para uma estratégia mais robusta, em função da conjuntura política do país. As Terras Indígenas e territórios tradicionais têm uma importância central na conservação do patrimônio natural e, há algum tempo, são objeto de invasão e pressão por parte de madeireiros, garimpeiros e grileiros. Um problema crônico no Brasil, mas que se acentuou com a chegada do governo Bolsonaro ao poder”, declara Raul.

Ele lembra que o governo federal se elegeu com uma clara promessa de liberação de qualquer tipo de atividade econômica dentro desses territórios – até mesmo atividades ilegais.

“Esse estímulo a crimes ambientais é acompanhado de uma paralisação dos órgãos federais responsáveis por coibi-los. Com isso, o número de invasões disparou. Uma das novidades na região é o aumento da grilagem em Terras Indígenas a partir de 2018. Antes, os grileiros não se interessavam pelas Terras Indígenas porque não acreditavam que seria possível legalizar a grilagem nessas áreas”, explica Raul.

Estratégia de longo prazo

Nesse contexto, segundo Raul, era preciso construir uma estratégia capaz de usar a tecnologia – já implementada pelo WWF-Brasil em outras partes do país – para fortalecer de forma sistemática o trabalho de monitoramento que os povos indígenas já fazem historicamente, permitindo que suas demandas ganhassem visibilidade e que suas denúncias de delitos ambientais fossem mais qualificadas. “Toda a estratégia está calcada em fazer com que, a partir de denúncias bem qualificadas, os órgãos de controle, atualmente enfraquecidos, sejam pressionados a atuar”, destaca Raul.

O trabalho de monitoramento e proteção territorial que está sendo realizado junto a parceiros locais, envolvendo as comunidades, seguirá tendo muita relevância no futuro, afirma Raul: “Não só em Rondônia, mas também em outras partes do país estamos entrando na fase de implementação dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental – PGTAs elaborados nos últimos anos pelos povos indígenas. Esses planos falam de como usar de forma inteligente e sustentável seus territórios, gerando riqueza e bem-estar às comunidades. A proteção contra invasores é um elemento muito importante, e a expertise e autonomia em monitoramento que as organizações indígenas envolvidas nessa parceria estão ganhando serão fundamentais para implementar esses PGTAs”.

Sobre o WWF-Brasil

O WWF-Brasil é uma ONG brasileira que há 25 anos atua coletivamente com parceiros da sociedade civil, academia, governos e empresas em todo país para combater a degradação socioambiental e defender a vida das pessoas e da natureza. Estamos conectados numa rede interdependente que busca soluções urgentes para a emergência climática.

Estado de Rondônia abre caminho para danos irreversíveis no meio ambiente e para a garantia dos direitos humanos, avalia a Anistia Internacional Brasil

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É gravíssima a notícia sobre da sanção do PLC 080/2020 hoje, dia 21/05/2021, pelo Governador do Estado de Rondônia, Coronel Marcos Rocha, que prevê a redução do tamanho da Reserva Extrativista do Rio Jaci-Paraná e do Parque Estadual Guajará Mirim. Os danos ambientais e para a garantia dos direitos humanos dos moradores da região podem ser irreversíveis, avalia Anistia Internacional Brasil.

“Na contramão das boas práticas ambientais e possibilitando o aumento de violações de direitos humanos, o Governador do Estado de Rondônia, promove a maior redução de áreas protegidas já aprovada por um parlamento estadual no Brasil. A decisão contraria parecer da Procuradoria-Geral do Estado. A Anistia Internacional Brasil alerta para mais uma medida que coloca o país num retrocesso ambiental e de garantia de direitos humanos que poderá ser irreversível “, critica Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil.

Em 15 de julho de 2020, a Anistia Internacional Brasil lançou o relatório “Da Floresta à Fazenda: gado bovino criado ilegalmente na Amazônia brasileira encontrado na cadeia de fornecimento da JBS” Com base na análise de documentos oficiais de controle sanitário animal e imagens de satélite, o relatório analisou o impacto da pecuária ilegal em áreas protegidas do estado de Rondônia. De maneira mais específica, debruçou-se sobre violações de direitos humanos das populações residentes no território indígena Uru-Eu-Wau-Wau, na Reserva Extrativista do Rio Jaci-Paraná e na Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto.

Dentre as recomendações feitas no relatório, destaca-se uma direcionada à Assembleia Legislativa de Rondônia, que deveria abster-se de “aprovar qualquer lei que reduza os limites e a proteção da Reserva Extrativista do Rio Jaci-Paraná.”

O PLC 080/2020 reduzirá o referido território em cerca de 89%, de forma a praticamente extingui-lo. Além disso, também alterará significativamente os limites do Parque Estadual de Guajará-Mirim. Ao todo, as áreas serão reduzidas em 219 mil hectares – o equivalente à soma dos territórios dos municípios de São Paulo e Salvador. Ao abrir mão dessas extensas áreas protegidas, o Estado de Rondônia poderá impactar diretamente as Terras Indígenas Uru-Eu-Wau-Wau, Karipuna, Igarapé Lage, Igarapé Ribeirão e Karitiana, além de outras populações tradicionais extrativistas. Há ainda risco para o ecossistema de uma região já duramente afetada pelo desmatamento, pela grilagem de terras, pela pecuária ilegal e pelo agronegócio.

“Cessar as violações de direitos humanos das comunidades e povos tradicionais que vivem em preservam a floresta deve ser a preocupação principal do gestor público, cuja obrigação maior é proteger pessoas. A resposta para solucionar o problema das ocupações ilegais e dos conflitos fundiários que ocorrem nos territórios mencionados pelo PLC não pode ser o retrocesso na legislação que corretamente protege as Unidades de Conservação. Ao sancionar o projeto, o Governador do Estado de Rondônia parece escolher beneficiar grileiros e demais agentes interessados na venda ilegal de terras públicas, o que coloca em risco grave a proteção da floresta e dos povos que dela dependem e que nela vivem”, explica Jurema Werneck.

