Por que é muito pouco para Jair Bolsonaro ter “sobrevivido” à entrevista no Jornal Nacional?

Bolso fogo

Fiador da política de desmanche ambiental realizada em seu governo, Jair Bolsonaro aumentou tamanho da Europa para esconder os seus malfeitos na Amazônia

A aguardada entrevista do presidente Jair Bolsonaro no “Jornal Nacional” da TV Globo acabou produzindo irritação naqueles que se opõem a ele, na medida em que a dupla de apresentadores William Bonner e Renata Vasconcelos parece ter optado por deixar o encontro rolar sem que o mandatário/candidato tivesse que explicar os aspectos mais controversos de sua gestão. Por outro lado, pelo menos uma comentarista das organizações Globo informou que nas hostes do Palácio do Planalto, o sentimento era algo como “sobrevivemos”.

Aos que esperavam uma posição aguerrida dos entrevistadores, só posso dizer que Papai Noel não existe. É que sendo os proprietários das Organizações Globo grandes beneficiários da política econômica que guiou o governo Bolsonaro não haveria como ser o Jornal Nacional o palco do ajustes de contas entre Jair Bolsonaro e o Brasil.  Por outro lado, é muito pouco para um presidente em exercício apenas sobreviver a uma entrevista quando está trilhando em todos os institutos de pesquisa em relação ao agora oficialmente candidato, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. É que mesmo que a dupla de entrevistadores saia dos personagens relativamente calmos da noite de ontem para uma posição mais aguerrida (o que tenho quase certeza que vai ocorrer), não haverá grande dano para a imagem de Lula, na medida em que o ex-presidente é uma figura política bem mais astuta do que Jair Bolsonaro.

Bolsonaro mentiu pelos cotovelos, mas quem esperaria o contrário?

Os jornalistas da agência de checagem “Aos fatos” rapidamente produziram uma análise das respostas dadas pelo presidente Jair Bolsonaro no Jornal Nacional e demonstraram que praticamente todas as respostas dadas eram “falsas”. 

Dentre as diversas respostas falsas de um Jair Bolsonaro no estilo “Paz e Amor” estavam coisas óbvias como a negação dos ataques aos ministros do STF, o condicionamento do aceite dos resultados das eleições  (caso ele perca, é claro!), a omissão deliberada no combate ao desmatamento na Amazônia, a negação dos erros na condução da pandemia, e até da imitação que o atual presidente fez das pessoas com falta de ar em função da COVID-19 (ver vídeo abaixo).

Mas, convenhamos, diante do caráter antipopular e truculento como tem sido o governo Bolsonaro, como poderia sair Jair Bolsonaro do modelito “minto porque quero” que, inclusive, lhe garantiu a eleição em 2018?  O atual presidente pode até não ser um gênio estrategista, mas não sobrevive na política brasileira há quase 30 anos por acaso. É que ele entende muito bem o jogo de cena que marca a relação com o eleitorado, especialmente aqueles que possuem completa ojeriza a qualquer tipo de concessão aos segmentos mais pobres da população.

Em outras palavras, esperar que Jair Bolsonaro repentinamente resolvesse dar uma de “sincerão”, e logo no Jornal Nacional, é demais.

A ausência de nocaute é boa para Jair Bolsonaro? 

Normalmente quando um lutador de categoria inferior entra em um ringue (tal como foi o caso da luta demonstração o ex-campeão mundial Acelino Popó Freitas  e o humorista Whindersson Nunes) e consegue não ser nocauteado por um adversário claramente superior, aquele que sobrevive tem toda razão para ficar feliz, ainda que saia com a cara desfigurada.

Mas e no caso de Jair Bolsonaro, sobreviver à essa entrevista é suficiente para reverter a sua condição de perdedor nas pesquisas eleitorais? Mesmo resguardando o fato de que pesquisa não é eleição, ter sobrevivido ontem apenas realça o fato de que Bolsonaro pode até ter acalmado os nervos de seus assessores e ministros, mas não resolveu o problema que lhe fustiga neste momento que é o de não conseguir mais furar o seu teto tradicional, correndo o risco de ter chegado ao seu limite potencial de votos.

Isso quer dizer que as eleições estão decididas? Obviamente que não, mas isso tampouco resolve os problemas do atual presidente. Um problema que poderá ocorrer é a debandada de parte do chamado “Centrão” que já vem sentindo o cheiro de sangue, e depois de ontem pode começar a deixar Bolsonaro sangrando sozinho.

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