
O jornal Folha de São Paulo acaba de colocar no ar uma entrevista com Eike Batista, onde ele reconhece que atualmente tem um saldo negativo de US$ 1 bilhão, mesmo que vende o que ainda possui nas empresas que ainda é controlador (OGPar, OS(X) e MM(X), e naquelas que possui ações depois de ter repassado o controle (Prumo (ex LL(X) Eneva (ex MP(X)) (Aqui!). Após chegar aos píncaros da glória corporal/especulativa, Eike Batista diz que voltou à classe média e que isto representa um baque gigantesco na família dele.
Ao ser perguntado sobre uma afirmação polêmica de que seus negócios eram à prova de idiotas, emitida nos tempos em que reinava soberano e desfrutava de companhias importantes como Lula, Sérgio Cabral e Dilma Rousseff, Eike Batista respondeu dizendo que existem vários legados em fase de conclusão, citando os portos Sudeste e do Açu.
De minha parte, Eike Batista parece ainda não ter entendido o buraco em que se meteu, já que a entrevista representa uma espécie de defesa prévia contra as pesadas acusações que está sofrendo do Ministério Público Federal em São Paulo e Rio de Janeiro. Para mim, em particular o problema é ele falar que deixou legados. Se examinarmos de perto, o belo “legado” que está plantado no V Distrito de São João da Barra, veremos que a coisa está mais para praga do que para benção. Basta perguntar às centenas de famílias que tiveram suas terras expropriadas ou salgadas que elas vão logo dizer qual é o “legado” de Eike Batista nas vidas delas. Aliás, perguntem aos moradores da Praia do Açu para ver o que eles acham deste “legado” de Eike Batista, e talvez a resposta que virá não seja tão adequada à visão positiva que ele tenta disseminar.
De toda forma, o destino pessoal de Eike Batista é irrelevante para mim. Importa mais analisar o tipo de modelo econômico que permitiu que ele tivesse uma ascendência tão meteórica quanto sua queda, onde os custos efetivos estão sendo distribuídos e colocados nas costas de quem não tem nada a ver com o peixe. E de quebra, vemos a desnacionalização de recursos estratégicos e dos pesados investimentos que foram feitos em suas empresas pré-operacionais. É deste legado que deveríamos nos ocupar. Eike Batista, como outros no passado, é apenas um pião no tabuleiro.