Eleições 2024: dinheiro é importante, mas não é tudo

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Por Douglas Barreto da Mata

Uma das principais lições que ficam nas eleições de Campos dos Goytacazes é de que o poder econômico, empregado em uma escala jamais vista na história da cidade, pelo grupo de oposição ao prefeito reeleito Wladimir Garotinho, pode muita coisa, mas não alcança tudo.

O resultado da oposição foi um fiasco, contabilizado como um todo, desde a candidata principal, a Delegada Madeleine, até as candidaturas auxiliares, como o PT e outros mais insignificantes.

Na eleição parlamentar, a oposição elegeu apenas 06 vereadores, e o atual Presidente da Câmara, o vereador Marcos Bacellar, irmão do Presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), liderança maior entre os oposicionistas, e grande artífice da estratégia eleitoral do seu grupo, ficou com a terceira colocação entre os mais votados.  Pouco, muito pouco para quem personificou a disputa com o atual Prefeito.

Voltando para a eleição majoritária, parece certo que não se pode imaginar que qualquer pessoa seja capaz de levar adiante um projeto político de tamanha envergadura, isto é, se eleger e governar Campos dos Goytacazes, mesmo que infindáveis recursos sejam colocados à sua disposição.

Eventos isolados, como eleições de um Wilson Witzel, ou mesmo de um Rafael Diniz não são regras, são exceções que as confirmam. Curiosamente, Witzel e Rafael mostraram que ganhar é até possível, mas governar, de maneira estável, quando eles significavam um descolamento total da política, sendo os arautos da antipolítica, seria uma tarefa pouco provável de ser cumprida. De fato, Witzel caiu, e Rafael sangrou o mandato todo, até ser execrado como o pior prefeito da história.

A delegada, além de não reunir carisma suficiente para o que lhe era exigido, faltava a ela traquejo, embocadura para uma luta dessa grandeza, e nem se encontrava em um momento conjuntural excepcional, como aqueles que elegeram Rafael, Witzel ou outros casos parecidos.

Enfrentar o legatário de uma dinastia que elegeu o pai prefeito, deputado estadual e federal, governador por duas vezes, a mãe governadora por duas vezes, e prefeita por dois mandatos também, além do fato de que boa parte dos outros prefeitos e deputados locais derivaram desse clã, e imaginar que bastava duas ou três frases de efeito, feitas para agradar audiência de palestras de “treinamento” (“coach”, argh!!!) é de uma ingenuidade atroz.

A correlação dos eleitos para Câmara indica que o Prefeito Wladimir terá um segundo mandato mais tranquilo, desde que confirme o aprendizado da sua relação com a casa de leis na desastrosa antecipação da eleição da mesa diretora, quando levou uma rasteira de alguns de seus aliados.

Agora, uma nota triste para a esquerda local.  O PT, como previsto, fez a campanha mais vergonhosa da sua história, menos pelos parcos votos para prefeito e vereadores, mas muito mais pela sua impostura política, funcionando como legenda de aluguel da extrema-direita, em troca sabe-se lá do quê, e o que quer que tenha sido, não foi suficiente para tirar o partido do atoleiro. 

O texto do meu amigo George Gomes Coutinho, em um jornal local, desvendou aquilo que mantém o PT local sem qualquer chance de ser considerado uma força política de relevo.

Simplificando o que ele disse, é como se o PT vivesse no auge a Era Vargas, e tentasse conter essa hegemonia avassaladora se unindo a monarquistas escravagistas, imaginando que isso lhe daria espaço para avançar com uma proposta mais progressista que a organização do trabalho feita por Vargas na época.

A coordenação de campanha, que contava com a eleição de um vereador para justificar essa linha de atuação horrorosa, ficou sem argumento algum.  O candidato que era o líder dessa aposta, assessor de um deputado federal petista, e que contou com todos os beneplácitos da coordenação de campanha, para a insatisfação de todos os demais, somou pouco mais de 600 votos, desempenho sofrível.  Não houve qualquer eleito entre os petistas.  É preciso dar nomes e rostos a essa tragédia petista, e todos ali sabem quem são.

A incapacidade de articulação isolou o PT do PSOL, o que deixou uma candidata com mais de 3.500, a Professora Natália, sem mandato, apesar da votação fantástica. Como diz o antigo ditado, dos tempos da ditadura, esquerda junta só no bar ou na cadeia.

Já a deputada estadual petista Carla Machado, protagonista de uma traição indizível ao seu partido, e que embarcou na canoa furada da delegada, além de pouco somar a ela, ainda viu seu irmão ficar abaixo de 1.200 votos. 

É, definitivamente, as urnas mostraram a esse pessoal que planos mirabolantes para transferência de votos precisam de um detalhe importante para darem certo: convencer o eleitor.

A população parece ter respondido como a maioria dos analistas, pesquisadores e “pitaqueiros” (como eu) diziam.

A combinação de um antecessor cuja administração foi um fracasso colossal, junto a expertise de um atual prefeito que domina as mídias e as formas de articulação política, além da ineficiência completa da oposição, mesmo que de posse de recursos gigantescos, deram um resultado que confirma que o eleitor faz seu cálculo político dentro de um esquema com expectativas realistas.

Por outro lado, deve ter ensinado ao PT, e ao resto da esquerda, que não adianta brigar com esse senso (comum), usando da conhecida arrogância em desconhecer que o eleitor, a seu modo, ou sabe o que quer, ou sabe o que não quer.  E o eleitor campista, não quer o PT que parece também não querer o eleitor, no melhor estilo do “dois bicudos que não se beijam”.

Assim como ensinou ao grupo da delegada que dinheiro altera a realidade, mas não toda a realidade.

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