Abatido por inconsistências em seu currículo, caiu Carlos Alberto Decotelli, o brevíssimo ministro da Educação de Bolsonaro

decotelli demissão

Após míseros 5 dias como ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli apresentou seu pedido de demissão (pedido este que foi rapidamente aceito pelo presidente Jair Bolsonaro), após ter seu currículo acadêmico reduzido a pó por causa de uma série de adições indevidas, a começar por um inexistente título de Doutor pela Universidade Nacional de Rosário.

O caso Decotelli não é apenas um embaraço pessoal, mas para todo o governo Bolsonaro, especialmente para o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado pelo general da reserva Augusto Heleno, que falhou miseravelmente na tarefa básica de checar a veracidade do currículo de um candidato a ocupar um ministério em que os dois ministros anteriores (Velez Rodriguez e Weintraub) já causaram graves danos ao seu funcionamento.

Mas os problemas causados pela colocação de uma pessoa contumaz em, digamos, embelezar seu currículo acadêmico vão além dele e do governo ao qual ele breve pertenceu em duas coisas ocasiões (lembremos que Decotelli também ocupou rapidamente a presidência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)). 

É que ao cair por ser associado à, no mínimo, ao enriquecimento indevido de currículo, Decotelli também prejudica diretamente os esforços para garantir o acesso de afro-brasileiros a cargos chaves no Brasil.  É que efetivamente existem pouquíssimos afro-descendentes em postos de comando, e quando um consegue chegar logo é abatido por motivos que efetivamente não contribuem para que outros possam ser alçados a cargos de poder, em função do racismo sistêmico (ou estrutural) que existe em nosso país.

Um detalhe correlato, e que não passará despercebido por quem luta pela igualdade racial no Brasil, é que Carlos Alberto Decotelli não foi o único ministro do governo Bolsonaro a ser pego com incongruências entre o declarado e o real no tocante ao currículo acadêmico. Dois casos exemplares são os do ministro (ou seria anti-ministro?) do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que foi pego com um título de mestrado “ghost” de Direito Público na Harvard University e a ministra da Mulher, Familia e Direitos Humanos, Damares Alves, que teve desmentidos seus supostos títulos de “Mestre em Educação e de Direito Constitucional e Direito da Família”.  Entretanto, ao contrário de Carlos Decotelli, tanto Ricardo Salles e Damares Alves continuam firmes e fortes em seus cargos de ministro.

De toda forma, a demissão de Carlos Alberto Decotelli é um exemplo claro de que com em tempos de informações amplamente disponíveis na rede mundial de computadores se torna um risco assumir graus acadêmicos que efetivamente não são possuídos.  O interessante é, que mesmo diante disto, há quem se faça de desentendido e insista em declarar produções científicas inexistentes; existindo casos em que mesmo um erro desse gênero tendo sido avisado em debate público, o docente avisado nunca se deu ao trabalho de corrigir o erro.  Isto para mim sinaliza que o meio acadêmico brasileiro ainda é, no mínimo, muito tolerante com esse tipo de prática. E, por isso, de tempos em tempos, somos pegos com casos similares ao que agora ocorreu com o agora ex-ministro Decotelli.

Mas é bom lembrar que essa tolerância não é universal, como bem demonstrou o reitor da Universidade Nacional de Rosário que foi o primeiro a vir a público para começar a desfazer o castelo de areia acadêmico que Carlos Alberto Decotelli construiu e conseguiu deixar de tempo por muito tempo. Que este caso, e o inglório fim do brevíssimo ministro da Educação sirva de exemplo aos incautos.

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