O blog do professor Roberto Moraes traz hoje (13/08) uma interessante análise do perfil corporativo e da situação financeira da Prumo Logística Global, a atual controladora do Porto do Açu (Aqui!). Considero a análise do professor Moraes bastante pertinente e indico a leitura do que ele abordou a todos os que se interessam pelo assunto.
De minha parte decidi analisar um dos materiais utilizados pelo professor Moraes para construir sua análise a partir de um aspecto específico, e que eu já abordei aqui faz pouco, o da sustentabilidade socioambiental do empreendimento.
Vejamos uma primeira figura que foi colocada pela Prumo Logística em uma apresentação corporativa que foi liberada neste mês de Agosto.
Qual é a problema da imagem abaixo? É que tendo a construção do Porto do Açu sido iniciada em 2009 e completada em 2014, a evolução positiva nos diversos indicadores do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que aparecem na figura não possui qualquer relação objetiva com o empreendimento. Na verdade, e qualquer estudioso neófito da nossa região sabe, esta evolução está ligada ao aporte dos royalties do petróleo nos cofres municipais de São João da Barra, o que se deu a partir de 1998.
Assim, ao deixar implícito que o Porto do Açu tem algo a ver com a evolução do IDH de São João da Barra quando sua construção mal havia sido iniciada, a Prumo Logística efetivamente força a mão. A questão aqui não é nem questionar esse fato objetivo, mas o porquê do uso deste artifício. O uso de um raciocínio minimamente lógico indicará que a possível razão é a ausência de fatos concretos para colocar na apresentação que possam vislumbrar ganhos efetivos para a população de São João da Barra. Aliás, basta percorrer as comunidades localizadas no entorno do Porto do Açu para se ver que o contrário é verdadeiro.
Agora, partamos para um segundo slide incluído na apresentação corporativa da Prumo Logística, aquele que repete as loas a um suposto programa de enriquecimento vegetal que estaria sendo realizado na RPPN Fazenda Caruara.
Notem que eu circulei o valor de mudas produzidas que teria alcançado o astronômico número de 800 mil. De cara, tendo manejado um projeto de recuperação florestal na Amazônia ocidental, eu diria que uma grande possibilidade num esforço dessa escala é o aparecimento de doenças nos próprios viveiros (nurseries). Mas deixando essa possibilidade de lado, voltemos às imagens que já foram postadas aqui neste blog e que mostram a situação de campo do propalado esforço de enriquecimento vegetal da RPPN Fazenda Caruara.
Assim, dadas as taxas de perdas que as imagens indicam ser, o que significa objetivamente a produção de 800.000 mil mudas? Nada ou praticamente nada, visto que o esforço de enriquecimento vegetal começa e não termina no interior dos viveiros. E adiciono, de nada adianta, se as mudas não forem cuidadas após o seu plantio, e de forma extensiva no caso da RPPN Caruara, onde as condições ambientais não são indutoras a uma alta taxa de sobrevivência, caso isto não seja feito.
De quebra, ao conversar com um colega que participou de parcerias na RPPN Fazenda Caruara durante o período em que o Porto do Açu era controlado pela LL(X), ele me informou que o esforço de cooperação não foi renovado após a entrada da Prumo Logística como controladora do empreendimento! Assim, é que quem ler a lista de iniciativas desenvolvidas pela Prumo Logística na área ambiental (Aqui!) deverá fazer isto tomando a frase “A Prumo também realizou parcerias com universidades e instituições de pesquisa, como o Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro e a Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense) para o estudo científico da restinga e desenvolvimento de pesquisas relacionadas aos ecossistemas costeiros” em seu valor de face, qual seja, uma coisa do passado.
E qual é então o moral da estória? É que se o leitor dessas apresentações corporativas for um investidor efetivamente preocupado com a mitigação dos impactos socioambientais do Porto do Açu, a melhor postura será de fazer a leitura com olhos de águia. Do contrário, ficará sob o risco de se ver enredado nas mesmas dificuldades que ocorreram com apresentações de mesmo naipe que eram realizadas pelo Grupo EBX. Simples assim!