As reinações de Cláudio Castro: em uma dia “uma megaoperação”, no outro a “bot farm” entra em ação para legitimar a matança

Cláudio Castro se tornou um símbolo da guerra híbrida: o cantor católico transformado em governador acidental, agora nada em um mar de sangue, enquanto número de seguidores nas redes sociais sobe exponencialmente

A suposta “megaoperação policial” determinada pelo governador Cláudio Castro ganha ares de outro tipo de guerra, a híbrida, ao se ver a mídia corporativa propalanda acriticamente a informação de que o ex-cantor católico amealhou o impressionante número de 1 milhão de novos seguidores enquanto a população empilhava os corpos dos mortos pelas forças policiais que ele enviou para os complexos de favelas da Penha e do Alemão.

A primeira coisa que me ocorreu foi uma reportagem que eu acabei de ver sobre as chamadas “bot farms” (ou grosseiramente traduzidas como “fazendas de cliques”) que na prática são redes organizadas que utilizam grandes quantidades de contas automatizadas (bots) e, por vezes, até mesmo dispositivos físicos como celulares, para manipular a percepção online e simular um comportamento humano e engajamento falsos em larga escala. A Thales relata que, em 2024, o tráfego automatizado de bots representou 51% de todo o tráfego da web , a primeira vez em uma década que ultrapassou a atividade humana online.

Fazenda de Bots controlada por IA.

Quem estuda as bot farms já detectou que a operação delas se baseiam em: a) automação onde são Utilizados softwares programados para executar tarefas repetitivas automaticamente, imitando ações humanas como clicar, seguir, curtir, comentar e visualizar conteúdo; b) uso de infraestrutura física que milhares de dispositivos móveis (como celulares empilhados em racks) para executar as tarefas, tornando mais difícil para os sistemas de detecção identificarem as atividades como não-humanas, e c) na criação de contas falsas que gerenciam inúmeras contas em plataformas de redes sociais, lojas de aplicativos, sites de streaming e e-commerce. Também é sabido que as bot farms contribuem para a degradação do ambiente digital, tornando difícil distinguir entre engajamento real e artificial, o que prejudica a confiança nas informações e plataformas online.

O que nem sempre é dito é que as bot farms são operadas por todas as forças políticas, e estudos de instituições como a Universidade de Oxford e a Freedom House indicam que o uso de bots e “ciber-tropas” é prevalente tanto por governos e partidos de direita quanto de esquerda, dependendo do país e do momento político. Assim, em princípio, esta ferramenta é ideologicamente neutra; o que varia é quem a emprega para atingir seus objetivos. Mas é mais prevalente por aquelas forças que possuem recursos financeiros poderosos e que utilizam as farm bots para controlar a narrativa pública, silenciar a dissidência e solidificar o apoio ao poder estabelecido.

Um caso que tornou o Brasil um país notório pelo uso das bot farms foi a operação massiva pela forças de extrema-direita durante as eleições gerais de 2018, onde foi notório que redes de bots foram usados para realizar disparos em massa de mensagens via WhatsApp para influenciar o debate público e disseminar desinformação. 

Há ainda que se dizer que a mídia corporativa ao propalar certas versões da realidade são grandes alimentadoras das bot farms, na medida em que elas não apenas reproduzem os conteúdos disseminados pela mídia, mas como também orientam a produção de mais conteúdo, em uma espécie de retroalimentação de versões falsas da realidade (ou seja há uma combinação/parceria entre a mídia corporativa e operadores das bot farms para orientar a percepção de realidade entre pessoas reais).

É nesse contexto de cooperação que a mídia corporativa legitima de forma inquestionada e acrítica, a informação de que Cláudio Castro amealhou 1 milhão de novos seguidores poucos dias após a “megaoperação” nos complexos de favelas do Alemão e da Penha. Simples, mas tragicamente óbvio.

What Are Bot Farms & How Do They Work? | Anura

O que também me parece óbvio é que em 2026, a bot farms vão estar funcionando a todo vapor, e que será inútil tentar vencer o combate político nas redes sociais. Se as forças de esquerda desejarem ter alguma chance, elas terão que gastar muita sola de sapato. É que nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens, a extrema-direita reinará soberana por causa dos investimentos que já estão sendo feitos para favorecê-las, incluindo a grana que virá de outros países.

