Sindicâncias foram transformadas em ferramentas de perseguição política na Seeduc/RJ, mostra relatório

Um relatório publicado em 2024, mas ainda relativamente desconhecido, e que foi produzido pelo do Grupo de Trabalho Contra Perseguição Política do SEPE/ RJ, com revisões e contribuições da equipe do Observatório Nacional da Violência contra Educadoras/a, e acompanhado e assinado pelo Campanha Nacional pelo Direito à Educação e pela Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais trouxe evidências robustas de como sindicâncias foram transformadas em ferramentas de perseguição política na Secretaria Estadual de Educação do estado do Rio de Janeiro (Seeduc/RJ).

O estudo se baseia em publicações feitas no Diário Oficial do estado do Rio de Janeiro entre 01 de janeiro de 2020 e 31 de maio de 2024 (em um total de 1.320 sindicâncias). A partir da análise dos dados coletados, os responsáveis pelo relatório realizaram uma análise detalhada dos processos de sindicância e identificaram padrões inequívocos de utilização dessa ferramenta que levam a um diagnóstico inequívoco sobre o assédio continuada que vem se cometendo contra os educadores em todas as regiões onde está presente rede estadual fluminense.

Desta forma, a partir de reclamações, denúncias e depoimentos colhidos junto a profissionais da Educação de diferentes regiões do Rio de Janeiro,  foi possível desnudar os métodos que estão sendo utilizados pela referida Seeduc/RJ  para perseguir política e institucionalmente educadores divergentes da linha ideológica seguida no âmbito do governo estadual, atualmente comandado por Cláudio Castro.

Os dados mostram que, por meio da manipulação do instrumento de sindicância, os agentes públicos perseguidores têm buscado criminalizar, isolar, silenciar e impedir os educadores de participarem da vida democrática de suas comunidades escolares.  Os autores do relatório apontam que tais práticas têm trazido, também, prejuízos significativos para as vidas funcionais dos educadores perseguidos.

A partir da leitura dos resultados desse relatório é evidente que há uma política de militarização das sindicâncias na Seeduc/RJ com o objetivo claro de impedir as práticas pedagógicas de cunho crítico, o que impede a formação daquilo que Darcy Ribeiro chamava de consciência cidadã nos estudantes. A lógica parece ser de oprimir e silenciar os educadores para viabilizar a formação de estudantes dóceis para as forças que hegemonizam a política e a economia do estado do Rio de Janeiro.

Quem desejar ler o relatório em sua íntegra, basta clicar [Aqui!]. Ler e disseminar este relatório é uma tarefa urgente para todos os que desejam que a educação no Rio de Janeiro possa atender efetivamente ao desenvolvimento de formas de conhecimento que transformem para melhor a vida dos estudantes e de suas famílias, além de garantir um ambiente democrático e saudável de trabalho para os educadores fluminenses.

Professores temporários são a maioria nas redes estaduais, com precarização, diminuição de direitos trabalhistas e piora na performance dos estudantes

 

Um estudo elaborado pelo  Todos pela Educação, um movimento que articula um conjunto de instituições que atuam junto ao poder público na elaboração das políticas educacionais brasileiras desde meados dos anos 2000, revela dados assustadores sobre o avanço do processo de precarização do trabalho dos professores nos estados brasileiros nos últimos anos.

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O documento “Professores Temporários nas redes estaduais do Brasil, publicado em abril de 2024, revela que a contratação temporária nas redes estaduais do país se tornou o regime de trabalho hegemônico, no qual os professores são destituídos de direitos trabalhistas, já que são contratados a partir de processos seletivos bastante questionáveis, concentrados na comprovação de certificação ou de experiência profissional prévia.

Em somente 5 estados foram localizados editais que exigiram prova teórica sobre a disciplina a ser ministrada e, em 2, prova didática.   Segundo o estudo, em 2023, o cenário de professores temporários no Brasil foi de 51,46%, enquanto o de efetivos, foi de 46,5%. Além disso, o estudo sinaliza uma gradual diminuição de professores efetivos nas redes estaduais, desde 2013 (17%), enquanto ocorreu um crescimento de 41% no mesmo período de professores temporários (ver figura abaixo).

