Choque neoliberal repetido: pelo segundo ano seguido, governo Lula passa motosserra no orçamento das universidades federais

Em meio às viagens do presidente Lula, o segundo governo editou o Decreto  No.12.448/2025 que na tirou R$ 2,5 bilhões do Ministério da Educação (MEC) e reduziu o orçamento anual das universidades federais em pelo menos 61%. Esse é o segundo ano seguido que a medida adotada, impondo um contigenciamento de verbas que impede a realização de reformas e afeta serviços terceirizados como é o caso da limpeza.

O impacto desse corte, no entanto, vai muito além. É que em muitas universidades, essa medida impedirá o pagamento de serviços básicos como os de eletricidade e água, coisas que são fundamentais para viabilizar o funcionamento mínimo das instituições. Mas a coisa não para aí, pois unidades de pesquisa que utilizam equipamentos que dependem do oferecimento sustentado desses serviços poderão se tornar inviáveis.

O interessante é que de tempos em tempos, o presidente Lula ensaia o discurso surrado de que seu mandato é comprometido com o ensino público e com as universidades. No entanto, quando se trata de fazer cortes orçamentários para assegurar o fluxo de dinheiro para abastecer o sistema financeiro via o pagamento de juros,  as universidades são atacadas sem dó nem piedade.

O problema é que estamos diante de um governo que estimula a condição dependente da nossa economia, ancorando o pesado dos investimentos públicos em projetos que favorecem o aprofundamento da reprimarização. Isso fica explícito em todos os recursos alocados para a produção de commodities agrícolas e para a produção de óleo e gás. 

Nesse contexto,  cortar o orçamento das universidades e institutos federais faz completo sentido, pois não há interesse de fato na produção de conhecimento científico que diminua a dependência no setor primário. 

A verdade é que inexiste no governo Lula um compromisso real com a diminuição do caráter dependente da economia brasileira. Com isso, não se pode levar os discursos pró-universidades do presidente Lula como sendo sérios. No máximo, eles representam aquela máxima de se levantar bandeiras corretas em dias de festa para esquecê-las no momento em que se sai do palanque.

Por essas e outras é que precisamos as universidades precisam se mobilizar urgentemente para pressionar e impedir que esse corte de quase 40% seja executado.  O risco de se ficar inerte em face dessa ataque é grave demais.

Falta de recursos financeiros ameaça instituições de pesquisa na Amazônia

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O Museu Paraense Emílio Goeldi – a mais antiga instituição de pesquisa da região amazônica, em Belém – reduziu seu orçamento em mais de 10% nos últimos dois anos. Crédito da imagem: MCTI/Flickr , sob licença Creative Commons (CC BY 2.0 Deed)

Enquanto isso, as instituições nacionais de ensino e pesquisa localizadas na maior floresta tropical do mundo enfrentam dificuldades para manter suas atividades, com orçamentos estagnados há anos em níveis muito baixos e sem ajustes pela inflação.

O Museu Paraense Emílio Goeldi – a mais antiga instituição de pesquisa da região amazônica, em Belém – reduziu seu orçamento em mais de 10% nos últimos dois anos. “Tínhamos cerca de US$ 3,6 milhões em 2023 para pagar despesas fixas, o que já não era suficiente porque não havia sido ajustado à inflação de 5,8% do ano anterior”, disse Nilson Gabas ao SciDev.Net

Em 2024 a dotação caiu ainda mais, para R$ 16 milhões , e a inflação em 2023 foi de 4,6%. “Não sabemos se conseguiremos cobrir todas as nossas despesas até ao final do ano”, acrescentou. Segundo Gabas Júnior, seriam necessários R$ 30 milhões por ano para que o museu financiasse adequadamente as suas actividades.

A situação também é crítica no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), terceira instituição que mais produz pesquisas sobre o bioma no mundo. Seu orçamento para pagamento de despesas fixas diminuiu de quase R$ 38 milhões em 2022 para R$ 36,5 milhões em 2023, valor inferior ao de 2017.

