Como sempre lembro, venho alertando desde 2016 que o desmantelamento da governança e dos mecanismos de comando e controle na área ambiental iriam cedo ou tarde colocar o Brasil em uma posição de pária ambiental global. Com o advento do governo Bolsonaro, o desmantelamento foi acelerado sob a máxima do “passar a boiada” que foi revelada ao mundo quando foi divulgada a gravação da reunião ministerial do dia 22 de abril.
Pois bem, hoje o jornalista Lauro Jardim noticiou que o presidente do braço brasileiro da multinacional Cargill teria informado ao vice-presidente Hamilton Mourão que a soja brasileira está sob crescente rejeição no mercado mundial (ver imagem abaixo).
Essa rejeição, que já não era pequena, deve aumentado outro tanto após a publicação do artigo publicado na revista Science onde se revelou que pelo menos 20% da soja exportada para a União Europeia são provenientes de áreas desmatadas ilegalmente.
Há que se lembrar que a soja não apenas é a cultura agrícola que ocupa mais área no Brasil, mas como é a principal âncora das exportações agrícolas brasileiras. Se essa tendência de rejeição informada pelo presidente da Cargill se confirmar, as perdas econômicas serão consideráveis.
Letreiro colocado em praça da cidade holandesa de Amsterdã questiona avanço do desmatamento na Amazônia
Mas há que se dizer que as notícias de rejeição à soja brasileira não são novas. Este blog já informou recentemente sobre a punição imposta à própria Cargill pela Intrafish, gigante noruega na produção de salmão em cativeiro, por não conseguir impedir que soja produzida em áreas desmatadas ilegalmente entrassem em sua cadeia de suprimentos.
Entretanto, em um claro desafio às sinalizações que estão vindo dos compradores, o governo Bolsonaro nada fez para impedir o avanço do desmatamento na Amazônia, o que está causando um avanço significativo nas taxas de desmatamento. Aliás, as coisas vão piorar significativamente quando as grandes queimadas de 2020 começarem, levantando grossas colunas de fumaça que inevitavelmente chamarão a atenção da mídia internacional. Aí sim é que a coisa vai ficar crítica, pois o caminho do Brasil para a condição de pária ambiental global vai ficar ainda mais evidente.