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Em alguns estados, como é o caso de Minas Gerais e de Tocantins, em  2023, o número de professores temporários foi de 80 e 79 %, respectivamente.  Enquanto isso, outros estados, como Paraná e São Paulo, dispõem de 51% de professores temporários, em relação ao número total de professores que atuam na rede estadual. Em geral, o relatório constata que, dos 27 estados da federação, em 15% a modalidade de contrato temporário é a que predomina nos sistemas estaduais de ensino. A partir de 2013, em 16 estados da federação houve um aumento significativo de professores temporários e a redução dos efetivos. No caso do estado de Minas Gerais, o aumento do total de professores temporários foi de 540%.

Os dados apontados no relatório ainda indicam que  os docentes temporários, em geral, permanecem 24 meses (em 9 estados  e, 48 meses, (em 6 estados), porém, podendo o tempo de contrato temporário chegar até 72 meses em 2 estados.

Em Pernambuco, a diferença salarial entre professor temporário e efetivo em início de carreira é de 140%. Contudo, é importante registrar que direitos trabalhistas assegurados aos concursados estão ausentes nos contratos temporários (por exemplo: férias e 13 salário),  não havendo para os temporários a possibilidade de atuar em cursos de formação continuada e, os trabalhadores precarizados ainda enfrentam uma  alta rotatividade, em função de terem que complementar o salário com outros empregos.

Finalmente, um dado dado importante, mas que está ausente no relatório, é que esse panorama de predomínio de professores temporários dificulta a organização sindical, na medida em que coexistem em unidades escolares diferentes categorias de trabalhadores, o que contribui para a fragmentação da categoria. Portanto, trata-se de um contexto de intenso ataque aos direitos dos trabalhadores da educação dos sistemas de ensino estaduais, contribuindo para a ampliação do processo de precarização da educação pública.

O primeiro resultado deste cenário é a diferença de performance entre os estudantes

Ao analisar os resultados da performance de estudantes do 9º ano, os pesquisadores verificaram que o fato de um estudante ter um professor temporário tem uma relação, em média, negativa com o seu
desempenho, quando comparado àqueles alunos com características semelhantes que tiveram aulas com docentes efetivos. 

De maneira similar ao que foi observado para 9º ano, os pesquisadores notaram que os resultados para os alunos do Ensino Médio que têm professores temporários também é menor, com exceção de 2015, em que as diferenças são nulas. Ao analisar os dados de 2019, por exemplo, os estudantes que tiveram aulas com professores temporários obtiveram uma nota, em média, 5,5 pontos menor em Matemática e 5,6 pontos menor em Língua Portuguesa do que os estudantes que tiveram aulas com docentes efetivos.

Ainda que outras variáveis possam ter impactado a performance dos estudantes, o que fica patente é que o aumento de professores temporários tem sim um grau significativo de impacto nas notas dos estudantes.

E em Campos dos Goytacazes, como estamos?

Como o nível de análise do relatório é estadual,  eu fico curioso em saber como é a situação, por exemplo em Campos dos Goytacazes.  Pelo que eu me lembre bem,  o último concurso ocorreu em 2014,  mas ois aprovados não foram todos chamados para assumir seus cargos. 

A opção aqui, inclusive da atual administração, é lançar os famigerados processos seletivos para professores temporários, que se vê agora servem para precarizar o trabalho docente e, pior, diminuir as chances das crianças de terem uma educação minimamente qualificada que possa lhes assegurar o acesso à vagas oferecidas localmente pela Uenf, UFF e IFF.

Se alguém tiver a informação da porcentagem de professores temporários na municipal de Campos dos Goytacazes, por favor me envie que eu publicarei.

