
A mídia corporativa local anunciou nos últimos dias a realização do “I Festival do Abacaxi” de São João da Barra. A matéria produzida pelo site “Ururau” teve até espaço para uma declaração curiosa do prefeito Neco que teria declarado que “a cultura do abacaxi cresce a cada dia em São João da Barra, principalmente no quinto distrito, e a administração municipal caminha ao lado do produtor rural incentivando e prestando todo apoio necessário. Os investimentos no setor agrícola continuarão a serem feitos para que os resultados sejam cada vez melhores” (Aqui!). Essa declaração é, no mínimo, curiosa já que a desapropriação de cerca de 7.500 hectares de terras onde o abacaxi era uma das culturas âncoras, e como não assisti nenhum aumento nas áreas restantes que compensasse o que foi tirado da agricultura familiar para beneficiar Eike Batista e seu conglomerado de empresas pré-operacionais, essa declaração de Neco parece ser um tanto descolada da realidade. Terra essa hoje que repousa nas mãos da corporação multinacional EIG Global Partners, diga-se de passagem.
O verdadeiro quadro no V Distrito está muito distante dessa realidade rósea que a prefeitura de São João da Barra tenta pintar com a realização desse festival. O fato é que os agricultores que teimam em continuar trabalhando para produzir alimentos agora estão pagando caro para arrendar terras, o que aumenta os custos sem que haja qualquer apoio para seja agregado valor para aumentar a lucratividade da produção. É até penoso ouvir a narrativa desses agricultores em relação ao suplício que sua labuta na agricultura, pois um número significativo deles continua esperando algum tipo de apoio oficial, inclusive para que se acelere o pagamento das compensações devidas pela expropriação de suas terras.
Assim, o verdadeiro festival do abacaxi de São João da Barra foi promovido por Eike Batista que usou dos seus contatos para expropriar terras produtivas e construir um grande latifúndio improdutivo em terras de agricultores humildes que tiravam da areia toneladas de alimentos todos os anos sem muito apoio oficial, diga-se de passagem.
E nunca é demais lembrar que está em curso um processo de salinização que pode ameaçar o que restou de área livre para a prática da agricultura! Aliás, com a volta das chuvas esse processo deverá mostrar seus efeitos nas áreas em que a cultura ainda é pratica. Assim, em vez de fazer um festival “fake” do abacaxi, o que a prefeitura de São João da Barra deveria estar fazendo era monitorar o andamento desse processo de contaminação ambiental. Bom, ai já é pedir demais de quem vende a imagem de que o Porto do Açu é a salvação da lavoura, não é?
Por essas e outras, é que no melhor estilo do Chacrinha, a prefeitura de São joão da Barra deveria receber o “troféu abacaxi” pelo tratamento dispensado aos agricultores desapropriados no V Distrito!