Um estudo do qual participei acaba de ser publicado nesta segunda-feira (27/02) pela revista “Sustainability” mostra os impactos do uso da terra e das mudanças climáticas nas vazões de 81 bacias hidrográficas do bioma Cerrado, Brasil, a partir de uma base em uma análise abrangente de dados de campo e secundários adquiridos entre 1985 e 2018.
O artigo traz estimativas para desmatamento e cenário climático até 2050 que são usadas para prever os impactos sobre as águas superficiais nas área abrangidas pelo estudo. O estudo mostra que os impactos diretos do desmatamento em larga escala voltado para a produção de commodities agrícolas irrigadas afetam mais significativamente as vazões dos rios do bioma Cerrado do que as mudanças climáticas. Do ponto de vista prático, as estimativas colocadas no estudo mostra que deverá ocorrer uma redução média de 8,7% e 6,7% na vazão devido ao desmatamento e às mudanças climáticas, respectivamente.
Mapa de uso e cobertura da terra mostrando as transições observadas (1985 a 2020) e previstas (2030 a 2050) entre pastagens e terras agrícolas.
Por outro lado, os autores do estudo apontam que a maioria das mudanças observadas (56,7%) deveu-se a mudanças no uso e cobertura da terra que ocorreu nas últimas décadas. As mudanças climáticas e de uso e cobertura da terra combinadas foram responsáveis por uma redução total da água superficial de -19.718 m³/s nas bacias hidrográficas do Cerrado. Assumindo as taxas atuais de desmatamento, os autores do trabalho estimam que haverá uma redução total de água de 23.653 m³/s até 2050, o que seria equivalente a uma redução de 33,9% da vazão dos rios na região de estudo.
Segundo os autores, se o processo de desmatamento continuarem no ritmo atual, o mais provável é que ocorra uma severa descontinuidade de fluxo de muitos rios ligados ao bioma Cerrado, fato que afetará fortemente a agricultura, a produção de energia elétrica, a biodiversidade e o abastecimento de água, especialmente durante as estações secas .