Em fevereiro de 2018! MPF descobre leilão ilegal de terras indígenas por madeireiros em Rondônia

Cerca de 500 pessoas aguardam legalização da terra para poder extrair madeira. No ano passado, uma educadora que combate crimes ambientais foi atacada a tiros.

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Terras indígenas Uru-Eu-Au-Au estão sendo invadidas para loteamento, segundo procuradora do MPF-RO (Foto: Reprodução/MPF)

Após ajuizar 130 ações contra danos ambientais à flora de Rondônia, o Ministério Público Federal (MPF) descobriu que, além de derrubarem e venderem madeiras, madeireiros estão leiloando ilegalmente terras indígenas para várias pessoas no estado. Só na reserva Uru-Eu-Wau-Wau, por exemplo, já existem cerca de 500 cadastros rurais de invasores aguardando a legalização da terra para uma futura exploração do local.

Em entrevista ao G1, a procuradora Giseli Bleggi disse que mais de 100 pessoas e empresas já foram identificadas pelo crime de desmatamento e leilão clandestino de terras indígenas.

O caso é tão grave que a professora Elisângela Dell-Armelina Suruí foi atacada a tiros em Cacoal, no fim do ano. Ela prestou depimento na Polícia Federal (PF) e a suspeita é que a a tentativa de homicídio ocorreu porque a educadora e o marido lutam contra estes crimes em terras indígenas.

Segundo o MPF, vários laudos foram feitos, através de cruzamento de dados públicos, para que fosse possível a identificação das áreas desmatadas nas áreas indígenas.

“O MPF lançou o projeto Amazônia Protege no ano passado, que irá combater o desmadeiramento na Amazônia Legal. Foram feitos estudos técnicos em parceira com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e com Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Icmbio)”, explicou Bleggi.

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Procuradora Giseli Bleggi do MPF-Rondônia (Foto: Hosana Morais/G1)

No mapa do site do Amazônica Protege é possível identificar as áreas desmatadas perto de áreas indígenas.

“É como uma panela de pressão. Não está bem dentro, mas está nas proximidades. A atuação tem que ser expedida e esse projeto vem para combater esse desmatamento que ocorre próximos das terras indígenas ou em unidades de conservação. Ou seja, acendeu um alerta e a atuação precisa ser rápida”, conta a procuradora.

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Áreas desmatadas estão ao redor de terras indígenas em Rondônia (Foto: Reprodução/MPF)

Sobre os responsáveis por desmatamentos, todos madeireiros suspeitos já foram identificados. “Foram 130 ações ajuizadas, com 160 pessoas e empresas identificadas”, declarou Bleggi.

A procuradora Daniela Lopes também revelou ao G1 que, além de extração de madeira, madeireiros e empresas estão leiloando e loteando terras indígenas.

“A terra indígena Karipuna e Uru-Eu-Wau- Wau estão sofrendo muita pressão, muita invasão e até loteamento, não é so extração de madeira nobre. Quem quer invadir busca legalizar a área que eles estão desmatando. Inclusive, na Uru-Eu-Wau- Wau , existem cerca de 500 Cadastro Rurais dentro de da terra indígena. Eles estão tentando legalizar para poder extrair no futuro com mais facilidade”, explica a procuradora.

Nas ações ajuizadas, o MPF pediu indenizações de danos materiais e morais por causa do desmatamento; recomposição da área degradada, mediante a sua não utilização para permitir a regeneração natural da floresta; reversão dos valores da condenação para Ibama e ICMBio, para fortalecer a fiscalização; autorização judicial para apreensão, retirada e/ou destruição, pelos órgãos de fiscalização competentes, de bens móveis ou imóveis presentes na área que estejam impedindo a regeneração da floresta.

Tentativa de Homicídio

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A vencedora do prêmio “Educador Nota 10” 2017, incluindo a categoria “Educador do Ano”, Elisângela Dell-Armelina Suruí, foi atacada a tiros por bandidos em Cacoal. A tentativa de homicídio ocorreu quando ela e o marido voltavam de moto para a Aldeia Paiter Suruí. O casal não se feriu no ataque e fugiu a tempo para pedir ajuda.

Naraymi Suruí, esposo da educadora, é cacique na aldeia Paiter Suruí da Linha 12 e acredita que o ato foi uma retaliação por parte de madeireiros que estavam derrubando castanheiras na terra indígena Sete de Setembro e foram expulsos pelos indígenas.

Fonte: G1

Em Rondônia, terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau sofre grave invasão no começo de 2019

Indígenas Uru-Eu-Wau-Wau estão enfretando sozinhos a invasão de suas terras em Rondônia.

A Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau localizada na região central do estado de Rondônia vem sendo alvo de invasores desde que estive por lá no início da década de 1990. Agora, aproveitando a conjuntura benéfica oferecida pelo governo Bolsonaro que literalmente desmantelou o Ministério Meio Ambiente e transferiu a FUNAI para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos,  aquela importante área indígena está sofrendo uma invasão que já destruiu mais de 20 km de florestas, gerando graves ameaças aos Uru-Eu-Wau-Wau.

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Abaixo posto um vídeo como um depoimento da historiadora Ivaneide Bandeira, dirigente da organização não-governamental Associação de Defesa Etnoambiental Kanindécuja atuação em favor dos povos indígenas do estado de Rondônia tem sido fundamental para impedir um processo ainda mais rápido de invasão das suas reservas. O depoimento é grave e precisa ser amplamente disseminado.