Conflito Israel/Palestina e mais uma cobertura enviesada da mídia corporativa

latuff

O agravamento do conflito entre Israel e as forças da resistência palestina que teve como estopim a inesperada invasão e bombardeamento do território israelense por forças combinadas dos grupos Hamas e Jihad Islâmica tem mais um capítulo de uma cobertura enviesada (obviamente em prol de Israel) por parte da mídia corporativa nacional e global.

Ao não oferecer a devida base para a origem e sustentação de um conflito que está centrado na reação palestina à crescente perda de território, inclusive na Cisjordânia ocupada, o que acaba sendo apresentada é uma versão precária que apenas contribui para a demonização dos palestinos, como se do outro lado existissem paladinos da democracia no Oriente Médio.

https://youtu.be/YQq0HLCex4M?si=SPZnX663eeSvhWVr

O fato é que desde 2007 quando o Hamas forçou a retirada das tropas israelenses, a denominada Faixa de Gaza, incluindo a cidade de Gaza, tem sido submetida a um cerco implacável, com a negação de serviços básicos como água e esgoto, mas também hospitais e escolas.  Dentro da Faixa de Gaza, tudo é tratado como alvo legítimo por Israel, sempre com a cobertura generosa dos grandes jornais e demais veículos da mídia corporativa, e que tem como resultante um balanço altamente desproporcional entre o número de mortos e feridos de cada lado (ver imagem abaixo).

wp-1696778673917

Com esse ataque inesperado e eficiente, a liderança do Hamas e da Jihad Ilâmica certamente sabem que a reação israelense que conta com forças militares formidáveis será implacável, repetindo bombardeamentos de escarumuças anteriores. O problema para Israel e os seus apoiadores confortavelmente sentados em capitais do mundo industrializado é que esse cálculo já deve ter sido feito pelas facções palestinas.

Disso tudo o que se pode prever é que os esforços em andamento para a normalização das relações diplomáticas entre Israel e os estados árabes que o circundam vai ser postergada por tempo indeterminado. Com isso, Hamas e Jihad Islâmica já terão atingido o seu objetivo mais importante, deixando todo o Oriente Médio em compasso de espera.

Quanto à cobertura da mídia corporativa a este novo capítulo sangrento do conflito palestinos e israelenses, o melhor mesmo é não usá-la para firmar julgamentos na maior parte dos casos. É que não estamos sendo informados, mas apenas recebendo propaganda disfarçada de informação.

Patrões da mídia corporativa são antes de tudo ávidos rentistas que amam Jair Bolsonaro e sua política de fome

midia mente

Neste domingo dois grandes veículos de mídia (O Globo e Folha de São Paulo) fizeram editoriais cobrando clareza nos planos econômicos do ex-presidente Lula. O primeiro fincando a demanda nos planos de reindustrialização e o segundo veio com uma manchete tirada do estrategista de Bill Clinton,  James Carville Jr., que cunhou o engenhoso mote “É a economia, estúpido”, que a Folha sacanamente substituiu por Lula.

E as perguntas a serem feitas por Jair Bolsonaro? Para esse nem editorial, nem uma matéria que questiona suas políticas econômicas centradas na desindustrialização que Lula promete reverter.  Mas um analista minimamente informado dos investimentos feitos pelas famílias Marinho e Frias vai logo saber porque seus veículos de mídia não perguntam para Bolsonaro. É que eles estão muito felizes com as altas taxas de juros que propiciam uma renda muito maior do que sua atividade formal que é o da comunicação.

Aliás, se estendermos a teia analítica para outros veículos, a Band TV por exemplo, encontraremos representantes do agronegócio que vem se refastelando com as políticas de desmanche ambiental do governo Bolsonaro.

Assim sendo, muito se fala das redes invisíveis de “fake news” do Bolsonarismo, que são reais e que distribuem uma ampla gama de mentiras, mas se olharmos mais perto, veremos que os grandes veículos de mídia também distorcem a realidade a partir de suas notícias para continuarem propriciando a seus donos as rendas milionárias que o rentismo impulsionado por Jair Bolsonaro lhes oferece.

O papel da mídia corporativa no debate eleitoral é ajudar a eleger Jair Bolsonaro

manipulando

Tendo lido notícias propaladas pelos maiores veículos da mídia corporativa acerca da ampliação (falsa) do arco de alianças em torno de Jair Bolsonaro só posso concluir, mais uma vez, que seus proprietários são condutores diretos da propaganda em prol de sua reeleição.

