Porto do Açu: prova cabal de que a internacionalização da economia via “enclaves” só beneficia as corporações

Grabado-de-Braun

Ontem (16/06) tive uma oportunidade avantajada de ouvir um dos principais pensadores acerca da questão do desenvolvimento econômico regional do Norte Fluminense em uma banca examinadora de um projeto de dissertação de mestrado de um dos meus orientandos. Estou falando do professor José Luis Vianna da Cruz que gentilmente atendeu o meu convite para participar desse rito de passagem acadêmico.

A partir das interessantes observações que ouvi do Prof. Vianna da Cruz, me pus a pensar sobre qual é efetivamente o problema com toda a antecipação em torno das potencialidades que o Porto do Açu possui para alavancar o desenvolvimento econômico do Norte Fluminense. A primeira reação que me vem à cabeça é de que o problema é que, dado o formato de enclave que o empreendimento efetivamente possui, as possibilidades de haver uma dinamização positiva da economia e, por extensão, dos indicadores sociais vigentes, são mínimas.

É que o Porto do Açu está tomando cada vez mais um formato de criar uma ilha de geração concentrada de renda que já ocorre em outras partes do mundo, onde os custos sociais e ambientais são tratados como externalidades pelos empreendedores. Em suma, os donos dos enclaves que existem pelo mundo afora vivem no cume da pirâmide globalizada,  e deixam para as populações locais todos os ônus sociais e ambientais que são causados pelo funcionamento de seus megaempreendimentos.

Outro aspecto que resulta dessa vinculação subalterna dos países da periferia do capitalismo que “hospedam” esses enclaves é que o Estado-Nação passa a ser uma espécie de gerente dos interesses corporativos globalizados, e os ocupantes dos diferentes níveis de governo se ocupam apenas de capturar as migalhas que são disponibilizadas em troca de sua ação diligente contra os segmentos da população que são vistos como obstáculos ao pleno estabelecimento do enclave. 

Quem se der ao trabalho de visitar as diferentes localidades que existem no V Distrito de São João da Barra e que deveriam estar vivendo um boom de crescimento econômico descobrirá que, longe da propaganda oficial e corporativa, o que se vê é um processo de estagnação, e mesmo de regressão, econômica. Assim, toda a pujança que noticiam estar ocorrendo no Porto do Açu fica para dentro da porteira. E o pior é que o acúmulo de deméritos sociais e ambientais sobra para fora daquelas cancelas protegidas, o que apenas muda para pior a vida da maioria dos habitantes históricos daquele território.

A boa notícia em meio a todo esse cenário desolador é que há um crescente processo de conscientização de que o futuro para ser melhor não poderá depender do que acontece dentro do enclave. Poder não ser muito, mas já é uma excelente notícia. Afinal de contas, pessoas conscientes são capazes de transformar a sua própria realidade. 

 

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