Bombeamento de minério do Minas-Rio causa mortandade de peixes em MG
Moradores de comunidades ribeirinhas de Conceição de Mato Dentro estão sendo diretamente afetados pela contaminação do córrego Passa-Sete
Após o primeiro bombeamento de minério de ferro do projeto Minas-Rio, que aconteceu no último domingo (24 de agosto) em fase de testes, centenas de peixes apareceram mortos no córrego de Passa-Sete, em Conceição de Mato Dentro (MG), local onde foi construída uma barragem de rejeitos (estrutura de terra para armazenar resíduos de mineração) pela empresa Anglo American. As cerca de 60 famílias que residem na comunidade de Água Quente, e que utilizam as águas do córrego de Passa-Sete para os afazeres domésticos e recreativos, estão sendo diretamente afetadas pelo suposto dano ambiental.
O grupo “Reaja” é formado por moradores de Conceição de Mato Dentro que denunciaram o problema à Promotoria de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais. Na última sexta-feira (29 de agosto), agentes do Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec/MG) coletaram amostras da água do córrego para serem analisadas a pedido do MP e da Secretaria de Meio Ambiente do município.
“Esse é um verdadeiro desastre ambiental! O cenário é desolador e está assustando todos os moradores locais, que nunca tinham testemunhado as consequências diretas de um dano desta magnitude”, afirmou o integrante do grupo Reaja, Lúcio Guerra Júnior.
No ano passado, a barragem foi concluída, mas as famílias de Água Quente continuaram utilizando o poço artesiano por precaução. No entanto, este ano, o poço secou e os caminhões-pipa enviados ao local não têm capacidade o suficiente para atender às necessidades de consumo da comunidade.
De acordo com Lúcio, há cerca de 20 dias, funcionários da Anglo American teriam informado às famílias de Água Quente que, com a construção e estabilização da barragem de rejeitos, a água do córrego Passa-Sete já estava em condições de uso, o que tornaria desnecessária a manutenção do fornecimento de água por meio de caminhões-pipa. Essa informação fez com que muitos moradores da comunidade voltassem a utilizar a água do córrego.
“A mortandade de peixes constatada na segunda-feira (25 de agosto) é um forte indicador de que a água do córrego Passa-Sete permanece imprópria para consumo humano e animal. Essa informação da suposta recuperação da qualidade da água caracteriza a irresponsabilidade da Anglo American, já que os moradores podem ter se descuidado no contato direto com a água”, disse Lúcio.
O grupo Reaja acredita que a barragem de rejeitos não teria contido as partículas de minério decorrentes do teste de bombeamento que aconteceu no domingo (24).
Além da comunidade da Água Quente, outras populações ribeirinhas do Passa-Sete podem estar sujeitas à mesma situação.
Sempre respeitando o princípio do contraditório e buscando as diferentes versões para um mesmo fato, o jornal Terceira Via entrou em contato por e-mail com a assessoria de imprensa da Anglo American, sem obter resposta. Ainda assim, o jornal aguarda e publicará versão da empresa para este fato.
Minas-Rio
Como parte do cronograma de testes, na última segunda-feira (25) a empresa Anglo American anunciou a chegada ao Porto do Açu da primeira polpa de minério bombeada por meio do mineroduto de 529 km e provenientes da mina e da planta de beneficiamento, em Minas Gerais.
O Minas-Rio ainda está em fase de obras e atingirá, em sua primeira fase, uma capacidade de produção de 26,5 milhões de toneladas de minério de ferro. O empreendimento inclui uma mina de minério de ferro e unidade de beneficiamento em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas, em Minas Gerais.
Esse será o maior mineroduto do mundo, atravessando 32 municípios mineiros e fluminenses e o terminal de minério de ferro do Porto de Açu, localizado em São João de Barra.
FONTE: http://jornalterceiravia.com.br/noticias/pais/54624/