“Sem dinheiro, corremos o risco de um apagão de dados do bioma.”

Nilson Gabas Júnior, diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi

O orçamento da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, também foi reduzido para R$ 187 milhões em 2024 – pouco mais de R$ 5 millhões a menos que em 2023. Já o orçamento da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em Manaus , apresenta um rombo de mais de R$ 123,5  milhões em 2023 em relação a 2019 sem correção da inflação.

Além dos valores orçamentários das diversas instituições da região, a distribuição desigual de recursos para pesquisa é outro problema.

“Os últimos dados que temos mostram que as instituições amazônicas continuam a ser penalizadas por uma distribuição desigual de recursos, algo incompatível com as ambições do governo de consolidar a região no centro da agenda climática global”, diz ao SciDev.Net Emmanuel Zagury Tourinho , reitor da UFPA.

Um exemplo de como a distribuição de recursos era desigual entre as regiões do país está refletido num estudo publicado na revista Perspectives in Ecology and Conservation .

Os autores analisaram a distribuição de recursos feita pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – agência de fomento à pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) do Brasil – para projetos em áreas relacionadas à biodiversidade. : botânica, zoologia, ecologia e limnologia.

“Os últimos dados que temos mostram que as instituições amazônicas continuam a ser penalizadas por uma distribuição desigual de recursos, algo incompatível com as ambições do governo de consolidar a região no centro da agenda climática global.”

Emmanuel Zagury Tourinho, reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA)

Para isso, basearam-se em dados de editais universais – modalidade de financiamento que visa apoiar projetos de pesquisa em todas as áreas do conhecimento, sem necessidade de enquadrá-los em temas específicos – realizados entre 2016 e 2022.

Na análise, verificaram que os grupos de pesquisa da região receberam R$ 2,4 milhões para cobrir os custos de suas atividades de pesquisa, incluindo expedições de campo, compra e manutenção de equipamentos de laboratório e de campo. Enquanto isso, os grupos do Sudeste receberam quase R$ 10 milhões no mesmo período, e os do Sul,  R$ 4,3 milhões

“O norte do país cobre 87% da Amazônia brasileira, mas recebeu apenas 10% do total concedido pelo CNPq entre 2016 e 2022 para pesquisas em áreas de biodiversidade ” , diz a bióloga Lis Stegmann, da Embrapa Amazônia Oriental e uma das os autores do estudo.

Esta situação manteve-se inalterada no último concurso universal concluído no final de 2023, o que mostra que o problema não se limita às áreas de biodiversidade.

Segundo dados do próprio CNPq, dos quase R$ 222 milhões investidos em 2023 em projetos em todas as áreas e em todo o país por meio desta chamada, apenas R$ 11 milhões milhões foram direcionados para instituições da Amazônia. “Sem dinheiro corremos o risco de um apagão de dados do bioma”, diz Gabas Júnior.

Para tentar reduzir essa desigualdade, o MCTI lançou recentemente o programa “Mais Ciência na Amazônia”, que prevê investimento de US$ 685 milhões entre 2024 e 2026 para infraestrutura de pesquisa e apoio à inovação em instituições dos estados da Amazônia. região.

“A consolidação dessa iniciativa como uma política científica nacional permanente poderá mudar as regras do jogo da infraestrutura científica na Amazônia”, afirma Stegmann.

A falta de recursos públicos para pesquisa e a dificuldade de atrair e reter cientistas qualificados em grande número são problemas que há muito afetam instituições do Norte do Brasil.

Segundo Stegmann, as atividades de ciência e tecnologia (C&T) no Brasil estão altamente concentradas em poucas instituições no Sul e Sudeste. “Eles concentram os programas de pós-graduação mais bem avaliados, têm mais infraestrutura, produzem mais e monopolizam as melhores oportunidades de emprego, por isso atraem os melhores estudantes e pesquisadores, e também mais recursos para pesquisa.”

