O presidente Jair Bolsonaro em coletiva de imprensa com cara de mau perdedor
Por algum desses motivos que a razão desconhece, o presidente Jair Bolsonaro tinha plena certeza que venceria as eleições presidenciais já no primeiro turno. Isso ficou evidente em declarações em que ele assegurava que iria resolver a disputa na primeira volta. Qualquer um que vê as coisas de forma da redoma bolsonarista sabia que essa não era a situação, o que ficou evidente ao final a contagem dos votos.
O que saiu das urnas é que o ex-presidente Lula só foi para o segundo turno por causa de outros candidatos (da chamada 3a. via) que lhe tiraram os votos que teriam permitido atender aos sonhos do seu comando de campanha que também era resolver a fatura no primeiro turno, algo que se viu era mais próximo da realidade.
Ao final da noite de 02 de outubro, eu e muitos outros que se debruçavam sobre os números finais do primeiro já podíamos concluir que a situação de Jair Bolsonaro era crítica, na medida em que os votos dados a Simone Tebet e Ciro Gomes somavam muito mais do que Lula precisaria para vencer o segundo turno. Ainda que nem tudo seja linear quando se trata de eleições, a história mostra que quem chegou mais perto do 50% + 1 tende a vencer na maioria das vezes. É uma simples conta matemática, acrescida dos eventuais apoios dos candidatos mais bem posicionados.
Para complicar ainda mais, Simone Tebet (a 3a. colocada) embarcou de forma decidida na campanha de Lula, tendo ganho destaque por falar com um eleitorado que normalmente rejeita votar nos candidatos do PT. Com isso, a tarefa de Jair Bolsonaro que já era difícil, complicou-se de sobremaneira.
Curiosamente, e em grande parte turbinada por uma generosa liberação de recursos públicos, as duas primeiras semanas do segundo turno foram generosas com Jair Bolsonaro com as pesquisas captando isso ao mostrar uma lenta, mas constante aproximação com os números ostentados por Lula. Isso chegou a, inclusive, acender a luz amarela no comitê de campanha de Lula que viu com grande preocupação o avanço de Jair Bolsonaro.
A derrocada começa com o “pintou um clima” com as venezuelanas e chega ao ápice com o atentado de terrorista de Roberto Jefferson contra membros da Polícia Federal
Repentinamente, uma derrapada na língua de Jair Bolsonaro (talvez por excesso de confiança), surge no interior da campanha eleitoral o estranho caso do “pintou um clima” envolvendo o presidente da república com uma situação pouco clara com um grupo de adolescentes vivendo em uma comunidade periférica de Brasília. Algo que não precisaria ser dito (até porque realmente é muito estranha) tirou a campanha de Jair Bolsonaro do prumo, com o presidente da república tendo se explicar sobre o que seriam suas tendências pedófilas.
O que já era ruim acabou piorando ainda mais quando o jornal “Folha de São Paulo” publicou uma reportagem dando conta que o ministro da Fazenda, o Sr. Paulo Guedes, possuía planos para desindexar o reajuste do salário-mínimo, aposentadorias e pensões do índice de inflação passada, o que alguns economistas apontam ter potencial devastador de mais de 70 milhões de trabalhadores brasileiros. A incapacidade de gerar uma explicação crível para dados emanados do interior do próprio Ministério da Fazenda geraram combustível para torrar as promessas eleitorais de Jair Bolsonaro, reduzindo a sua campanha eleitoral a uma peça de propaganda de credibilidade questionável.
Como se seguindo a primeira lei de Murphy, no domingo passado o ex-deputado federal Roberto Jefferson resolveu passar do seu contorcionismo coreográfico e resolveu dar 50 tiros e jogar 3 granadas em uma equipe de agentes da Polícia Federal que tinham ido prendê-lo após a suspensão do benefício da prisão domiciliar. Com isso, claramente a campanha de Jair Bolsonaro, mesmo turbinada com milhões de reais vindas de contribuições de empresários bolsonaristas, entrou em modo de crise, já que o somatório das notícias ruins se mostrou muito negativo para quem estava tentando virar um jogo difícil de ser virado.
A manobra desesperada de Fábio Faria e o esperneio choroso do mau perdedor
Aparentemente sentindo que a vaca bolsonarista estava indo para o brejo, na segunda-feira (ainda sob o calor da ação desastrada de Roberto Jefferson), o ministro das Comunicações do governo Bolsonaro e genro de Silvio Santos, Fábio Faria, realizou uma manobra considerada como desesperada até por membros da campanha presidencial. Com base em um suposto laudo fornecido por uma empresa que normalmente presta serviços a Luciano Hang, Fábio Faria denunciou que quase 200 mil inserções de rádio da campanha de Jair Bolsonaro tinham sido deixadas de serem veiculadas, algo que comprometeria a lisura do pleito.
A manobra, no entanto, carecia de provas, as quais foram rapidamente cobradas pelo ministro Alexandre Moraes, atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Como o laudo fornecido pela campanha de Jair Bolsonaro não alcançou o limiar de crível, Alexandre Moraes não só arquivou a denúncia, como mandou iniciar procedimento para verificar o possível cometimento de crime eleitoral por parte do pessoal de Jair Bolsonaro.
Sentindo que a vaca estava indo para o brejo e a batata estava sendo tostada na fogueira, o presidente Jair Bolsonaro resolveu então convocar uma coletiva de imprensa onde, ladeado pelos comandantes militares, repetiu as acusações de parcialidade contra o TSE em desfavor de sua campanha, e prometeu laconicamente “lutar até o fim”.
A única conclusão possível que Jair Bolsonaro não só sentiu que a sua derrota eleitoral se aproxima, mas que ele já decidiu seguir o caminho adotado por Aécio Neves quando em 2014 foi derrotado até de forma surpreendente por Dilma Rousseff. O curioso é que Bolsonaro está fazendo isso mesmo antes de ser derrotado, o que apenas reforça a tese de que está se comportando precocemente como um perdedor e, pior, um mau perdedor.
O problema é que ao se comportar como o “dono da bola” e trazer os leões de chácara para mostrar que a bola é dele, Jair Bolsonaro provavelmente afastou ainda mais os que se convenciona chamar de “indecisos”. É que no campo de futebol e na política, maus perdedores nunca são apreciados.