A visita oficial do ator (?) Alexandre Frota ao ministro da Educação do governo interino de Michel Temer, o deputado federal José Mendonça Bezerra Filho (DEM/PE), deixou muitos professores literalmente revoltados. Pressinto é que essa revolta tem a ver com o fato não apenas de que Frota é uma pessoa completamente estranha aos debates sobre a educação nacional, mas pelo fato dele ser mais conhecido pelas suas tiradas chauvinistas e homofóbicas do que por sua erudição de botequim.
Particularmente tenho a dizer que essa visita é o de menos para mim. É que afora o fato da visita chancelar a mais vívida expressão das ideias retrógradas dos partidos e grupos que se apropriaram do poder em Brasília, considero que há muito mais coisa efetivamente pior acontecendo em nosso sistema educacional neste momento.
Não falo aqui da destruição física das escolas, dos casos de corrupção como no caso da máfia da merenda em São Paulo, nem a desmoralização dos profissionais da educação que, ano após ano, são desconsiderados por todas as esferas de governo. O fato é que o sistema educacional brasileiro passa hoje por um profundo ataque no que é mais básico, a liberdade de ensinar.
Um exemplo disso é a lei recentemente aprovada pela Assembleia Legislativa de Alagoas que prevê punições e demissões para profissionais que sejam caracterizados como difundindo ideologias partidárias e fazendo algum tipo de proselitismo anti-religioso (Aqui!). Como professor de uma disciplina que ensina a evolução geológica da Terra, sei que a generalização desse tipo de legislação criaria barreiras graves para comparar o que fala a ciência e o que difundem alguns sectos religiosos. Mas existem casos ainda mais tensionados, a começar pela questão da evolução das espécies que foi estabelecida por Charles Darwin.
O que está realmente em jogo é o desenvolvimento de formas modernas de conhecimento em pleno século XXI. A estas alturas já temos comprovação científica suficiente para desmentir qualquer concepção que postula a possibilidade de qualquer ato humano, inclusive o de ensinar e aprender, possa ser destituído ideolígico. Negar isso no atual contexto histórico só serviria para colocar o Brasil num ciclo quase inescapável de atraso científico e tecnológico.
Então me perdoem os que estão tão irritados com a visita de Alexandre Frota ao ministro Mendonça Filho. O risco que corremos neste momento é mais grave do que um problema de mensageiro. Há que se concentrar na mensagem que ele nos traz. E, no caso de Frota, e seus companheiros do “Revoltados Online” a proposta é de que voltemos para o Século XV. E o pior é que tem gente no ministério interino de Temer que quer voltar para séculos anteriores. E durma-se (ou não) com um barulho desses.