Aos que querem mudanças reais no Brasil, o resultado da votação ocorrida na Câmara de Deputados deverá valer menos pelo resultado, mas mais do que aprendemos sobre a composição deste congresso e do pensam (pensam?) os seus membros.
A partir da permissão de que Eduardo Cunha, dada de forma explícita pelo Supremo Tribunal Federal é preciso que se diga, tocasse o impeachment da melhor maneira que lhe interessasse, o resultado já estava mais ou menos definido.
Agora, o que não estava escrito em nenhum lugar foi o show de nonsense que emergiu de bocas famosas como Jair Bolsonaro, Paulinho da Força e Marco Feliciano, e de outras nem um pouco famosas que só aprendemos quem é a figura se procurarmos pela ficha corrida da mesma.
Aos que estão em choque ao ver o que pensam os que apoiaram o golpe parlamentar para encurtar o mandato de Dilma Rousseff, eu aconselho a ver o que acontece na sua Câmara de Vereadores ou na Assembléia Legislativa do seu estado. A coisa é igual ou pior, e a explicação para essa é a mesma: a maioria que está lá o conseguiu a partir de campanhas milionárias, algumas vezes das mesmas empresas que alimentam os esquemas que eventualmente são apurados na polícia, e raramente são punidos na justiça.
A verdade nua e crua, e principal lição do dia de ontem, é que esse parlamento, a começar pelas figuras caricatas que soltaram voz ontem em Brasília, representa a reprodução mais fiel do que pensam as elites oligárquicas do Brasil, sem tirar nem por. A verdade é que por detrás do refinamento aparente, o que existe é o antigo latifúndio escravocrata que se recusa a tornar o Brasil um país minimamente moderno e democrático.
Agora, passado o frenesi da aprovação, o que essas mesmas elites que se utilizaram dessas figuras caricatas precisam entender é que todos os planos de ataque trazem consigo outro de reação. E como eu sempre disse desde o início, todo esse jogo está sendo jogado sem combinação prévia com os russos, quer dizer, os pobres. E como não vivemos mais numa sociedade rural dominada pelos senhores de escravos, há sempre espaço para imponderável que escape ao script que está traçado nas mansões e corredores do poder. A ver!