Na educação municipal de Campos é assim: trabalhe hoje, mas sem saber quando o salário será pago

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Em Campos dos Goytacazes, professores contratados via processo seletivo simplificado trabalham sem saber quando vão receber

Os servidores municipais de Campos dos Goytacazes estão anunciando uma greve geral a partir de 3a .feira (17/05) para demandar a reposição de perdas salariais que a rica Prefeitura Municipal diz não ter como realizar, apesar de estar c om os cofres cheios. Apesar de achar a demanda dos servidores mais do que justa, eu fico pensando se a pauta de greve não deveria ser estendida para algo mais simplório e urgente: o pagamento dos salários dos servidores com contratos precários, especialmente aqueles servem à causa da educação.

É que ontem tive a oportunidade de conversar com um professor contratado via o famigerado “Processo Seletivo Simplificado” que nada mais que é um forma de precarizar o trabalho docente e, pior, que deixa os profissionais em condições desesperadoras. É que este profissional me informou que apesar de estar trabalhando, não possui a menor ideia de quando será pago.  Segundo ele, informes dados por colegas em situação semelhante dão conta que deverá esperar de 3 a 4 meses para ver dinheiro que lhe é devido por exercer funções docentes em condição precária.

Mais um detalhe aumenta a condição de indignidade dos educadores contratados em condições precárias pela Secretaria Municipal de Educação, comandada pelo professor Marcelo se refere ao montante legal de 20% para atividades de planejamento, as quais estão sendo reduzidas para 10%, o que é feito para aumentar a carga em sala de aula. Então, vejamos, trabalha-se mais em sala de aula para ficar sem sequer se saber quando o salário devido será pago.

Diante desse quadro é que anúncios de que, por exemplo, a subutilizada Cidade da Criança (que custou uma fortuna aos cofres públicos municipais) será transformada em um centro de referência em Educação Inclusiva me parecem surreais, como alardeado pelo prefeito Wladimir Garotinho em sua página na rede social Facebook (ver imagem abaixo).

educação inclusiva

O problema é que sequer se paga os salários em dia, como esperar que os servidores precários tenham condições de realizar atividades como as que se espera seriam realizadas neste centro de referência? 

Como já bem disse a mãe do prefeito, Rosangela Matheus, Wladimir parece achar que está no cargo por causa dos seus olhos verdes e, em vez de observar como os que tocam o barco estão sendo tratados, prefere ficar exibindo seus supostos feitos nas redes sociais.  Um bom sinal de que se entende a importância do cargo ocupado seria evitar situações vexatórias como as que foram arroladas nesta postagem. Vamos lá prefeito, arregace as mangas e pague os salários dos professores contratos precários. Eles certamente vão agradecer.

 

 

Forçar volta às aulas presencias em meio ao agravamento da pandemia = empurrar profissionais da educação para o cadafalso

Cadafalso - UNIVERSO HQ
Li com um misto de incredulidade e pasmo a informação de que o prefeito Wladimir Garotinho está propalando a possibilidade da volta das aulas presenciais em escolas do município de Campos dos Goytacazes. O sentimento duplo se deve ao fato de que, por outro lado, as notícias em relação à pandemia da COVID-19 vão no sentido de que o nosso município enfrenta um quadro de agravamento no total de infecções e mortes.
A impressão que fica é que o destino não apenas de professores, mas de todo o pessoal que carrega as escolas nas costas é sem importância para um prefeito que ao longo da campanha eleitoral prometeu valorizar os servidores municipais e, principalmente, respeita-los.
Mas na prática o que se vê é que, muito provavelmente, para satisfazer demandas vindas dos proprietários de escolas particulares, o prefeito e seu secretário municipal de Educação estão se preparando para enviar profissionais, muitos deles com múltiplas comorbidades, para o cadafalso. Aliás, acho muito peculiar a pressão vinda do setor privado pelo retorno às aulas presencias. A minha suspeita é que as contas de muitas escolas particulares mergulharam no vermelho e seus proprietários precisam ter os alunos nas escolas para gerar mais receita, principalmente com suas cantinas e serviços extras que transformam os pais em uma espécie de vaca leiteira.
De quebra, em um momento em que a carestia invade de forma impiedosa a casa dos trabalhadores, Wladimir Garotinho sapeca mais 3% na cobrança das contribuições a um fundo de previdência que está claramente em dificuldades de se manter de pé, fruto de alguns investimentos mal feitos e de seguidas mordidas por diferentes administrações municipais que se serviram do Previcampos para cobrir buracos criados por ações desastradas.
Aos servidores da educação restará a mobilização e uma ação decisiva para impedir que uma volta às aulas seja imposta em meio ao agravamento de uma pandemia que deverá se aprofundar antes de melhor, mesmo porque teremos ainda conviver com a falta de vacinas que sejam suficientes para imunizar todos os servidores municipais, principalmente os da saúde e da educação.
Finalmente, alguém precisa lembrar ao prefeito Wladimir Garotinho que não adianta abraçar gari em um dia, e no outro mandar centenas de servidores municipais para escolas que têm tudo para se transformar em centros de disseminação da COVID-19 e, última instância, em centros de morte de profissionais da educação.