O fato é que, enquanto a população brasileira está literalmente distraída por um início aparentemente desencontrado do governo Bolsonaro, as terras indígenas e os povos que nelas habitam estão sendo colocados no centro de um agressivo processo de pilhagem dos recursos naturais da Amazônia.

Assim, é preciso que se pressione o governo Bolsonaro para que realize a devida defesa dos povos indígenas e de seus territórios, começando pela expulsão dos invasores da T.I. Uru-Eu-Wau-Wau.

 

Indígenas Juma, ameaçados de extinção, foram atacados a tiros, no sul do Amazonas

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Não houve feridos, mas quatro pessoas, incluindo índios Uru-Eu-Wau-Wau e servidores da Funai, viveram momentos de terror (Foto da aldeia no rio Assuã/Gabriel Uchida/Amazônia Real). 

Por Gabriel Uchida para o site “Amazônia Real” [1]

Canutama (AM) – “Em quem acertou: no meu filho ou no pai dele?”. Essas foram as palavras da indígena Borehá Juma, ao ouvir os dois disparos de arma de fogo contra o caminhão em que viajava pela rodovia Transamazônica, na região do município de Humaitá. Era dia 21 de novembro e o local fica a 696 quilômetros de Manaus, no sul do Amazonas, na divisa com Rondônia. Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), duas balas atingiram um pneu do caminhão. Não houve feridos. O caso está sendo investigado pela Polícia Federal.

Borehá Juma contou à agência Amazônia Real que nesse dia estavam na cabine do caminhão o motorista e um funcionário, ambos da Coordenação Regional Madeira da Fundação Nacional do Índio (Funai), e ela. Enquanto isso, seu marido, Erowak Uru-Eu-Wau-Wau e o filho adolescente, estavam na carroceria. A família seguia com destino a Humaitá, onde iam vender sua produção de farinha. O órgão indigenista havia disponibilizado o veículo para deslocamento, porque apoia os indígenas nas despesas de transporte para a venda da produção no centro urbano.

Os indígenas trafegavam pelo quilômetro 110 da Transamazônica, quando foram surpreendidos pelos tiros. “Apenas um dos disparos acertou o pneu do veículo e ninguém se feriu”, afirma Borehá sobre o ataque.

Ela disse que servidores da Funai já haviam alertado sobre o perigo dos indígenas andarem pela ponte que dá acesso a Vila Nossa Senhor do Carmo do Assuã, em Canutama. A vila fica distante a cerca de um quilômetro de caminhada na floresta e mais uma hora de viagem de barco (de voadeira com motor de popa) da aldeia. Da vila para a cidade de Humaitá são mais 120 quilômetros pela rodovia Transamazônica (BR 230).  

“O pessoal falou na cidade [de Humaitá] que é fácil matar todos os Juma porque somos poucos” conta Borehá”. Ela também disse que o marido Erowak Uru-Eu-Wau-Wau foi intimidado por uma pessoa e relata: “O povo da Funai disse que não era pra eu passar na ponte que vai para a cidade porque queriam me matar”.

Os Juma são apenas quatro pessoas: Borehá, suas irmãs Maitá e Mandeí, e seu pai, Aruká. Por causa dos risco de extinção da etnia, as mulheres casaram com indígenas do povo Uru-Eu-Wau-Wau para formar novas famílias. Elas, que falam a língua Tupi Kawahiva,  são classificadas pela Funai como sendo de alta vulnerabilidade sociocultural.

Pneu danificado pelo tiro (Foto divulgação)

Pneu danificado por dois tiros no caminhão da Funai (Foto: Divulgação)

Por conta do histórico agressivo na região do Sul do Amazonas, os veículos da Funai de Humaitá não utilizam identificação com logomarca. Porém, no dia em que os indígenas sofreram ataque com tiros, estava sendo usado um caminhão que vinha do Mato Grosso, e por isso o veículo tinha adesivos da instituição. Segundo as vítimas, ninguém foi avistado atirando nelas, mas após os disparos, os indígenas fugiram em alta velocidade, com receio de sofrer um novo ataque. “Os tiros saíram de dentro do mato e pensei que tinham acertado em mim, fiquei com o ouvido zunindo”, conta Erowak Uru-Eu-Wau-Wau.

A região Sul do Amazonas tem um longo histórico de violência contra indígenas e contra órgãos ambientais que combatem os desmatamentos na floresta Amazônica. Recentemente, foram feitas mais ameaças aos indígenas Juma e Uru-Eu-Wau-Wau, por causa da exploração ilegal de madeira, pesca e invasão dentro do território, na Terra Indígena Juma, que fica no rio Assuã. Erowak diz que, frequentemente, eles avistam invasores dentro do território Juma e que há pouco tempo foram ouvidos muitos disparos de arma de fogo bem próximos à aldeia.

Ameaças às demarcações

As ameaças ficaram mais pontuais contra os povos indígenas brasileiros após a eleição de 2018 que elegeu o presidente Jair Bolsonaro (PSL). Desde a campanha eleitoral, ele tem afirmado que as demarcações de terras atendem a interesses de outros países e não demarcará os territórios. Também afirmou que haveria risco de os povos indígenas formarem estados independentes no Brasil. As declarações provocaram uma reação de protesto de várias entidades, entre elas, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que defende os interesses dos indígenas.

