Por Douglas Barreto da Mata
Não me refiro a estes últimos meses, em que o PT campista correu atrás de uma bolha de sabão, ou melhor, uma miragem no deserto de votos e de ideias do partido, em sua seção local. Falo de anos, décadas. Quem ouviu ou assistiu a fala do ilustre Professor Luciano D’ Ângelo, hoje pela manhã, em um veículo de comunicação da cidade, ficou com a impressão, não incorreta, que o PT campista vai às ruas para tentar atacar o candidato favorito, o Prefeito Wladimir Garotinho.
Nada demais, afinal, uma das táticas possíveis aos que largam atrás é desgastar o capital daquele que tem mais para perder. Outra abordagem seria investir contra os outros concorrentes na disputa, mas aí não há quase nada para ganhar, isto é, juntando o PT, a candidata delegada, o candidato que é deputado estadual, e outros nanicos, não dá meia candidatura. Não citei os outros, como dizem os institutos de pesquisa, porque estão no traço, quando falamos das intenções de voto.
O problema da tática do PT de Campos é que ela está dissociada de qualquer estratégia de médio e longo prazos, e tem sido assim desde sempre. O PT não vai herdar quase nada dos chamados 100 mil votos de Lula, essa tese é uma lenda.
Quando Lula esteve no ápice de sua carreira, com popularidade presidencial nas alturas, o PT local nunca refletiu esse desempenho em suas votações municipais locais, nem regionais, e quiçá, estaduais.
O PT do Rio, e de Campos são uma lástima, correias de transmissão do PT de SP, um puxadinho, nada mais. As razões já cansei de dizer, a legenda sempre preferiu o adesismo, personificado em figuras como D’ ngelo, a quem nutro profundo respeito, porém com quem sempre tive enormes discordâncias. O PT do Rio e de Campos sempre quiseram ser rabos de elefantes a serem cabeças de mosquitos.
Pois bem, com esse viés adesista, o PT campista sempre se privou de disputar o campo popular, ficando restrito a um nicho de classe média conservador e que torcia o nariz para qualquer política de proteção social, personificada na família Garotinho. Os Garotinhos são uma opção de esquerda? Não. Mas qual foi a opção de esquerda a qual o PT de Campos se aliou desde 1992? Arnaldo Vianna? Alexandre Mocaiber? Rafael Diniz?
O resultado disso tudo? O PT campista manteve uma faixa flutuante de eleitores da chamada “pedra”, tão conservador ou mais que os bolsonaristas que criticam, e cujo bolsonarismo Luciano tenta agora colar em Wladimir Garotinho.
A incoerência e o casuísmo saltam aos olhos, quando observamos que a carreira política dos D’ ngelo é um roteiro de costuras e alianças pragmáticas, com personagens muito mais conservadores que o prefeito atual.
Se queremos uma imagem desse adesismo petista mal sucedido, que encurrala o partido e o atual governo em uma coalizão onde Lula parece mais refém que articulador, é o Ministro Alexandre Padilha, para quem, não por coincidência, trabalha a filha do Professor.
Novamente é bom que se diga: aliança é uma coisa, adesismo é outra. Aliança você negocia, cede, ganha, no adesismo, você só adere, como diz o termo. É o PT e o governo federal, é o PT do Rio, é o PT de Campos, guardadas as proporções dos desastres que representam hoje.
Só essa inclinação ao adesismo explica, por exemplo, que o Professor Luciano tenha colocado o PT local na rota de colisão com a realidade, quando imaginou a candidatura da deputada Carla Machado, ela mesmo a expoente de um dos piores tipos de conservadorismo político da região, com “feitos” desastrosos para populações desprotegidas, como a do V Distrito de São João da Barra, e associação com tipos como Eike Batista. O Porto do Açu é um clássico de destruição de gente e do ambiente. Um “case”, por assim dizer. Também é de Carla Machado a gestão que afundou SJB nos piores índices de pobreza do país, mesmo a cidade contando com uma fortuna orçamentária per capita.
Então, o problema do Professor Luciano D’ Ângelo com Wladimir Garotinho não é o conservadorismo ou o bolsonarismo, senão o PT não estaria perto de gente que é capaz de tomar terra de gente pobre para dar aos ricos, ou atolar 77% de sua população na linha abaixo da faixa de pobreza, ou enfim, de dar espetáculos grotescos de misoginia, homofobia e outras condutas reprováveis, como são os padrinhos políticos da deputada.
A questão do Professor Luciano D’ Ângelo é tentar retomar seu quinhão de votos conservadores, aqueles da classe média e de parcela das elites, que giram entre 7 a 15% do eleitorado campista, e que hoje, por habilidade do prefeito e seu apetite por amplas alianças, acabou migrando, em parte, para o garotismo.
Como vemos, mais uma vez o PT campista na contramão da História, tenta uma volta ao passado para recuperar o que sempre o engessou como um partido antipopular.
Tentar colar no Prefeito Wladimir a pecha de extrema direita, o que ele, definitivamente não é, poderá ter dois efeitos: aundar o PT local ainda mais, porque o campo eleitoral do antigarotismo está bem reduzido, e pior, encontra-se, aí sim, na mão de extremados, com quem o PT parece querer se igualar e;
Pode empurrar o eixo da política local ainda mais para a direita, o que, óbvio, no médio e longo prazos é a condenação à morte de quem já está, ou sempre esteve, na CTI.
Olhando o Professor Luciano D’ Ângelo hoje fiquei com a imagem do Christopher Loyd, o Professor Brown, da saga De Volta Para O Futuro, sucesso dos anos 80, nos cinemas. O problema é que o PT e o Professor Luciano embarcaram de volta para o passado.