As pessoas mais educadas do ponto de vista formal tendem a ter sempre um olhar condescendente para os que tiveram acesso a mais anos de educação formal. A minha experiência nas áreas rurais mostra que esse é um engano grave. Tomemos, por exemplo, as recentes publicações científicas que dão conta que a ingestão de produtos contaminados com agrotóxicos podem ter efeitos deletérios sobre a saúde humana.
Pois bem, desenvolvo pesquisas sobre o uso de agrotóxicos há pelo menos uma década. Durante esse período já tive várias oportunidades em que os agricultores me ofereceram parte da produção como presente. E invariavelmente eu pergunto porque os que está me sendo oferecido parece menor e menos atrativo esteticamente do que o que está na roça voltada para o mercado. A resposta que recebi foi sempre a mesma: essa aqui é para eu e minha família comermos, aqueles lá na roça são para vender.
Essa constatação poderia soar uma constatação de que os agricultores só se preocupam com o que vão comer, e não com o que vão vender. Mas olhando de perto a forma que os produtos são cultivados e manuseados, fica fácil saber a razão dessa lógica que aparenta descompromisso. É que o grosso dos agrotóxicos que são usados vão ficar nos solos, água e nos próprios agricultores, trazendo pesados custos sociais, econômicos e ambientais. Pelo menos ao não comer frutos que intuem estarem contaminados (corretamente na maioria das vezes), os agricultores estão apenas minimizando seus próprios riscos. Alguém vai querer condená-los?
