E a coisa pode piorar ainda mais com Jair Bolsonaro e seu chanceler cético!

Por uma das muitas obrigações que acompanham a vida de docente (que é o de autor como revisor de artigos em revistas reguladas pelo sistema de revisão por pares) acabei de ler um artigo sobre a necessidade de novos modelos de gestão integrada de regiões costeiras em face das mudanças climáticas globais.
A partir dessa leitura me pus a refletir sobre a condição frágil em que se encontra o Brasil, que possui em torno de 7.500 km de litoral, no processo de planejamento para enfrentar não apenas a ameaça global das mudanças climáticas globais, mas também as que ocorrem no plano local onde a inexistência de planos estaduais de gerenciamento costeiro para a maioria dos 17 estados que possuem áreas costeiras. E isso mesmo levando em conta que pelo menos 23% da população brasileira vive em cidades costeiras, e uma porção ainda maior em regiões próximas ao mar como é o caso da cidade de São Paulo e sua região metropolitana.
No plano local, o que temos é o completo descontrole em termos de fontes de poluição pontuais e não pontuais e da ocupação de áreas pela especulação imobiliária que deveriam estar sendo resguardadas para a proteção da faixa mais próxima do oceano. A cidade do Rio de Janeiro e seu entorno são belos exemplos de como fragmentos de vegetação importantes como as de restinga e manguezais têm sido eliminados de forma imprevidente.
No plano regional temos ainda a ocorrência de danos graves em várias hidrográficas importantes como as do Paraíba do Sul e do Doce, onde seguidos incidentes industriais destruíram os ecossistemas existentes ao longo das calhas principais e também na região deltaica desses rios.
Mas talvez seja na preparação para as mudanças globais que a carência de qualquer nível sério de preparação talvez venha a nos custar muito, tanto em termos econômicos como de vidas humanas. Por exemplo, enquanto a União Europeia possui planos avançados de como se preparar para as inevitáveis mudanças que ocorrerão em função das alterações, o Brasil passou os últimos anos sem que fossem feitos os progressos necessários para nos preparar para situações climáticas que serão muito diferentes das que experimentamos hoje.
Para piorar o que já é ruim, temos agora uma grave indefinição em relação a quem será o futuro ministro do Meio Ambiente, ou sequer se haverá um Ministério do Meio Ambiente, do governo Bolsonaro. A essa indefinição é acrescentada uma visão ideológica de que a proteção ambiental é ruim para os negócios, nos mesmos moldes de que vigiam no início do Século 19. Para piorar, ainda há o ceticismo climático que se torna evidente toda vez que o presidente eleito e seu futuro ministro das relações exteriores abrem a boca.
O problema é que se o cenário que se abre a partir de Jair Bolsonaro já traz preocupações óbvias sobre a condição e a integridade dos biomas florestais, o mesmo não pode ser detido sobre o gerenciamento das nossas regiões costeiras. Ironicamente será nas cidades costeiras que os problemas dessa negação da proteção ambiental se manifestarão na forma de aparentes catástrofes , de naturais não terão nada.
Felizmente não nos faltam bons pesquisadores com conhecimento suficiente sobre o que precisa ser feito para se minimizar as mudanças que estão vindo. Agora, se não houver mobilização dentro e fora das universidades e institutos de pesquisa, todo esse conhecimento será sufocado por falta de verbas e perseguições políticas.
Então, aproveitando e ajustando o que está no hino francês…. às ruas, cidadãos!