O grave equívoco de não se precificar o risco de caos social

O jornal Folha de São Paulo traz na sua edição deste domingo uma entrevista com a economista de recorte neoliberal Eduarda La Rocque onde ela faz uma série de considerações sobre a situação em que o Brasil e o Rio de Janeiro se encontram [1].

Por sua visão que pode ser definida como de apoio crítico às políticas neoliberais (se isso é mesmo uma possibilidade analítica tenho lá minhas dúvidas).  Entre as que fazem total sentido, mas que estão sendo solenemente ignoradas nos diferentes níveis de governo (do poder ao municipal) é de que  as elites brasileiras não estão precificando o risco de caos social.

risco social

E caminhando todos os dias pelas ruas de Campos dos Goytacazes e conversando com as pessoas que estão nas esquinas tentando se virar como dá, penso que este risco está crescendo a cada dia que passa no quais se fecha um restaurante popular em detrimento de gastos com propaganda e manutenção de um aeroporto aberto.


[1] http://m.folha.uol.com.br/mercado/2017/09/1919150-a-elite-nao-esta-precificando-o-risco-de-caos-social-diz-ex-banqueira.shtml

O Rio de Janeiro virou a Grécia da vez?

roberto

Acabo de ler e recado que os leitores também leiam a provocativa reflexão que o professor Roberto Moraes acaba de postar em seu blog sobre os paralelos entre o que foi feita pelo troika (FMI, Banco Central Europeu, Comissão Européia) na Grécia e o que o governo “de facto” de Michel Temer, sob a batuta do ministro/banqueiro Henriques Meirelles está tentando fazer no Rio de Janeiro.

Aos elementos de congruência identificados por Roberto Moraes, eu adicionaria ainda os custos absurdos que a Grécia e o Rio de Janeiro tiveram que arcar com o megaevento esportivo conhecido como “Jogos Olímpicos”.  Aliás, as condições de decrepitude precoce que o glorioso estádio do Maracanã enfrenta após pouco meses de sediar alguns eventos do megaevento do Comitê Olímpico Internacional (COI) encontram paralelos incríveis no que aconteceu com as instalações olímpicas construídas em Atenas.

De toda forma, quem quiser ler a postagem do prof. Moraes, basta clicar (Aqui!)

 

The Intercept:Enquanto a corrupção assombra o Temer, caem as máscaras dos movimentos pró-impeachment

(To see the English version of this article, click here.)

O impeachment da presidente do Brasil democraticamente eleita, Dilma Rousseff, foi inicialmente conduzido por grandes protestos de cidadãos que demandavam seu afastamento. Embora a mídia dominante do país glorificasse incessantemente (e incitasse) estes protestos de figurino verde-e-amarelo como um movimento orgânico de cidadania, surgiram, recentemente, evidências de que os líderes dos protestos foram secretamente pagos e financiados por partidos da oposição. Ainda assim, não há dúvidas de que milhões de brasileiros participaram nas marchas que reivindicavam a saída de Dilma, afirmando que eram motivados pela indignação com a presidente e com a corrupção de seu partido.

Mas desde o início, havia inúmeras razões para duvidar desta história e perceber que estes manifestantes, na verdade, não eram (em sua maioria) opositores da corrupção, mas simplesmente dedicados a retirar do poder o partido de centro-esquerda que ganhou quatro eleições consecutivas. Como reportado pelos meios de mídia internacionais, pesquisas mostraram que os manifestantes não eram representativos da sociedade brasileira mas, ao invés disso, eram desproporcionalmente brancos e ricos: em outras palavras, as mesmas pessoas que sempre odiaram e votaram contra o PT. Como dito pelo The Guardian, sobre o maior protesto no Rio: “a multidão era predominantemente branca, de classe média e predisposta a apoiar a oposição”. Certamente, muitos dos antigos apoiadores do PT se viraram contra Dilma – com boas razões – e o próprio PT tem estado, de fato, cheio de corrupção. Mas os protestos eram majoritariamente compostos pelos mesmos grupos que sempre se opuseram ao PT.

É esse o motivo pelo qual uma foto – de uma família rica e branca num protesto anti-Dilma seguida por sua babá de fim de semana negra, vestida com o uniforme branco que muitos ricos  no Brasil fazem seus empregados usarem – se tornou viral: porque ela captura o que foram estes protestos. E enquanto esses manifestantes corretamente denunciavam os escândalos de corrupção no interior do PT – e há muitos deles – ignoravam amplamente os políticos de direita que se afogavam em escândalos muitos piores que as acusações contra Dilma.

Claramente, essas marchas não eram contra a corrupção, mas contra a democracia: conduzidas por pessoas cujas visões políticas são minoritárias e cujos políticos preferidos perdem quando as eleições determinam quem comanda o Brasil. E, como pretendido, o novo governo tenta agora impor uma agenda de austeridade e privatização que jamais seria ratificado se a população tivesse sua voz ouvida (a própria Dilma impôs medidas de austeridade depois de sua reeleição em 2014, após ter concorrido contra eles).