Reforma administrativa de Bolsonaro ameaça criar um Brasil sem professores

professores

A (anti) reforma administrativa recém-enviada pelo governo Bolsonaro (e recebida com saudações efusivas pelo presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM), deixou de fora as carreiras mais caras do serviço público (justamente aquelas que deveriam ser as primeiras a passarem por mudanças para acabar com uma série de regalias).

Por outro lado, a reforma Bolsonaro/Guedes vai criar condições ainda mais difíceis para as categorias que recebem os menores salários, a começar pelos professores. É curiosamente sobre esses segmentos já conhecidos por serem altamente sacrificados em termos da demanda de serviços, condições difíceis de trabalho e adoecimento que a chamada administrativa mais deverá pesar. E saliente-se que isso trará pouca ou nenhuma mudança na situação daquelas carreiras que causam mais custos aos cofres públicos.

Uma consequência dessa (contra) reforma seria uma menor atratibilidade para a profissão de professor no Brasil.  E note-se que já há algum tempo que os cursos de licenciatura, justamente aqueles que formam profissionais para a área da Educação, estão com cada vez menos interessados nas vagas abertas, seja na rede privada ou pública de ensino superior.

Corte de turmas de colégios estaduais causa superlotação em salas no ensino  fundamental - Educação - Extra OnlineSalas de aulas lotadas são apenas um dos elementos que diminuem o interesse na carreira de professor

Esta perda de interesse dos jovens em se tornarem professores já resultou em um envelhecimento da população de professores em atividade em nosso país. Com a falta de renovação que a (contra) reforma de Bolsonaro e Guedes deverá criar, não é impensável que até o final desta década, o Brasil talvez tenha que importar professores se não quiser que suas escolas fechem.

Problema semelhante deverá ocorrer também na área da Saúde, onde igualmente as condições de trabalho já são bastante difíceis. Com a perda de direitos e a consequente perda de poder aquisitivo, não será surpreendente que também faltem pessoas interessadas em oferecer seus serviços em ambientes altamente insalubres como os existentes na maioria das unidades hospitalares.

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O interessante é que nada disso parece ter sido pensado pela genial equipe do dublê de banqueiro e ministro da Fazenda, o Sr. Paulo Guedes.  Há que se ver se haverá alguém que lembre a Rodrigo Maia que esta reforma que ele tanto parece apreciar é uma espécie de um Cavalo de Tróia que arriscar tornar o Brasil em um deserto pedagógico, onde ninguém vai querer ser professor.