Em Mato Grosso do Sul, no dia 28 de outubro, após o resultado do segundo turno das eleições, de dez a 15 pessoas da etnia Guarani-Kaiowá ficaram feridas por disparos de arma de fogo e balas de borracha. Em Pernambuco, uma escola e um posto de saúde que atendem aos povos Pankararu foram incendiados. A Polícia Federal investiga os dois casos, a pedido do Ministério Público Federal e da Justiça Federal. As investigações tramitam em segredo de justiça.  

Antes disso, no dia 20 de outubro, em Rondônia, um homem foi preso em flagrante, após atear fogo em três picapes do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O fato ocorreu na cidade de Buritis, a 330 quilômetros de Porto Velho. O acusado, Edmar dos Santos Lima, usou um galão de gasolina para gerar o incêndio. As equipes de fiscalização que atuam na Operação Pugnare 14, que combate o desmatamento na região, estavam se preparando para mais uma ação contra madeireiros nesse dia.

Ainda não se sabe qual o motivo dessas pessoas atacarem os indígenas Guarani Kaiowá, Pankararu e Juma, nem quem foi o responsável por tais atos e se eles têm relação com o eleitorado de Bolsonaro.

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Região onde aconteceu o ataque contra os Juma, no km 110 da BR 230 (Foto: Gabriel Uchida/Amazônia Real)

Massacres e insegurança

A sobrevivência do Juma na Amazônia é marcado por massacres e ameaças.  Estima-se que essa etnia tinha cerca de 15 mil pessoas no século 18 e foi sendo dizimada por conflitos e doenças trazidas pelos invasores do território.

Em junho de 1979, o jornal Porantim, do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), publicou o depoimento de um homem que havia participado de uma expedição para enfrentar a etnia Juma e afirmava ter matado mais de 60 pessoas na ocasião.

Indígenas estão em perigo

A historiadora e indigenista Ivaneide Bandeira acompanha os indígenas Juma há vários anos. Ela afirma que eles já vêm de um processo de genocídio. “O grupo está em risco de extinção, porque, da etnia original, só sobraram quatro pessoas. Foram atacados [novamente] porque estão em uma região com um avanço muito grande da grilarem de terras, da monocultura e da mineração, e os indígenas são considerados um empecilho ao desenvolvimento”.

Ivaneide complementa avaliando o cenário atual para os povos indígenas: “acredito que a vida de todos os indígenas, não só dos Juma, está em perigo, porque hoje é como se os violadores de direitos humanos tivessem carta branca para atuar”. 

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Veículos do Ibama que foram queimados pela população de Humaitá em 2017 (Foto: Gabriel Uchida/Amazônia Real)

O que diz a Funai?

A Funai, em Brasília, foi procurada para informar sobre quais providências está sendo tomando para proteger os índios Juma. A assessoria de imprensa enviou uma nota à Amazônia Real e confirmou o ataque: “um caminhão da Funai buscava farinha produzida pelo povo Juma, a fim de promover o escoamento comercial do produto, quando um dos pneus foi atingido por duas balas. Os tiros vieram de uma região de mato fechado e o autor do disparo não foi identificado. Nenhum servidor, nem indígenas, foram feridos. O pneu foi trocado e a viagem seguiu rumo a Humaitá. Posteriormente, a Funai relatou a situação ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal”. 

Quando a denúncia é desmentida

Apesar dos recentes ataques aos indígenas há demora nas investigações dos casos e até desmentidos contra as denúncias deles. No ataque aos Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, o MPF não abriu um procedimento investigatório imediatamente sob a justificativa de era “um suposto ocorrido, sem confirmação de nenhum desses ataques”.  A Polícia Federal também não abriu investigação dizendo que “nenhum indivíduo procurou a polícia para ratificar as denúncias e auxiliar nas diligências”.

“Sendo que o local apontado como aquele em que os fatos teriam ocorrido não se encontra dentro da aldeia indígena, sendo uma propriedade contígua, sendo importante ressaltar que a Polícia Militar deu imediato atendimento à ocorrência”, declarou à PF em nota à imprensa nacional sobre o ataque, em 28 de outubro.

Procurado diversas vezes pela agência Amazônia Real, apenas no dia 28 de novembro, um mês depois do ataque,  o MPF do Mato Grosso do Sul confirmou o ato de violência contra os índios Guarani Kaiowá. “Realmente houve ataques aos indígenas. Porém, todos os procedimentos e autos judiciais estão sob sigilo no momento. Somente poderemos divulgar informações quando este sigilo for levantado”, disse a assessoria de imprensa. (Colaborou Kátia Brasil)

Os textos, fotos e vídeos publicados no website da Amazônia Real estão licenciados com uma Licença Creative Commons – Atribuição 4.0 Internacional e podem ser republicados na mídia com os créditos dos autores e da agência. Para acessar, compartilhar e baixar mais imagens desta reportagem, acesse nosso Flickr

FONTE: http://amazoniareal.com.br/indigenas-juma-ameacados-de-extincao-foram-atacados-a-tiros-no-sul-do-amazonas/?fbclid=IwAR2yXchtcBE4CV-X53MDSZ86nuIa9xT9qXMw0LsAtvwzaSL13F_5T8j_RNs


[1] http://amazoniareal.com.br/

Amazônia Real revela participação do governo de Rondônia na distribuição de lotes na terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau

Como parte das minhas pesquisas sobre os impactos das mudanças do uso da terra no processo de desmatamento em Rondônia a notícia abaixo é apenas uma triste repetição do que vem ocorrendo desde sempre contra o território demarcado dos Uru-Eu-Wau-Wau. Entretanto, as revelações que vão abaixo na reportagem produzida pelo site “Amazônia Real” não é menos grave, pois se confirma o que sempre também se soube, o fato de que as invasões em terras indígenas sempre contaram, contam e continuarão contando com a participação de pessoas que estão exercendo mandatos em diferentes esferas de governo em Rondônia.

