Não sei quantos dos leitores deste blog que residem em Campos dos Goytacazes já receberam a sua conta enviada pela concessionária “Águas do Paraíba”, mas eu já (ver imagem abaixo). Ao me defrontar com essa conta, o primeiro pensamento que me vem à cabeça são os resultados fornecidos pelo chamado “Mapa da Água” que mostrou que a água que chega em nossas torneiras vem, digamos, “batizada” com várias substâncias que cedo ou tarde poderão me deixar doentes. Mas afora a lembrança dos resultados de análises feitas pela própria concessionária e enviadas sob força de lei para o Sisagua do Ministério da Saúde, o que me deixa estupefato é saber que a conta que já era salgada agora ganhou um teor a mais de sal graças a uma liminar obtida no Tribunal de Justiça após ter seu pedido de reajuste negado no plano municipal.
Eu ainda noto que a conta entregue pela “Águas do Paraíba” traz uma elevação do preço mínimo da conta cobrada em Campos dos Goytacazes que era de R$ 78,88 em agosto de 2018 para R$ 109,42 para o mesmo mês de 2022, representando um aumento de R$ 30,54 ou 38,7%. Um detalhe a mais é que a nossa conta mensal vem com uma cobrança paritária entre a água fornecida e o esgoto tratado que eleva a conta de forma injusta. É que, por exemplo, no meu caso, a casa em que eu moro não há como haver o mesmo consumo de água e o despejo de esgoto na mesma proporção. Além disso, tenho informação que dentre todas as empresas controlados pelo Grupo Águas do Brasil, essa fórmula de cálculo é exclusivamente aplicada em Campos dos Goytacazes. Tal “honraria” faz com que, coerentemente, seja aqui a maior taxa de lucros auferida pelo grupo em todo o nosso país.
A conta de setembro tem ainda um ingrediente particularmente irônico que é a informação de que os “atrasados” obtidos com a liminar no Tribunal de Justiça serão “generosamente” distribuídos em três parcelas que irão de setembro a novembro, provavelmente por algum espírito gentil dentro da “Águas do Paraíba” que se apiedou dos milhares de consumidores compulsórios que estão desempregados neste momento. Aliás, há ainda outro gentil lembrete informando que as “tarifas de desligamento e religação poderão ter seus valores suspensos cobrados oportunamente em caso de ulterior (ou seja outra liminar favorável à empresa) autorização. É como se o incríve lucro obtido pela “Águas do Paraíba” com os serviços precários prestados aos campistas ainda fosse pouco, e é preciso apertar ainda mais o torniquete que nos faz sangrar todos os meses.
A perguntar que não quer calar
Após receber mais conta, eu fico me perguntando quando é que a Câmara Municipal de Vereadores vai abrir aquela famosa Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vive sendo prometida mas nunca sai do papel para examinar o contrato de concessão e os famosos aditivos que ninguém sabe direito como foram iniciados, nem quando serão encerrados.
Eu particularmente penso que a recente notícia dando conta que o Ministério da Justiça acionou a “Águas do Paraíba” por causa da constatação feita por peritos por ele indicados para examinar os dados do “Mapa da Água” que chegaram à conclusão de que, sim, a água fornecida aos campistas em troca de contas exorbitantes realmente contém diversos contaminantes acima dos limites legalmente estabelecidos, já bastaria para se abrir uma CPI. Entretanto, pelo jeito não é ou não tem sido.
Mas a sofrida população de Campos dos Goytacazes merece saber como essa conta salgada é gerada e, principalmente, quando o sistema de paridada água-esgoto vai ser encerrado.