
A deputada Carla Machado, então prefeita de Sâo João da Barra, no dia da entrega da Medalha Barão de São João da Barra ao ex-bilionário Eike Batista
Por Douglas Barreto da Mata
Não entendo o fetiche do PT regional com a deputada Carla Machado. Justiça lhe seja feita, ela nunca esboçou qualquer tentativa de parecer progressista ou mais afeita a uma agenda de esquerda. Pensando bem, acho que entendo sim. Afinal, há muitos anos, nem o próprio PT tem se esforçado nesse sentido, seja no Planalto, seja na planície.
Mesmo assim, não deixa de ser estranho ver duas candidaturas oriundas do MST no PT Campos dos Goytacazes, convivendo com uma personagem como a baronesa, ou de figuras (simplórias) do PT, dedo em riste, acusando este ou aquele político de bolsonarista ou direitista, tendo uma matriarca de direita como a baronesa no PT.

Reforma agrária às avessas: a então prefeita Carla Machado, sentada ao lado de Sérgio Cabral, olhando para as terras que seriam tomadas dos agricultores do V Distrito de São João da Barra para a instalação do natimorto Distrito Industrial de São João da Barra
Logo ela, uma das envolvidas por aquilo que pode ser chamada de maior reforma agrária invertida da história recente do país. Ao invés de desapropriação de terras para benefício de muitos, no V Distrito de SJB se fez o inverso, desalojaram centenas de famílias para instalação do porto, e até hoje, há pendências no pagamento desses agricultores. Uma vergonha.
Bem, muito tem se falado quem saiu menor ou maior desse pleito. Eu diria que a baronesa deputada saiu muitíssimo menor que entrou. Antes, na pré campanha, tida e havida como carta na manga do grupo de oposição, reunido em torno dos Bacelar, a ponto do PT (linha auxiliar desse mesmo grupo) ter mantido a vaga da candidatura à prefeitura em aberto, até que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dissesse o que todos sabiam, a baronesa deputada também foi considerada um manancial de transferência de votos.
A candidata delegada e o candidato professor sonhavam herdar esse capital eleitoral, que, afinal, se diluiu entre os principais concorrentes, incluindo aí o atual prefeito reeleito. Deste modo, à baronesa deputada restou um papel melancólico na campanha, que piorou ainda mais, mesmo que ninguém achasse ser isso possível, quando ela esfaqueou o PT pelas costas, subiu no palanque da delegada, e, pecados dos pecados, fazendo um discurso de desagravo ao ex-prefeito Rafael Diniz, o pior de todos os tempos.

A subida da deputada Carla Machado no palanque da delegada Madeleine teve o efeito de matar duas campanhas nas eleições municipais de 2024
Em um movimento, como já disse em vários textos, neste blog, ela matou duas campanhas, a do PT, já moribunda, e da delegada, cuja base de apoio ficou sem saber se a delegada era mesmo de direita, como jurou ser, além de ressuscitar o “bode na sala” (Rafael Diniz), que foi cuidadosamente escondido pela coordenação das campanhas do PT e da delegada, que contavam com a amnésia do eleitor acerca da umbilical relação de todos com o governo desastroso do neto de Zezé Barbosa.
Ah, mas você se esqueceu da esmagadora vitória em São João da Barra, onde a sucessora e pupila da baronesa conseguiu uma votação histórica. Bem, pode ser, mas tenho lá minhas dúvidas. A julgar pelo número de votos alcançado pela prefeita reeleita, Carla Caputi, tudo indica que a baronesa deputada não seja mais a única referência de seu campo político na cidade, pois emergiu das urnas uma força autônoma, com condições e intenções de se desvincular da baronesa, em franco declínio.
A prova principal da queda da baronesa é a ridícula votação de seu irmão, Fred Machado, ex-presidente da Câmara de Vereadores de Campos dos Goytacazes, que concorria à reeleição naquela casa.
Campos dos Goytacazes parece ter rejeitado invasores como os deputados que aqui estiveram para despejar mais modos e truculência. Rejeitou também a baronesa, que deverá correr de volta para SJB, sob pena de ficar sem espaço por lá também.
Aguardemos.