Ontem o julgamento do acusado de ser o mandante do assassinato do assentado e importante liderança da agricultura familiar do Norte Fluminense terminou com o veredito de inocência.
Não tenho como opinar sobre como se deu o julgamento porque não estava na sala do juri, mas acho peculiar que o juri tenha levado em torno 25 minutos para absolver um réu para um caso que levou longos seis anos para ser julgado.
Tamanho descompasso entre a ligeireza do júri e a lerdeza da justiça de levar o acusado a julgamento é, por outro lado, típico de um sistema onde os pobres definitivamente não possuem o mesmo sistema de garantias que os mais abastados.
Interessante notar que se o acusado de ontem foi inocentado, caberão dois desdobramentos para o caso do assassinato (pelas costas) de Cìcero Guedes: a polícia reiniciar as suas investigações que o júri considerou equivocadas ou a busca de correção da decisão de ontem em segunda instância.
Desconfio que o caminho a ser tomado (caso seja possível) é o da busca de correção da decisão do júri em segunda instância. Até lá, fica evidente que não há como achar natural que um caso tão rumoroso continue em aberto, sem que o culpado ou culpados sejam devidamente punidos pelo assassinato de Cícero Guedes.
Em justiça à memória do Cícero, esse caso não pode ficar jogado pelas calendas como se a vida e a luta dele não tivessem o significado amplo que tiveram. Deixar o assassinato sem a devida punição será incentivar a continuação do extermínio físico de todos aqueles que, partindo da origem e condições de vida em que Cícero viveu, ousaram e ousam sonhar por um país que não seja tão cruel com os pobres.
E esse país que seja mais justo e menos desigual requer a realização de uma ampla reforma agrária que possa iniciar as necessárias transformações estruturais que o Brasil demanda para almejar ser uma Nação livre e soberana.
Cícero Guedes, presente!