Professores portugueses entregam em greve contra a precarização da sua profissão

professores

Desde ontem entrei em contato direto com a capacidade de mobilização dos sindicatos portugueses.  O primeiro encontro foi no dia ontem e se deu em função da greve dos ferroviários que decidiram realizar um movimento paredista para exigir a contratação de mais trabalhadores para atender a malha ferroviária portuguesa.  O segundo encontro está sendo hoje com a greve por tempo determinado dos professores das escolas públicas que realizam um movimento para exigir a contagem correta do seu tempo de serviço que foi congelado durante os anos de reinado dos governos controlados pela Troika,  mudanças nos horários de trabalho e no tempo de trabalho para aposentadorias [1].

Um detalhe importante sobre a situação do número de professores nas escolas portugueses é que durante os 9 anos de governos associados à Troika, o número de servidores desta área diminui, e a situação não alterada após a entrada no governo da chamada “Geringonça” que removeu o governo ultraneoliberal comandado por Pedro Passos do Partido Social Democrático (PSD) (ver figura abaixo). Nesse sentido,  pauta da greve dos professores representa um desafio para os membros da aliança de esquerda que governa Portugual neste momento. 

professores portugal

Agora uma coisa interessante é que em ambas as greves, a cobertura que os jornais portugueses estão dando seria vista como de esquerda no Brasil polarizado pela atual campanha eleitoral onde o deputado federal Jair Bolsonaro já apontou que seria favorável à implantação do ensino à distância desde o ensino básico.

Já a população portuguesa parece aceitar as greves como algo inerente ao  funcionamento da sua democracia. Algo que os coxinhas brasileiros que estão por aqui devem estar estranhando bastante.


[1] https://observador.pt/2018/09/19/professores-marcam-nova-greve-para-outubro/

A Uenf e sua insustentável aparência de rotina retomada

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Às vésperas de completar um mês do retorno às aulas na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), já se pode ver que a rotina que muitos anseiam por ter está restabelecida, ao menos na superfície. Há aquele característico ir e vir de estudantes e professores por corredores mal iluminados, entrando e saindo de salas de aula em que o calor insuportável é uma das marcas principais, junto com a falta de ventiladores, é claro. Ah, sim, e no meu caso há também a verificação de que todo o clamor por aulas não se traduziu em frequência nas mesmas após sua retomada.
Por outro lado, as juras feitas por grupos de professores e estudantes desafetos do movimento de greve parecem ter tomado um rumo ignorado, tal qual um pistoleiro solitário rumando em direção do pôr-do-sol num daqueles filmes de western que fizeram a gloria de John Wayne e Edward Dew. Fica evidente que todo o ruído feito era simplesmente para o restabelecimento da rotina, a qual mesmo tendo sido precariamente obtida, já é suficiente para que se esqueçam as promessas de mobilização e resistência.
Aliás, a única coisa nova nessas 3 semanas de aula foi a ocorrência de uma campanha de denúncia de ocorrência de assédios moral e sexual contra estudantes por parte do autodenominado Coletivo Uenfiano de Mulheres. Mas mesmo essa campanha não motivou nenhum esforço mais sério de reflexão sobre o estado de coisas dentro da Uenf.
Mas afinal qual é o estado atual da Uenf? Para quem não sabe, até hoje a espetaculosa vitória (de Pirro) obtida na chamada PEC 47 não garantiu ainda o aporte de recursos financeiros que permitam à universidade voltar a funcionar com um mínimo de normalidade. Restou aos professores que ainda não viram a cor do seu 13º. salário de 2017 voltarem a colocar a mão no bolso para bancar pequenos consertos e compras de materiais essenciais para suas atividades profissionais. Em outras palavras, os professores da Uenf, cansados de guerra ou não, voltaram a usar seus salários como único mecanismo de financiamento de atividades básicas, repetindo uma rotina que tornou marca registrada a partir de 2015 quando o (des) governo Pezão iniciou seu processo deliberado de asfixia financeira de uma das melhores universidades brasileiras.
Como não há qualquer garantia que os salários não voltarão a atrasar ao longo de 2018, a Uenf hoje está sentada (ou assentada) sobre uma bomba relógio. É que se os atrasos voltarem, mesmo que a greve não retorne, mesmo a precária estabilidade existente não será mantida.
Interessante notar que agora que a Uenf não é mais palco de uma greve, aqueles veículos de mídia que ganharam agrados do (des) governo Pezão para achincalhar a greve de professores e servidores sem salários perderam completamente o interesse em cobrir o cotidiano da universidade. É que certamente não há interesse em se noticiar como a sabotagem feita pelo (des) governo Pezão causa prejuízos quase irreparáveis ao tripé ensino-pesquisa-extensão e, por consequência, na capacidade da Uenf de responder aos múltiplos desafios colocados pela atual conjuntura política e econômica, especialmente no município de Campos dos Goytacazes.
A mim resta a certeza de que o processo de insurgência contra o desmonte da Uenf que foi sintetizado pela greve de 6 meses serviu para criar um caldo de cultura que servirá para os inevitáveis que ainda ocorrerão em 2018. É que se dependêssemos das juras de amor dos inimigos das greves, a coisa já estaria perdida.
Finamente, que ninguém se iluda com os festejos oficiais de 25 anos que estão sendo promovidos pela reitoria da Uenf. É que não há qualquer motivo para festejar seja o que for neste momento. Nosso tempo e energia serão melhor gastos se forem utilizados para organizar a defesa da Uenf contra os seus muitos inimigos.