Um exemplo dessa situação é que apenas 329 dos 2.744 pesquisadores dos programas de pós-graduação em biodiversidade estão lotados em instituições da Amazônia, especialmente Goeldi e Inpa, “que são cronicamente subfinanciadas e com pessoal insuficiente”, diz Stegmann.

Essa diferença é ainda maior quando se avalia a distribuição dos pesquisadores em programas de pós-graduação em todas as áreas: 23.422 deles estão em instituições do Norte, enquanto no Sudeste esse número é de 188.954, segundo dados do Sistema de Informações Georreferenciadas da Coordenação de o Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Esse órgão do Ministério da Educação (MEC) avalia os programas de pós-graduação do país e tradicionalmente investe em bolsas, principalmente para mestrado e doutorado.

“As ameaças aos ecossistemas amazônicos tornam crucial a criação de uma melhor compreensão da conservação de sua biodiversidade”, diz Stegmann. “Para isso, os investimentos em pesquisa precisam ser regulares e previsíveis.”


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Este artigo foi produzido e publicado pela edição América Latina e Caribe do  SciDev.Net [Aqui!].

China promete aumentar investimentos em ciência em 2024

A ciência e a inovação são fundamentais para a agenda nacional da China e para os esforços do país para estimular o crescimento económico

CHINA SCIENCE

Por Smriti Mallapaty para a Nature

Os gastos da China em ciência e tecnologia deverão aumentar em 2024, apesar do lento crescimento económico do país.

O governo gastará 371 bilhões de yuans (algo em torno R$ 310 bilhões) em ciência e tecnologia em 2024 – um aumento de 10% em comparação com o ano anterior – de acordo com um projeto de relatório orçamental do Ministério das Finanças da China. O relatório foi apresentado na reunião anual do órgão legislativo do país, a Assembleia Popular Nacional, esta semana. Do total dos gastos do governo, R$ 82 bilhões  serão destinados à pesquisa básica, um aumento de 13%, segundo o relatório.

“O governo está mostrando que está empenhado em dar aos cientistas mais recursos para apoiar a sua investigação”, afirma Albert Hu, economista da China Europe International Business School, em Xangai.

O aumento dos gastos governamentais em ciência e tecnologia é o maior em cinco anos, diz Jing Qian, que dirige o Centro de Análise da China do Asia Society Policy Institute, na cidade de Nova Iorque. Com uma queda de 9% em 2020, seguida de dois anos de crescimento estagnado, o governo aumentou os seus gastos em 2% no ano passado.

Impulso econômico

O aumento do dinheiro para a ciência ocorre num momento em que a economia luta para cumprir as metas de crescimento. “A China está no meio de uma transição estrutural”, diz Hu. O país está a passar de uma economia baseada em sectores tradicionais, como o imobiliário, para uma maior ênfase no desenvolvimento de alta tecnologia, diz ele.

A corrida pela supremacia tecnológica com os Estados Unidos é outro factor motivador, dizem os investigadores. Os Estados Unidos restringiram o acesso da China a tecnologias essenciais em áreas como inteligência artificial, semicondutores e computação quântica. Isto estimulou o país a investir na autossuficiência tecnológica, diz Marina Zhang, que estuda inovação com foco na China na Universidade de Tecnologia de Sydney, na Austrália. “Para vencer este jogo, a China tem de investir em ciência e tecnologia, especialmente em investigação básica.” diz Zhang.

Mas embora o aumento da despesa “representa um maior compromisso do governo para com a ciência e a tecnologia”, ainda representa apenas uma pequena fracção da despesa total em investigação e desenvolvimento do país, diz Hu. Os gastos do governo representam cerca de 11% dos 3,3 trilhões de yuans gastos em P&D na China, segundo dados oficiais. Os gastos em P&D representam atualmente cerca de 2,6% do produto interno bruto total da China, em comparação com 3,6% nos EUA em 2020.

A sessão do congresso termina no dia 11 de março e será seguida por uma reunião do órgão consultivo político da China, a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, na próxima semana.


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Este texto escrito originalmente em inglês foi publicado pela revista “Nature” [Aqui!].