Depois das enormes notícias de ontem sobre o Brasil, as evidências de que estes protestos foram uma farsa são agora irrefutáveis. Um executivo do petróleo e ex-senador do partido conservador de oposição, o PSDB, Sérgio Machado, declarou em seu acordo de delação premiada que Michel Temer – presidente interino do Brasil que conspirou para remover Dilma – exigiu R$1,5 milhões em propinas para a campanha do candidato de seu partido à prefeitura de São Paulo (Temer nega a informação). Isso vem se somar a vários outros escândalos de corrupção nos quais Temer está envolvido, bem como sua inelegibilidade se candidatar a qualquer cargo (incluindo o que por ora ocupa) por 8 anos, imposta pelo TRE por conta de violações da lei sobre os gastos de campanha.

E tudo isso independentemente de como dois dos novos ministros de Temer foram forçados a renunciar depois que gravações revelaram que eles estavam conspirando para barrar a investigação na qual eram alvos, incluindo o que era seu ministro anticorrupção e outro – Romero Jucá, um de seus aliados mais próximos em Brasília – que agora foi acusado por Machado de receber milhões em subornos. Em suma, a pessoa cujas elites brasileiras – em nome da “anticorrupção” – instalaram para substituir a presidente democraticamente eleita está sufocando entre diversos e esmagadores escândalos de corrupção.

Mas os efeitos da notícia bombástica de ontem foram muito além de Temer, envolvendo inúmeros outros políticos que estiveram liderando a luta pelo impeachment contra Dilma. Talvez o mais significante seja Aécio Neves, o candidato de centro-direita do PSDB derrotado por Dilma em 2014 e quem, como Senador, é um dos líderes entre os defensores do impeachment. Machado alegou que Aécio – que também já havia estado envolvido em escândalos de corrupçãorecebeu e controlou R$ 1 milhão em doações ilegais de campanha. Descrever Aécio como figura central para a visão política dos manifestantes é subestimar sua importância. Por cerca de um ano, eles popularizaram a frase “Não é minha culpa: eu votei no Aécio”; chegaram a fazer camisetas e adesivos que orgulhosamente proclamavam isso:

Evidências de corrupção generalizada entre a classe política brasileira – não só no PT mas muito além dele – continuam a surgir, agora envolvendo aqueles que antidemocraticamente tomaram o poder em nome do combate a ela. Mas desde o impeachment de Dilma, o movimento de protestos desapareceu. Por alguma razão, o pessoal do “Vem Pra Rua” não está mais nas ruas exigindo o impeachment de Temer, ou a remoção de Aécio, ou a prisão de Jucá. Porque será? Para onde eles foram?

Podemos procurar, em vão, em seu website e sua página no Facebook por qualquer denúncia, ou ainda organização de protestos, voltados para a profunda e generalizada corrupção do governo “interino” ou qualquer dos inúmeros políticos que não sejam da esquerda. Eles ainda estão promovendo o que esperam que seja uma marcha massiva no dia 31 de julho, mas que é focada no impeachment de Dilma, e não no de Temer ou de qualquer líder da oposição cuja profunda corrupção já tenha sido provada. Sua suposta indignação com a corrupção parece começar – e terminar – com a Dilma e o PT.

Neste sentido, esse movimento é de fato representativo do próprio impeachment: usou a corrupção como pretexto para os fins antidemocráticos que logrou atingir. Para além de outras questões, qualquer processo que resulte no empoderamento de alguém como Michel Temer, Romero Jucá e Aécio Neves tem muitos objetivos: a luta contra a corrupção nunca foi um deles.

* * * * *

No mês passado, o primeiro brasileiro ganhador do Prêmio Pulitzer, o fotojornalista Mauricio Lima, denunciou o impeachment como um “golpe”com a TV Globo em seu centro. Ontem à noite, como convidado no show de Chelsea Handler no Netflix, o ator popular Wagner Moura denunciou isso em termos similares, dizendo que a cobertura da mídia nacional  foi“extremamente limitada” porque “pertence a cinco famílias”.

FONTE: https://theintercept.com/2016/06/16/enquanto-a-corrupcao-assombra-o-temer-caem-as-mascaras-dos-movimentos-pro-impeachment/

Crise política no Brasil: quando 6 são mais do que 60

golpe.jpg

Lí uma análise interessante do Prof. Aldo Fornazieri, da Escola de Sociologia e Política da USP, onde aponta para uma suposta “desorientação das esquerdas” frente ao que ser feito em relação ao governo interino de Michel Temer (Aqui!). Apesar do conteúdo ser interessante, creio que o Prof. Fornazieri errou no título. É que penso que até pelo conteúdo, o correto teria sido escrever “Os  frutos da capitulação do PT”.

