RioPrevidência: o que está péssimo, vai piorar

RioPrevidencia

A imagem acima é uma reprodução parcial de uma longa matéria assinada pelos jornalistas Danilo Fariello e Simone Iglesias e publicada no dia de hoje pelo jornal O GLOBO (Aqui!). Ainda que o objeto da matéria seja expor as raízes da crise agônica que engole hoje o RioPrevidência e ameaça frontalmente a saúde do tesouro estadual fluminense, penso que apenas especialistas mais antenados com a situação vão efetivamente entender a raiz da crise.

É que o principal elemento de agravamento dos problemas enfrentados pelo RioPrevidência passa sem ser nominado, qual seja, a criação de um fundo privado no paraíso fiscal de Delaware e que teve como lastros os royalties do petróleo recebidos pelo estado do Rio de Janeiro e os recursos próprios do fundo de previdência dos servidores estaduais.  Além disso traz uma informação chave e não a explora. É que segundo Danilo Fariello e Simone Iglesias, o (des) governo do Rio de Janeiro está tendo que realizar uma nova negociação com os fundos abutres que detém os títulos do “Rio Oil Finance Trust” , repetindo o que já fez em outubro de 2015. Em outras palavras, o buraco em que o RioPrevidência foi enfiado por Sérgio Cabral e Pezão está para se tornar ainda mais fundo.

Outra informação que é entregue, mas não analisada propriamente em minha opinião, é o fato de que “na origem dessas operações, estava a situação já grave da Rioprevidência em 2013, que havia recebido em seu caixa os direitos sobre as receitas do estado com royalties e participações governamentais. Ao transferir esses recursos a bancos e demais credores, a instituição de previdência dos servidores do estado conseguiu levantar cerca de R$ 10 bilhões à vista”.  Em outras palavras, a informação de que as operações autorizadas pela Lei 2.666/2013 haviam gerado algo em torno de R$ 6.0 bilhões estava incompleta, pois o que teria sido levantado à vista beirou R$ 10 bilhões. Isso agudiza a necessidade da resposta à pergunta: onde foi parar esse dinheiro todo?

Mas a cereja desta matéria em termos de subaproveitamento das informações levantadas está na declaração do deputado estadual Luiz Paulo de que as “antecipações têm indícios (do RioPrevidência, grifo meu) de “gestão temerária” das finanças públicas, porque entregar as participações em 2013 e 2014 para investidores foi como negociar ações na Bolsa quando ela está na alta.” Ora, como não explorar a afirmação de que o caso da criação do “Rio Oil Finance Trust” no paraíso fiscal de Delaware implica em gestão temerária das finanças públicas por Sérgio Cabral e Pezão. É que dadas as evidências levantadas pelos próprios jornalistas que assinam a matéria, não há aspas que salvem essa operação.

Aliás,  outras afirmações atribuídas a Luiz Paulo de que “as negociações foram feitas sem transparência“, e que “nenhum parlamentar teve conhecimento dessas negociações” implica na imediata necessidade de que seja criada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar todo o imbróglio envolvendo a captação de recursos via uma lei que aprovada pela própria Alerj.  Entretanto, não me surpreende o fato de que a Lei 2.666/2013 tenha sido aprovada sem que os deputados estaduais cobrassem transparência e pleno conhecimento das negociações envolvendo os recursos do RioPrevidência. É que votações desinformadas e opacas são a regra, e não a exceção dentro da Alerj. Resta apenas saber quem votou a favor da aprovação da Lei 2.666/2013 para que também se cobre dos parlamentares as devidas responsabilidades pelo desastre que ajudaram a construir.

Finalmente, recomendo a leitura atenta dessa matéria. É que tudo indica quea situação do RioPrevidência e das finanças estaduais tem tudo para piorar muito nos próximos meses. E a culpa, evidentemente, não cabe aos servidores estaduais, mas sim aos líderes do (des) governo estadual, começando por Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão.

 

Uma pergunta valiosa: onde foram parar os US$ 3.1 bilhões do Rio Oil Finance Fund?

Venho abordando seguidamente neste blog, a situação basicamente falimentar do RioPrevidência e da ligação desse processo com a criação de um fundo privado no paraíso fiscal de Delaware  que logrou arrecadar a bagatela de 3.1 bilhões de dólares e que ofereceu como lastros os roaylties do petróleo e os recursos financeiro oriundos das contribuições dos servidores (Aqui!Aqui!Aqui!Aqui! e Aqui!).

Ao ler a Coluna do Servidor do Jornal O DIA da última sexta-feira (06/05), eis que encontrei a seguinte nota escrita pela jornalista Alessandra Horto:

DEPENDÊNCIA
Ontem, o Rioprevidência informou à Defensoria Pública que depende do estado para suprir seu déficit financeiro e por isso não é possível garantir o pagamento dos aposentados e pensionistas até o 10º dia útil. A Secretaria de Fazenda divulgou que está se esforçando para que o pagamento dos servidores ativos, inativos e pensionistas ocorra na data do calendário.”

A nota acima somada às varias postagens que já fiz sobre este assunto, desmascaram os argumentos do (des) governo do Rio de Janeiro que tenta impor aos servidores a culpa pela situação dramática das finanças estaduais. É que parte desta situação está umbilicalmente ao negócio fracassado que foi feito em Delaware, e que tem gerado uma série de punições financeiras ao estado do Rio de Janeiro por parte dos fundos abutres que compraram ações do chamado “Rio Oil Finance Trust“.  

Agora, o problema é que ao invés de explicar as razões do déficit financeiro do RioPrevidência e da conexão com o fundo criado em Delaware, a mídia corporativa anda disseminando a versão falaciosa do (des) governo do Rio de Janeiro de que os salários, pensões e aposentadorias podem ser colocadas num balaio só, como se a própria Lei de Responsabilidade Fiscal  (LRF) preveja que não.  E diante disso, é que se arma o circo para demitir servidores concursados e cortar salários.

Mas o que me deixa abismado nessa situação toda não é nem o desejo do (des) governo do Rio de Janeiro de demitir e cortar salários. Essa é a cara desse (des) governo desde que Sérgio Cabral tomou posse. O que realmente me deixa abismado é que nenhum sindicato importante ou entidade da organização representativa da sociedade civil fluminense tenha se dado ao trabalho de acionar o Ministério Público para exigir explicações sobre todo esse imbróglio envolvendo o RioPrevidência e o fundo criado em Delaware.

E mais, por que ninguém se deu ao trabalho de exigir uma auditoria independente sobre a situação financeira do RioPrevidência ou, tampouco, para obter informações sobre o destino dos 3.1 bilhões de dólares que foram obtidos por meio da venda de títulos do Rio Oil Finance Fund.  

Finalmente, é bom esquecer que o negócio de Delaware ocorreu sob a batuta de Sérgio Cabral e Luís Fernando Pezão. Esses dois deveriam ser os primeiros a ter que oferecer as devidas explicações sobre a conexão Rio de Janeiro – Delaware.