Contra corte no orçamento da UFRJ, alunos protocolam petição com quase 240 mil assinaturas no Ministério da Educação

Abaixo-assinado engajou apoiadores por meio da plataforma Change.org; estudantes protocolaram documento no MEC, nesta quinta-feira (16)

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O protocolo foi feito por estudantes da APG (Foto: Arquivo pessoal)

Alunos da Associação de Pós-Graduandos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (APG-UFRJ) protocolaram no Ministério da Educação (MEC) um abaixo-assinado com quase 240 mil assinaturas em defesa do orçamento da universidade. O protocolo foi feito, na tarde desta quinta-feira (16), por Marcelo Acácio, diretor de políticas institucionais da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), e Emerson Oliveira, diretor da APG-UFRJ e mestrando em Linguística e Línguas Indígenas (PROFLLIND).

O abaixo-assinado foi lançado em maio como forma de protesto ao corte no orçamento da universidade. Segundo artigo da reitora Denise Pires e do vice-reitor Frederico Leão, publicado naquele mês, o orçamento discricionário aprovado pela Lei Orçamentária para a UFRJ em 2021 é 38% do empenhado em 2012. De acordo com a APG, somando-se isso ao bloqueio de 18,4% do orçamento aprovado, o funcionamento da UFRJ ficaria inviabilizado.

“Os vetos presidenciais à Lei Orçamentária Anual (LOA) e o bloqueio de créditos do orçamento em 2021 inviabilizam a educação pública, universal e de qualidade no país. O maior bloqueio de verbas ocorreu no Ministério da Educação, com R$ 2,7 bilhões (19,7% das despesas aprovadas)”, destaca a Associação de Pós-Graduandos da UFRJ no texto da petição. Os alunos também apontam que o orçamento das universidades vem sendo “radicalmente reduzido há tempos” e que, no atual governo, a situação se agravou criticamente. 

A petição, que segue aberta na plataforma Change.org, aponta que a educação brasileira pública, gratuita e de qualidade enfrenta ataques e um processo de desmonte. Segundo o manifesto, isso faz com que toda a sociedade saia perdendo e seus efeitos sobre a educação superior aprofundem as desigualdades educacionais e sociais, ameaçando a democratização do ensino e distanciando a juventude do direito inalienável à educação.

Mobilização foi lançada em defesa da universidade (Foto: Arquivo pessoal)

“Um país sem educação, pesquisa e investimentos básicos e fundantes para o seu desenvolvimento, tende a reproduzir um projeto estarrecedor de estagnação que o levará ao eterno subdesenvolvimento social, aprofundando desigualdades seculares e estratificando repulsantes violências”, enfatiza o abaixo-assinado. No texto, os estudantes ainda ressaltam que em meio à crise sanitária global, a Ciência e as Universidades se mostram fundamentais. 

A APG chama o ataque ao orçamento de “golpe do governo Bolsonaro” à universidade e à educação como um todo e, diante disso, manifesta repúdio por meio do abaixo-assinado. “Nós nos posicionamos contra o desmonte da educação, da democracia e da liberdade de ensino, pautas concretas que vêm sido colocadas em prática e ameaçam cada vez mais a construção de uma sociedade crítica, justa e igualitária no país”, declaram os estudantes. 

Forças internas para a retomada local

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Por Ranulfo Vidigal*

Na China, a legitimidade de um governante é derivada de um “Mandato do Céu”. Governantes não justos perdem, inevitavelmente, o mandato e o direito de governar. Essencialmente, o Mandato do Céu é “uma antiga crença chinesa de que “céu”, concederia ao imperador o direito de governar com base em sua qualidade moral e capacidade de governar bem e justamente.

