Remoções e poluição da Baía da Guanabara: duas faces da moeda olímpica

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Com o megaevento do Comitê Olímpico Internacional (COI) ainda em seus primeiros dias, há um confronto retórico sobre o que seria o legado dos Jogos Olímpicos sobre a cidade e, principalmente, sobre a maioria de sua população.  

Felizmente para que não fiquemos neste debate dependendo de velhos clichês como o do “complexo de vira lata”, uma rica literatura já existe para que possamos sair do senso comum. Eu mesmo acabo de receber duas obras publicadas pelo Mórulo Editorial, com apoio da Fundação Heinrich Böll, que se colocadas juntas mostram que certos aspectos são indissociáveis de forma precisa e apoiada em dados objetivos da realidade.

Falo aqui da política sistemática de remoções nas áreas afetadas pelos megaeventos esportivos, começando pelos Jogos Panamericanos de 2007, passando pela Copa Fifa de 2014, e chegando nos Jogos Olímpicos de 2016.  Como bem mostram Lucas Faulhaber e Lena Azevedo na obra “Remoções no Rio de Janeiro Olímpíco”, a política de remoções faz parte de um processo sistemático de desrespeito aos direitos humanos que aprofunda o processo de segregação sócio-espacial e de desigualdade social.  É que, ao mesmo tempo que se removem os pobres, há um processo de investimento de capitais que valorizam as áreas de onde eles foram removidos, numa dança combinada entre agentes do Estado e os especuladores que se enriquecem com a apropriação dos melhores setores da cidade do Rio de Janeiro.

Essa atuação sistemática do Estado para remover populações pobres tem seu complemento numa atuação igualmente organizada de não cumprir compromissos na área ambiental que terminam novamente impactando os mais pobres.  Essa outra face da moeda é mostrada por Emanuel Alencar no seu “Baía de Guanabara, descaso e resistência” também publicado pela Mórula Editorial com apoio da Fundação Heinrich Böll.   A partir do que Emanuel Alencar nos mostra é possível ver que a manutenção do processo de degradação ambiental da Baía da Guanabara não é por falta de investimentos, mas por uma política sistemática de não dar continuidade a ações básicas, como a conexão das redes de coleta de esgotos, que termina punindo diretamente os que mais dependem daquele ecossistema, os pescadores artesanais.

O fato é que não há como se debater de forma minimamente séria o tal do “legado olímpico” se não conectarmos essas duas faces do problema. É que remover os pobres para regiões remotas do município do Rio de Janeiro e manter a Baía da Guanabara poluída tem como efeito uma maior acumulação de riqueza em poucas mãos.

Para os interessados em adquirir essas duas obras, basta clicar (Aqui!)

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