Fatos que comprovam isso? A repetição quase ad nauseum do suposto fortalecimento da candidatura de Jair Bolsonaro após as declarações de adesão dos governadores Cláudio Castro (RJ, Romeu Zema (MG) e Rodrigo Garcia (SP), e também do agora senador Sergio Moro e do recém eleito deputado federal Deltan Dallagnol. Ora, essas figuras todas não só apoiaram Jair Bolsonaro no primeiro turno, como também se apoiaram (com exceção de Rodrigo Garcia em São Paulo) nele para se elegerem.  

Então qual é a novidade desses apoios? Zero! Se é zero, por que então tantas manchetes dando luz a uma velha notícia? Nada mais, nada menos, do que um museu de velhas novidades. O problema é que isto sendo usado não apenas naturalizar Jair Bolsonaro como um candidato que não carrega nas costas quase 700 mil mortos e um empobrecimento brutal da maioria da população, mas também para ocultar a ampliação do arco de alianças que o ex-presidente Lula já conseguiu em menos de 48 horas, incluindo o PDT de Ciro Gomes.

Por isso é que não há dúvida de que os grandes veículos da mídia brasileira (incluindo as Organizações Globo) fazem parte do que o teórico da comunicação de massa, o filósofo canadense Marshall McLuhan, denominou como “agenda setting” que, trocando em míudos, é o estabelecimento de pautas para hegemonizar o debate (seja ele econômico, político ou cultural).

Mas por que os veículos da mídia corporativa cumprem esse papel nefasto? Porque seus donos estão nadando de braçadas no regime econômico estabelecido por Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, e não querem que haja qualquer perturbação no sistema de acumulação gerado pelo rentismo.

Então, na próxima vez que alguém vier gritar pela liberdade de expressão desses veículos de mídia, pense duas vezes, É que na prática eles querem a liberdade apenas para naturalizar Jair Bolsonaro e seu governo de destruição nacional.

Morte de Olavo de Carvalho deixa Jair Bolsonaro sem seu anti guru em uma hora crucial

A mídia corporativa e as redes sociais anunciam com diferentes tons a morte do “jack-of-all-trades” e auto proclamado filósofo Olavo de Carvalho. Com isso, o presidente Jair Bolsonaro perde seu anti guru e a cola improvável de seu discurso nacionalista que esconde, na prática, uma vertente anti-nacionalista. A repercussão mais direta da morte de Olavo será um aumento na dificuldade já existente para Jair Bolsonaro de manter em torno toda uma malta de indivíduos que professam alergia ao coletivo e ao combate das desigualdades abissais que marcam a realidade brasileira.

bolsonaro-olavo-de-carvalho-e-ernesto-araujo_1_119004

Jair Bolsonaro perdeu o seu anti guru com a morte de Olavo de Carvalho

De minha parte não celebrarei ou lamentarei a morte de Olavo de Carvalho, pois tomado como pessoa ele não me suscita grandes repercussões emocionais. Além disso, como muitos outros, Olavo não era o problema, mas sintoma dele.  É que há que se perguntar como tanta gente se dispôs a seguir as ideias de um indivíduo que quando examinado de perto nunca passou de uma figura histriônica e sem qualquer contribuição até para as ideias de manutenção da ordem capitalista, como tantos outros pensadores o fizeram no passado.  De certa forma, Olavo representou muito bem uma espécie de lumpesinato da intelectualidade de direita, e mesmo assim amealhou “alunos” para seus cursos presenciais ou online.

Mas não é possível esquecer o papel que a mídia corporativa ocupou para consolidar a figura de Olavo de Carvalho, a começar a Folha de São Paulo, como alguém que tinha algo para falar que merecia ser ouvido. Foi esse espaço legitimador que possibilitou a Olavo depois se desprender do jornalismo oficial e adentrar os espaços criados pela internet. Aliás, há que se notar aqui que essa ocupação foi feita de forma muito eficaz, explicando a relevância que ele logrou ocupar na reação ultraconservadora que ocorreu no Brasil para impedir o aprofundamento das concessões mínimas que foram realizadas pelos governos do Partido dos Trabalhadores na forma de políticas sociais pontuais.