Na segunda mais importante unidade da federação brasileira, enquanto a crise política se aprofunda, com dirigentes fluminenses sob investigação (no Executivo e Legislativo) e ameaça de afastamento definitivo de personagens importantes na decisão de políticas públicas, mais uma indústria de bens de capital e bens duráveis deixa a economia fluminense. A Marcopolo Carrocerias fecha suas portas em Xerém na Baixada Fluminense. Lembrando que para 2021, o Orçamento Estadual prevê um déficit de 20 bilhões de reais, bem como uma renúncia fiscal de impostos de 7 bilhões de reais. Tudo isso, sem contar a ameaça de 3 de dezembro, quando o STF vai julgar a lei injusta que redistribui os royalties e pode aprofundar esse quadro de modo ainda mais dramático.

Uma rápida observação atenta ao Orçamento Municipal praticado na “Capital do Açúcar”, com seus mais de 500 mil habitantes permite identificar vazadouros de recursos municipais para fora – coisa completamente fora de propósito em tempos de crise financeira de grandes proporções como vivemos. Precisamos “municipalizá-lo”.

No âmbito das contratações municipais, entre compra de medicamentos e insumos para a Saúde Pública, aluguel de ambulâncias, demanda de serviços para o setor de iluminação pública, abastecimento de água, serviços de apoio ao trânsito, manutenção de escolas, compra de alimentos para a rede escolar pública e hospitais, simplesmente, saem da cidade, para outras praças no território brasileiro recursos da ordem de 500 milhões de reais por ano. Esse verdadeiro “vazadouro” precisa ser estancado no futuro.

Afinal, os municípios mais ricos do Brasil são os mais sofisticados e os retém o máximo de riqueza em seus territórios e os distribui de forma planejada e equânime, Enquanto municípios pobres são aqueles que, simplesmente, tem atividades produtivas não sofisticadas (cidades dormitórios) e deixam “vazar” riqueza para o exterior.

Nesse sentido, no momento presente os melhores conselheiros não são, necessariamente, os chamados ‘marqueteiros’ de plantão, mas os políticos seniores e os politólogos que mergulham na conjuntura articulando-a com a teoria e a história.

Caso contrário vamos apenas repetir, no âmbito da festa da democracia, Giuseppe Tomasi di Lampedusa em “O Leopardo” – um dos mais importantes romances da Itália – retratando as preocupações de uma certa aristocracia ao dizer: “Se quisermos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude”. Frase que já caiu no linguajar popular.

* Economista, Mestre em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Consultor.

Na surdina governo Witzel quer tirar recursos das universidades estaduais para suposta aplicação no combate ao coronavírus

cheque uerjSob argumento de financiar combate ao coronavírus, governo Witzel quer passar a tesoura no orçamento das universidades estaduais.

Além de não cumprir a lei no tocante ao pagamento dos duodécimos das universidades estaduais, o governo Witzel parece estar agora se movendo para retirar dinheiro dos orçamentos aprovados para estas instituições sob o argumento de financiar o combate ao coronavírus em território fluminense.

A situação assume contorno sérios, pois além de ferir o que foi aprovado pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para garantir o funcionamento das universidades, esse movimento retiraria recursos fundamentais para pesquisas em andamento  não apenas sobre o COVID-19, mas também sobre outras doenças com contornos epidêmicos como são os casos da dengue, da zika e da chikungunya. 

Na verdade para ser coerente com seu discurso de compromisso de combater a disseminação exponencial do coronavírus, o governador Wilzon Witzel deveria já ter criado um gabinete de crise com os principais pesquisadores existentes em todas as instituições de pesquisa existentes no Rio de Janeiro para definir estratégias de contenção da difusão da COVID-19.

Fui informado que uma audiência especial  deverá ser realizada na próxima segunda-feira (13/04)  pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Alerj, presidida pelo deputado Waldeck Carneiro (PT), para discutir mais essa grave ameaça sobre a saúde financeira das universidades estaduais do Rio de Janeiro.

Desde já é urgente que se enviem correspondências para o deputado Waldeck Carneiro (waldeckcarneiro@alerj.rj.gov.br) exigindo a publicização desse audiência e a tomada de uma posição firme contra essa intenção do governo Witzel que retirará recursos justamente das instituições que possuem a capacidade instalada de gerar as respostas científicas que a sociedade fluminense demanda neste momento.

