
Em um artigo que acaba de ser publicado pelo respeitado “Journal of Peasants Studies”, o antropólogo Caio Pompeu (o mesmo que escreveu o esclarecedor livro sobre “a formação política do agronegócio“) desvela o que seria a formação do movimento que ele denomina de “agrobolsonarismo” e sua influência na dinâmica política brasileira.
Segundo Pompeia a gênese do agrobolsonarismo está relacionada à mudança no equilíbrio das forças politicas dentro do Brasil na década de 2010 quando as elites agrícolas regionais e Jair Bolsonaro formaram um movimento político-econômico para antagonizar com o modelo estabelecido pelos governos do PT. O artigo analisa como se deu a constituição e consolidação desse movimento, considerando para isto as suas ligações com associações agrícolas nacionais e transnacionais do agronegócio, bem como suas relações com as políticas agrárias e climáticas.
Pompeia aponta que apesar da derrota nas eleições presidenciais, Jair Bolsonaro e as elites agrícolas locais e regionais, que representam a espinha doral do “agrobolsonarismo” continuam a mante relações estreitas. Um exemplo disso teria sido o Agrishow 2023 quando, em vez de atribuir centralidade na cerimônia de abertura ao ministro da Agricultura de Lula, Carlos Fávaro, os organizadores do evento realizado em maio de 2023 preferiram ter Bolsonaro como a figura principal. Durante o evento, o ex-presidente concentrou seu discurso nos pecuaristas e agricultores, argumentando que precisavam de políticos que não os atrapalhassem e criticando a demarcação de terras indígenas. Isso teria continuado meses depois, em agosto, no mais importante festival de rodeio do país, em Barretos, estado de São Paulo, Bolsonaro voltou a ter papel de destaque, fazendo mais um discurso político forte e sendo aplaudido calorosamente pelos espectadores. Pompeia destaca no artigo que aproximadamente 900 mil pessoas visitaram o rodeio de Barretos em 2023.
Por outro lado, Pompeia ressalta que o “agrobolsonarismo” não precisa sequer contar com Jair Bolsonaro para continuar aplicando sua agenda regressiva. Considerando tudo isso, Pompeia argumenta que os líderes do agronegócio estão examinando outros potenciais líderes de direita para serem candidatos presidenciais, e que Jair Bolsonaro também pode ser particularmente influente nessa escolha. Para os que estão do outro lado do espectro político, o desafio visualizado por Pompeia seria o de lidar com a ideologia que está no cerne da agrobolsonarismo. Esta ideologia é sintetizada por Pompeia em torno de vários eixos que incluem uma maior dependência operacional relativa na expansão contínua do fronteira agrícola, a extrema oposição aos direitos territoriais indígenas e direitos agráriosmovimentos sociais, a negação das mudanças climáticas, animosidade dirigida às corporações do agronegócio, fortes sentimentos anti-Lula, anti-PT e anti-esquerda, e a abertura para contestar alguns dos os procedimentos básicos das democracias liberais.
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