Entretanto, há que se lembrar que a morte física de Olavo de Carvalho pode representar muito pouco em termos da desconstrução do seu legado antimodernista, na medida em que seus seguidores deverão aprofundar a crença de que ele estava certo ao apontar para a decadência capitalista como algo distinto do que é. Mas a manutenção (ao menos momentânea) da coesão das tropas olavistas não deverá minimizar os problemas que Jair Bolsonaro enfrentará para manter seus seguidores juntos. É que neste caso, a função de cola que Olavo exercia foi inegável, mesmo que o próprio negasse isso de tempos em tempos.

Finalmente, ainda que possivelmente não se venha a divulgar a causa da morte de Olavo de Carvalho, há que se notar que ela ocorreu poucos dias após a notificação de que ele havia contraído a COVID-19, a quem ele chamou de “historinha de terror para acovardar a população”. Dentre todas as ironias que circundaram a vida de Olavo de Carvalho, essa parece ter sido a chave de ouro.

500 mil mortos é o limite da paciência nacional?

As capas dos principais veículos da mídia corporativa brasileira trazem hoje menções aos 500 mil mortos causados pela pandemia da COVID-19 no Brasil dando referências diretas sobre a parcela de culpa do governo Bolsonaro para que tenhamos chegado a um número tão assombroso (ver imagem abaixo).

capas

O problema é que apenas capas não vão mudar as políticas do governo Bolsonaro que bloqueiam uma ação mais efetiva do Ministério da Saúde para ampliar o alcance e a velocidade do processo de vacinação, única garantia de que a pandemia será controlada no Brasil.

A mudança de posição dos proprietários da mídia brasileira em relação às capas deste domingo pode ser o prenúncio de que até a paciência deles com um governo anti-ciência e anti-pobres está chegando ao limite. É que os barões da mídia vem ganhando com as políticas ultraneoliberais da dupla Bolsonaro/Paulo Guedes e uma mudança de postura só ocorrerá se o ambiente político for mudado nas ruas pela classe trabalhadora e pela juventude.

O simples fato de que as mobilizações que ocorreram ontem não foram ocultadas como as que tinham acontecido no dia 29 de maio já é positivo, e certamente acrescentará mais pressão sobre os partidos que sustentam o governo Bolsonaro no congresso nacional.

Assim, lamentavelmente dado o risco sanitário que todos correm ao se aglomerarem, o caminho é o das ruas. Afinal, são as ruas cheias que garantem mudanças políticas que precisamos neste momento, e que começam por exigir vacina para todos os brasileiros. Do contrário, em breve iremos ultrapassar o número de mortos pela pandemia nos EUA, que lembro possuem cerca de 110 milhões de habitantes a mais do que o Brasil.

Mídia corporativa oculta sucesso das manifestações e mostra que segue o projeto ultraneoliberal de Bolsonaro e Guedes

IMG-20210529-WA0185.jpg

Pelo que pude acompanhar nas redes sociais, o sucesso das manifestações políticas contra o governo Bolsonaro ocorridas no dia de ontem surpreendeu até os seus organizadores. É que, convenhamos, sem um comando unificado e com pedidos de dentro da dita oposição institucional para que as pessoas ficassem em casa,  a presença nas manifestações foi acima daquelas que colocaram pessoas nas ruas para apoiar o presidente Jair Bolsonaro (ver imagem abaixo).

antes depois

Mas se não fosse pelo jornal inglês “The Guardian“, o mundo acharia que tudo foi dentro do normal aqui no Brasil, visto que a imensa maioria dos veículos da mídia corporativa (local, regional e nacional) decidiu ignorar os atos que ocorreram em cerca de 200 cidades brasileiras e no mundo. É como se as cenas de ruas e avenidas lotadas por oposicionistas nunca tivessem ocorrido.

A razão para esta omissão de reportar os fatos é muito simples: os proprietários da mídia corporativa brasileira podem até fingir que são oposição ao governo Bolsonaro, muito em parte por causa de seus supostos arroubos discursivos, mas estão firmemente comprometidos com a agenda ultraneoliberal desenhada por Paulo Guedes e aplicada de forma integral por Jair Bolsonaro.  Na prática, o que os barões da mídia corporativa gostariam de ter um Jair Bolsonaro “de punhos de renda”,  de modo a permitir que Paulo Guedes sua agenda de extermínio do Estado brasileiro na penumbra e sem ser notado. Essa é a verdade inescapável diante da clara omissão de informar aos seus leitores o que ocorreu ontem nas ruas brasileiras e de várias capitais europeias. 