Para saber para quem se governa, olhe para o orçamento

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A atual situação do município de Campos dos Goytacazes e da gestão instalada pelo jovem prefeito Rafael Diniz (PPS) e seus menudos neoliberais me parece ser uma daquela que clama por um exame dos números do orçamento municipal. É que um sabia já disse que basta olhar para a configuração orçamentária para saber a quem serve um determinado governo.

Pois bem, nesta manhã ensolarada de domingo resolvi acessar o site da Transparência da Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes e verificar como estão orçados os gastos em determinadas áreas (i.e., Agricultura, Comunicação,  Limpeza Pública e Meio Ambiente) para verificar como variaram os valores alocados dentro da série temporal disponibilizada (2013-2019). 

Ainda que haja algum erro de compilação de minha parte, pois o site da Transparência não é tão transparente como penso que deveria ser, os números que aparecem são muito reveladores de semelhanças e diferenças entre o que era praticado no segundo mandato da ex-prefeita Rosinha Garotinho e no primeiro (será que haverá segundo?) do jovem prefeito Rafael Diniz (ver gráfico abaixo e Aqui!).

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A primeira coisa que salta aos olhos é o fato de que os gastos com “limpeza pública” são os maiores entre as quatro áreas que escolhi. Além disso, nota-se o fato de que esquisitamente o orçamento dos anos de 2018 e 2019 são um espécie de “come back” ao que era praticado nos anos de 2013 e 2014, e bem acima do período entre 2015  e 2017 (este o primeiro de Rafael Diniz, mas ainda determinado pela equipe de Rosinha Garotinho). Se é assim, por que então a piora evidente nos serviços de limpeza urbana? Além disso, os valores do contrato não seriam revistos para baixar seus valores, sem que se perdesse a qualidade dos serviços prestados? Pelo jeito, no quesito da limpeza urbana, nenhuma das duas coisas aconteceu.

Outro aspecto que me surpreendeu foi o “engordamento” do orçamento da ex-secretaria municipal de Agricultura, atualmente uma superintendência, pois este foi significamente ampliado em 2018 em relação à série histórica analisada. O interessante é particularmente não consegui visualizar qualquer melhora significa no setor, especialmente nos assentamentos de reforma agrária que continuam largados à mercê da própria sorte, ainda que sejam hoje o principal celeiro agrícola do norte e noroeste fluminense.  Uma demonstração que nem sempre os problemas na administração pública se resolva com mais recursos disponíveis para esta ou aquela área. Aliás, choque de gestão no governo Rafael Diniz parece mesmo ter ficado restrito ao fechamento do restaurante popular, ao fim da passagem a R$ 1,00 e à suspensão “ad eternum” do Cheque Cidadão, e do programa habitacional de interesse social.

Além disso, é forçoso notar o papel secundário em que se colocam os investimentos em sustentabilidade ambiental, pois o orçamento para a realização de ações de natureza ambiental tem sido consistentemente baixo, o que explica a paralisia objetiva em uma área fundamental para o desenvolvimento econômico em médio e longo prazo. Nesse quesito é forçoso reconhecer que Campos dos Goytacazes tem se portado como um arauto do retrocesso, pois o que piora aqui se torna uma espécie de vitrine do que ainda vai piorar na escala federal.

Em uma análise rápida do orçamento de 2019, pude notar que diversas áreas, afora as que mostrei aqui, tiveram aumentos significativos em suas dotações orçamentárias.  Por isso, acho que começo a entender anúncios repetidos de coisas que agora “vão acontecer”. Assim, pelo menos, no plano da intenção parece que teremos muitas ações de investimentos em áreas que atingem os segmentos mais pobres da população. Isso por um lado é excelente, pois já passou da hora de se voltar a investir naquilo que interesse à maioria e não àquela minoria que é sempre beneficiada. Por outro lado, contudo, há que se verificar e acompanhar de perto como isso será feito, já que no ano que vem é ano eleitoral, e a experiência histórica mostra que isso nem sempre leva às melhores práticas republicanas a serem adotadas.