Justiça suspende demissões da Universidade Metodista de São Paulo

Justiça suspende demissão de professores da Universidade Metodista de São Paulo

Ação do Sindicato dos Professores do ABC – Sinpro ABC foi acatada parcialmente

A 8ª Vara do Trabalho de São Bernardo do Campo deferiu, nesta terça-feira (09/01), parecer parcialmente favorável à Ação Civil Pública com pedido de liminar proposta pelo Sindicato dos Professores de Santo André (Sinpro ABC), suspendendo a dispensa dos empregados, nos moldes em que esta era procedida. 66 docentes (50 do ensino superior e 16 da educação básica) haviam sido demitidos, até a data da distribuição da ação.

A ação do Sinpro ABC solicitava a suspensão das demissões e de possíveis novas dispensas; readmissão dos professores demitidos; pagamento dos vencimentos atrasados; abstenção de novas demissões coletivas; e informação nominal de possíveis novos demitidos e as razões dos motivos do desligamento.

Na decisão, a juíza Dra. Valéria Pedroso de Moraes deu como suspensas as demissões, solicitando que, em um prazo de cinco dias, a mantenedora da instituição informe nominalmente ao Juízo o nome dos professores demitidos, além daqueles que podem ser futuramente dispensados, inclusive esclarecendo o motive de cada uma das demissões. Também fica estipulada multa de 10 mil reais por profissional a partir de agora dispensado, a impossibilidade de novas demissões coletivas sem prévio aviso e negociação com o sindicato da categoria.

A conclusão do parecer da juíza pode ser acessada, na íntegra, neste link.

Contexto: demissões em massa em dezembro de 2017

A Universidade Metodista de São Paulo, referência em educação na região do ABC paulista, demitiu em dezembro passado cerca de 70 professores, mestres e doutores, das três unidades localizadas na cidade de São Bernardo do Campo (SP). Dentre os cursos afetados estão a graduação e a pós-graduação (mestrado e doutorado) de Administração, Psicologia, Ciências da Religião e Comunicação, um dos mais atingidos pelas mudanças.

“Muitos alunos estão perdendo seus orientadores, provocando insegurança na comunidade acadêmica devido à dimensão do problema que a universidade vem passando. No mestrado em Comunicação, por exemplo, há teses a serem defendidas nos próximos meses e alunos que seriam encaminhados ao exterior por seus orientadores para cursar o doutorado. As demissões têm sido arbitrárias e não demonstram respeito por esses profissionais. Trata-se de mais um exemplo de descaso com a educação e com a produção científica no País”, afirma Carlos Ferreira, representante dos alunos da pós-graduação em Comunicação da Metodista.