Mas é interessante notar que a Ivaneide Bandeira e sua KANINDÉ continuam à frente do processo de resistência contra a destruição dos territórios indígenas em Rondônia. É que Ivaneide foi uma das pessoas que entrevistei como parte do meu trabalho de doutoramento entre os anos de 1995 e 1996.  Bom saber que ela continua na luta, quando tantos outros já a  abandonaram ou mudaram de lado.

Abaixo uma imagem minha  no início da década de 1990 na estrada secundária que termina justamente no início do território dos Uru-Eu-Wau-Wau.

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Secretária do governo de Confúcio Moura participa de distribuição de lotes na terra dos Uru-Eu-Wau-Wau

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Mary Braganhol (de óculos), que é a secretária-executiva da Agricultura (Seagri), e Hélio Gomes Oliveira, diretor da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental, participaram de reunião dentro de posto da Funai.

Os guerreiros Uru-Eu-Wau-Wau que foram investigar a grilagem e o desmatamento no oeste da reserva em Rondônia, independente de uma ação da Polícia Federal, descobriram, por meio de vídeos encontrados com extratores de madeira detidos por eles, que a secretária-executiva da Agricultura (Seagri), Mary Braganhol, e o diretor da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental (Sedam), Hélio Gomes Oliveira, ambos do primeiro escalão do governo de Confúcio Moura (PMDB), participaram de uma reunião no final de janeiro deste ano dentro do posto de vigilância da Fundação Nacional do Índio (Funai) em que houve a distribuição ilegal de lotes da Terra Indígena da etnia. Participaram da reunião mais de 50 pessoas, entre agricultores, madeireiros e grileiros, que invadiram a reserva.

As imagens em vídeos da reunião, que contou também com as participações do vice-prefeito do município de Ariquemes (RO), Lucas Follador, filho do deputado estadual Avelino Follador, ambos do DEM, e do correligionário do senador Acir Gurgacz (PDT/RO), foram entregues aos guerreiros no dia 19 de fevereiro pelo extrator de madeira Alexandre Alves Marques. Ele foi expulso pelos guerreiros Uru-Eu da terra indígena junto com outro madeireiro, Abel Carriel Erci.

A detenção de Alexandre e Erci pelos guerreiros foi filmada por representantes da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, que divulgou as imagens da ação dos guerreiros. No vídeo, a Kanindé colocou parte das imagens da  reunião onde aparecem os políticos de Rondônia no posto da Funai. Veja aqui.

Porta voz dos índios Uru-eu- Wau-Wau, Ivaneide Bandeira, coordenadora da Associação Kanindé, disse à reportagem que as imagens da reunião feitas pelo extrator de madeira foram enviadas à Funai, ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal na semana passada, junto com uma série de documentos relatando o histórico de invasões na reserva Uru-Eu-Wau-Wau. 

“Espero que a Funai tome providências. Eu acho que se a Funai não fizer nada, vai piorar. Os indígenas não estão com paciência. Agora eles estão conversando, reunindo todo mundo. Eu já comuniquei sobre isso para a Funai e para o MPF de Rondônia”, disse Ivaneide, que estima em cerca de 800 os invasores na Terra Uru-Eu-Wau-Wau. “Já teve cinco mil, mas acho que muitos foram embora depois das ações dos índios [na investigação]”, disse.

A Amazônia Real teve acesso à íntegra das imagens feitas pelo extrator de madeira Alexandre Alves da reunião dos políticos no posto da Funai e enviadas pela Kanindé à Polícia Federal. 

No vídeo a secretária-executiva da Agricultura (Seagri), Mary Braganhol, é chamada pelo apresentador da reunião, o radialista José Giovanni Basilio, da rádio Verde Amazônia, de Ariquemes, sob aplausos dos invasores da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Basilio foi um dos organizadores da reunião, junto com  Nelson Bispo dos Santos, presidente da Associação dos Produtores da Comunidade Curupira.

Na reunião no posto de vigilância da Funai, a secretária-executiva Mary Braganhol diz representar o governador Confúcio Moura (PMDB) e justifica a ausência do gestor. “O governador não está aqui, ele está num encontro de governadores [Fórum de Governadores da Amazônia] em Macapá (AP), mas ele passou pra nós a autonomia de falar”, diz a secretária.  A reportagem apurou que o Fórum aconteceu nos 26 e 27 de janeiro deste ano.

 

 

Na reunião no posto da Funai estava presente também o vice-prefeito de Ariquemes, Lucas Follador (DEM), conforme mostra o vídeo do extrator de madeira, Alexandre Alves. O vice-prefeito diz aos agricultores que está na reunião representando o deputado estadual Adelino Follador (DEM), seu pai. “No que puder ajudar, como vice-prefeito e representando o deputado, pode contar. Tenho contato muito bom com o Incra. (…) É uma luta muito grande. Queria me colocar à disposição como puder para ajudar as pessoas a produzir mais alimento para a cidade”, afirma o vice-prefeito.

O posto de vigilância da Funai, onde aconteceu a reunião com os políticos de Rondônia, fica num trecho da terra indígena invadido que é denominado “Área do Floresta”, por estar próximo ao rio do mesmo nome, ou apenas “Curupira”. Lá estariam acampados irregularmente entre 800 e 5.000 pessoas aguardando a regularização de lotes pelo Instituto Nacional de Colonização Reforma Agrária (Incra). 

A área fica no limite do Projeto de Assentamento Burareiro, criado nos anos 1970 pelo Incra, também dentro das terras do território Uru-Eu-Wau-Wau. O projeto é considerado ilegal pela Funai, que ingressou com uma ação que tramita na Justiça Federal desde a década de 70.