Por último, aconselho a quem tiver tempo para visitar o site do Portal Transparência da PMCG e verificar a marcha orçamentária do nosso município. É que, acima de tudo, a estrutura dos orçamentos nos mostra a diferença entre discurso e prática, especialmente quando se analisa as prioridades de gastos. Eu, por exemplo, acabo de aprender que em 2019 teremos inúmeras festas (entre religiosas e aquelas que incentivam o consumo de cerveja artesanal e comida de food trucks) bancadas parcial ou integralmente com o dinheiro que pertence a todos os campistas, numa proporção muito mais alta daquela que tempos tão bicudos para a maioria pobre dos nossos concidadãos parece aconselhar. 

Recursos para CT&I na União Europeia vão sentido inverso ao do Brasil

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Enquanto no Brasil vivemos uma profunda crise de financiamento para a área de ciência e tecnologia, com a ameaça de implosão em 2019, na União Eurpéia o caminho adotado é justamente o inverso.

A figura abaixo aponta que está ocorrendo m aumento significativo de recursos para a área, dentro do programa Horizon 2020.  E lembrem que os valores abaixo se referem a bilhões de euros.

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Diante desses valores é que se vê quão danosa para o futuro do Brasil são os atuais cortes na ciência e tecnologia, e que colocam em perigo o ainda incipiente sistema nacional de pós-graduação.

E que ninguém se engane: não sairemos desta crise nos isolando dentro das universidades ou acreditando nas desculpas esfarrapadas do governo Temer. Ou nos mobilizamos ou seremos destruídos. Simples assim!

A falácia da “escolha de Sofia” de Rafael Diniz

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Li uma breve nota do jornalista Saulo Pessanha no jornal “Folha da Manhã” onde ele aventa que o jovem prefeito Rafael Diniz (PPS) estaria ” entre duas escolhas igualmente perturbadoras: gastar os parcos recursos da prefeitura (pregação oficial) com a coleta/limpeza pública ou com o serviço de capina. Invocando “a escolha de Sofia”, Rafael optou pela coleta/limpeza pública [1].

Há nessa nota várias falácias. A primeira é que a Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes, apesar do “official discourse“, não gere pouco dinheiro. Aliás, apesar do encurtamento dos recursos oriundos dos royalties do petróleo, a cidade continua com um orçamento maior do que muitas capitais nordestinas.

Outra falácia é de que premido por algo que efetivamente existe mas não é tão grave como propagandeado, o prefeito “da mudança” fez opções que não tem nada de Sofia. Essas opções são, na verdade, de um recorte neoliberal especialmente maldoso para as classes mais pobres, enquanto mantém os ricos vivendo a boa vida que sempre viveram. É que além de impor um tarifaço digno de Maurício Macri, presidente neoliberal que acaba de falir mais uma vez a Argentina, a gestão de Rafael Diniz destruiu toda a parca malha de suporte social que existia para impedir que a pobreza extrema voltasse a dominar as regiões mais pobres da cidade de Campos dos Goytacazes.

Então, é falacioso dizer que Rafael Diniz optou pelo que optou por força de uma situação financeira que não impediu, por exemplo, que determinados contratados herdados da gestão anterior fossem aditivados e até a custos ainda maiores.

A farsa da herança maldita vai ficar ainda mais evidente agora que os preços do petróleo foram enviados, ao menos por algum tempo, para valores bem além do que praticados nos últimos anos. Agora, os recursos dos royalties voltarão a fluir com maior generosidade para os cofres das cidades produtoras, Campos dos Goytacazes inclusa. Nesse momento com mais dinheiro em caixa, vamos ver quais serão as opções que Rafael Diniz e seus menudos neoliberais farão.  

