Aparecida: O Falso Messias e os falsos cristãos

BOLSO APARECIDA

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Por João Batistiolle*

A religião é uma forma da consciência, a mais antiga, a mais bela, e a mais equivocada.

O que quer a religião cristã? Amor ao próximo, justiça social, paz na comunidade como fruto da justiça. O filósofo alemão Feuerbach, século XIX, viu no cristianismo a expressão (Entäusserung) dos desejos mais secretos e mais sublimes do coração humano: o cristianismo é a mais profunda declaração de amor ao ser humano. Esta é a essência verdadeira do cristianismo, segundo o filósofo. Declaração de um filósofo insuspeito: Feuerbach era conhecido pelo seu ateismo, titulo que ele achava equivocado. 

Mas há também a essência falsa. A religião pode ser também uma coisa dos demônios. Uma coisa tão boa pode também ser pervertida e se transformar no seu contrário. Um dito filosófico antigo dizia: “A corrupção das melhores coisas produz as piores coisas”. É o que acontece com a religião.

Foi o que vimos em Aparecida, dia 12, e antes disso em Belém, no Cirio de Nazaré: Um candidato a presidente, cuja vida é o contrário de tudo o que prega o cristianismo, tentando corromper as mais legitimas manifestações religiosas populares para vender uma imagem de cristão e ganhar votos. Nada mais mesquinho, nada mais ridículo, nada mais nojento. Felizmente, os bispos souberam ser firmes e deram um “chega prá lá” no falso messias. O bispo de Aparecida chamou tais práticas de “dragões do ódio e da mentira” que devem ser vencidos com a ajuda da Mãe Aparecida. Que assim seja! Mãe que é mãe não haverá de negar um pedido desses. Toda ajuda é bem-vinda neste momento trágico.

Não menos falsos são aqueles que se dizem cristãos, sejam católicos ou evangélicos. Como podem se deixar enganar e apoiar um candidato que semeia mentiras e falsidades, que odeia os pobres, os negros, os indígenas, as mulheres; que serve aos ricos e ao grande capital como uma prostituta de luxo, prega a violência e as armas, nega remédio e oxigênio às vitimas da pandemia, debocha sobre os cadáveres, tripudia sobre a morte evitável de 700 mil pessoas; apropria-se (Deus sabe como!) de 107 imóveis, 51 deles pagos com dinheiro em espécie!

Como podem ser tão cegos?

Lula, ao contrário, vive sua religiosidade em silêncio, como convém a um bom cristão; vai às missas com a família, comunga; participa desde os anos 80 da pastoral operária no ABC; é amado pelos bispos e teólogos da Teologia da Libertação, recebido de braços abertos como um irmão pelo Papa Francisco e por líderes do mundo inteiro.

Entre nós, todavia, é alvo de vergonhosa humilhação de muitos “dragões” e falsos cristãos: suportou acusações indevidas e uma condenação sem provas que mais tarde foi anulada; viveu o Calvário de 580 dias preso injustamente, a perda da mulher, do irmão e do netinho de 4 anos, aos quais foi impedido de velar dignamente. 

Reconheçamos: é preciso ter muita fé e dignidade para suportar isso. A maiora de nós não tem. Certo?

Como presidente por 8 anos mostrou a coerência da sua fé e da sua política: sua opção preferencial pelos pobres, pelo meio ambiente, pelas novas gerações foi e é a pedra fundamental de seu projeto político traduzido em centenas de políticas públicas.

Como podem pessoas que se dizem cristãs enxergar esses dois candidatos de modo invertido, onde o que é bom aparece a eles como mau, e o que mau aparece como bom?

Conclusão: Este é o mal da religião, a sua falsidade: o de representar uma consciência invertida da realidade! Invertida pela contaminação pelo ódio e pelas mentiras, fake-news produzidas de dentro do palácio do planalto pelo gabinete do ódio do falso messias.

Este é o “dragão” do ódio e da mentira que nos desafia a todos, dramaticamente, e que deve ser combatido. Dia 30. 

Hoje é 13. 13.10.2022


João Batistiolle é professor universitário, com Graduação e Mestrado em Filosofia e Doutorado em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva. 

2 comentários sobre “Aparecida: O Falso Messias e os falsos cristãos

  1. Ao meu reles conhecimento, um artigo irretocável; ao meu julgo popular, infelizmente muitos serão incapazes de compreender, que pena!
    Parabéns!
    Todo conhecimento adquirido é um tempo ganho.

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