Por isso é que eu digo, com todos os seus defeitos e exageros, a melhor informação que podemos ter não vem mais dos jornalões da mídia corporativa, mas das redes sociais.  É essa capilaridade que, inclusive, deixa a mídia corporativa cada vez menos atraente para quem quer ter informação, explicando também a decadência da maioria dos veículos que vivem cada vez mais a proximidade do fechamento.

O caso Frederico Paes expõe nova barriga da mídia corporativa campista

1_waldiriirir-20491755Parecer de vice-procurador-geral eleitoral reconhece jurisprudência favorável a Frederico Paes, que é o candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada por Wladimir Garotinho, mas decide manter indeferimento de candidatura. 

A mídia corporativa campista vem divulgando com pompa e circunstância o parecer exarado pelo vice-procurador-geral eleitoral, Renato Brill de Goés, reafirmando o indeferimento da candidatura do sr. Frederico Paes (MDB) a vice-prefeito na chapa de Wladimir Garotinho (PSD).

Uma coisa que estranhei nas notícias que circularam o parecer de Renato Brill de Goés foi a ausência da íntegra da Manifestação no 4.331/20-GABVPGE na qual o vice-procurador-geral eleitoral expõe as suas razões para manter o indeferimento da candidatura de Frederico Paes. 

Como quem tem amigo não morre pagão, recebi o arquivo contendo a íntegra da Manifestação no 4.331/20-GABVPGE,  e fiquei surpreso com a capacidade de síntese de Brill de Goés que conseguiu expor seus motivos em míseras 9 páginas. Quem já leu outras peças oriundas da justiça eleitoral sabe que esse foi um parecer para lá de, digamos, parcimonioso. 

Mas mais surpreso ainda fiquei ao ler a posição claramente dúbia de Brill de Goés quanto à suposta ilegalidade do registro da candidatura de Frederico Paes por suposto descumprimento da legislação eleitoral no tocante à desincompatibilização de cargos (ver imagem abaixo).

parecer PGE caso Frederico Paes

Trocando em miúdos, Prill de Goés reconhece que o Tribunal Superior Eleitoral possui decisão reconhecendo que pessoas que estejam na mesma condição de Frederico Paes não estão sujeitas à desincompatibilização prevista no art 1o., parágrafo II, a,9 da Lei Complementar 64 de 1990 que determina os casos de inelegibilidade e os prazos de cessação.

Mas como então Prill de Goés conseguiu chegar a uma decisão contrária à da jurisprudência vigente? Muito simples, ele apelou para a decisões que aparentemente já estão superadas, mas que, notem a bola curva, já vigiram em décadas passadas (que, convenientemente, foram omitidas por Prill de Goés na Manifestação no 4.331/20-GABVPGE).  Isso se assemelha a dizer algo como “não gosto da atual da atual jurisprudência, pois no caso em tela ela não me serve”. 

Como não sou advogado e nem pertenço ao grupo que produz a campanha da chapa Wladimir Garotinho e Frederico Paes, nem vou me alongar sobre esta óbvia incongruência no parecer do vice-procurador-geral eleitoral. O que eu quero mesmo é notar mais uma vez como chamada a produzir informação jornalística, a mídia corporativa campista optou por produzir uma nova barriga jornalística que mais parece uma peça de propaganda em prol da candidatura oponente. 

E aí é que eu pergunto, repetindo Olívio Henrique da Silva Fortes, o célebre Lilico, é bonito isso?

 

Pandemia ocultada: com quase 5 milhões de infectados e mais de 146 mil mortos, Brasil continua como um dos epicentros da COVID-19

 

covid19

A mídia corporativa brasileira foi gradualmente se adaptando à narrativa ditada pelos grandes grupos econômicos e financeiros que, de fato, controlam o governo Bolsonaro. Com isso, todas as notícias que povoavam as manchetes dos grandes veículos da mídia brasileira em março de 2020 agora estão sendo ocultadas em pontos menos nobres, raramente aparecendo nas manchetes e editoriais.

Essa ocultação da gravidade continuada da pandemia da COVID-19 tem várias consequências, sendo que a primeira é que se perde a noção da situação em que efetivamente nos encontramos. Os dados continuam alarmantes, pois segundo dados do site Worldmeters, o Brasil continua acumulando diariamente algo em torno de estratosféricos 30 mil casos, com cerca de 600 mortos a cada dia. Esses números estão mantendo o Brasil como o segundo país em número de óbitos causados pela COVID-19.