É que frente ao que vem acontecendo em termos de resistência popular, pode já dizer que esta ocorre apesar do PT e dos sindicatos e movimentos sociais que o partido controla. A impressão que fica é que dentro do PT ainda tem gente que acredita que será recuperada a possibilidade de um governo de conciliação de classes.

Mas essa impressão já estava clara para mim nos debates dentro da Câmara de Deputados acerca da aceitação ou não do impeachment de Dilma Rousseff quando coube às bancadas do PSOL e do PC do B a principal via de resistência ao rolo compressor montado por Michel Temer e seus aliados da direita parlamentar. Vendo a ação de parlamentares como Heloísa Erudina, Chico Alencar, Glauber Braga, Jean Wyllys e Jandira Fegalli era indisfarçável a diferença de tom em relação à bancada do PT onde apenas Paulo Pimenta e Wadih Damous expressavam qualquer sinal de aguerrimento frente ao que estava sendo construído. 

Pode se dizer que boa parte desta inação da banca do PT foi construída a partir de um longo processo de emasculação que resultou de alianças espúrias e relações promíscuas com fontes de financiamento. Eu, aliás, tenho a opinião de que o tamanho da bancada parlamentar do PT poderia ter sido maior nas eleições de 2014 se bons candidatos não tivessem sido sacrificados em nome do supostamente amplo arco de alianças. Aqui abro inclusive espaço para reconhecer que o senador Lindbergh Farias soube superar as traições que sofreu na eleição de governador para cumprir um papel digno na luta contra a aceitação do impeachment pelo senado federal.

Agora, qual será o caminho a ser adotado pelo PT? Sinceramente não tenho a menor ideia, pois é óbvio o controle ainda mantido sobre a direção nacional pelo ex-presidente Lula. Se Lula escolher o caminho da coabitação com Michel Temer, o caminho para o cadafalso do PT estará definitivamente selado, e suas porções ainda saudáveis seguirão outros caminhos dentro da esquerda. Agora, se Lula decidir que enfrentar Michel Temer será o caminho a seguir, talvez possamos inverter a situação de pasmaceira atual da bancada federal do PT. Daí talvez possamos superar a condição atual onde os 6 deputados do PSOL (a maioria deles oriunda do próprio PT) valem mais do que os 60 do PT. A ver!

PMDB faz festa antecipada em Brasília, enquanto deixa aposentados em condição desesperadora no RJ

14_aposentados

Um artigo publicado pelo site UOL dá conta que na noite de ontem (14/04), o ainda vice-presidente Michel Temer participou de um rega bofe suntuoso em Brasília numa espécie de pré-celebração da vitória do impeachment da presidente Dilma Rousseff (Aqui!).  Os convidados teriam sido recebidos com whisky, vinhos e outras bebidas e massa e risoto.

Já aqui no estado do Rio de Janeiro, o governo do PMDB deixou de pagar as aposentadorias de algo em torno de 120 mil aposentados que ganham acima de R$ 2.000.00. Para esses aposentados, não houve oferta de rega bofe em mansão, mas a dura realidade de não ter como pagar suas contas ou, sequer, enterrar seus mortos.

Se existe alguém que acha que o Brasil vai melhorar num eventual governo comandado por Michel Temer, sugiro que olhe bem para o que está acontecendo no Rio de Janeiro. É que mantido o mesmo estilo de governo, o Rio de Janeiro de hoje sob Pezão é o Brasil de amanhã sob Temer.

Temer repete FHC e senta na cadeira antes da hora

Eu que já pensava ter visto todo o primarismo da classe política brasileira se desvelar no imbróglio do impeachment da presidente Dilma Russeff, fui, confesso, surpreendido, com a liberação de um pronunciamento antecipado à nação do vice-presidente Michel Temer (PMDB) já se apresentado como o novo supremo mandatário do Brasil (Aqui!).

Além de explicitar a ânsia de apear sua parceira de chapa do poder via um golpe parlamentar, Michel Temer também antecipou seu receituário amargo para a crise que o Brasil atravessa ao avisar que a população será chamado a fazer sacrifícios!

Tanta açodamento tem um paralelo recente na história brasileira, pois Temer praticamente repete o gesto cometido em Novembro de 1985 por Fernando Henrique Cardoso (FHC) que sentou antes do tempo na cadeira de prefeito da cidade de São Paulo numa eleição que ele acabaria perdendo para Jânio Quadros.

Além de ter se exposto antes do tempo, Michel Temer agora se arrisca a ver Dilma Rousseff repetindo o gesto de Jânio Quadros que dedetizou a cadeira onde FHC sentou após assumir a direção da prefeitura da capital paulista.