Seguindo o mesmo padrão crítico adotado pelo “The Washington Post”, o jornal “The New York Times” publicou um artigo assinado pelo seu Conselho Editorial com pesadas críticas ao início do governo Bolsonaro que foi apresentado em tons bastante críticos, notando principalmente as idas e vindas do presidente.
O editorial com com um alerta sobre a enxurrada de decretos de extrema-direita que têm o potencial de minar as proteções ao meio ambiente, os direitos de terras indígenas e o governo da comunidade L.G.B.T, colocar as organizações não-governamentais sob monitoramento do governo e purgar os contratados do governo que não compartilham sua ideologia.
A importância deste artigo é ainda maior quando se considera a situação política dentro dos EUA onde o governo Trump, aliado de primeira escolha de Jair Bolsonaro, sofre um processo de judicialização muito semelhante ao que ocorreu com Dilma Rousseff. Ao eleger Donald Trump como seu aliado preferencial, Jair Bolsonaro parece ter atraído para sí parte da fúria que é destinada ao presidente estadunidense.
Jair Bolsonaro assume o poder. Com uma vingança.
Sua presidência começa de forma instável no Brasil.
Pelo Conselho Editorial do “The New York Times”
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Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, em cerimônia para o novo comandante naval do país.CreditCreditAdriano Machado / Reuters
Mal Jair Bolsonaro tomou posse como presidente do Brasil no dia de Ano Novo, ele soltou uma enxurrada de decretos de extrema-direita, minando as proteções ao meio ambiente, os direitos de terras indígenas e o governo da comunidade L.G.B.T, colocando as organizações não-governamentais sob monitoramento do governo e purgando os contratados do governo que não compartilham sua ideologia. Essas ações emocionaram Donald Trump, que twittou com entusiasmo: “Parabéns ao presidente @JairBolsonaro que acaba de fazer um grande discurso de posse – os EUA estão com você!”
O Sr. Bolsonaro devolveu o amor, twittando de volta: “Juntos, sob a proteção de Deus, vamos trazer prosperidade e progresso para o nosso povo!
“As ações de Bolsonaro foram um desempenho triste, mas não inesperado, do novo líder do Brasil, ex-oficial militar cujos 27 anos no Congresso brasileiro foram notáveis apenas por insultos grosseiros a mulheres, minorias sexuais e negros. Um bom criminoso é um criminoso morto”, declarou repetidas vezes; prometeu enviar “bandidos vermelhos” para a prisão ou o exílio, dedicando seu voto a impugnar a ex-presidente Dilma Rousseff ao oficial militar responsável por sua tortura sob a antiga ditadura militar.
Nada disso parecia importar para os eleitores trabalhando sob um colapso econômico, uma onda de criminalidade e um escândalo de corrupção que minou qualquer fé no establishment político. A promessa de mudança de Bolsonaro, qualquer mudança, foi suficiente para levá-lo ao poder com 55% dos votos em outubro. A linguagem de seu discurso inaugural – “Eu venho antes da nação hoje, um dia em que as pessoas se livraram do socialismo, a inversão de valores, estatismo e politicamente correto” – foi música para os ouvidos de sua base reacionária, investidores e Sr. Trump, que compartilha seus valores e sua arrogância. O mercado de ações subiu para recordes e o real se fortaleceu em relação ao dólar.
Mas atacar as minorias e fazer promessas grandiosas só serviram até agora para compensar a falta de competência governamental ou um programa coerente. Na primeira semana da presidência de Bolsonaro, os mesmos investidores e oficiais militares que celebravam um presidente reacionário também receberam motivos para dar uma pausa. Enquanto seu ministro da Economia, Paulo Guedes, economista neoliberal educado na Universidade de Chicago, que ensinava economia no Chile durante a era Pinochet, prometeu reformar o pesado sistema previdenciário brasileiro, Bolsonaro fez comentários improvisados sugerindo uma idade mínima de aposentadoria bem abaixo de sua a equipe estava ponderando.
Ele também alarmou vários grupos de interesse quando, ao contrário dos compromissos de campanha, falou de impostos crescentes e quando questionou uma proposta de parceria entre a Embraer e a Boeing, e quando sugeriu que permitisse uma base militar americana em solo brasileiro. Seu chefe de gabinete disse que o presidente estava “errado” com o aumento de impostos, as ações da Embraer despencaram e os generais foram declarados como estando infelizes.
O Sr. Bolsonaro está apenas começando o seu governo. Como ele ganhará força, com a memória da ditadura militar ainda forte, em muito dependerá da capacidade das instituições brasileiras para resistir ao seu ataque autocrático. Muito também dependerá da capacidade de Bolsonaro de realizar reformas econômicas extremamente necessárias. Esse teste começa em fevereiro, quando o novo Congresso se reúne – o presidente comanda apenas uma coalizão instável de vários partidos, e ele deverá encontrar forte oposição às suas reformas. Um ano importante começou para o Brasil.
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Este editorial foi originalmente em inglês [Aqui!]