
Perdoem-me os áulicos do Porto do Açu que ainda insistem em ver o empreendimento iniciado pelo ex-bilionário Eike Batista como um farol para o desenvolvimento da região Norte Fluminense, mas há algo de errado nas contas financeiras do negócio. Comecemos por lembrar que em agosto de 2013, houve o anúncio de que a EIG Management Company iria desembolsar R$ 1,3 bilhão de reais para assumir o controle da então LL(X) (hoje rebatizada como Prumo) (Aqui!). Naquele momento as promessas era de que isso seria suficiente para concluir as obras do que então se chamava “Superporto do Açu”.
Desde então, o que se lê aqui e ali é de que o Porto do Açu irá começar a funcionar ainda no primeiro semestre de 2014, em que pesem as informações de que há um problema crítico no abastecimento de energia elétrica para o interior do empreendimento como, aliás, já foi publicado no blog que o jornalista Esdras Pereira hospeda no site do Jornal Folha da Manhã (Aqui!).
Mas na semana que está se encerrando surgiu o anúncio de que o BNDES teria aprovado um empréstimo ponte para a EIG/Prumo no valor de R$ 1,8 bilhão para que seja investido na conclusão do Porto do Açu (Aqui!). Ai é que contas começam a ficar complicadas, e eu não falo apenas da parte financeira. É que no dia 12 de janeiro, o jornal Folha da Manhã publicou uma matéria sob o pomposo título de “Porto do Açu quase pronto para operar” (Aqui!), o que torna estranho que o BNDES tenha que liberar mais recursos para a conclusão da obra. A verdade é que não é preciso ser economista ou matemático para notar que as contas não fecham. Afinal, se a EIG investiu R$ 1.3 bilhão para que mais esse empréstimo do BNDES para completar algo que já se inicia estar quase pronto para operar?
Há ainda que se lembrar que nenhuma das anunciadas vindas para a chamada retroárea do Porto do Açu vai se concretizar. Aliás, se nem as poucas empresas que estão já presentes não estão com o fornecimento de energia elétrica garantido, qual seria a corporação que viria começar um novo empreendimento numa situação em que a economia mundial simplesmente está com ojeriza de riscos? Essa é uma clara improbabilidade, e só os muito ingênuos ou os muito mal intencionados não vão conseguir entender o que eu estou falando.
Uma última palavra para o BNDES e seu empréstimo ponte para a EIG. O que mais me chama a atenção nessa operação é que salvo engano, a EIG é na prática uma gerenciadora de fundos de investimento que atuam na área energética. Isso deveria significar que a EIG deveria estar atraindo capitais externos para investir no Porto do Açu sem precisar de um empréstimo graúdo do BNDES que, aliás, o faz, ao menos em parte, com dinheiro do Fundo de Apoio ao Trabalhador (FAT). Será que ninguém na diretoria do BNDES vê que esse é um empréstimo com um grau alto de risco? Eu que nem economista sou, sinto o cheiro de problemas bem perto.
Todas essas questões são ainda agravadas pelo fato de que enquanto o Porto do Açu recebe bilhão após bilhão de dinheiro público na mesma região persiste uma condição de total desrespeito à centenas de famílias que tiveram suas propriedades expropriadas a preços que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro está considerando como irrisórios? E, pior, um número significativo dessas famílias continua sem ver a cor do dinheiro? Isto sem falar no absurdo que muitos agricultores continuam a ser cobrados para pagar os valores devidos do Imposto Territorial Rural (ITR)?
Ai é que eu digo: contas complicadas e BNDES cada vez mais enrolado!