Aliado de Jair Bolsonaro e investigado pelo TRE, Rodrigo Bacellar foi reeleito para presidir a Alerj por unanimidade. Na foto, Bacellar segura medalha ‘imbrochável’ ao lado do ex-presidente
O deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil) acaba de conseguir o feito inédito de ter sido reeleito presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) por unanimidade. Esse é um fato que nunca ocorreu na história da Alerj, e que dificilmente se repetirá: Bacellar recebeu todos os 70 votos possíveis para continuar no cargo!
A mim não me assombra o fato de que Bacellar ter sido reeleito e, tampouco, por unanimidade. Eu diria que essa votação inédita reflete muito bem o estado de coisas na política fluminense. Quem tiver um mínimo de curiosidade para analisar como as eleições proporcionais vem se dando no Rio de Janeiro saberá que tem algum tempo que determinadas candidaturas recebem votações expressivas, sem que isso reflita uma capacidade mínima do candidato de articular propostas ou, quiçá, um raciocínio inteiro.
Agora, há que se dizer que há algo muito esquisito na chamada esquerda parlamentar, incluindo aí o PSOL, o spinoff do PT que em seu nascedouro insaiou os trejeitos da rebeldia original dos barbudos de São Bernado do Campo. Eu não me surpreendo nem um pouco com o PT, pois a degeneração do pai (ou seria mãe?) do PSOL já está evidente há alguns anos. Mas do pessoal do PSOL, tenho que dizer queo partido envelheceu muito mais rápido do que o PT, parecendo até uma repetição da decadência do PSDB em relação ao PMDB.
Essa acomodação da esquerda parlamentar fluminense ao jogo/jogado é particularmente inquietante, na medida em que dada essa votação em Bacellar, as chances de uma candidatura para enfrentar a direita e a extrema-direita em 2026 se tornaram basicamente nulas. Esse é o resultado de se juntar, usando um jargão familiar, no mangueirão com o resto da turma, incluindo a extrema-direita bolsonarista.
E aí quem sofrerá somos todos nós que gostaríamos de ver o Rio de Janeiro trilhando um caminho diferente do que se tem visto nas últimas décadas com governantes medíocres que conseguiram aniquilar com quaisquer possibilidades de um modelo de desenvolvimento social e economicamente mais justo.
Para terminar, uma observação recolhida de uma das tiradas do dramaturgo Nelson Rodrigues que dizia que “toda a unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”. Se ainda estivesse vivo, Nelson Rodrigues certamente nos diria que é preciso vencer unanimidades como a que foi criada em torno de Rodrigo Bacellar.