O curso de pós-graduação em Comunicação Social, que faz 40 anos em 2018 e é referência em pesquisa científica na área, foi praticamente “desmontado” após as demissões. Todos os professores dispensados possuem título de doutorado e extensa produção científica. Aproximadamente 90% do corpo docente do mestrado e do doutorado em Comunicação foi demitido.

A instituição alega corte de gastos e perda de 3 mil alunos para justificar as demissões. Funcionários e docentes alegam estar recebendo os salários com atraso há meses e, em alguns casos, o FGTS não é depositado desde 2015.

Outras universidades no País passam por crises semelhantes a da Metodista de São Bernardo do Campo. No Rio de Janeiro, a Universidade Estácio já demitiu centenas de professores. Na Unimep, Universidade Metodista de Piracibaca (SP), o cenário é parecido. O Centro Universitário Sant’Anna, de São Paulo (SP), também passa por crise, prejudicando as atividades acadêmicas de de vários alunos.

Informações e fontes: Carlos Ferreira 11 94817 1999,  Renata Nascimento 11 99648-9757

As ameaças sobre a Uenf vão muito além dos que seus inimigos querem que vejamos

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A Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) passa hoje por um sufoco inédito em sua história de 24 anos, fruto da política de asfixia financeira que vem sendo deliberadamente imposta pelo (des) governo Pezão. Os efeitos desse sufoco que já dura mais de 2 anos são os mais variados possíveis, mas permanecem invisíveis para a maioria das pessoas que não vivenciam o seu cotidiano. Aliás, arrisco a dizer que nem para um número significativo de pessoas que experimentam os efeitos da política de extermínio impetrada por Luiz Fernando Pezão, as condições críticas que estão afetando o funcionamento da Uenf ficam suficientemente claras.

Apenas à guisa de rápidos exemplos, posso mencionar o fato de que se alguém quiser se comunicar via telefone dentro do campus Leonel Brizola, essa pessoa terá que usar seu próprio aparelho. É que após um defeito catastrófico, a central telefônica parou de funcionar e depois de mais um mês, não há qualquer sinal de que será consertada.  Mas se não há telefone, há sempre a via da comunicação via internet, certo? Errado! É que também a rede interna está funcionando a passo de tartaruga (de pata quebrada, grifo meu) e usar a internet se tornou um exercício de completa paciência. Já está ruim o suficiente? Tentemos verificar como andam o processo de manutenção de aparelhos milionários que seguram pesquisas de ponta. Aí se verificará que a cada dia que passa, uma dessas máquinas é desligada porque foi atingida por algum defeito banal, mas que inviabiliza a sua operação e, por consequência, o andamento de alguma pesquisa importante. Não bastasse essas dificuldades operacionais, quase todos os dias se detectam roubos de equipamentos e atos de vandalismo que comprometem a infraestrutura. Nem as tampas de bueiro escapam disso, visto que os ladrões já verificaram que é só entrar e pegar o que quiserem, já que inexiste qualquer tipo de estrutura de segurança que possa proteger o patrimônio público da Uenf.

Em suma, se somarmos os três exemplos básicos acima, podemos dizer sem medo de errar que a Uenf está sendo lentamente levada à insolvência. E isso, friso, faz parte de um projeto deliberado de destruição da condição de instituição pública e gratuita voltada para a formação de capital social e criadora de conhecimento estratégica que sintetiza a existência da Uenf desde a sua fundação em 1993.

Então por que toda a narrativa oficial que envolve a Uenf reduz os seus problemas se reduz à culpar a greve dos professores pela alteração da normalidade institucional? Isso se deve por uma combinação de esforços dos inimigos internos e externos da Uenf que espertamente isolam a greve dos professores (esquecendo, inclusive, que os servidores técnicos também estão realizando o mesmo tipo de movimento) do contexto em que ela se dá, de forma a pressionar os docentes para que continuem trabalhando sem que seus salários sejam pagos. Essa é uma tática esperta que tenta colocar a culpa em quem resiste contra o desmanche em curso.  De quebra, se paralisa toda a reação que deveria estar sendo feita para pressionar o (des) governo Pezão para que encerre o cerco financeiro que tem feito contra a Uenf.

