A Uenf virou a universidade onde tudo tem que terminar em pizza? Eu, discordo!

Fotos aéreas da Universidade Estadual do Norte Fluminense ( UENF ) e da Casa de Cultura Villa Maria. Foto: Paulo Damasceno / FOTON

Os professores da Uenf possuem uma lista eletrônica de e-mails que faz muitos anos se transformou numa espécie de termômetro do ânimo e disposição reinantes frente a tudo o que se possa imaginar, desde o acadêmico até o futebol de botão.  Como aqui neste blog sempre participo das discussões que ocorrem na lista, pois julgo que a disputa de ideias é da natureza do meio acadêmico.

Por força da forma com que eu manifesto na lista e ajo dentro do cotidiano da Uenf, eu diria que muitos colegas professores não se alinham com que eu penso e faço.  Até ai nada demais, pois não peço permissão ou, tampouco, proíbo as pessoas de seguirem as suas convicções. É parte do processo democrático mais rudimentar que se possibilite a apresentação de visões diferentes, quiçá dentro de uma universidade.

Recentemente um jovem professor enviou uma mensagem após uma intensa troca de mensagens que mantive com um terceiro professor acerca de questões relacionadas ao processo eleitoral em curso na Uenf.  A mensagem do jovem professor, talvez formulada na linha de uma piada, convidava a mim e ao professor para nos reunirmos em torno de uma pizza para resolvermos nossas diferenças.

A minha reação à provocação do meu jovem colega e que compartilho com os leitores deste blog foi de que não vejo minhas diferenças de opinião com outros professores, especialmente aqueles alinhados com o grupo que controla a reitoria da Uenf desde 2003, como algo que se resolve com o consumo de uma pizza.  É que, ao menos para mim, estas diferenças não são pessoais, mas essencialmente políticas.

E quando falo políticas, não reduzo a questões pueris do varejo cotidiano. Eu me refiro a uma disputa de modelos de universidade que se explicita em várias dicotomias, tais como pública x privada, democrática x autoritária, socialmente responsável x regida pelos interesses do mercado. E para isso não há pizza que resolva, e há sim que se optar claramente por qual modelo se deve procurar construir a “Universidade do Terceiro Milênio” exigida em abaixo-assinado público pela população de Campos dos Goytacazes, e desenhada por Darcy Ribeiro.

A Uenf vem sofrendo um processo de definhamento acadêmico, administrativo e científico nas mãos do grupo que controla atualmente a reitoria. Retirar do poder um grupo que controla um orçamento maior que muitas prefeituras brasileiras não será fácil, pois quem tem a máquina nas mãos, sempre tem poder. Mas é justamente por isso que os debates que estão ocorrendo não podem ser reduzidos a questiúnculas pessoais, ainda que apareçam desta forma em alguns momentos.

A hora para a comunidade universitária da Uenf é de se recusar quaisquer convites para que as diferenças de modelo institucional sejam resolvidas com uma pizza. Senão qual será o nosso destino institucional,  senão de ser uma universidade onde tudo começa e termina em pizza!? E até em respeito aos contribuintes que sustentam a Uenf, especialmente os mais pobres e sofridos, eu acredito que a hora é de recusar a pizza e passar a Uenf a limpo.  Antes que seja tarde demais para impedir sua completa falência intelectual e moral.

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