A população da Grécia acaba de dar um sonoro não às políticas de austeridade que estavam sendo impostas pela troika (Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia, Banco Central Europeu) para continuar asfixiando a economia grega. A margem da derrota imposta à troika não deve ter sido prevista nem pelos mais otimistas membros da coalizão governista comandada pelo Syriza. Há que se ressaltar que a aposta no referendo foi uma manobra arriscada do primeiro-ministro grego Alexis Tsipras que, confrontado pela intransigência do FMI e da Comissão Europeia comandada por Angela Merkel, resolveu fazer um movimento imprevisto no tabuleiro político da Europa.
Um detalhe que foi explorado pela imprensa corporativa brasileira, sempre alinhada com os esforços de submissão dentro do Brasil, é que a imensa maioria dos 240 bilhões de euros colocados nas contas da dívida da Grécia sequer chegou a tocar o solo grego. Na verdade, todo esse dinheiro foi colocado em bancos europeus, principalmente alemães, que tinham especulado centenas de bilhões de dólares na Grécia e perderam.
Confrontados com o plebiscito proposta por Tsipras, os gerentes da dívida inicialmente desdenharam e tentaram ignorar a decisão grega de ouvir a população sobre o pacote de austeridade. Entretanto, com o passar dos dias e com a resistência da coalizão governista grega, os chefões europeus rapidamente passaram a agir como o lobo mau em frente da casa dos três porquinhos e começaram a fazer as ameaças de sempre.
Neste domingo (05/07), os gregos decidiram rejeitar a ameaças do lobo mau e decidiram rejeitar mais uma rodada de inaceitáveis cortes em direitos sociais que não teriam qualquer efeito na solução da crise financeira grega. E a vitória da rejeição foi por uma diferença impressionante (60 a 40). Este resultado não só deixa dúvida do nível de rejeição do povo grego à austeridade imposta pela troika, mas como coloca o governo comandado pelo Syriza na condição de alterar todo o balanço político da Europa. De quebra, os gregos indicam que não se importam com a ameaça de expulsá-los da União Europeia. Colocando tudo isso junto, a vitória do Não é de uma grande importância histórica.
Há ainda que se ressaltar a grande lição que o Syriza está dando ao PT. É que diferente de Dilma Rousseff, Alexis Tsipras se negou a realizar o estelionato eleitoral e vem governando exatamente ao longo das linhas com que se comprometeu para ser eleito. Ainda que isto não torne Tsipras um revolucionário no sentido dado pelos revolucionários marxistas, é certo que no estado de miséria intelectual e política que reina no mundo, Tsipras está cumprindo um papel que o torna extremamente relevante.
E Tsipras, ainda poderá tomar para si a fase frase de Jorge Lobo Zagallo para dizer à troika: vocês vão ter que me engolir!

