Pressionado interna e externamente pela situação calamitosa criada na Amazônia e no Pantanal, o governo Bolsonaro resolveu optar pelo caminho da piada de mal gosto. Falo aqui da esdrúxula sugestão de que a causa das queimadas no Pantanal foi a diminuição do número de cabeças de vaca em áreas de preservação ambiental.
Essa tese mal enjambrada começou a ser distribuída pelo presidente da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), Evaristo de Miranda, considerado por alguns como o “guru ambiental” de Jair Bolsonaro. Com a cara de pau que se precisa para cumprir algumas tarefas, Evaristo declarou que “o gado foi retirado de grandes áreas para a criação de reservas como a RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) Sesc Pantanal e que isso seria uma das principais causas de incêndios na região“.
Esta tese oculta três questões básicas, mas fundamentais. A primeira é que a área de pasto e o número de animais vem aumentando vertiginosamente no Pantanal, removendo gramíneas naturais que estão sendo substituídas por outras exóticas. A segunda é que graças aos cortes orçamentários promovidos pelo governo Bolsonaro, o número de brigadas de fogo e os estoques dos insumos necessários para combater os grandes incêndios diminuíram drasticamente. A terceira e importante questão se refere ao fato de que a Polícia Federal já encontrou indícios de que parte significativa das queimadas foi inicialmente a partir de propriedades particulares cujo principal uso da terra são justamente as pastagens.
Outro aspecto que merece ser esclarecido é o fato de que, para ocultar a nova dinâmica da pecuária no Pantanal, os latifundiários e seus agentes no governo Bolsonaro tentam vender uma imagem idílica da relação entre a pecuária e o Pantanal. A verdade se isso já existiu um dia, não existe mais, e o que prevalece são as demandas dos grandes frigoríficos ligados às cadeias globais de circulação de carne bovina.
Todos esses elementos tornam insustentável a postura da ministra Tereza Cristina, a musa do veneno, de vir a público para legitimar as ideias sem qualquer base científica que colocam a pecuária com forma de contenção da destruição pelo fogo (ver o vídeo abaixo).
Ao se prestar a tentar difundir uma tese que beira o ridículo, a ministra Tereza Cristina pode até estar tentando salvar a pele dos seus colegas latifundiários, mas só piora a credibilidade do Brasil junto a parceiros comerciais importantes, entre eles a União Europeia.
Alguém haveria de lembrar a figuras do governo Bolsonaro que há limite para tudo, inclusive para o tipo de falsa esperteza como essa do “boi bombeiro” que pode até funcionar para os aliados internos, mas que acaba servindo apenas para isolar cada vez mais o Brasil.