Em meio a essa conjuntura, outro elemento que complica toda a situação é o inevitável sentimento de desânimo que se abate sobre quem está acumulando dívidas pessoais, enquanto tenta manter algum tipo de normalidade nas atividades que vão além do oferecimento de aulas. É que até recentemente eram os salários dos docentes que estavam suprindo a ausência das verbas negadas pelo (des) governo Pezão. Agora com o confisco salarial que já alcança novamente quase 4 meses, muito professores estão tendo que se preocupar com coisas mais essenciais como o pagamento da escola de seus filhos, o plano de saúde e a mensalidades de seus empréstimos da casa própria e por ai vai.  Arrisco-me ainda a dizer que brevemente assistiremos ao início de um êxodo de profissionais de determinadas áreas em direção ao exterior. Essa fuga de cérebros está se tornando quase inevitável a cada dia que passa frente ao cerco montado por uma combinação de ações entre os (des) governos de Michel Temer e Luiz Fernando Pezão e deverá atingir áreas estratégicas dentro da Uenf e de muitas outras universidades brasileiras.

Se alguém me perguntar se há uma fórmula que possa impedir o assassinato de uma jovem instituição como a Uenf, eu responderia que na vida só não há saída para a morte. Entretanto, não me parece que haja uma saída fácil que possa magicamente nos retornar rapidamente a uma situação de conforto. É que os inimigos das universidades públicas são numerosos e, neste momento, estão com as rédeas do processo nas mãos.  Dito isso, para que seja possível começar a formular estratégias de saída, há primeiro que se reconhecer a complexidade do problema e suas múltiplas facetas. Passada esta fase de reconhecimento nos restará continuar o processo de resistência em curso, de preferência com o uso de ferramentas de arregimentação de aliados que extrapolem os limites conhecidos. É que numa condição tão precária, a primeira coisa que precisaremos fazer é vencer preconceitos e buscar aliados onde eles estiverem.

Finalmente, há que ficar claro o papel que a Uenf ocupa e deve continuar ocupando para colocar o Norte Fluminense no rumo de saídas estratégicas para a dependência econômica dos royalties do petróleo.  Sem a Uenf e as demais instituições públicas de ensino superior que existem na região, o futuro continuará sendo uma mera reprodução do presente e do passado que precisamos superar.

Notícias da Aduenf: Comando de Greve dos professores divulga agenda de mobilizações

ADUENF divulga agenda de mobilizações para pressionar o governo Pezão

AGENDA DE MOBILIZAÇÃO ADUENF

A UENF é de todos: alunos, mães, crianças, pais, professores, técnicos. É da comunidade norte-fluminense. É pública, gratuita e muito bem colocada em rankings nacionais de pesquisa e ensino. Além disto realiza um trabalho exemplar na área de extensão. A greve é um instrumento de luta legítimo diante da destruição proposta por Pezão. E não se enganem, esta crise não está restrita ao Rio e suas Universidades Estaduais. Participe de nossa agenda da mobilização e sigamos defendendo a UENF.

-Dia 31 de outubro às 16 horas no cinema do Centro de Convenções – exibição do filme O Jovem Marx.

-Dia 7 de novembro – Roda de Conversa no CBB às 10 horas “A questão do financiamento público na Universidade e a falácia do sucesso americano”.

-Dia 8 de novembro: Debate no bandejão: Defender a UENF, crise e perspectivas.

-Dia 10 de novembro – Dia Nacional de Paralisações e greves.

-Dia 16 de novembro – Ciranda de Conversa na Villa às 16 horas. Tema: Modelos Universitários.

-Dia 21 de novembro – Ciclo de debates ADUENF  “Futuro da Ciência do Brasil em Risco”  Jean Remy Guimarães e Maurício Tuffani Monteiro.