Promessa de legalizar o CAR

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Além do vídeo do extrator de madeira Alexandre Alves com as imagens da distribuição de lotes de terras da reserva Uru-Eu-Wau-Wau, a Amazônia Real  encontrou uma reportagem em vídeo produzido pelo apresentador do programa TV Brasil, José Giovanni Basilio, denominado “REUNIÃO” no posto da Funai.

No vídeo do programa TV Brasil, o Diretor da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental (Sedam), Hélio Gomes de Oliveira aparece na reunião explicando aos agricultores que buscam lotes de terras na reserva indígena como funcionam os trâmites para exploração de madeira.

“Precisamos avançar porque vocês já têm regularização ambiental [o CAR]. Agora precisamos de uma regularização fundiária, do documento da terra. Sem isso, a Sedam não consegue avançar, principalmente nas autorizações para exploração da madeira para o desmate. A Sedam está de portas abertas para atender a todos vocês, mas precisamos de documento. Não é uma questão da Sedam e do governo do estado impedir vocês. Precisamos ter documento. Não posso autorizar simplesmente com o CAR. (….) Vocês vão ter que ser assentados pelo Incra”, afirmou Oliveira. 

Em outro momento do vídeo “REUNIÃO”, um homem que se identifica como Zezão,  representante do senador Acir Gurgacz (PDT-RO), parabeniza as autoridades presentes na reunião no posto da Funai, e elogia o “empenho” dos agricultores. 

“É um lugar longe. Vejo que vocês todos estão empenhados em procurar o objetivo de vocês. Faz uns cinco anos que o Nelson [Bispo dos Santos] me procurou e contou a história de vocês. Peguei e intermediei com o senador Acir. A partir deste momento, ele tem ido a Brasília brigar por vocês”, afirma Zezão.

Na mesma reunião no posto da Funai dentro da reserva Uru-Eu-Wau-Wau, a agricultora identificada como Edna é chamada para falar pelo radialista José Giovanni Basilio. Ele diz que o posto da Funai, onde ocorre a reunião, é uma propriedade da mulher. “Quero chamar alguém que já faz parte dessa história, que eu já considero dona desta terra: dona Edna.”

Edna responde: “Estou com muita satisfação, estou feliz com essa reunião, com essa batalha, que essa é nossa terra. Vai ter muita reunião [no posto da Funai]. Estou muito feliz pela vida de cada um”. No que o radialista completa: “Esse povo quer trabalhar. Aqui tem castanha sustentando. Isso tudo foi mentira que tinha Polícia Federal queimando barraco”.

Radialista incita posseiros

Um outro vídeo produzido pelo apresentador José Giovanni Basilio, postado no dia 31 de janeiro de 2017 no Youtube, mostra uma reportagem feita pelo radialista dentro da Terra Uru-Ei-Wau-Wau, a qual ele denomina “Documentário do Projeto Rio Alto, localizado no município de Jorge Teixeira”.

José Giovanni diz que o litígio “vem se arrastando há 20 anos e [a terra ] já demarcada pelo Incra, mas por interesses de grandes políticos e fazendeiros até hoje nunca foi entregue aos verdadeiros selecionados na época pelo Incra por falta de ação dos governos estadual e federal e do próprio órgão concedente”.

O apresentador aparece no primeiro momento do vídeo dizendo-se surpreso com as instalações [que é o posto da Funai] e coloca em dúvida a origem do prédio, afirmando se tratar de “empresa mineradora”, numa tentativa de mostrar que o local não é território indígena.  

Em um determinado momento, ele fala:  “Escadaria feita de madeira bruta. Agora eu pergunto, quem fez isso aqui? O seu Nelson não sabe. Eu também não sei. (…) Aqui, a autoridade, mande investigar isso aqui”.

José Giovanni Basilio também faz um apelo às autoridades, chamando-as para visitar o prédio. “Senhor governador do estado, autoridades, meu amigo Brito [superintendente do Incra]. Esse povo trabalhador. Tem que entregar essas terras aqui. Tem até uma sede para o senhor vir aqui atender esse povo”. 

O homem entrevistado por José Giovanni Basilio no vídeo é Nelson Bispo dos Santos, presidente da Associação dos Produtores da Comunidade Curupira.  

Santos afirma que na área invadida há espaço para mil famílias. “Aqui foi um ponto para mil famílias. Estamos com 500 premiadas [loteadas], tudo com memorial descritivo do Incra dos lotes”, diz Santos, explicando como loteia as áreas dentro da terra indígena.

Durante conversa com Nelson Bispo dos Santos, José Giovanni questiona a presença de indígenas no território. Os dois travam o seguinte diálogo:

José Giovanni Basilio- “Seu Nelson, mas não era área de índio”? 

Nelson Bispo dos Santos – “Isso aqui nunca foi área de índio, sempre foi área de produtor. Ninguém sabe através de quem, vieram e tiraram todo mundo. A gente foi ver e correr atrás, e tudo a gente viu que isso aqui não tem nada a ver com área de índio. Até porque, não tem Uru-Eu.

José Giovanni Basilio – “Mas tem Uru-Eu-Wau-Wau em Rondônia?”

Nelson Bispo dos Santos – “Não, três que tinham aqui ‘era’ trazido do Espírito Santo”.

José Geovani – “É índio contratado”.

O radialista também entrevista alguns invasores da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Os agricultores falam com naturalidade, como se a área fosse de sua propriedade, e afirmam que retiram castanha da terra indígena para comercialização do produto. 

O radialista pergunta para um dos agricultores: “Ceará, o senhor tem terra aqui ou está catando castanha também?” Resposta do Ceará: “Rapaz, tenho tudo. Tenho terra, tenho pé de castanha, tenho tudo”.

