
Há quem diga que os membros da classe trabalhadora não possuam a devida consciência sobre os limites das eleições burguesas como a que ocorreu no dia de ontem, onde teoricamente cada cabeça é um voto, tornando o processo em algo democrático.
Ao abastecer meu veículo no início desta tarde, fui perguntado pela pessoa que me atendia se eu havia ficado satisfeito com os resultados da eleição para a Câmara de Vereadores. Em vez de dar uma resposta imediata, perguntei a quem me inquiria como ela mesma via o resultado, e se algo mudaria em sua vida e a da sua família com o novo plantel de vereadores eleitos ou reeleitos no dia de ontem.
Após enumerar as dificuldades vividas em seu bairro, a pessoa que me inquiria e foi por mim inquirida me contou a história de um vereador reeleito que tinha conseguido se eleger anteriormente com o apoio massivo de seus vizinhos, mas que havia sumido logo após o pleito de 2020. Segundo ela, por causa do sumiço, a votação deste ano do referido vereador teria diminuído bastante, o que demonstraria para ela que, pelo menos, os vizinhos tinham aprendido algo com o sumiço do vereador.
Perguntei a ela sobre como estavam coisas básicas no bairro dela, apenas para ouvir que tudo se encontrava muito precário, a começar pela escola das suas duas crianças pequenas, mas também passando por coleta de lixo, abastecimento de água, tratamento de esgoto, e serviços de saúde, etc. etc. Aproveitei para perguntar se algum vereador teria aparecido nos últimos quatro anos para ver como as coisas andavam. A resposta foi um lacônico: ninguém apareceu por lá para fiscalizar o quer que fosse.
Por outro lado, me foi dito com algum desdém que ainda há quem venda o voto por um mero sacolão, o que mostraria para minha interlocutora que não falta quem não entenda o que valor do voto, já que ninguém dá sacolão à toa.
A conversa seguiu até um ponto em que eu enumerei os aspectos negativos para o controle das ações de um prefeito por conta do fato da maioria dos vereadores serem de apoio ao prefeito. Argumentei com ela que sem uma Câmara que fiscalize, as chances de que qualquer prefeito vá governar de acordo com suas promessas diminui exponencialmente. Minha interlocutora aquiesceu dando de ombros, em um sinal de que concordava.
Como eu tinha que partir e deixar minha interlocutora com seus afazeres, perguntei se eu tinha dado uma resposta clara à pergunta dela. A resposta foi que sim. Depois disso, segui o meu caminho. Mas sai do posto de combustíveis com a certeza de que uma parcela da população entende muito mais a situação do parece aos analistas de plantão.