Ao escolher o senador e agropecuarista Marcos Fávero (PSD/MT) para chefiar o Ministério da Agricultura, o presidente Lula se afastou do seu compromisso com a criação de uma agricultura de bases ecológicas
Nesta 4a. feira, o Diário Oficial da União publicou o Ato No. 15 de 31 de março de 2023 por meio do qual foram autorizados mais 11 agrotóxicos para comercialização no território nacional. Com isso, o governo Lula já totaliza 59 agrotóxicos desde janeiro, em uma demonstração de que, apesar de mais lenta, a onda de liberações de agrotóxicos segue inabalada, em uma sinal de que os compromissos com o latifúdio agro-exportador e as corporações multinacionais também se mantém firmes e fortes.
Como já escrevi aqui neste mesmo blog, a questão dos agrotóxicos é uma espécie de farol de como efetivamente o governo Lula se comportaria, se mais próximo ou distante dos compromissos de campanha. Lembro ainda que no seu discurso da vitória, o presidente Luís Inácio Lula da Silva se comprometer a avançar um modelo de agricultura mais sintonizada com o meio ambiente, de modo a criar uma agricultura de bases ecológicas.
A primeira sinalização de que do discurso à prática haveria uma boa distância foi a nomeação do senador Marcos Fávero (/PSD/MT) para o cargo de Ministro da Agricultura. A questão é que Fávero, além de ter um histórico de proximidade com o latifúndio agro-exportador matogrossense, também apoia a implementação do Pacote do Veneno, legislação que enfraquecerá de forma ainda mais flagrante a liberação, venda, uso e manuseio de agrotóxicos no Brasil. Em outras palavras, com Fávero na chefia do ministério da Agricultura, não é de se surpreender que a chuva de agrotóxicos continue.
Cartazes nas ruas de Sâo Paulo chamam políticos pró-flexibilização de agrotóxicos de ‘bancada do câncer’
A questão mais importante é que, além de não se parar com a infindável liberação de agrotóxicos, a sinalização é que não haverá a necessária retomada de critérios mais realistas de definição de risco ou, tampouco, a retirada de substâncias que já se encontram banidas em outras partes do mundo por terem sido identificadas como causadoras de doenças graves como o câncer. Uma lista organizada pela professora Sônia Hess da Universidade Federal de Santa Catarina mostra cabalmente como os principais agrotóxicos do mercado brasileiro são responsáveis por uma grande lista de enfermidades que cada vez mais tomam ares de uma epidemia causada pelo envenenamento por agrotóxicos.
A conclusão a que podemos chegar é de que a disputa política com os setores que defendem o modelo agrícola ancorado no uso extensivo e intensivo de venenos agrícolas não terá nenhuma forma de apaziguamento sob o governo Lula. A saída será a continuidade das pesquisas que mostram o efeito catastrófico que essa dependência química traz para o meio ambiente e para a população brasileira. Mas pesquisas são só instrumentos de identificação do problema e, quando muito, de divulgação de resultados. Sem um claro engajamento de sindicatos, movimentos sociais e partidos políticos, o problema vai apenas se agravar.
Em suma, os agrotóxicos são uma das muitas esfinges que ameaçam devorar o governo Lula. E, pior, a todos nós juntos.