No final do vídeo do apresentador do programa TV Brasil, ele fala com Zezão, homem que se diz representante do senador Acir Gurgaz. Zezão também participou da reunião no posto da Funai.

“Eu sempre ouvia falar [sobre o local]. (…) O senador vai empenhar e arrumar a documentação para cada um deles. (…) Vamos batalhar para normalizar tudo. Vamos fazer para o senador vir aqui, ouvir os anseios de cada um”, afirmou Zezão na entrevista.

Invasão sem fim

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Na reserva, os grileiros (pessoas que tomam posse de terras ilegalmente) abriram lotes de 100 hectares e passaram a comercializá-los por até R$ 20 mil com os invasores. A Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau foi homologada em 1991 pelo ex-presidente Fernando Collor, com 1.867.117 hectares. A reserva, que é sobreposta ao Parque Nacional de Pacaás Novos, é alvo da expansão do agronegócio no sul de Rondônia. 

Nos últimos meses, a invasão a TI se intensificou assim como os desmatamentos ilegais, as atividades de garimpo e de pesca predatória dentro do território dos índios. 

O caso foi denunciado à Superintendência da Polícia Federal, mas o órgão não agiu ainda no sentido de expulsar os invasores da reserva.

As invasões acontecem desde os anos 1970. O Incra expediu 122 títulos definitivos a agricultores no interior da TI Uru-Eu-Wau-Wau. Conforme o documento do Instituto Socioambiental (ISA), a Funai notificou o instituto e interditou a área, mas até hoje o problema não foi resolvido.

Na década de 1980, o Incra concedeu mais 113 títulos indevidamente na parte sul do Projeto Burareiro, localizado dentro da TI Uru-Eu-Wau-Wau, diz o documento do ISA. Apenas em 1985, o Incra reconheceu que o assentamento era inviável devido à falta de estradas de acesso. Mas não reassentou os titulados em outra região.

Sem a definição judicial para o litígio entre o Incra e a Funai, a ação relativa ao Burareiro está sendo usada de forma distorcida, segundo o ISA, por empresários e políticos de má fé dos municípios de Ariquemes e Monte Negro para incentivar a invasão à terra dos Uru-Eu-Wau-Wau.

Incra diz que terra é dos índios

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Procurado pela Amazônia Real, o superintendente do Incra em Rondônia, Cletho Brito, afirmou que a Associação dos Produtores da Comunidade Curupira, presidida por Nelson Bispo dos Santos, “pretende uma área de domínio que é da Funai” . Ele disse que a comunidade está localizada na Gleba Rio Alto, no setor Nova Floresta, que limita com o projeto de Assentamento Burareiro.

O superintendente do Incra afirmou que foi procurado por agricultores e pelo radialista José Giovanni Basilio e que confundiu as áreas, repassando informações sobre a situação fundiária do Assentamento Burareiro e não sobre a área requerida pela Associação dos Produtores da Comunidade Curupira. 

Brito encaminhou à reportagem um áudio com uma resposta que ele enviou ao deputado federal Lúcio Mosquini (PMDB/RO) sobre a questão e autorizou publicá-la.

“Quando o José Giovani me procurou, eu achava que se tratava do assentamento Burareiro, que está liberado [para assentamento]. Eu até gravei um vídeo dizendo que ia botar gente lá dentro para fazer regularização fundiária daquele povo. Ocorre que fui buscar mais informações com o chefe do Incra em Ariquemes, o Carvalho. Ele me disse ‘isso é fria, isso aí é Funai; a PF está fazendo levantamento para tirar todo mundo’.  Então, longe de mim, em área da Funai não quero conversa. Não tenho como fazer nada. Esta região do Curupira está totalmente dentro da Funai. Não vejo com bons olhos a regularização daquele local ou que a Funai venha a ceder”, afirmou Brito.

Segundo Cletho Brito, a Projeto de Assentamento Burareiro tem 1.550 parcelas (lotes), sendo que 105 estão na área em litígio com a Funai. Oitenta por cento desses 105 lotes já estão regularizados, segundo ele, atendendo decisão judicial de 2014. O PA Burareiro está localizado nos municípios de Ariquemes, Rio Crespo, Cacaulândia e Monte Negro, sendo que a maior parte está fora da terra indígena , restando o trecho referente aos 105 lotes em litígio. 

A Funai pediu na Justiça Federal a reintegração de posse da área da reserva indígena invadida por grileiros, mas, em outubro de 2014, o juiz federal Dimis da Costa Braga extinguiu o processo. Segundo a decisão, a Funai não conseguiu identificar “os atuais proprietários dos lotes que almejam ser cancelados”. A Amazônia Real apurou que o Ministério Público Federal já recorreu dessa decisão.

Procurada pela reportagem para falar sobre as invasões na TI Uru-Eu-Wau-Wa e sobre os vídeos mostrando a reunião dentro do posto de vigilância, a Funai respondeu que acionou os órgãos competentes para que atuem em colaboração com o órgão indigenista. “A Funai não tem o poder de atuar sozinha em ações de retirada de invasores de qualquer natureza, ou de combate ao crime”, diz a nota da assessoria.

A assessoria do Ministério Público Federal em Rondônia afirmou à reportagem que há inquéritos instaurados sobre a situação do território Uru-Eu, incluindo policiais, mas que o órgão não poderia fornecer detalhes. Segundo a assessoria, o MPF “está trabalhando bastante na questão”. 

A Polícia Federal foi procurada para se manifestar sobre o assunto, mas a assessoria não atendeu aos pedidos de entrevista ou respondeu as perguntas enviadas. 