Como não acredito que esse que as decisões tomadas até agora têm qualquer coisa a ver com o tamanho do orçamento, não prevejo grandes mudanças nas ações deste jovem/velho governo.  Vamos continuar com ruas imundas e esburacadas e com lixo acumulando pelas ruas e terrenos baldios, enquanto os cidadãos mais pobres sofreram em unidades hospitalares igualmente abandonadas.  É que como na metáfora do sapo e do escorpião, este governo não tem como mudar sua natureza [2].  Trata-se daquilo que um dia foi sintetizado pelo ex-presidente da república Jânio Quadros quando afirmou jocosamente que “fi-lo porque qui-lo” quando questionado por uma decisão de governo. Simples assim.


[1] http://www.folha1.com.br/index.php?id=/blogs/saulopessanha/index.php

[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Escorpi%C3%A3o_e_o_Sapo

 

Pesquisadores declaram guerra a Pezão após corte de 50% na Faperj

Da Redação do “Conexão Jornalismo”

Pezão: corte de verba

Pezão: corte de verba

O anúncio do governador Luiz Fernando Pezão de cortar em 50% o orçamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado Rio de Janeiro (FAPERJ) desagradou aos pesquisadores. A proposta de Pezão tem o objetivo de ajustar as contas do estado, que passa por severa crise financeira. Contudo, alguns pesquisadores acreditam que o ajuste poderia se dar de outra forma.

“Entendemos que existe um problema nas contas do estado derivada da crise do petróleo. Mas não é possível que o custo da crise recaia sobre a saúde, educação ou ciência”, diz o cientista político Theófilo Rodrigues, diretor da Associação de Pós-Graduandos da PUC-Rio.

Theófilo defende que o ajuste se dê em outras áreas. “O governador poderia cortar da verba oficial de publicidade do estado. Ou então propor uma parceria com a prefeitura do Rio para municipalizar setores como o Bonde de Santa Teresa e o Theatro Municipal, por exemplo” afirma o cientista político.

Algumas entidades representativas de pós-graduandos preparam para essa sexta-feira às 10 horas da manhã um ato na porta da FAPERJ contra o corte. Sobre o assunto o governador preferiu ainda não se pronunciar.

Abaixo segue a nota divulgada hoje pela Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) contra o corte no orçamento da FAPERJ:

Nota da ANPG contra corte de 50% no orçamento da FAPERJ

Custo da crise não pode atingir Saúde, Educação ou Ciências

Custo da crise não pode atingir Saúde, Educação ou Ciências

Seguindo uma agenda de ajustes orçamentários para enfrentar a crise econômica no Estado, foi apresentada à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, pelo Poder Executivo, a PEC 19/2016, que propõe um corte de 50% no orçamento da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro.

A FAPERJ é responsável pelo fomento à Ciência e à formação cientifica e tecnológica necessárias ao desenvolvimento sócio cultural do Estado do Rio de Janeiro, através do pagamento de bolsas e materiais para pesquisas.

Desde 2007 o governo destina 2% da receita líquida para Ciência, Tecnologia e Inovação, conforme a constituição estadual. Esse investimento possibilitou que os centros de pesquisa do Rio de Janeiro se tornassem líderes nacionais e internacionais em várias áreas e terem 22% dos programas de pós-graduação mais bem avaliados do país.

Esse corte representa um retrocesso histórico do papel da Fundação e uma grave ameaça às pesquisas desenvolvidas no Rio de Janeiro, como a recente formação da maior rede brasileira de pesquisa em zika, chicungunha e dengue, constituída por 379 grupos, reunindo mais de mil pesquisadores fluminenses.

No momento, as milhares de bolsas de pesquisa pagas pela FAPERJ estão em atraso: uma situação recorrente desde o início de 2015, quando o governo vem sucessivamente atrasando o repasse à Fundação.

A ANPG e as associações de pós-graduandos do Rio de Janeiro repudiam mais esse ataque à Ciência e Tecnologia do estado, que tem reflexos diretos na Ciência brasileira.

Pedimos aos parlamentares estaduais o VETO a esta proposta e impeçam a paralisação das atividades da FAPERJ!

FONTE: http://www.conexaojornalismo.com.br/colunas/politica/rio/pesquisadores-declaram-guerra-a-pezao-apos-corte-de–porcento-na-faperj-77-42705