
Ao longo das últimas semanas temos assistido a um esforço basicamente caricatural do neoPT de mostrar Dilma Rousseff como uma opção à esquerda de Marina e Aécio Neves. Pensando bem, se o neoPT não estivesse tão enrolado com alianças tão estapafúrdias quanto espúrias, esse esforço não estaria sendo necessária. É que tanto Marina quanto Aécio não possuem o mínimo de densidade eleitoral para representar uma ameaça séria à reeleição de Dilma.
O problema é que o neoPT se acostumou tanto ao usufruto do aparelho de Estado que dispensou a existência de uma militância genuína, resumindo-se a um partido que ainda vive do que um dia poderia ter sido em termos de um projeto de mudança estrutural da sociedade brasileira. O neoPT hoje apenas compete para ser o melhor gestor do Estado para as forças oligárquicas com as quais governa. O problema é que mesmo as migalhas que o neoPT oferece aos pobres são uma séria afronta aos seus parceiros de alianças, e o resultado disso é essa situação esquizofrênica que vivemos na atual campanha eleitoral.
Mas apesar de todos os esforços de mostrar uma aparência minimamente de esquerda esbarra nas escolhas práticas que Dilma e o neoPT fizeram ao longo do atual mandato presidencial. E não há nada mais explícito desta guinada para a direita do que o abandono da implementação da reforma agrária nas áreas rurais e urbanas em prol de alianças com latifundiários agroexportadores e incorporadores imobiliários.
É que na questão da terra, queiram os ideólogos do neoPT ou de setores mais à direita, reside o nó da perpetuação das colossais diferenças que existem no Brasil. Não adianta nada vir com a conversa fiada da redução da miséria absoluta, pois a diferença entre esta e a miséria acima do 1,00 dólar por dia é meramente estatística. Para os que vivem em torno dessa linha imaginária, a vida continua sendo dura e muito dura. O fato é que enquanto perdurar a concentração da terra no campo e na cidade, o Brasil será um país pré-moderno, onde o massacre do povo pobre, majoritariamente negro, continuará sendo a marca real da nossa sociedade, em que pesem as propagandas eleitorais.
Por outro lado, a atual prostração do MST frente às políticas anti-reforma agrária do neoPT é algo a se lamentar profundamente, não apenas porque evidencia uma crise estrutural no principal movimento social existente no Brasil, mas porque esta crise representa um congelamento objetivo da ação dos camponeses pobres, tornando-os, por outro lado, presas mais fáceis da ação das oligarquias agrárias e das corporações multinacionais.
De todo modo, é importante notar que a ação prática da juventude e dos trabalhadores está ocorrendo, em que pese a tentativa explícita de chantagear quem resiste como sendo agentes da direita. A verdade objetiva é que quem se aliou com a direita e os setores mais atrasados da sociedade nacional foi o neoPT sob a batuta de Lula. E tanto faz o esforço de atacar quem se nega a adesão com rótulos desclassificantes. É que não há Beth Carvalho ou Chico Buarque de Holanda que possam conter o percurso da história. Simples assim.
Finalmente, para encerrar, uma pergunta singela à “presidenta”: cadé a reforma agrária, Dilma? Só não pode me mandar perguntar para a nova “amigona” Kátia Abreu. Ai já seria muita sacanagem!