O que dizem as autoridades do vídeo?

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Mary (de óculos) com autoridades na distribuição de lotes ilegais da reserva dos Uru-eu (Foto: Reprodução TV Brasil)

Procurada para responder sobre a participação da secretária-executiva da Agricultura (Seagri), Mary Braganhol, e do diretor da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental (Sedam), Hélio Gomes Oliveira, ambos do primeiro escalão do governo de Confúcio Moura (PMDB), na reunião no posto da Funai, a Superintendência Estadual de Comunicação do governo de Rondônia confirmou as presenças de Mary e Oliveira no encontro, mas  “como convidados”. O governo de Rondônia, contudo, não explicou o motivo da presença deles e nem informou os autores dos convites. 

Em nota enviada à reportagem, a Superintendência de Comunicação indica que a participação na reunião teve relação com a questão indígena. “Governo de Rondônia entende que as políticas públicas para a questão indígena estão restritas às ações da Funai e demais órgãos federais. No entanto, oferece sua colaboração quando solicitada. Os povos indígenas e a Funai sempre tiveram no Governo de Rondônia um espaço aberto ao diálogo”, diz o governo.

Governador fez elogio a Kanindé

Em seu blog na internet, o governador Confúcio Moura escreveu um texto elogioso às organizações não governamentais, fundações, igrejas e associações e citou Ivaneide Bandeira (Neidinha da Kanindé), entre outras pessoas, como se nada soubesse sobre a presença de invasores na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Ele descreve: “Neidinha da Kanindé, brigando dentro do mato contra invasores das reservas dos índios” (leia aqui)

O vice-prefeito de Ariquemes, Lucas Follador, foi procurado para informar sobre sua presença na reunião. Em nota, a diretora de comunicação social, Líbia Albuquerque, disse que a Prefeitura de Ariquemes por enquanto não irá se manifestar sobre o assunto. 

Na nota ela justifica: “Não há conhecimento, na íntegra, do conteúdo do vídeo, bem como não tem qualquer relação com o tema. A depender da data da filmagem, pode, ainda, ser de uma época anterior a posse de Lucas Follador como vice-prefeito do município, por isso, somente sua assessoria terá possibilidade de atender completamente a solicitação”. O assessor pessoal de Lucas Follador, Rickin Graeff, foi procurado por telefone e por email, mas ele não respondeu as perguntas da reportagem.

O senador Acir Gurgacz foi procurado na última segunda-feira (06), mas até a publicação desta matéria sua assessoria de imprensa não respondeu as perguntas enviadas sobre o assunto. 

O radialista José Giovanni Basilio foi procurado através de seu celular, mas ele não atendeu as ligações nem deu retorno ao contato feito pela rede social whatsapp.

A reportagem não conseguiu o contato de Nelson Bispo dos Santos.

O posto abandonado da Funai 

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O posto de vigilância da Funai dentro da TI Uru-Eu-Wau-Wau, onde os políticos acompanharam a distribuição e lotear da terra dos índios Uru-Eu, foi construído pela Energia Sustentável do Brasil S.A. (ESBR), concessionária da Usina Hidrelétrica Jirau, em 2013, como medida de compensação ambiental causada pela barragem no rio Madeira e nos impactos nas terras indígenas.

Segundo a assessoria de imprensa da Funai, o prédio ainda não foi “oficialmente entregue” pela empresa, por isso ainda não pode ser administrado pela fundação.

A assessoria da Funai disse que quando a empresa responsável finalizou a construção do posto de vigilância, o prédio passou por vistoria prévia, para o recebimento da obra. Segundo a assessoria, a vistoria foi realizada por engenheiro civil, que apontou itens que precisariam ser adequados, por não estarem de acordo com o projeto. 

“Depois que a Funai encaminhou o resultado da vistoria para a empresa, e antes que ela realizasse as adequações para que a Funai pudesse receber o imóvel oficialmente, o prédio foi ocupado, impossibilitando a continuidade do processo”, disse.  A Funai não esclareceu sobre que ocupação está se referindo e nem informou quando ou de que maneira o posto será considerado “entregue”.

A assessoria de imprensa da ESBR disse à Amazônia Real que o posto de vigilância na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau custou R$ 532.887,69. A obra, segundo a assessoria, foi concluída em janeiro de 2013, pronta para vistoria e entrega à Funai. A vistoria foi realizada pela Funai apenas em novembro de 2013 e que, segundo a assessoria, somente em janeiro de 2014, a ESBR recebeu um relatório da Funai, solicitando correções e adequações.

A empresa afirmou que a falta de trafegabilidade causada pela grande cheia do rio Madeira em 2014 permitiu que apenas a partir de abril daquele ano é que se pode analisar e iniciar as medidas orientadas pela Funai. “Em maio de 2015, foram finalizadas as adequações no Posto de Vigilância no valor de R$ 148.418,68″, afirmou a assessoria, em nota.

Conforme a assessoria, a ESBR tomou medidas para agilizar o processo de recebimento da estrutura, mas em setembro de 2015 soube que o posto havia sido invadido e depredado. “Toda a ocorrência foi apresentada para a Funai”, diz a nota.

“Em novembro de 2015, após ter o conhecimento de toda a situação do posto de vigilância, a ESBR recebeu da Funai a informação de que os serviços de adequação construtiva do Posto foram considerados satisfatórias”, concluiu a assessoria. (Colaborou Fábio Pontes, Kátia Brasil e Alberto César Araújo)

FONTE: http://amazoniareal.com.br/secretaria-do-governo-de-confucio-participa-de-distribuicao-de-lotes-na-terra-dos-uru-eu-wau-wau/