
As universidades e institutos federais estão neste momento em meio a um processo de greve que deve paralisar a maioria dessas instituições. As demandas são muitas e incluem não apenas a necessária recomposição de salários corroídos por anos sem recomposição sequer das perdas inflacionárias, mas também de orçamentos que hoje ameaçam inviabilizar essas instituições estratégicas para o desenvolvimento nacional.
O governo Lula, ao contrário do que prometeu na campanha eleitoral, vem impondo também na educação federal a sua agenda neoliberal e, com isso, não apenas se recusa a negociar com os sindicatos, mas continua asfixiando financeiramente as instituições. Desta forma, restou aos servidores de universidades e institutos federais o caminho da mobilização. Assim, o Brasil assiste neste momento o nascimento de um movimento grevista que busca o cumprimento das promessas desprezadas em nome da obediência ao “novo teto de gastos” que apenas serve aos interesses dos agentes do rentismo, a começar pelas grandes instituições financeiras que hoje controlam a economia brasileira.
Curiosamente tenho lido uma série de manifestações nas redes sociais vindas daquilo que pode se chamar de “intelectuais consentidos” que não apenas condenam o movimento de greve, mas que imputam a ele a chance de que a dita reforma administrativa seja mais facilmente aprovada pelo congresso nacional. É preciso que se esclareça que essa reforma administrativa que visa solapar o caráter público do funcionalismo estatal vem avançando sob os olhares plácidos do governo Lula em um misto de tolerância e cumplicidade.
Um dos argumentos que são usados pelo que eu estou chamando de “intelectuais consentidos” é de que este não é o momento de fazer greve, pois o governo Lula estaria, digamos, encurralado pela extrema-direita no congresso nacional. Além disso, se diz que se não houve greve no governo Bolsonaro, por que se fazer no de Lula? Ora, essa me parece uma questão óbvia, pois nem sempre as condições materiais são suficientes para que haja uma greve, há que existir as condições políticas. Curiosamente, o abandono do governo Lula de seus compromissos de campanha foi quem criou as condições políticas para que um movimento grevista pudesse ocorrer.
Como alguém que já está em uma universidade pública desde 1998, já muita coisa, inclusive a ação de docentes que negavam a necessidade do confronto para se obter melhorias orçamentárias e salariais. No caso da Universidade Estadual do Norte Fluminense, os grandes avanços que tivemos sempre resultaram de greves, nunca se dando chance a uma súbita disposição dos governantes para conceder o óbvio. Mas o que assisto hoje me parece estar diretamente alinhado com a hegemonia neoliberal na sociedade brasileira, inclusive dentro dos segmentos que se dizem de esquerda dentro das universidades públicas. É a supremacia das ideias de empreendedorismo e do mérito pessoal sobre as demandas coletivas e de natureza universalista.
E antes que eu me esqueça, uma definição sobre o que seriam intelectuais consentidos. Eles seguem o figurino daquilo que eu identifiquei como “menudos neoliberais” no governo desastroso de Rafael Diniz em Campos dos Goytacazes. A maioria deles aparece sempre usando os melhores figurinos da moda, seguem um perfil estético engomadinho, e são aqueles que sempre aparecem como figurinhas carimbadas em programas de TV e rádio da mídia corporativa. Por isso tudo, eles são consentidos.
Finalmente, de minha parte deixo clara a minha posição de apoio à greve nas universidades e institutos federais. Essa mobilização mostra o caminho que precisamos seguir para defender o ensino público superior. Na Uenf já tarda a hora de começarmos um movimento que faça o governo de Cláudio Castro a cumprir seus compromissos, a começar pelo pagamento da recomposição das perdas inflacionárias.