Em meio a essa ocultação midiática, vemos os governos estaduais e municipais seguindo a mesma linha adotada desde sempre pelo governo Bolsonaro e autorizando a volta de todo tipo de atividade, sob a chamada “bandeira verde”, sinalizando o contrário do que aquilo que ocorre de fato, qual seja, a continuidade de altos níveis de contaminação e de mortos.

Em algum momento futuro da História do Brasil, os analistas do período em que vivemos apontarão para os responsáveis pela situação vexaminosa em que a maioria dos brasileiros, especialmente os mais pobres, foram postos em meio a uma pandemia letal, sendo literalmente abandonados à mercê da própria sorte. Um lugar particularmente desonroso caberá aos proprietários de veículos de mídia que preferiram ocultar a pandemia, colaborando diretamente para que números desnecessariamente altos de contaminados e mortos fossem alcançados. A História será especialmente madrasta para aqueles que podendo informar e educar, preferiram se ajustar a um discurso que representa a mais pura forma de cumplicidade.

E depois, quando cobrados por essa postura infame, ainda invocam a tal “liberdade de expressão”. É muito cinismo!

 

A COVID-19 sumiu das manchetes, mas o Brasil continua sendo um dos epicentros mundiais da pandemia

media blackoutParentes são vistos durante enterro em massa de pessoas que faleceram devido à  COVID-19, no cemitério do Parque Tarumã em Manaus, Brasil, em 26 de maio de 2020. REUTERS / Bruno Kelly

Nas últimas semanas venho notando um gradual desaparecimento das notícias sobre a  COVID-19 da posição de destaque que ocupavam desde que o Brasil passou a ser um dos epicentros da pandemia.  Essa mudança não me parece ser acidental, parecendo mais um ajuste editorial à necessidade de manter protegido um corpo que vem aplicando um dos maiores ajustes já operados em uma economia nacional desde que Ronald Reagan e Margareth Tatcher colocaram a ideologia neoliberal a serviço das grandes corporações capitalistas.

Mas que ninguém se engane ou se deixe confundir pela ausência da pandemia em posições de destaque nas publicações da mídia corporativa brasileira.  O fato é que o Brasil continua sendo com os EUA, um  dos principais epicentros da COVID-19, alcançando números cada vez mais catastróficos (ver tabela abaixo com os dados desta 3a. feira – 18/08)

covid19

O fato é que no dia de hoje, o Brasil foi segundo país com mais casos de novas infecções (+44.119) e o primeiro em número de mortes nas últimas 24 horas (+1.234). Além disso, o total de mortos já atingiu incríveis 109.888, o que indica que até o final de agosto, o Brasil deverá ter em torno de 120.000 mortos pela COVID-19.

E, pior, não há nenhum sinal de que estejamos baixando do platô de alto número de infectados, o que implica que o número de mortos continuará sendo alto, cinco meses após o início oficial da pandemia da COVID-19 em território nacional.

Quais seriam os motivos para que a mídia corporativa brasileira passe a colocar os efeitos catastróficos da pandemia em posições secundárias de seus veículos? As possibilidades são inúmeras, mas a principal parece ser a necessidade pragmática de salvaguardar a existência do governo Bolsonaro, já que este opera para que as instituições financeiras e o rentismo que elas emulam continue dando aos donos dos grandes veículos de mídia o tipo de retorno econômico que suas atividades principais não geram. 

A verdade é que não nenhuma indicação de que o Brasil está próximo de passar o pior cenário da pandemia da COVID-19.  A diferença é que agora estamos sendo ainda mais mal informados sobre o que de fato está acontecendo. 

Tudo isso é péssimo porque a falsa sensação criada pela falta de informação gera a sensação de que o pior já passou, o que tende a acentuar comportamentos descuidados que contribuem para a dispersão do coronavírus.

Por isso, precisamos continuar nos esforçando para não apenas para manter a disciplina pessoal necessária para se manter saudável enquanto não for iniciada alguma campanha massiva de vacinação, mas também para continuar tentando informar o número máximo de pessoas que é preciso continuar tomando os cuidados básicos para se evitar a infecção pelo coronavírus.