A floresta amazônica está ameaçada de desastre, mas os países da região ainda querem explorar suas riquezas. Nós também poderíamos influenciar o destino da floresta tropical por meio de acordos comerciais, diz pesquisador

Por Sara Vainio para o YLE
As nações da região da floresta amazônica estão se reunindo no Brasil pela primeira vez em 14 anos.
A reunião está sendo realizada literalmente em meio às controvérsias sobre a floresta tropical: a cidade portuária de Belém está localizada perto da foz do rio Amazonas, onde o Brasil estuda atualmente a exploração de petróleo. O plano despertou oposição em todo o mundo.
A primeira grande notícia do encontro foi uma decepção em relação ao clima: os estados não chegaram a um acordo para interromper o desmatamento da floresta até 2030.
O objetivo comum foi proposto pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva , que prometeu desacelerar a destruição acelerada da floresta tropical. Durante seu mandato, o antecessor de Lula, Jair Bolsonaro, permitiu a expansão de minas, extração de madeira e pecuária cada vez mais fundo na floresta tropical.
Em seu discurso de abertura, Lula exigiu cooperação urgente dos países da região.
– Estamos nos reunindo pela primeira vez no contexto de uma grave crise climática que se agrava. Os desafios e oportunidades do nosso tempo exigem ações conjuntas, disse Lula.
No entanto, outros países não quiseram se comprometer com o cronograma.
Contrastando projetos de conservação e econômicos
No geral, a reunião foi vista como uma decepção, diz Markus Kröger , professor de estudos de desenvolvimento global da Universidade de Helsinque .
– Nenhuma regulamentação clara foi criada para evitar que a Amazônia atinja um ponto de inflexão crítico do qual não há retorno.
O chamado ponto de inflexão significa uma situação em que a floresta tropical começa a se transformar em savana e deserto em ritmo acelerado, e o ciclo não pode ser interrompido. A maior parte da Amazônia está muito próxima a este ponto.
Segundo Kröger, Lula não é um protetor puro da Amazônia, apesar de sua retórica.
– Um pouco antes dessa reunião, ele visitou outra cidade na Amazônia, e disse lá que a Amazônia não pode se tornar uma área protegida, mas deve dar riqueza ao Brasil. Em muitos lugares, a política econômica de Lula ainda acredita no desenvolvimento, embora a derrubada da floresta tropical tenha diminuído drasticamente.
O conservacionista mais vocal na reunião foi o presidente de esquerda da Colômbia, Gustavo Petro , que pediu a proibição total da exploração e perfuração de petróleo e gás na Amazônia. Também não houve apoio comum para esta proposta. Além do Brasil, pelo menos Guiana e Venezuela têm novos projetos de petróleo em desenvolvimento. A Bolívia, por outro lado, tem desmatamentos em grande escala e não quer interferir neles.
– Muitos países da região têm atritos internos. Os presidentes estão em uma posição precária, o poder pode mudar e os discursos precisam ser pensados, diz Kröger.
Estados amazônicos exigem dinheiro para proteção
A floresta amazônica é um habitat excepcionalmente rico e um importante sumidouro de carbono que está diminuindo a cada ano. A floresta tropical está sendo derrubada em nome do petróleo, da pecuária, da forragem e da mineração.
O resto do mundo exige que os estados da região protejam a floresta tropical, mas, por outro lado, ainda quer comprar carne brasileira barata e cobre equatoriano. A propriedade fica na floresta tropical e, se tiver que ser deixada de pé, os estados da região acham que o resto do mundo poderá pagar mais indenizações por ela.
Encontrou-se um entendimento comum sobre o tema: em comunicado conjunto, os países amazônicos exigem que os países desenvolvidos cumpram suas promessas de financiamento climático e participem da meta de arrecadar 200 bilhões por ano no futuro.
– Na reunião, os estados não quiseram assumir sua própria responsabilidade e empurraram a responsabilidade ainda mais para a UE e outros países ricos. E, ao mesmo tempo, eles ainda perseguem projetos destrutivos. É uma estrada perigosa, diz Kröger.
Por exemplo, de acordo com Kröger, o Lula do Brasil continua muitos dos projetos problemáticos de Bolsonaro, como asfaltar estradas na floresta tropical e legalizar novos agrotóxicos.
O crime organizado criou raízes na selva
Representantes e simpatizantes dos povos indígenas da floresta tropical marcharam do lado de fora do local do encontro na terça-feira. Eles gostariam de direitos oficiais sobre sua própria área de vida e garantias de que a terra não será vendida para mineração e empresas petrolíferas para destruição.
– Peço aos presidentes que se comprometam com a proteção da floresta tropical, disse o líder da tribo Kayapó Raoni Metuktire em entrevista à agência de notícias Reuters.
– Se o desmatamento continuar, criaremos problemas, tanto para os povos indígenas quanto para todas as pessoas.
Cartéis internacionais de drogas e outras organizações criminosas, que já controlam parte da mineração amazônica, também lutam pelo controle da selva. A violência aumentou drasticamente nos últimos anos.
Segundo Kröger, o assunto mais importante do encontro não foi o clima, mas a segurança da Amazônia. Os países concordam com o controle transfronteiriço do crime organizado.
– Acho que o mais importante da reunião é evitar que a Amazônia acabe em um estado tão caótico como o do México. Grandes organizações de drogas já estão lavando dinheiro lá. O risco é que em breve você não poderá mais ir até lá.
Amazônia é ameaçada por número recorde de incêndios florestais
Em termos de clima, o tempo para agir ameaça esgotar-se. Segundo Kröger, no próximo inverno a floresta tropical estará ameaçada por incêndios recordes. As temperaturas oceânicas já estão relativamente altas devido à crise climática, e o forte fenômeno El Niño durante a temporada de incêndios florestais no inverno agrava ainda mais a situação.
– A Amazônia provavelmente experimentará muito mais seca do que antes. Pode haver grandes incêndios difíceis de controlar, diz Kröger.
Incêndios são praticamente todos iniciados por pessoas.
– Deve ser evitado por todos os meios possíveis. Mas quando você ouve os discursos desses líderes de que a Amazônia deve ser desenvolvida, uma nova indústria de petróleo e estradas construídas e riquezas tomadas, parece que a situação em que estamos não é totalmente compreendida.
Os países da UE poderiam, por sua vez, influenciar o destino da Amazônia, por exemplo, impedindo a venda de soja e carne produzidas na floresta tropical aqui.
No entanto, a UE parece ter um forte desejo de poder comercializar os mesmos produtos sul-americanos que, por exemplo, a China, diz Kröger.
– Grandes empresas na Europa, Estados Unidos e China querem aproveitar esses recursos naturais. Atualmente, a corrida entre os estados determina o destino das florestas.
Este artigo escrito inicialmente em finlândes foi publicado pela tv pública finlandesa YLE [Aqui!].
